Avantasia: os dez anos da ópera metálica!


Por João Renato Alves

Tobias Sammet já desfrutava de certo prestígio na cena graças ao seu trabalho no Edguy quando resolveu colocar em prática o projeto Avantasia (junção das palavras “Avalon” e “Fantasia”). A ideia de uma ópera metálica, com personagens interpretados por diferentes vocalistas, não era realmente original. Porém, abriria espaço para que toda uma nova geração de músicos partisse para a mesma proposta. Quem fez melhor é uma questão estritamente de gosto pessoal, mas o fato é que nenhum alcançou o sucesso desse aqui, que perdura até hoje. Mesmo assim, é importante frisar que a história original se resume a esses dois capítulos que completam uma década de vida.

E, em se tratando de um estilo que gradativamente caía em um marasmo – o chamado heavy metal melódico -, com discos e bandas repetitivas, podemos dizer que o mérito de Tobias é ainda maior. As duas partes da Metal Opera estão entre os melhores trabalhos da história do gênero, com músicas pegajosas e de qualidade musical superior. E o maior mérito, indiscutivelmente, foi reunir um conjutno de vocalistas que representavam o que de melhor havia na cena. A façanha de conseguir tirar Michael Kiske do exílio musical (na primeira parte usando o pseudônimo Enie) foi a cereja que faltava no delicioso bolo preparado pelo compositor e personagem principal.


A história se passa no ano de 1602, com o monge noviço dominicano Gabriel Laymann (Tobias Sammet) tentando libertar sua meia-irmã, Anna Held (Sharon Den Adel), que está prestes a ser julgada pela Igreja Católica Romana como uma bruxa. Após ser descoberto por seu mentor, o monge Bruder Jakob (David DeFeis), ele é preso em uma masmorra. Lá, conhece Lugaid Vandroiy (Michael Kiske), um ancião que se torna seu guia na missão de salvar Anna. Para escapar da prisão, os dois acessam um mundo paralelo, conhecido como Avantasia. Lá chegando, conhecem o elfo Elderane (Andre Matos) e o duende Regrin (Kai Hansen).

Enquanto isso, na Terra, o bispo Johann Adam von Bicken (Rob Rock) e o juiz Falk von Kronberg (Ralf Zdiarstek) viajam até Roma para encontrar o Papa Clemente VIII (Oliver Hartmann). Junto, levam o livro secreto que Gabriel abriu e leu. Reza a lenda que nele está a última das sete partes do selo sagrado. Quem desvendar a mensagem e levar até a torre no centro de Avantasia terá a sabedoria absoluta. Ao mesmo tempo, se a barreira entre a Terra e Avantasia for quebrada, as consequências poderão ser trágicas para os dois mundos. Sabendo disso, o Papa conversa com a misteriosa voz dentro da torre (Timo Tolkki). Enquanto isso acontece, Gabriel rouba o selo, desencadeando a guerra. Ao fugir, ele chega a Sesidhbana, cidade dos elfos, onde termina o primeiro disco.


Querendo descobrir mais sobre Avantasia, Gabriel é levado até a Árvore do Conhecimento (Bob Catley). Ao mesmo tempo, ele tem uma visão de Jakob ardendo em um lago de chamas como castigo pela traição de seu pupilo. Sentindo-se culpado, o personagem principal decide ir em sua ajuda, deixando o salvamento de Anna temporariamente de lado. Daí pra frente, uma série de acontecimentos leva ao desfecho da história, que obviamente deixarei que descubram ao ouvir os álbuns. Com o encarte em mãos, a coisa fica bem mais fácil, é claro, mas várias páginas na internet detalham a saga de maneira bem satisfatória.

Além de toda a emocionante trama desenvolvida, a obra se destaca por conter uma forte crítica à realidade da Igreja Católica até os dias atuais. Os personagens ligados a ela exercem um papel dominante sobre as pessoas comuns, apresentando-se como únicos donos da verdade e tentando manter todos afastados de qualquer tipo de instrução, para que não descubram suas reais intenções em manipular o poder em nome de Deus. Algo não muito diferente do modelo cruel e ganancioso que vimos acontecer repetidamente em inúmeras passagens da história da humanidade.


Musicalmente, as duas partes de The Metal Opera são primorosas. A base é o power metal, mas especialmente na parte dois há algumas tímidas aproximações ao hard rock, que seriam ainda maiores nos trabalhos posteriores. Prova disso são as participações de Bob Catley e Eric Singer no segundo capítulo, duas figuras com raízes nesse estilo.

O êxito comercial surpreendeu até mesmo Tobias, com Disco de Ouro na Alemanha e ótimas posições em várias paradas europeias. Algo mais que justo, pois estamos diante de momentos referenciais na história do heavy metal, material indispensável na coleção de qualquer fã de rock e uma prova definitiva de que inteligência e sucesso podem conviver em harmonia.

The Metal Opera (2001)

Tobias Sammet (vocals on 2, 3, 5, 6, 7, 9, 11, 12 & 13; keyboards, piano & orchestration)
Ernie/Michael Kiske (vocals on 2, 5, 6, 9 & 13)
David DeFeis (vocals on 3 & 13)
Ralf Zdiarstek (vocals on 4 & 7)
Sharon Den Adel (vocals on 6)
Rob Rock (vocals on 7 & 12)
Oliver Hartmann (vocals on 7, 12 & 13)
Andre Matos (vocals on 11, 12 & 13)
Kai Hansen (vocals on 11 & 12)
Timo Tolkki (vocals on 13)

Henjo Richter (guitars)
Markus Grosskopf (bass)
Alex Holzwarth (drums)
Norman Meiritz (acoustic guitar on 6)
Frank Tischer (piano on 11)
Jens Ludwig (guitars on 12 & 13)

1. Prelude
2. Reach Out For the Light
3. Serpents in Paradise
4. Malleus Maleficarum
5. Breaking Away
6. Farewell
7. Glory of Rome
8. In Nomine Patris
9. Avantasia
10. A New Dimension
11. Inside
12. Sign of the Cross
13. The Tower

The Metal Opera Part 2 (2002)

Tobias Sammet (vocals, keyboards, orchestration, bass on 10)
Michael Kiske (vocals on 1 & 2)
David DeFeis (vocals on 1 & 5)
Ralf Zdiarstek (vocals on 9)
Sharon Den Adel (vocals on 10)
Rob Rock (vocals on 1 & 6)
Oliver Hartmann (vocals on 1)
Andre Matos (vocals on 1, 2 & 8)
Kai Hansen (vocals on 1 & 8)
Bob Catley (vocals on 3 & 4)

Henjo Richter (guitars)
Markus Grosskopf (bass)
Alex Holzwarth (drums)
Eric Singer (drums on 10)
Frank Tischer (piano on 1, 4 & 7)
Norman Meiritz (guitars on 10)
Timo Tolkki (guitars on 1 & 10)
Jens Ludwig (guitars on 5 & 9)

1. The Seven Angels
2. No Return
3. The Looking Glass
4. In Quest For
5. The Final Sacrifice
6. Neverland
7. Anywhere
8. Chalice of Agony
9. Memory
10. Into the Unknown

Comentários

  1. Avantasia é um clássico do Metal contemporâneo, doa a quem doer! Alguns pseudo "entendidos" podem falar o que quiserem e tem todo o direito de não gostarem, mas não reconhecer a importância do Avantasia, naquilo que se propõe a fazer, é burrice! E tenho dito!

    ResponderExcluir
  2. Avantasia é demais!

    Pra mim, o primeiro disco, de 2001, é o melhor álbum de metal melódico de todos os tempos.

    Abraço.

    ResponderExcluir
  3. Cadão! Concordo com você! Se não for o melhor de todos os tempos, não há dúvidas de que está entre os 5 melhores, ao lado das duas primeiras partes do Keepers of the Seven Keys do Helloween, do Visions do Stratovarius e do Mandrake do Edguy. Até hoje não consigo entender o porquê que muitos "cri críticos" insistem em tentar desmerecer esse projeto, inclusive muitos deles merecem meus respeitos porque entendem muito de música, casos do Ricardo Batalha e do Régis Tadeu, entre outros. Lógico que nesse caso entra a questão do gosto pessoal, mas já vi o Régis Tadeu dizendo coisas como por exemplo que "O Avantasia é música para retardados". Sei que provavelmente ele faz isso mais para provocaros fãs do que propriamente seja a real opinião dele. Apenas acho que um crítico deve avaliar um trabalho não apenas baseado em seu próprio gosto pessoal, mas sim se o artista em questão é bom naquilo que se propõe a fazer. É essa isenção que não consigo ver na maioria dos críticos. Você é uma rara exceção, pois já vi você elogiando álbuns que não fazem parte dos estilos de música que você mais gosta. É por essa razão que o teu blog é uma referência pra mim e pra tantos outros apreciadores de música! Um abraço

    ResponderExcluir
  4. Valeu Aldo, mas emitir uma opinião sobre um disco é sempre complicado, porque sempre haverá quem concorda e quem não concorda.

    Enfim, o que importa é a música ...

    ResponderExcluir
  5. Claro, você está certo! Mas assim como os críticos tem direito de falar o que querem, eu como apreciador de música também tenho direito de responder à altura. Tem muitos críticos que parecem pensar que a palavra deles é a definitiva sobre determinado artista. É só isso que questionei. Mas você tem toda razão! A música está acima de tudo, independente de opiniões conflitantes.

    ResponderExcluir
  6. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  7. "Apenas acho que um crítico deve avaliar um trabalho não apenas baseado em seu próprio gosto pessoal, mas sim se o artista em questão é bom naquilo que se propõe a fazer."
    Amigo, Elvisjagger,
    o critico emite uma opinião pessoal. Não tem como fugir disso. Pense bem, vc mesmo, como vc vai dizer que tal disco é bom se não for pelo SEU conceito do que seja bom ou não?
    Resenha é um gênero textual que é parcial.Se a resenha for imparcial, não é resenha. É a opinião de alguém. Se for para analisar vendagem, importância do disco para uma época ou algo parecido, não é uma resenha. Pode ser um artigo, ensaio ou algo parecido.
    Sendo assim, como vou dizer que o Avantasia é bom só por causa da importância para uma cena?. Eu, que não sou crítico, acho o som do Avantasia e de todo o metal melódico, exemplo de música ruim por causa do conceito do que seja música boa que eu tenho. É algo pessoal sim. Melodias infantis e chatas. Letras fracas... mas isso é o que eu penso. Cabe a vc como fã do estilo escrever seus argumentos e discuti-los ao invés de querer apenas que todos respeitem e digam que Avantasia é bom só porque fez sucesso no meio do metal.
    Abraços

    ResponderExcluir
  8. tenho uma leve impressão que esse Leandro nunca ouviu Metal melodico sem preconceitos. Mas enfim Avantasia é uma banda fantastica, e eles trancederam as barreiras do Metal melodico partindo para uma sonoridade mais Hard Rock.

    Considero The Metal Opera um dos 10 melhores discos de Power Metal da história

    ResponderExcluir
  9. Leandro. Uma coisa é emitir uma opinião pessoal numa resenha e lógico que a análise de um disco é subjetiva. Porém, quando algo vai além disso e parte para a agressão barata e sem sentido, a meu deixa de ser uma resenha. Pelo menos uma resenha séria, na minha forma de entender. Por exemplo, se você for analisar o Avantasia, pelo seu gosto pessoal, lógico que vai dizer que é ruim e apresentar seus argumentos. Até aí nada de errado. Ninguém é obrigado a gostar e nem o Avantasia, nem qualquer outra banda são imunes à crítica. Porém, quando uma resenha diz por exemplo que o Avantasia "faz música para retardados", acredito que ela perdeu completamente o propósito e como tal deve ser desconsiderada. Acho que agora deixei claro o que penso não é mesmo? Um abraço

    ResponderExcluir
  10. Rubens,me dirijo a vc assim respeitosamente já que não te conheço pessoalmente, não vou fazer como vc e dizer "esse Rubens" de forma depreciativa.
    Rubens, quando ouvi metal melódico, nem tinha condições de ter ou não preconceito. Ouvi quando começava a ouvir metal,então minha opinião é sem conceitos e preconceitos.
    Elvisjagger,
    sim, concordo que dizer "música para retardado" é um argumento fraco e leviano. Todas as bandas, por piores que sejam, devem ser respeitadas e criticadas apenas pela música. Sem se apelar para termos chulos. Concordo com vc.
    Abs

    ResponderExcluir
  11. Ué Leandro voce que começou com desrespeito, falando "Credo!" no primeito comentário. E voce utilizou aqueles argumentos tipicos de que não entende nada Metal Melodico, o que me levou a creer que voce nunca escutou Kamelot e Stratovarious na vida.

    ResponderExcluir
  12. Dizer "credo!" para algo que vc detesta não é desrespeito, Rubens. Não foi a minha intensão, pelo menos. Desrespeito é chamar quem ouve de retardo ou algo do tipo.
    Mas deixemos isso de lado e vamos curtir os sons, não é mesmo?

    ResponderExcluir
  13. Sim a música deve estar em primeiro lugar sempre!

    ResponderExcluir
  14. Eu sou muito suspeita para falar do Avantasia. Estava na faculdade na época do lançamento, e eu praticamente criei uns trezentos furos no CD de tanto que ouvi enquanto estudava.
    O Metal Opera pt.1 é um clássico contemporâneo, e o fato de ter o Kiske só colabora para isso. Não acho a parte 2 tão boa, mas ela ainda é melhor que muita coisa que saiu com o rótulo de metal melódico desde então.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.