Radiohead - The King of Limbs (2011)


Por Ricardo Seelig

Cotação: **1/2


Já disse, e repito: na realidade em que vivemos, para uma banda fazer não só eu e você, mas todo mundo – gente normal mesmo, que não compra mais discos e baixa tudo na internet -, parar e ir em uma loja comprar um CD original é preciso que ela seja muito grande. Imensa. Gigante. Como poucas. Desta lista fazem parte nomes como U2, Rolling Stones, Metallica e Iron Maiden para os fãs de heavy metal, e quem mais? A julgar pela comoção mundial em torno de The King Of Limbs, o Radiohead também, é claro.

The King of Limbs, novo álbum do quinteto de Oxford, foi anunciado semana passada e pegou os fãs de surpresa, já que não havia comentário algum sobre a banda estar em estúdio. A expectativa entre os fãs e na crítica especializada chegou a níveis estratosféricos, com previsões já apontanto The King of Limbs como álbum do ano. Mas a coisa não é tão simples assim.

Como sempre, ouvir um disco do Radiohead continua sendo uma experiência sonora complexa. O novo álbum não foge disso. A audição de The King of Limbs é difícil, com faixas sem refrão e com estruturas diferentes daquilo que estamos acostumados. Talvez o charme de um trabalho do Radiohead esteja nisso mesmo, mas o fato é que não dá para entender The King of Limbs de saída. É um disco viajante, que leva o ouvinte para outra dimensão. Não é pop, não é rock, não é eletrônica, não é jazz, não é ambient, não é blues. É Radiohead, e tudo o que isso significa – tanto para bem, quanto para o mal.

“Bloom” tem um início esquisito, mas aos poucos o ar inóspido vai ficando para trás, revelando uma composição climática e perfeita para a abertura do álbum – e, muito provavelmente, também dos shows. “Morning Mr Magpie” é um loop hipnótico com boas linhas vocais, uma canção simpática que busca levar o ouvinte ao transe, mas precisa, indiscutivelmente, de sua cumplicidade para tal feito.

Instrumentos acústicos marcam “Little by Little”, em contraste com o clima eletrônico das duas primeiras faixas. Já “Feral” é uma instrumental com andamento quebrado e sons esquisitos, e que, muito provavelmente, funcionaria melhor como trilha, acompanhada de imagens, já que é uma composição muito mais sensitiva do que qualquer outra coisa.

“Lotus Flower”, o primeiro single, é a faixa mais audível de The King of Limbs. Agrada de imediato, muito pela sua estrutura mais tradicional, ao contrário das outras, que vêm carregadas com a onipresente inovação e inquietação criativa do grupo. Linhas vocais grudentas de Thom Yorke sob uma base eletrônica resultam em um som agradável e reconfortante. Grande canção!

Um piano soturno inicia “Codex”, balada triste e climática. “Give Up the Ghost” é outra com sonoridade acústica, mas acaba passando a sensação de, literalmente, nunca acontecer para o ouvinte. O encerramento com “Separator” é outro bom momento de The King of Limbs, onde, mais uma vez, o uso de estruturas mais tradicionais torna a assimilação das ideias do grupo mais fácil para quem está do outro lado, tentando curtir o disco.

Dizem por aí que a versão disponibilizada pela banda para The King of Limbs seria, na verdade, apenas uma prévia do álbum, e que ele só estaria completo na versão dupla em LP que chegará às lojas em breve. Se for só isso mesmo, The King of Limbs é muito barulho por nada, já que suas oito canções – com exceção de “Lotus Flower” e “Separator” - ficam dando voltas ao redor do próprio rabo, revisitando conceitos já explorados pela banda anteriormente, e com a dose habitual de brilhantismo que nos acostumamos a ouvir.

Se for só isso mesmo – e tomara que o grupo nos surpreenda e revele mais material -, The King of Limbs, ao invés do título de álbum do ano, é sério concorrente à decepção de 2011, infelizmente.


Faixas:
1 Bloom 5:14
2 Morning Mr Magpie 4:40
3 Little by Little 4:27
4 Feral 3:12
5 Lotus Flower 5:00
6 Codex 4:46
7 Give Up the Ghost 4:50
8 Separator 5:20

Comentários

  1. Tá ai uma banda que não me agrada.
    Tirando algumas boas canções o resto me parece uma viagem do Thom Yorke pelo próprio umbigo.
    E esse novo CD é mais "intelectualizado" ainda.
    Achei que vc foi até bonzinho demais com a nota.
    Bom, tem muita gente que idolatra a banda. Eu ainda não entendi o recado!

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  2. Eu gosto muito da banda, mas sou old school, gosto das guitarras que o Radiohead apresentava até Ok Computer e em alguns momentos depois disso.
    Kid A demorou anos pra me conquistar e ainda acho essas eletronices meio viagens, alguns discos demoram pra ser digeridos, mas tô achando esse aí fraco demais.
    Deve ser uma piada da banda. Um amigo me lembrou que é muito pouca música pra encher dois discos de vinil. Espero que venha mais pois comprei a edição com CD e vinil.

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  3. Curto bastante a banda, mas vou esperar sair a versão definitiva para ouvir. Pelo visto, é uma pegadinha dos caras, e esses talvez sejam os b-sides e outtakes-li que a faixa "Morning Mr.Magpie" já é bem antiga...vamos aguardar.

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