Crítica musical: até que ponto a amizade interfere na avaliação de uma obra?


Por Ricardo Seelig

A questão é antiga, mas sempre pertinente: até que ponto a amizade entre um crítico de rock e uma banda pode influenciar a sua avaliação sobre o trabalho? É possível fazer uma crítica isenta de um disco quando se é amigo dos caras?

Pra que serve uma resenha musical? Em primeiro lugar, a relação entre um jornalista e seu leitor é construída com o tempo. Ao ler dezenas de textos todos os dias você vai se identificando com esse ou aquele crítico, vai percebendo que a opinião de determinada pessoa fecha mais com a sua e, dessa maneira, vai construindo uma relação de confiança com alguns jornalistas.

A função de um crítico musical é, sem maiores teorias, usar da sua experiência como ouvinte de música para dizer se esse ou aquele disco são bons ou não. Pra começo de conversa, não existe crítica imparcial. Se você vai fazer um review de um álbum, você vai dar a sua opinião pessoal sobre ele. Textos que ficam em cima de muro e não se posicionam não servem para nada, apenas para encher espaço – e o pior é que, cada vez mais, eles proliferam por aí.

Uma boa crítica musical, na minha opinião, é aquela que não usa de meias palavras, que não tem medo de se posicionar. Uma boa crítica musical contextualiza o álbum que é analisado, tece teorias sobre ele, lança mão de referências ao leitor quando isso se faz necessário. E tudo isso amparado por um ótimo texto e por um grande domínio da língua. Para mim, um bom review tem que estar acompanhado por um bom texto. Muitas das minhas resenhas favoritas não estão de acordo com o meu gosto pessoal, mas são matérias tão bem escritas e argumentadas que me conquistaram.

Um crítico musical não pode ter medo de dar a sua opinião, simples assim. E ela deve ser embasada em fatos. Se o disco é bom, dizer claramente o porque. Se ele for ruim, a mesma coisa. Cada crítico descobre o seu estilo com o passar dos anos. Alguns tecem análises mais técnicas, enquanto outros buscam na literatura e até no humor elementos para criar suas identidades.

O bom crítico musical, aquele que é respeitado, tem a sua reputação construída em cima de suas opiniões. Por isso, é fundamental que ele não tenha medo de se posicionar, de dar a sua opinião sempre, doa a quem doer. No filme Quase Famosos, o personagem que retrata o famoso jornalista Lester Bangs aconselha o jovem William Miller a sempre ser impiedoso e a nunca confundir a amizade com as bandas com a sua atividade profissional. Ou seja, não tem segredo: se você souber separar as coisas, não tem erro. Uma banda boa, uma música boa, um bom disco, se sustentam por si só – e o mesmo vale para uma obra ruim. O leitor não é bobo, e sabe o que tem qualidade e o que é mero lixo.


Inspirado por este texto publicado pelo Scream & Yell em 2001, fiz a seguinte pergunta a vários jornalistas e críticos Brasil afora: é possível ser imparcial quando se faz uma crítica sobre uma banda formada por amigos seus? Qual o segredo para não cair em uma situação dessas? E, se ela acontecer, como proceder? Abaixo você lê as opiniões de cada um sobre o assunto:

Ricardo Batalha – Redator-chefe da Roadie Crew

É tão possível que acontece com muita frequência. E por que o meu amigo não pode tocar bem e gravar um álbum legal? As pessoas sempre enxergam o lado negativo da coisa, de ficar chato ter que criticar algo por ser seu amigo, mas o trabalho tem que ser analisado da mesma forma. Não existe segredo para não cair em uma situação dessas. É simples: ou se faz ou não.

Regis Tadeu – Colunista de música do Yahoo, ex-editor das revistas Cover Guitarra e Cover Baixo, entre outras

É absolutamente possível ser imparcial nestes casos, principalmente se tais amigos souberem que sua opinião é a mais sincera possível. Depois, é preciso que tal crítica seja muito bem embasada em argumentos sólidos, que permitam uma reflexão por parte dos músicos envolvidos e por quem lê a opinião em questão. Por último, é preciso que os próprios músicos entendam que a famosa conduta do "tapinha nas costas + elogios falsos" é tudo o que uma banda não pode ter se deseja realmente ingressar em uma carreira profissional.

Sergio Martins – Editor de música da revista Veja, ex-editor da revista Bizz

Amizade entre músicos e artistas é válida, desde que exista respeito mútuo e total falta de interesses. Tenho grandes amigos músicos que receberam críticas positivas por causa de seu talento e não por causa dos nossos laços de amizade – muitos deles, aliás, são meus amigos durante anos e nunca cobraram um espaço maior no meu local de trabalho. Por outro lado, existem aqueles que se aproximam dos jornalistas movidos apenas por interesse. Também conheci amigos (hoje ex-amigos) assim.

O crítico pode fazer uma matéria positiva a respeito de uma banda formada por amigos desde que ela esteja bem fundamentada. E se o fizer, não ficar alardeando que irá dar um espaço generoso. No final de 2001 fiz uma matéria sobre um artista amigo meu, que considero especialmente talentoso. Ele só soube da existência da reportagem ao ver a revista na banca. Da mesma maneira, o artista/amigo tem de se preparar para uma eventual crítica negativa. E se a partir daquela crítica ele resolver falar mal do jornalista, é bem provável que a amizade fosse baseada em outros interesses que não fosse a troca de ideias

Bento Araújo – Editor da poeira Zine

É totalmente possível! No meu ver, amizade é uma coisa, profissionalismo é outra; e graças a seriedade do meu trabalho com a pZ (onde não rolam "jabás" e coisas do tipo), todos os meus amigos músicos já sabem que eu só irei falar bem de seus trabalhos caso eu goste de verdade. Essa é a linha da pZ e de todos os meus textos: só falo do que gosto e do que acho que deva ser recomendado para os meus leitores, então não tem erro, posso garantir que tiro de letra qualquer eventual constrangimento desse tipo de situação. Penso então que o segredo para se sair melhor nesse caso é saber separar as coisas.

Fabiano Negri – Collector´s Room, vocalista da banda Rei Lagarto

É dificil resenhar trabalhos de amigos. Eu prefiro fazer um comentário imparcial diretamente para o amigo em questão e não publicá-lo. Sempre eu ouço com a aquela sensação de que tenho que dar uma força e fica complicado – no caso de eu achar o trabalho uma merda – de colocar o brother numa posição chata. Assim também posso fugir de comentários sobre a veracidade da resenha, afinal o mundo é pequeno. Aplico o mesmo para meus inimigos declarados.

Respondendo bem diretamente a pergunta: no meu caso, não consigo ser imparcial se for para publicar a resenha. Numa conversa informal me sinto mais a vontade para falar o que eu achei, sem medo. De maneira alguma vou queimar um amigo músico. O segredo para uma situação dessas é não resenhar trabalhos de amigos. Mais ou menos como aconteceu comigo e meu grande brother Tony Monteiro – um dos melhores textos sobre rock no Brasil. Ele já resenhou muitos trabalhos meus, mas chegou um momento que estávamos tão próximos que ele teve o profissionalismo de não escrever mais sobre os meus projetos. Acho que a atitude dele está mais do que correta. Ele não teria a manha de publicar uma resenha se eu fizesse merda.

Thiago Rahal Mauro – Roadie Crew

Sim, é possível. Basta você não misturar as coisas: amizade é amizade, trabalho é trabalho. Parece fácil, mas não é. As tentações são grandes, porém temos que pensar primeiro no nosso trabalho e depois nos amigos. As pessoas se esquecem que quem compra a nossa opinião são os leitores, e se eles perceberem que estamos favorecendo algo ou alguém em favor dessa amizade, quem perde com isso é o jornalista musical.

As festas, lançamentos de CDs ou pocket shows, são armadilhas para quem escreve neste meio. Comida de graça, discos na faixa, ingressos para shows a rodo ... os músicos, sempre solícitos e aparentemente "amigos" dos jornalistas, se aproveitam da nobreza e da ingenuidade de algumas pessoas para jogar o seu charme e conseguir uma nota ou palavra favorável para as suas bandas.

Se o trabalho é bom, diga diretamente para o músico. Se for ruim, faça o mesmo, mas não diga que é ruim e pronto, explique o porque dessa opinião, mostre que conhece mesmo do assunto e, antes de tudo, nunca mude a sua opinião por causa de amigos. Se você acha isso, se não tem nenhum erro, fique com ela até o final, até provarem o contrário.

João Renato Alves – Collector´s Room

Na teoria, é possível ser imparcial em uma situação do tipo. Mas, na prática, a coisa fica diferente, especialmente porque o lado sentimental pode falar mais alto, ainda mais quando se trata de um meio amador, caso da maioria esmagadora da mídia musical, especialmente na internet. A não ser que o crítico esteja disposto a arcar com as consequências. Se ele não tiver certeza que pode dar conta do recado, deve se abster e passar para outro.

Eliton Tomasi – Som do Darma, editor da extinta RockHard/Valhalla

Vamos imaginar uma situação: você e seu melhor amigo são sócios em um negócio muito lucrativo, da qual depende sua vida e de toda sua família. De uma hora para outra o sucesso sobe à cabeça desse seu amigo, que começa a colocar o negócio em risco por própria imprudência dele, de forma que se ele continuar no comando da empresa o negócio vai à falência. Obviamente que você não hesitaria em tirá-lo do negócio e salvar sua empresa, mesmo que isso custe a sua amizade. Afinal, essa é a atitude correta a se tomar.

Encare a crítica musical com tal seriedade e você não encontrará dificuldades para ser imparcial. Credibilidade é a coisa mais importante para um profissional da comunicação, e isso só se conquista tomando sempre a atitude correta, independente se ela é parcial ou imparcial. Aplique sempre o discernimento para saber o que o momento exige.

Adriano Mello Costa – Blog Coisa Pop

É muito díficil ser imparcial quando se fala de uma banda de amigos. Mesmo que o disco seja horrível e o texto que eu escrevo diga isso com todas as letras, em algum momento vai ter uma amansada ou pelo menos a indicação do que de bom tem. Agora, cabe ressaltar que os tempos de hoje são diferentes do retratado na epoca do Quase Famosos e até mesmo do texto do Scream & Yell. A produção é bem maior, para o bem e para o mal. No entanto, há de se dizer também em que há casos que o disco é realmente bom.

Acredito que o melhor caminho pra se tomar, caso isso ocorra em escala maior, como em um grande veículo de comunicação, seja se abster de fazer a crítica. Passar a bola para outra pessoa é a melhor saída.

Thiago Cardim – Whiplash e Observatório Nerd

Eu já sou, por definição, contra este conceito de que um crítico tem que ser imparcial em qualquer que seja a situação, em qualquer que seja a editoria. Uma crítica vem sempre embasada de uma dose cavalar de opinião pessoal - ou então todas as críticas seriam rigorosamente iguais e refletiriam um mesmo posicionamento/argumento. Se estou lendo um texto deste ou daquele crítico, quero saber se ele gostou ou não daquele disco, daquele show, daquele filme, daquele livro. Porque, inconscientemente, vou comparar com meus próprios gostos pessoais e saber se vou ou não dar uma chance àquele disco, àquele filme, àquele livro. É natural, não tem nada de errado nisso. Imparcialidade na crítica cultural é uma falácia criada por alguém que se achava acima do céu e da terra, do bem e do mal - e queria que a gente acreditasse nisso, que ele não podia ser contestado. "Não, não é uma opinião minha. É uma crítica imparcial". Fácil se colocar no papel de super-homem.

Assim sendo, não, não acho que seja possível ser imparcial quando se escreve sobre uma banda de amigos. Mas acho que seja possível sim escrever sobre a banda de amigos. Já aconteceu comigo em pelo menos três ocasiões diferentes. Não tive como fugir, os caras sabiam que eu escrevia sobre música, quiseram colocar o CD do grupo na minha mão. Ainda tentei argumentar, sair pela tangente, "pô, mas vocês são meus amigos, é claro que vou acabar falando bem do trampo de vocês, não é ético", joguei o maior papo furado. Nunca adiantou, nunca me salvou.

Já me aconteceu até com a banda da minha esposa, na época. Aí é ainda mais escabroso. Acabei encarando o desafio e ouvindo, sem preconceitos. Mas deixei bem claro: "olha só, você tá pedindo minha opinião, certo? Então, vou escrever a minha opinião. De verdade. Se eu gostar, gostei. Mas se não gostar e tiver que levantar os problemas, não me vá ficar chateada". Abrindo o jogo assim, sempre deu certo. Um grande amigo me pediu, então, para não escrever e publicar, mas apenas para dar a minha opinião sincera para que ele e os camaradas de banda tentassem melhorar.

Na minha carreira, teve apenas um único caso de um amigo de um amigo que ficou meio bravo com o que eu disse, e por pouco não veio tirar satisfações. Era de uma banda de hardcore muito tosca. Paciência. Ele faz a música do jeito que quer e, como artista, tem todo o direito de se soltar criativamente. Mas eu, como crítico, tenho todo o direito de escrever o que eu bem entender. Liberdade total para ambos. É assim que a coisa funciona.

Rodrido de Andrade – Editor d'Os Armênios

Imparcialidade é um dos pilares do paradigma jornalístico brasileiro. Esse modelo, inclusive, foi totalmente importado dos Estados Unidos, como é ensinado nas faculdades de Comunicação Social. Outras características dele seriam a objetividade, a factualidade e busca pela verdade. É importante deixar claro que existem várias maneiras de se produzir jornalisticamente. Na França, por exemplo, se preza muito mais a opinião, o posicionamento e se admite, inclusive, devaneios e experimentações estéticas no texto. É uma escola fundamentada em vertentes do jornalismo literário.

Em Os Armênios, nadamos contra toda essa maré do jornalismo praticado no país. Inclusive, cunhamos um termo para descrever nossa prática: (anti) Jornalimo (contra) Cultural. Não acreditamos em imparcialidade e nem na verdade. E mais: se ela — a verdade — existe, certamente não é o método jornalístico que vai conduzir ao seu encontro.

Pensando no caso específico da crítica musical de trabalhos de conhecidos, já cheguei a algumas conclusões um tanto quanto interessantes. Talvez por afinidades musicais, acho realmente que alguns dos meus amigos gravaram discos fabulosos! Por exemplo, considero o primeiro álbum da Cachorro Grande um dos melhores — senão o melhor — do gênero rock lançado no país na última década. Também, acho que o único CD dos Locomotores — que infelizmente não teve a repercussão merecida — é um discão de primeiríssima linha!

Mas existem alguns trabalhos de amigos que realmente não possuem aquele brilho especial. Traçando um contraponto com o parágrafo anterior, irei me valer de uma banda já citada como exemplo: as produções recentes da Cachorro Grande tem alguns momentos que considero um tanto mornos, pré-fabricados e repetitivos.

Mas acredito que sim, é possível fazer um texto sem ser tendencioso. Basta encarnar o espírito acadêmico e descrever o trabalho dos amigos a partir de termos estéticos. Mas não tenho dúvidas de que isso torna a crítica burocrática, sem vida. E sim, em termos classificatórios, essa forma careta não deixa de traçar um panorama sobre o objeto de estudo.

Por fim, finalizo afirmando que considero justo escrever sobre os amigos: a proximidade garante ao escritor o conhecimento de detalhes e histórias com um rigor e frescor inalcançável para os desconhecidos!

Thiago Sarkis – Roadie Crew

O jornalismo deveria extinguir o termo imparcialidade e adotar alguma noção próxima à de um distanciamento possível. Seria menos frustrante para todos, porque a imparcialidade, o jornalista sendo ou não amigo do músico, não passa de um ideal remoto sob o qual se sustenta a prática jornalística. A imparcialidade é apenas uma meta longínqua, jamais alcançada em sua plenitude. Só para constar: críticas ferrenhas a álbuns de amigos não provariam o contrário, nem mostrariam a incrível capacidade de um jornalista de separar seus papéis como amigo e profissional. Para discutirmos isso, precisaríamos partir para reflexões e estudos de vários campos diferentes de conhecimento. Uma coisa é fato: a imparcialidade, além de idealizada, é ilusória, pelo menos em sua totalidade.

É possível, porém, distanciar-se de forma razoável daquilo que se critica, fazer um recorte sobre o objeto analisado, e assim minimizar as inclinações pessoais sobre o que se estuda, avalia e analisa. Minimizar, jamais eliminar. É evidente que ser amigo de um músico não colabora para a crítica; pretenda-se esta crítica imparcial ou não. A arte é uma criação e, como toda criação, tem uma assinatura que agrega valor a ela. Se você sabe quem assinou, esqueça a imparcialidade. Consciente ou inconscientemente, haverá algo de parcial. A criação nunca é avaliada como ela só. Ela carrega história, afeto, pré-concepções.

Vinícius Mariano – Editor da revista eletrônica do Conservatório Souza Lima e colaborador da Roadie Crew

Eu acredito que é possível, apesar de algumas situações te colocarem em uma sinuca de bico. O segredo da imparcialidade é falar o que realmente você acha sobre um determinado assunto, independente de os envolvidos serem seus amigos ou não. Se o material for bom, as críticas serão igualmente proporcionais. Se for ruim, é ruim e ponto. Não se pode jogar areia nos olhos do leitor. Até porque isso um dia vai colocar o seu trabalho em dúvida. Um amigo seu de verdade não pode se importar com uma coisa como essa a partir do momento que colocou um material em sua mão. E, além de tudo, amigo de verdade são aqueles que são transparentes em qualquer situação, e não aqueles que dão tapinhas nas costas.

Nesses anos coisas do tipo já aconteceram comigo, e a maioria entendeu e considerou como algo positivo. Muito deles realmente cresceram com isso. As derrotas o tornam mais fortes e lhe prestam uma lição. O meu caso é um pouco complicado porque eu também sou vocalista, e quando critiquei alguns esses acharam que eu estava fazendo comparações ou me achava mais do que eles. Se você não está preparado para uma crítica, não está preparado para a vida.

Maurício Ângelo - Movin' Up

Essencialmente, a questão básica é: existem críticas boas e ruins. Ponto. Ou seja: é necessário que o texto seja construído sob o mínimo de argumentação decente possível, inclusive apontando o que você considera "falhas". Dessa maneira tanto algum músico/banda que você tenha alguma amizade quanto outra que não tenha, terão a capacidade de interpretar e respeitar seu texto.

Imparcialidade é ilusão. A "brodagem" no meio musical costuma gerar sérios problemas: desde sempre e hoje em dia, com a cena "independente" brasileira em efervescência, essas relações tendem a cair num oba-oba mútuo que não interessa a quem realmente importa: o público. Cheguei a aprofundar isso neste texto.

Fato é que poucas vezes o ser humano consegue receber críticas de maneira saudável. Erro grave para quem tem qualquer tipo de aspiração artística. Sempre tomo cuidado ao ficar amigo de bandas ou músicos. Ao mesmo tempo que é inevitável é preciso deixar claro que ele terá a mesma análise que qualquer um teria: o grau de "parcialidade", dentro dos limites estreitos da nossa ilusão de isenção, será o mesmo. Nunca servindo para elevar algo que você realmente não acredita que seja aquilo.

Afinal, é o respeito ao trabalho de cada um que precisa ser preservado. Dentro disso, basta maturidade suficiente para lidar com o que inevitavelmente temos que lidar na vida, dentro ou fora da música e do jornalismo.

Comentários

  1. Eu acho que depende muito da situação. Já houve casos em que uma revista (Rock Brigade) empresariava uma banda (Angra) e os redatores da revista sempre davam nota máxima ou próximo disso. Nesse caso, considero que não há possibilidade de haver imparcialidade. Lógico que o dono da revista, sendo também empresário da banda, não vai permitir que algum redator ou colaborador da revista faça uma crítica negativa, por mais que o álbum em questão esteja abaixo da espectativa. Só considero possível a imparcialidade, se houver um distanciamento entre o lado pessoal e o profissional. Mas para isso, os laços de amizade entre crítico e artista devem ser fortes o suficiente para não interferir na avaliação, tanto para o lado positivo como para o negativo.

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  2. Pois é, Aldo, mas daí ei pergunto: todo mundo sabia que o Pirani, dono da Rock Brigade, era o empresário do Angra. Alguém dava bola para as resenhas da revista sobre o Angra? Não. E mais: TODOS os discos lançados pela Rock Brigade Records também recebiam avaliações muito positivas, geralmente bem acima da qualidade do disco. Em uma prova de que o leitor não é burro, essa postura da Rock Brigade acabou com a credibilidade da revista.

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  3. Parabéns pela matéria! Todas os depoimentos foram extremamente precisos e relevantes!

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  4. Ótima matéria. Colocando lenha na fogueira, agora, segue a próxima pergunta:
    "Até que ponto aspectos comerciais interferem na avaliação de uma obra?"

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  5. Aspectos ou interesses, Leonardo? Se forem interesses, o caso da Rock Brigade exemplifica.

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  6. ...digamos que uma determinada banda ou gravadora anuncie algumas páginas em alguma revista. Isso influencia no review de um album? Por isso eu disse "aspectos" e não interesses..
    Meu comentário se baseia no fato de que em muitas revistas, normalmente nos deparamos com inúmeros reviews "chapa branca" e/ou notas de 7 pra cima...

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  7. O "chapabranquismo" é uma característica muito presente nas publicações de Metal. Pau só quando o trabalho foge dos padrões (Halford fazendo canções natalinas ou Helloween no Unarmed) ou quando é uma banda que se sabe que dificilmente vai dar as caras em algo mais relevante.

    Se for uma banda do cenário nacional, vem aquele falso moralismo de vestir a camisa. Uma banda consagrada, então, vem o medo de se queimar com os fãs. Disco do Iron ou do Ozzy não baixa de 7,5. Embora, muitas vezes, o conteúdo do review até aponte que a nota deveria ser mais baixa. Mas aí "pesa a camisa", como a gente costuma dizer no futebol. Pior é quando chegam ao ponto de quase pedir desculpas no texto por não darem nota maior à instituição sagrada.

    Um exemplo clássico foram as resenhas do Dance of Death, do Iron. Pancadas de leve, nota 8 ou 7,5. Fosse um nome sem a mesma força, creio com muita convicção que a coisa seria diferente. É um exemplo onde o sentimental pesou e bastante - ou, me perdoem o termo, a falta de colhões.

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  8. Excelente, jay. É isso aí. Acho que o "chapabranquismo" como vc mesmo disse é também caracteristico não só das publicações, mas tb do público, que espera mais ou menos isso mesmo. Geralmente quem reclama (acredito que o perfil de quem frequenta aqui é exatamente esse)é justamente quem gosta de música no geral e não só de um estilo, como por exemplo o metal.

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  9. Exemplo disso é um ex-colaborador do blog que disse que o The Final Frontier, do Iron Maiden, era o melhor disco de 2010 só porque era de sua banda favorita - apesar de ele às vezes gostar e às vezes detestar o disco. Não dá, né gente!

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  10. Venho do tempo em que o público que consumia música era praticamente refém dos então poderosos críticos musicais. Como a Internet ainda estava longe de ser uma realidade, qualquer coisa que aqueles iluminados escreviam era considerada verdade absoluta, embora um ou outro leitor esperneasse com o teor depreciativo de algum texto. Cito a falecida revista Bizz com seus jornalistas boçais, salvo as exceções de praxe. Lembro de críticas generosas a bandas que nunca passaram do primeiro álbum, e de matérias corrosivas a álbuns notáveis. Estávamos nos anos 80 e 90.

    Hoje sei que havia uma troca de favores, entre os jornalistas e as bandas [ou os empresários destas]. As moedas de troca eram na forma de ingressos para shows, viagens, brindes e outros mimos. Era um jabaculê turbinado.

    ***

    Acredito, sim, em crítica imparcial. É simples: quando o disco não interessa, tampouco afeta o gosto musical do crítico e, principalmente, quando não há nenhum vínculo de amizade com o(s) artistas(s). De outro modo, essa imparcialidade é inviável, penso.

    Já passei pela experiência de julgar o trabalho da banda do filho de um amigo meu [até parece piada]. O álbum era bom mas nem tanto. E tive de dizer isso na lata mesmo. Tudo ficou bem.

    Em resumo: O melhor crítico musical é aquele que compra o disco, ouve, e publica suas impressões nos sites e blogs da vida.

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  11. Falar sobre ser imparcial é complicado porque todas as pessoas se posicionam para resenhar um livro, um disco ou mesmo um filme o que não é nenhum pecado desde que seja honesto com o que esta fazendo colocando que sua opinião é acima de tudo pessoal e não profissional como teimam muitos jornalistas em quer dizer que “A” é “B” e ponto final.
    Na maioria das resenhas que eu já li e olha que não foram poucas em vinte anos como leitor de publicações de metal, noto que 90% não são profissionais, pois é ai aonde o mito da imparcialidade vai pelo ralo devido ao conteúdo que apresenta um teor altíssimo de juízo de valor totalmente pejorativo e em alguns casos perversos, pois, expõe de maneira negativa o caráter do artista.
    E outra coisa que é ridícula é o ego de quem escreve as tais resenhas sejam elas de seus amigos ou não, é querer transformar aquilo em verdade absoluta como se um dogma enfim aquele velho fundamentalismo, para esses eu sugiro a leitura dos filósofos gregos (Platão e Aristóteles) para entender o que são verdades.
    E outra as resenhas comparativas são horríveis em sua esmagadora maioria não tem cabimento como o resenha do Metal Black do Venom feita pelo Ricardo Campos da Roadie Crew, bom pelo menos em minha opinião a única semelhança ente esse álbum e o Black Metal é só o trocadilho, pois, em termos musicais é outra música, outro álbum que por sinal é muito bom.
    Um exemplo da imparcialidade é a Rock Brigade cujo dono da revista é também dono do selo Laser Company, e como diz o Seelig sempre favoreceu os álbuns lançados pelo seu selo e um caso que me lembro é do primeiro disco lançado pela banda de metal melódico espanhola Dark Moor, que no Brasil foi lançado pela Megahard, e a resenha dele foi vergonhosa já que o segundo disco lançado pelo selo do Senhor Antônio Pirani, recebeu uma crítica muito boa infinitamente superior a crítica recebida pelo primeiro álbum, e sempre foi assim nunca foi diferente e isso mostra uma coisa que esse cidadão sabe muito bem o poder de influência que tem os veículos que ele comanda, ou seja, sabe que as pessoas não pensam por si próprias e se fiam nos textos dos jornalistas. Mas em relação à decadência da revista pelo menos em minha opinião foi quando peguei um número que tinha como capa uma briguinha entre o pessoal do Korzus e do Dorsal Atlântica, o que em minha opinião é irrelevante quem está certo ou errado, mas sei que os resultados disso servem muito bem para manchar a imagem de todos e principalmente dos artistas que se deixam influenciar pela imprensa marrom, o que é fogo no metal!

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  12. Já que os jornalistas querem ter um distanciamento maior do objeto que pretende dissecar busquem apenas apresentar o material e esquecer a nota que é um sistema arrogante e ridículo, pois, eu compro revista para ler as resenhas não para ouvir somente a opinião do jornalista e isso me faz relembrar as resenhas comparativas que caem no anacronismo jogam impiedosamente o presente no passado o que não ajuda nada muito pelo contrário atrapalha pelo pequeno espaço dedicado ao álbum e se nos lembrarmos bem o passado é algo que não se pode reconstruir então obviamente os artistas não repetiram os álbuns clássicos até por uma questão de limitação criativa.
    A Roadie Crew é uma excelente publicação sou leitor da revista desde 1998, mas tenho umas criticas para ela neste sentido, pois, nota que ela é vitima do discurso dela, pois, o Batalha uma vez no quadro Roadie Parade quando vou dar sua sentença sobre um lançamento do Dream Theater diz “não é um Images And Words” o que seria ridículo se fosse uma cópia, do tal álbum (embora em minha opinião essa banda seja uma chatice porque música não é só técnica e muito menos virtuosismo). E junto a isso a banda Sunseth Midnight também foi favorecida quando teve sua resenha publicada, mas só que a maneira como foi feita é mais inteligente pegaram outro jornalista que talvez não faça parte da equipe da revista e deram para ele resenhar o cd que obteve a nota 9 o que equivale de acordo com padrões da revista a excelente e quando você ouve o tal álbum não é nada disso a instrumental é boa muito bem gravada, mas o vocal bota o trabalho na berlinda talvez outras pessoas ouçam o trabalho e considerem que ele mereça essa nota outros como eu acham que uns 2 pontos a menos já estivessem bom de mais e pronto e no pior dos casos alguns achem um lixo total, afinal de contas gosto é gosto é fruto de uma opinião pessoal.
    E para finalizar o meu texto gostaria de ressaltar que democracia não é só dar espaço para todos os estilos que existem no meio do heavy metal, é acima de tudo fazer resenhas que não à pretensão de ser porta vozes da verdade absoluta, pois a própria verdade é antidemocrática não permite que o outro manifeste sua opinião e isso serve muito bem para os jornalistas que gostam de se mostrarem como os profetas da sociedade e confundem uma possível explicação com a verdade, e isso fica transparente nas publicações que infelizmente não fazem uma única critica a indústria musical soam muito apologéticas.

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  13. Metalhead, tudo bem?

    Acho que você confundiu um pouco as coisas. A matéria pergunta se é possível iu não ser imparcial quando avaliamos discos de amigos, e as respostas são sobre isso.

    Agora, de um modo geral, não existe, e não tem como existir, uma crítica imparcial. Como escrevi, ela sempre terá a opinião do autor - seja na música, no teatro, na literatura ou no cinema. É para isso que uma crítica serve: para o crítico deixar clara a sua opinião sobre a obra analisada. O que não pode é ela ser gratuita - tanto para o lado positivo quanto para o negativo. Tanto os elogios quanto as críticas devem ser embasadas em argumentos, daí a coisa funciona.

    E sobre tirar a nota, na minha opinião isso também é desnecessário, pois ela é essencial para o que se propõe.

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  14. Muito legal essa iniciativa, Cadão, de compilar essas opiniões de pessoas que escrevem e tem isso no cotidiano. Concordo com o pessoal que diz que a imparcialidade de fato é uma utopia, um ponto intangível. Mas há graus de parcialidade em que o trabalho pode ser feito com credibilidade e seriedade. Eu gosto de ler e me basear em crítica pra conhecer algo. Como vc bem disse, a pessoa pela experiência de tanto ouvir, adquire a aptidão para categorizar (ainda que num parâmetro bastante subjetivo) os trabalhos como recomendável ou não recomendável. Mas acho que se isso ocorresse comigo, talvez me absteria de resenhar um trabalho de um amigo próximo. Pq pro amigo, vc diz na lata que gostou ou não (eu pelo menos ajo assim). Se eu escrevesse, consideraria como uma divulgação do trabalho e não uma resenha. E o interessante pra ele seria justamente um comentário de alguém totalmente externo, esse tem mais a agregar msm. Seria o mesmo que a sua mãe dizer que vc é bonito, ou a gata da capa da Trip dizer que vc é bonito. Qual dos duas opiniões pesaria mais, hein?!
    Abraço!
    Ronaldo

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  15. Olha... acho impossível haver imparcialidade qdo vc vai julgar o trabalho de alguém que vc tem uma ligação emocional. Primeiramento porque imparcialidade total realmente não existe por n motivos já discorridos nos ótimos comentários dos colegas, segundo porque se vc gosta da pessoa...não tem jeito...vc pega mais leve na hora de criticar.... pode até falar os defeitos...mas de forma inconsciente você acaba dando uma suavizada na crítica.... que sempre deve ser educada e embasada...mesmo quando é pra dizer que o trabalho nunca deveria ser lançado daquela maneira. Agora sobre o papel da crítica, pra mim foi sempre indicar coisas legais que eu possivelmente posso estar deixando passar, já que para coisas que os criticos falam mal a subjetividade é um fator muito forte e eu posso acabar gostando...então não dou muita bola pra critica negativa...ainda mais nestes tempos de internet que podemos experimentar tudo antes de comprar... uma pena que muita gente e os próprios artistas não pensam desta maneira... muito estresse poderia ser evitado...afinal de contas é tudo uma questão de gosto e maturidade

    Grande materia e grandes comentários dos colegas

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  19. O Seelig eu sugiro que você leia outra vez o que eu escrevi, pois, penso que você não entendeu, pois, aquele texto não é nenhum pouco gentil vamos dizer assim.
    Leia com mais calma e atenção que você vai ver que aquilo tem uma sequência lógica que se coaduna com a sua pergunta.

    Um grande abraço e parabéns pelo seu trabalho que eu acompanho algum tempo desde portal Whiplash e este blog não é nenhum surpresa pelo conteúdo apresentado.

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