Johnny Cash: review da HQ Johnny Cash - Uma Biografia!


Por Adriano Mello Costa

Quando o filme Johnny & June foi lançado em 2005, uma nova onda de revisitação ocorreu com a obra do cantor norte americano Johnny Cash. Enquanto o ícone do country, admirado por outros públicos a partir da série American nos anos 1990, era visto na grande tela, lá na Alemanha, mais ou menos um ano depois, o quadrinista Reinhard Kleist lançava um álbum cujo intuito também era contar a vida cheia de altos e baixos do Homem de Preto.

Johnny Cash - Uma Biografia (Cash - I See a Darkness, no original) foi lançado aqui no Brasil em 2009 pela editora gaúcha 8inverso (com tradução de Augusto Paim), depois de receber vários prêmios na Alemanha. O autor Reinhard Kleist inclusive passeou no país para o lançamento da mesma durante algumas semanas. Nas 224 páginas da obra, temos uma visão interessante sobre a vida do músico que vendeu mais de 50 milhões de discos na carreira.

É claro que os fatos marcantes que guiaram sua vida estão presentes. Está lá a infância e a morte do irmão, a saída para a cidade grande, o sucesso inicial, o começo da relação com as anfetaminas que quase lhe custaram tudo, o envolvimento com June Carter, a queda e o renascimento com dois discos ao vivo gravados em penitenciárias em 1968 e 1969. Depois dá um salto para a época das gravações com Rick Rubin nos anos 1990, que novamente o ressuscitaram.


Enquanto o filme de James Mangold se concentrou bastante na relação com June Carter, Reinhard Kleist opta por um caminho mais escuro e denso. Com traço forte e marcante, olha para a vida de Johnny Cash por visões diversas, como a do próprio músico e seu envolvimento pesado com drogas, que o faz oscilar e alterar seu humor, como também do preso Glen Sherley, que consegue fazer uma canção sua ser tocada no show na penitenciária de Folsom.

Esse olhar mais pesado que o filme preferiu não se aprofundar guia um roteiro que poderia perfeitamente também dar um ótimo longa. Mesmo deixando a fase dos anos 1970 e 1980 de fora (que convenhamos não teve assim tantas histórias), consegue ser bem completo. As páginas finais, com uma livre interpretação de uma conversa entre o músico e Rick Rubin, são ao mesmo tempo poéticas e carregadas de tristeza, retratadas belamente nos desenhos do autor.

Johnny Cash - Uma Biografia tinha tudo para parecer oportunista, tendo em vista a coincidência de datas com o lançamento do filme, mas traz um brilho próprio que supera várias vezes o longa. O músico, que nos anos 90 lançou cinco discaços com gravações de Beck, U2, Soundgarden e Trent Reznor, entre outros, tem sua vida contada novamente. E como está escrito no álbum: "São as histórias que permanecem (...). E histórias precisam ser contadas”. Concordo.

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