Black Sabbath: os 40 anos de Master of Reality!


Por Fabiano Negri

Para muitos o álbum mais pesado do Black Sabbath, Master of Reality comemora seu aniversário de quarenta anos no próximo dia 21 de julho. Com certeza é o tempo necessário para deixar um trabalho datado, mas não é o caso. Esse incrível esforço dos quatro cavaleiros do apocalipse parece não envelhecer e continua influenciando músicos e bandas, geração após geração.

No final de 1970 o Black Sabbath já era um dos principais grupos do mundo, tendo uma estreia arrasadora com o soturno Black Sabbath e a consagração com o multi-platinado Paranoid. Nessa época eles tinham tudo: dinheiro, mulheres, bebidas, drogas e muita inspiração! Esses quatro jovens que saíram do nada e tinham tudo para fracassar na vida - presos ou trabalhando dia e noite nas inúmeras fábricas da caótica Birmingham -, agora dominavam as paradas de sucesso.


Para fazer uma boa análise desse álbum devemos nos situar historicamente. No período do lançamento de Master of Reality, por incrível que pareça, o Black Sabbath fazia um som que estava na moda. A pressão da gravadora era apenas para que os discos fossem lançados logo. Não havia produtores imbecis dando ordens sobre a direção do trabalho. Não havia necessidade de fazer um som mais comercial. Paranoid era um sucesso absoluto, como outros álbuns do que já era chamado na época de heavy metal.

Os caras tinham tudo e não podia dar errado – e não deu. Gravado entre fevereiro e abril de 1971 no Island Studios em Londres, Master of Reality é simplesmente estupendo, atemporal! Mais uma vez produzido por Roger Bain – que havia produzido Black Sabbath e Paranoid – o Sabbath conseguiu a proeza de soar mais pesado, mais sujo e mais viceral, sem deixar de ser brilhante.

Através das demos – contidas na versão 'deluxe' – podemos enxergar claramente como era o processo de composição do Black Sabbath nessa época. Tony Iommi vinha com os riffs – cada vez mais absurdos –, Ozzy com as melodias – nessa época já mais solto, cantando sobre os riffs e não com os riffs, e com o timbre cada vez mais peculiar e arrebatador –, Geezer com as letras e as preciosas linhas de baixo, que formavam a cozinha mais pesada do mundo com o brilhante e injustiçado Bill Ward.


O petardo abre de forma arrastada com a ode à maconha “Sweet Leaf”, cuja tosse do inicio ficou a cargo de Iommi e não de Ozzy, como muitos pensam. Com um riff certeiro e de simplicidade incrível, a banda consegue contagiar logo de cara, com uma ótima melodia de Ozzy e um grande trabalho da cozinha, principalmente na seção de solos.

A temática religião é aberta novamente em “After Forever”, mas desse vez de forma positiva, talvez tentando desfazer a imagem satânica que nessa altura do campeonato já havia causado diversos problemas para a banda, seja pelo protesto de religiosos fanáticos ou por estranhos convites de seitas convertidas para o lado negro. A música apresenta a fórmula já usada pelo Sabbath nos álbuns anteriores. Sacolas de riffs com muitas mudanças de andamento. Os músicos do Black Sabbath não eram virtuosos como alguns de seus companheiros de época, mas sabiam como ninguém amarrar diversas ideias e transformá-las em uma boa canção. Uma curiosidade sobre essa faixa é que ela foi erroneamente creditada somente para Iommi nas primeiras prensagens do álbum. Esse equívoco foi desfeito muitos anos depois, com o lançamento da Black Box.

Tony contribuiu sozinho com dois temas instrumentais, “Embryo” e “Orchid”. “Embryo” antecede uma das faixas mais icônicas do Sabbath. “Children of the Grave” é pura dinamite sonora! O cativante, e mais uma vez simples – quem disse que tem que ser difícil para ser bom? –, riff cavalgado cresce com a dinâmica da bateria e resulta em um dos rocks mais empolgantes de todos os tempos. Junte isso à mais uma vocalização certeira de Ozzy e à letra forte de Geezer e temos um clássico definitivo.

Após um breve respiro com “Orchid” surge “Lord of this World”. Nessa o tema satânico ganha força novamente. Todos os elementos 'sabáticos' estão lá, mas quem brilha é Bill Ward. Bill pode ser considerado por alguns um baterista meio rude. Concordo que ele não tem a técnica de um Ian Paice ou de um Neil Peart, mas compensa isso com muita criatividade. Sua bateria não se prende a bases fixas, praticamente cantando a música junto com Ozzy. Irriquieto, pesado, preciso e inovador, quando em forma é sem dúvida um dos melhores e mais subestimados bateristas do mundo.


“Solitude” é a balada da vez. Construída sobre uma bela harmonia, é chegada a hora de Ozzy Osbourne dar as cartas. Muitos duvidam que seja Ozzy que esteja cantando, mas é ele mesmo! Apresentando um timbre belo e suave, Ozzy nos brinda com uma estonteante melodia e uma interpretação carregada de melancolia e tristeza.

De uns anos pra cá vejo um crescente número de pessoas que tenta desmerecer o trabalho do Madman, todos usando as mesmas afirmativas: Ozzy não compõe – compõe sim, como podemos ver no excelente documentário Classic Albums: Paranoid, e em algumas entrevistas todos os membros do Sabbath dizem que Ozzy fez todas as melodias em seus trabalhos –, Ozzy não tem técnica – do ponto de vista de músico temos que concordar que nenhum dos 'Sabs' originais tinha uma técnica apurada, Ozzy tinha o mesmo background musical de seus parceiros e foi autor de algumas das mais preciosas melodias que eu já ouvi no rock pesado –, isso sem contar o carisma e liderança que exercia – e exerce – sobre o público. Deixem as presepadas do The Osbournes de lado e até algumas decisões estranhas de marketing de sua esposa e empresária Sharon – na verdade, isso se deve ao fato de Ozzy ter rompido as barreiras do heavy metal para se tornado um ícone da cultura pop – e vamos dar valor pela contribuição inestimável do Sr Osbourne para a música que tanto amamos.


Tony Iommi. A música pesada existiria – da forma que é hoje – sem esse cara? Acho que não. Em qualquer banda que use um power chord vemos a influência do mestre. Ninguém soa tão pesado quanto Tony Iommi. Aliás, não podemos deixar de citar que esse peso vem da combinação da guitarra de Iommi com o baixo de Geezer Butler. E é isso que transborda em “Into the Void”. Esses dois criam um Antonov sonoro – sem muitos overdubs – que faz paredes tremerem até hoje. Se alguém me perguntasse sobre uma música que exemplifica o que é o Black Sabbath, seria essa.

Acho que não preciso falar mais nada. Quem diria que após tantos anos a gente ainda estaria falando do trabalho desse caras que saíram do nada, sem perspectivas, massacrados pela crítica mas, felizmente, amados pelo público. Hoje a crítica especializada já se rendeu ao talento da banda – estão no Rock and Roll Hall of Fame inglês e americano –, e o público continua se renovando.

No dia 21 de julho vamos levantar um brinde aos mestres da persistência, do caos, da música pesada. Aos mestres da realidade!


Comentários

  1. Sem dúvida Master Of Reality é um dos melhores discos do Sabbath. Foi o primeiro álbum deles que ouvi e foi o responsável por me introduzir no Heavy Metal. Quando escutei a primeira fez a faixa Children Of The Grave minha vida mudou! Excelente!!!

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  2. "Children of the Grave" me soa como um proto-thrash!

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  3. Que album...que banda...que guitarrista...

    embrião do doom...do stoner... de quase tudo tenha um riff pesado e arrastado....

    Clássico absoluto !!!

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  4. Uma das banda mais originais da história do rock.A sua influência é gritante1

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  5. Realmente uma banda fantástica !
    Para mim o melhor disco é o Sabbath Bloody Sabbath - não só do Sabbath mas de todos os tempos - e pra vc´s?

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  6. Com o Ozzy, Sabbath Bloody Sabbath. Com o Dio, Heaven and Hell. Entre os dois, Heaven and Hell.

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  7. É o heaven and Hell é um grande trabalho. Mas por mais que eu tente não consigo esconder minha predileção pela voz e pelas melodias do Ozzy. Temn gente que me chama de louco - ainda mais por eu ser cantor - mas o Ozzy tem um algo mais - não técnica é claro - que deixava o som do Sabbath mais dojeito que eu gosto. Menos metal quadrado e mais livre.
    Mas eu adoro os trabalhos com o Dio!

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  8. Acho que é isso mesmo, Fabiano. Enquanto com Dio o som é um metal mais técnico e épico, com Ozzy é um som pauleira bem mais livre e imprevisível.

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  9. Sem dúvida Ricardo.
    E ai vai do gosto do freguês!
    Não sei se vc´s concordam mas eu acho que o Dio trouxe muito do que ele fez no Rainbow para o Sabbath. O som do Sabbath nessa época tem mais a ver com algumas coisas do Rainbow do que com a fase Ozzy.
    Isso mostra a puta personalidade do baixinho e mostra também o que eu tanto digo quanto a falta de personalidade do Tony Martin, que entrou na banda e soou como um revival da fase Dio, sem o mestre.

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  10. Meu preferido é o Vol. 4, mas tenho um carinho especial pelo Sabbath Bloody Sabbath por ter sido meu primeiro vinil, com o plástico que envolve o bolachão cheio de logos da Warner, um do lado do outro.

    Sobre o Master, outro disco fantástico. Já passei muita fossa ao som de "Solitude", música estupenda!

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  11. E concordo em relação ao Dio ter colocado muito do Rainbow no som do Sabbath, especialmente no Heaven and Hell. No Mob Rules acho que eles conseguiram equilibrar mais um pouco.

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  12. Este comentário foi removido pelo autor.

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  13. Verdade Jay, o Mob Rules já é bem mais arrastado e com as características do que o Dio viria a fazer em sua carreira solo pós Dream Evil.

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