Quais bandas têm mais coletâneas?


Por Ricardo Seelig

O anúncio do lançamento de From Fear to Eternity: The Best of 1990-2010, nova coletânea do Iron Maiden, levantou a questão: para que serve uma compilação? Elas são mesmos necessárias? Quem as compra? E qual o número máximo de compilações que uma banda ou artista pode lançar?

Pra começo de conversa, as coletâneas possuem um grande valor para quem quer conhecer o trabalho de uma banda. Ali estão, em um mesmo disco, seus maiores sucessos e suas músicas mais conhecidas, formando um resumo da carreira do artista em questão. Portanto, se você quer mergulhar na obra de um grupo que não conhece, não há porta de entrada melhor do que uma boa coletânea.

O parágrafo acima responde a segunda pergunta: elas são, sim, necessárias. Além de apresentar a obra de uma banda para novos ouvintes, uma boa coletânea, produzida com cuidado e critério, pode transformar esse ouvinte curioso em um fã, fazendo com que ele se interesse pelo grupo e vá atrás dos demais itens de sua discografia. Quem, em algum momento da vida, não passou por uma situação parecida com essa? Lembro que, na minha adolescência, quando a grana era curta e a curiosidade era enorme, cansei de comprar compilações em vinil para conhecer a obra de grupos que apenas havia ouvido falar através da leitura de revistas especializadas. Alguns curti, outros não. Alguns virei fã, outros não ouço mais, mas elas me mostraram diversos universos sonoros que ajudaram a formar o meu gosto musical.

Além do ouvinte curioso e sedento por conhecer novos sons, quem mais compra coletâneas? No caso específico do Iron Maiden – e de outros grupos com fãs dedicados e apaixonados, como o Kiss, o Dream Theater e os Beatles -, os colecionadores também correm atrás das compilações. Para um colecionador, não possuir um item do artista objeto de seu acervo é motivo para perder o sono. Por mais que as músicas presentes na compilação já sejam conhecidas e estejam presentes em diversos outros discos de sua coleção, ele precisa ter o CD em seu acervo, e aí entram outros fatores, como a capa, a arte gráfica, o encarte e o acabamento, que, nestes casos, conquistam o fã de maneira tão forte quanto a música. No caso de From Fear to Eternity, ela será lançada também em vinil picture triplo. Que fã do Iron Maiden não gostaria de ter esse LP em sua casa?

E, afinal, qual seria o número máximo de compilações que um artista poderia lançar em sua carreira? Respondendo rapidamente, não há limites para isso. Todo e qualquer artista tem o direito de fazer o que quiser com a sua obra, e se ele achar pertinente lançar uma nova compilação por ano, que lance. Mas o fato é que o bom senso deve ser levado em conta nesse momento. É preciso não banalizar a obra de uma banda, colocando no mercado todo tipo de itens e lançamentos – não é mesmo, Gene Simmons? Ao mesmo tempo, um novo lançamento, mesmo que seja uma compilação, acende novamente o interesse dos ouvintes e, principalmente, do mercado, por aquele grupo. Por isso, é comum vermos grandes nomes da música voltando às lojas de discos de tempos em tempos com novas compilações. Isso acontece em todos os gêneros musicais, e é uma das ferramentas mais antigas e eficientes da indústria fonográfica.

O lançamento de From Fear to Eternity fez com que surgissem comentários do tipo “mais uma coletânea do Iron Maiden?”, “os caras adoram tirar dinheiro dos fãs” e congêneres. Em relação a esse lançamento específico, eu, como fã e colecionador do Maiden, gostei, pois reúne em um único álbum aquela que é a fase mais subestimada do grupo, já que todo mundo tem o discurso pronto que o Iron Maiden bom mesmo era aquele dos anos 1980, ignorando os trabalhos mais recentes do sexteto. É claro que sempre fica faltando alguma música – no meu caso, colocaria “Ghost of the Navigator”, uma das melhores faixas de Brave New World (2000), no set list -, mas o resultado final é coerente.

Mas, afinal de contas, respondendo o título deste post: quais bandas lançaram mais coletâneas em suas carreiras? Pra começar, é preciso traçar alguns parâmetros para fazer essa análise. No nosso caso, não serão contabilizados boxes e compilações com outtakes e músicas inéditas no estilo de Anthology e Past Masters,dos Beatles. Além disso, existem lançamentos específicos em diferentes países mundo afora, então focamos apenas nas compilações mais conhecidas e famosas de algumas bandas clássicas.

Escolhi oito grupos para esse artigo. Além do Iron Maiden, vamos dar uma olhada nas carreiras do AC/DC, Kiss, Black Sabbath, Led Zeppelin, Deep Purple, Beatles e Rolling Stones. Cada uma destas trajetórias tem características distintas.


Começamos pelo AC/DC. A banda dos irmãos Angus e Malcolm Young, apesar de estar na estrada desde novembro de 1973, o grupo não é muito fã de compilações. Ainda que tenha colocado no mercado os boxes Bonfire (1997) e Backtracks (2009), o AC/DC possui apenas duas coletâneas em sua carreira: Who Made Who (1986) e Iron Man 2 (2010). Ambas tem uma similaridade curiosa: surgiram devido ao uso de músicas do grupo em filmes. No caso de Who Made Who, ela compila faixas do AC/DC presentes em Comboio do Terror, película B baseada na obra de Stephen King. Já Iron Man 2 tem sons da banda usados no blockbuster Homem de Ferro 2.


O Iron Maiden, objeto de tanta discussão, não é tão prolífico assim em compilações como poderia se supor. Em 36 anos de carreira, a banda de Steve Harris lançou seis coletâneas: a obrigatória Best of the Beast (1996); a trilha do jogo Ed Hunter (1999), cujas faixas foram escolhidas pelos fãs; Edward the Great (2002); The Essential Iron Maiden (2005); e as recentes Somewhere Back in Time: The Best of 1980-1989 (2008) e From Fear to Eternity: The Best of 1990-2010 (2011).


O Kiss, famoso por ter produtos em praticamente todas as áreas de consumo do ser humano, lançou também apenas seis coletâneas desde o início de sua carreira, em 1973: Double Platinum (1978), Smashes, Thrashes & Hits (1988), You Wanted the Best, You Got the Best! (1996), Greatest Kiss (1997), Greatest Hits (1997) e The Very Best of Kiss (2002). Pouco se comparado à montanha de itens já lançados pelo grupo – de camisinha a caixão personalizado, o Kiss está presente do nascimento até a morte de seus fãs.


Os pais do heavy metal também não são muito prolíficos no assunto. O Black Sabbath colocou no mercado apenas seis coletâneas, que abrangem toda a sua carreira. A obrigatória e pioneira We Sold Our Soul to Rock'n'Roll (1975) deu início aos trabalhos, seguida por Greatest Hits (1977), Between Heaven and Hell: The Best of Black Sabbath (1993), The Best of Black Sabbath (2000), Symptom of the Universe: The Original Black Sabbath 1970-1978 (2002) e a recente The Dio Years (2007), que alcançou tamanho sucesso que acabou sendo a responsável pelo surgimento do Heaven and Hell.


Outro ícone do hard setentista, o Led Zeppelin, é mais modesto. A banda de Jimmy Page e Robert Plant compilou sua obra em apenas quatro coletâneas: Remasters (1990), Early Days: The Best of Led Zeppelin Vol 1 (1999), Latter Days: The Best of Led Zeppelin Vol 2 (2000) e Mothership (2007). Entre todas elas, fique com a última, que tem acabamento gráfico de cair o queixo.


Já com o Deep Purple o assunto é diferente. Famoso pela quantidade obcena de discos ao vivo que soltou no mercado, o Purple também é bastante prolífico quando o assunto são coletâneas. Dos anos 1970 até a década de 2000, já são oito: e excelente Singles A's & B's (1978, e relançada em CD com capa diferente e material extra em 1993), When We Rock, We Rock & When We Roll, We Roll (1978), Deepest Purple: The Very Best of Deep Purple (1980) - responsável por apresentar o som do grupo para toda uma nova geração de ouvintes, a ótima The Anthology (1985), Knocking at Your Back Door: The Best of Deep Purple in the 80's (1992), Smoke on the Water: The Best Of (1994), 30: Very Best Of (1998) e The Early Years (2004).


Deixei para o final duas das mais importantes bandas da história do rock. Beatles e Rolling Stones possuem discografias bastantes complexas, com lançamentos exclusivos em mercados distintos, além de um extensa lista de álbuns, singles, compilações e discos ao vivo, resultado da grande demanda (Beatles) e da longa carreira (Rolling Stones). Existem literalmente centenas de coletâneas de ambas as bandas, então foquei apenas nas principais.

Em relação aos Beatles, elas são uma dezena: a clássica A Collection of Beatles Oldies (But Goldies!) (1966), a hoje rara Hey Jude (1970), Beatles Forever (1972), as obrigatórias 1962-1966 (1973) e 1967-1970 (1973), Rock'n'Roll Music (1976), Love Songs (1977), The Beatles Ballads (1980), 20 Greatest Hits (1982) e a multiplatinada 1 (2000).


Com os Stones o número é maior ainda. Em quase cinquenta anos de carreira são 14 coletâneas: a pioneira Big Hits (High Tide and Green Grass) (1966), a clássica Flowers (1967), Through the Past, Darkly (Big Hits Vol 2) (1969), a obrigatória Hot Rocks 1964-1971 (1972), More Hot Rocks (Big Hits & Fazed Cookies) (1972), Made in the Shade (1975), Rolled Gold: The Very Best of The Rolling Stones (1975), a diferente Time Waits for No One (1979), Sucking in the Seventies (1981), Rewind 1971-1984 (1984), Jump Back: The Best of the Rolling Stones (1993), a indispensável Forty Licks (2002) e as recentes The Rolling Stones 1964-1969 (2010) e The Rolling Stones 1971-2005 (2010).

Enfim, seja pelo motivo que for – para conhecer uma banda ou para completar a coleção daquele grupo que você adora -, compilações são itens na maioria das vezes úteis e necessários, que fazem mais bem do que mal. Cabe ao artista o bom senso em decidir quando lançá-las e quantos lançamentos irá fazer, e aos fãs decidirem se compram ou não.

No meu caso, como fã e colecionador do Iron Maiden, From Fear to Eternity: The Best of 1990-2010 está sendo aguardada com ansiedade e fará parte da minha coleção. E na sua, ela constará?

Comentários

  1. OPA RICARDO ACHO QUE NO ATUAL PREÇO DOS CDS QUEM NÃO TEM MUITA GRANA, É MELHOR ESQUECER DE COLETÂNEAS E SE CONCENTRAR EM CDS DE INÉDITAS.
    ACHO A COLETANEA BOA NO CASO DE UMA BANDA QUE TENHA NA SUA DISCOGRAFIA DISCOS BONS E DISCOS RUINS QUASE NA MESMA QUANTIDADE, BANDAS QUE TEM DISCOS IRREGULARES COM METADE DO DISCO EXCELENTE E OUTRO RUIM AI VC COMPRA COLETANEA, O THE CURE É UM CASO PRA MIM, EU GOSTO DE ALGUMAS MUSICAS DE CADA DISCO ENTÃO TENHO 3 COLETANEAS DELES. ESSE É MEU CASO, MAIS PRA SER SINCERO NÃO SOU CHEGADO EM COLETANEA NÃO. O IRON ALÉM DE ESTAR LANÇANDO DISCOS MAIS OU MENOS NOS ULTIMOS ANOS TEM LANÇADO COLETANEAS E AO VIVOS, EXAGERADOS, EU NÃO COMPRO, APESAR DE SER FÃ DO IRON PRA MIM SÓ VALE PELA CAPA.ABRAÇO

    ResponderExcluir
  2. Pra mim coletaneas deveriam servir pra se conhecer um artista... devem ser em ordem cronológica mostrando as mudanças do artista...nada contra conterem os hits...mas desde que seja em ordem lógica e que haja informações no encarte com as formações das bandas que gravaram os discos e que exista um texto informativo contando, mesmo que de forma resumida, a história da banda no periodo percorrido pela coletanea...existem bons exemplos de coletaneas assim...a primeira do REM e uma compilação dupla do Miles Davis chamada de Essentials...creio.... caprichadas e sem essa cara de caça niquel...tambem admiro as coletaneas de raridades ou lados B como as de singles do Purple...mas deve ser explicitado que não são coletaneas dos discos de carreira


    Ótimo tópico Cadão

    ResponderExcluir
  3. No caso dos stones ficaram faltando indicar as coletâneas

    Stone Age (1971)
    Gimmie Shelter (1971)
    Milestones (1972)
    Rock’n’Rolling Stones (1972)
    No Stone Unturned (1973)
    Solid Rock (1980)
    Slow Rollers (1981)
    Stones Story (1982)
    Heartbreakers (1983 ou 1984)

    Abraço

    ResponderExcluir
  4. Vladimir, eu expliquei no início que, no caso dos Beatles e dos Stones, estavam listadas apenas as principais. É impossível colocar todas aqui, daria mais de uma centena para cada banda.

    ResponderExcluir
  5. Ricardo, faltou a 24 Carat Purple do Deep Purple. Matéria bacana, parabéns.
    Essa do Maiden irei comprar com certeza.

    ResponderExcluir
  6. Gostei do texto. E em se tratando de artistas nacionais, acredito que o Raul Seixas lidere a lista de artistas com o maior número de coletâneas. Ultrapassa a casa dos 20, fácil.

    ResponderExcluir
  7. tb não tenho nada contra coletneas contato que não sejam muitas..

    pessoalmente, acho q se alguem quer conhecer uma banda pela primeira vez, deveria escutar um disco ao vivo..

    tb é uma coletanea das melhores do grupo e ao vivo é q vc sabe se a banda é boa..

    ResponderExcluir
  8. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.