Rigotto's Room: Bill Wyman e seu Willie and the Poor Boys


Por Maurício Rigotto

Em 1983, se tornou perceptível que algo não estava bem na maior banda de rock’n’roll do mundo. Os Rolling Stones lançaram Undercover, um de seus álbuns menos inspirados em toda sua longeva existência, e a relação entre Mick Jagger e Keith Richards passou a apresentar evidentes sinais de desgaste que prenunciavam que a separação das pedras rolantes estava próxima de se tornar realidade.

Neste mesmo ano, a nata do rock inglês se reuniria para um concerto beneficente histórico para angariar fundos para o combate da esclerose múltipla, doença hereditária e degenerativa que acometera Ronnie Lane, baixista dos Small Faces e depois dos Faces.

No dia 20 de setembro se reuniram no Royal Albert Hal, em Londres, a cozinha dos Rolling Stones, Bill Wyman e Charlie Watts; os guitarristas Eric Clapton, Jeff Beck, Jimmy Page e Andy Fairweather Low; o ex-Traffic Steve Winwood; Chris Stainton; Kenney Jones e Ray Cooper. Também participaram do projeto os vocalistas Paul Rodgers e Joe Cocker.


Bill Wyman, pressentindo que o encerramento das atividades de sua banda era iminente, sugeriu que o pessoal se reunisse para gravar algumas músicas em estúdio, com o intuito de formar uma nova banda. Nas primeiras sessões de gravação, Bill Wyman teve ao seu lado os stones Ron Wood e Charlie Watts; Jimmy Page; Andy Fairweather Low (ex-Amen Corner e que hoje toca nas bandas de Eric Clapton e do ex-Pink Floyd Roger Waters); Mel Collins (saxofonista que acompanhou os Dire Straits e mais um monte de gente) e os bateristas Kenney Jones (ex-Small Faces, Faces e The Who) e Ringo Starr. Bill batizou a banda com o nome Willie and the Poor Boys, mesmo nome de um álbum lançado em 1969 pela banda Creedence Clearwater Revival.

O ano seguinte foi dedicado a ensaios, com Bill e uma infinidade de amigos se alternando na formação da banda. No repertório, clássicos dos primórdios do rock’n’roll, country, blues, rockabilly e soul. Alguns participantes foram se afastando da banda por terem compromissos com as suas próprias carreiras, como Jimmy Page, que se desligou do projeto ao formar ao lado de Paul Rodgers o supergrupo The Firm.

Em 1985, Willie and the Poor Boys tinha em sua formação Bill Wyman (Baixo e vocal); Charlie Watts (bateria); o tecladista da banda de Van Morrison, Geraint Watkins (piano e vocal); e Andy Fairweather Low e Mickey Gee (guitarras e vocais), quando entraram em estúdio para gravar o que viria a ser o seu primeiro álbum. Entrementes, o lançamento de She’s the Boss, primeiro álbum solo de Mick Jagger, reforçava as especulações de que estava tudo definitivamente acabado para os Rolling Stones.


O disco de estreia de Willie and the Poor Boys trouxe a banda e vários convidados fazendo vigorosas releituras para standards do rock’n’roll, começando pela clássica “Baby Please Don’t Go” (Big Joe Williams), aquela mesma que Them, AC/DC, Aerosmith e tantos outros já regravaram, com o roqueiro Chris Rea como convidado no vocal. Os líderes do recém-formado The Firm, Jimmy Page (guitarra) e Paul Rodgers (vocal) abrilhantam as boas covers “These Arms of Mine” (Otis Redding) e “Slippin’ and Slidin’” (Little Richard), acompanhados ainda por Henry Spinetti, baterista de Eric Clapton na época. O ponto alto do lado A do LP é “You Never Can Tell”, uma das mais belas canções de Chuck Berry – que anos mais tarde voltou às paradas ao ser trilha da antológica dança de John Travolta e Uma Thurman no filme Pulp Fiction de Quentin Tarantino – com Bill nos vocais e o baterista do Rockpile Terry Williams e o percursionista Ray Cooper como convidados.

No lado B, mais petardos como “Saturday Night”, “Let’s Talk It Over”, “All Night Long”, “Chicken Shack Boogie” e “Sugar Bee” (com Kenney Jones na bateria). O álbum encerra com “Poor Boy Boogie”, uma parceria de Bill Wyman e Andy Fairweather Low que parece ter sido composta nos anos cinquenta, com destaque para o alucinante piano boogie woogie. O álbum ainda contou com um vibrante naipe de sopros, formado por Steve Gregory e Willie Garnett. O término da audição do disco deixa no ouvinte uma sensação de “quero mais”, de que a festa estava muito boa para já acabar. Basicamente, não há nada de novo nos sulcos do vinil, apenas releituras de conhecidos rocks antigos, mas interpretados de tal maneira que emociona qualquer apreciador do gênero.


Ainda no mesmo ano é lançado um vídeo de uma curta performance de Willie and the Poor Boys, filmada no Fulham Town Hall em Londres. O vídeo tem duração de apenas trinta minutos e apresenta nove das doze músicas que compõem o álbum, com dançarinos trajando jaquetas de couro e garotas com vestidos dos anos cinquenta, como se o cenário fosse mesmo um clube da era de ouro do rock’n’roll. A banda está novamente acompanhada de convidados mais que especiais. No palco estão três Stones, pois além de Bill e Charlie, o guitarrista Ron Wood está entre os convidados (tocando saxofone!). Também estão presentes Jimmy Page, Mel Collins, Kenney Jones, John Entwistle (The Who), Gary Brooker (Procol Harum), Chris Rea e o saxofonista Raf Ravenscroft. Em uma rápida cena cômica, o baterista Ringo Starr é o zelador do clube que varre o chão do salão após o show. A renda angariada pelo vídeo também foi revertida para a fundação de combate a esclerose múltipla.

A banda pretendia continuar sua carreira interpretando velhos rocks, mas surpreendentemente em 1986 Jagger e Richards assinaram uma trégua temporária e os Rolling Stones voltaram a ativa para gravar o álbum Dirty Work, encerrando assim a curta vida de Willie and the Poor Boys.


Bill Wyman saiu dos Rolling Stones em 1993 e no ano seguinte, ao lado de Andy Fairweather Low, reformulou os Willie and the Poor Boys, desta vez com Graham Broad (bateria), Gary Brooker (piano e vocal), James Thomas Henderson (harmônica e vocal), Olle Niklasson (saxofone) e Terry Taylor (guitarra e vocal). Essa formação gravou o álbum ao vivo Tear It Up, que trouxe novas releituras para “High School Confidential” (Jerry Lee Lewis), “What’d I Say” (Ray Charles), “Mystery Train” (Elvis Presley) e “Land of a Thousand Dances” (Wilson Pickett), além de músicas incluidas no único disco da banda.

Mesmo com esse bom retorno, os Willie and the Poor Boys não continuaram na ativa. Bill Wyman fundou o Rhythm Kings, onde interpreta blues e rhythm’n’blues em clubes pela Inglaterra. O grupo não faz excursões porque Bill quando saiu dos Rolling Stones jurou que nunca mais entraria em um avião.


Bill Wyman também é proprietário do restaurante Sticky Fingers – nome de um álbum dos Rolling Stones – em Londres.

Comentários

  1. Ola mauricio, honestamente de tudo que o Bill fez acho esse projeto o mais pobre de todos. Desdes o Monkey Grip até os recentes discos com os R. Kings, ele sempre fez coisas mto boas. Mas esse projeto nunca soou bem pra mim. é aquela coisa famosa de gostos sao gostos.

    abração

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  2. obviamente estou me referindo ao disco e nao à ideia de apoio ao Ronnie Lane.

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  3. Já eu não consigo gostar daquele álbum solo do Bill chamado "Stuff".

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  4. Ainda sou bem leigo em matéria de Bill Wyman, só conheço - e mal - o Monkey Grip, por enquanto. Muito boa a matéria, vou procurar esses discos com certeza! Mas duvido que eu possa encontrar algum dia alguma coisa do Bill Wyman que supere a lindíssima "In Another Land"! Abraço.

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  5. Não sendo bom compositor, bom cantor e nem mesmo um excelente baixista, a relevância de Bill Wyman estará sempre restrita aos seus tempos de stone. O que, convenhamos, não é pouca coisa.

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