Deep Purple: review do álbum 'Phoenix Rising' (2011)!



Por Ricardo Seelig


Nota: 8


Phoenix Rising é um pacote com vários itens focando na derradeira formação do período clássico do Deep Purple, com David Coverdade (vocal), Tommy Bolin (guitarra), Glenn Hughes (baixo e vocal), Jon Lord (teclado) e Ian Paice (bateria). Esse line-up, conhecido como MK IV e contestado desde o início por uma parcela dos fãs devido à ausência de Ritchie Blackmore, gravou apenas um álbum de estúdio, Come Taste the Band, lançado em outubro de 1975, e tem algumas de suas poucas apresentações lançadas em alguns álbuns ao vivo ao longo dos anos.


O projeto Phoenix Rising inclui um documentário chamado Gettin' Tighter, que conta a história da MK IV, além de um show em vídeo da turnê do disco e um CD com o áudio dessa apresentação. Nesse review vamos nos deter somente no CD que acompanha esse box, deixando os demais itens para serem analisados posteriormente.


Phoenix Rising traz oito faixas gravadas em shows ocorridos em Tóquio em 1975 e em Long Beach, nos Estados Unidos, em 1976. Vale lembrar que no mesmo período em que o Purple lançou Come Taste the Band, Tommy Bolin, que já era um guitarrista respeitado com passagens pela James Gang e figura fundamental em dois clássicos do jazz rock – Spectrum (1973) de Billy Cobham e Mind Transplant (1975) de Alphonse Mouzon -, colocou no mercado o seu primeiro álbum solo, Teaser, que chegou às lojas no dia 1 de janeiro de 1975. Portanto, um acordo fechado entre Bolin e o restante da banda fez com que o guitarrista também divulgasse o seu disco solo nos shows do Purple. É por essa razão que Phoenix Rising traz uma versão de “Homeward Strut”, faixa presente em Teaser.


O fato é que a entrada de Bolin no Deep Purple acentuou ainda mais o groove e o balanço injetados por David Coverdale e Glenn Hughes no som da banda. Aliás, foi justamente esse direcionamento que fez com que Ritchie Blackmore deixasse o conjunto e montasse o seu próprio grupo, o Rainbow, onde desenvolveu de maneira brilhante, ao lado de Ronnie James Dio, a sonoridade mais pesada e épica que estava buscando e que pode ser ouvida nos álbuns Ritchie Blackmore's Rainbow (1975), Rising (1976) e Long Live Rock'n'Roll (1978).


A verdade é que essa mudança no som do Deep Purple não foi muito bem aceita pelos fãs, que em sua maioria não curtiram a sonoridade explorada em Come Taste the Band. Hoje em dia, no entanto, o disco foi redescoberto e possui status de cult, em um reconhecimento, ainda que tardio, à sua grande qualidade. No meu caso, confesso que a minha fase preferida da carreira do Purple está no período 1974-1976, época em que a banda lançou os álbuns Burn, Stormbringer e o tão falado Come Taste the Band.


As faixas presentes em Phoenix Rising estão entre os melhores registros ao vivo da carreira do Deep Purple. Ainda que a banda atravessasse um período turbulento e que culminaria com o encerramento de suas atividades, a qualidade do material impressiona. A ótima qualidade do áudio torna ainda mais marcantes as mudanças aplicadas por Tommy Bolin nas músicas. Pra começo de conversa, Bolin faz os seus próprios solos, não mantendo nada do que havia sido gravado por Blackmore. Até mesmo na guitarra base há alterações perceptíveis, o que causa uma certa estranheza em um primeiro momento em canções como “Burn”, “Smoke on the Water” e “Stormbringer”, composições que fazem parte da memória afetiva de todo fã de rock.


A dinâmica da banda era diferente naquela época. Anteriormente ancorada na guitarra pesada e neo-clássica de Ritchie Blackmore, a sonoridade do Deep Purple em 1975-1976 tinha o seu coração no baixo de Glenn Hughes e na bateria de Ian Paice. Isso fez com que as faixas perdessem um pouco de seu peso, mas ganhassem uma imensa dose de groove e balanço. Essa característica, aliada ao timbre de voz de David Coverdade, com uma alma negra e próximo aos cantores de soul, fez surgir um novo Deep Purple, totalmente distinto da banda que havia conquistado o mundo com o clássico Machine Head (1972).


Mesmo que algumas falhas sejam perceptíveis nas versões presentes em Phoenix Rising, sendo as principais a ausência de Tommy Bolin em alguns trechos das faixas e, principalmente, o fato de Hughes, turbinadíssimo por doses industriais de cocaína, estar mais gritando do que efetivamente cantando a maior parte do tempo, a audição deste material é muito gratificante, e atesta, de novo e mais uma vez, o poderio da MK IV.


Phoenix Rising é um documento de uma época onde os 'live albums' eram realmente gravados ao vivo, sem a adição de 'overdubs' posteriores em estúdio. Isso faz com que ele soe verdadeiro e autêntico, mantendo viva não só a energia da banda, mas, sobretudo, um dos períodos mais interessantes da história do Deep Purple, uma das bandas mais importantes do hard rock e do heavy metal.


Não há nada mais a ser dito, apenas levante o volume e aperte o play!




Faixas:
1.Burn – 8:09
2.Gettin' Tighter – 15:05
3.Love Child – 4:24
4.Smoke on the Water (including Georgia) – 9:30
5.Lazy – 11:50
6.Homeward Strut – 5:44
7.You Keep on Moving – 5:45
8.Stormbringer – 9:48

Comentários

  1. Cara....este CD é uma boa antologia ... mas é mais indicado pra quem não tem os shows de Long Beach e Tokyo... no meu caso tenho os dois... e posso dizer que estes dois shows são cheios de momentos brilhantes e alguns outros bem constragedores.... pelas faixas eles devem ter compilado os melhores momentos... por incrivel que pareça a pior performance nos shows é do Hughes... que está berrando demais e desafinando...o Bolin faz algumas besteiras também...principalmente no show de Tokyo...pois seu braço ainda estava semiparalizado devido aos picos de LSD.... mas realmente há momentos brilhantes...

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  2. Picos de LSD? Não seriam de heroína?

    E realmente o Hughes mais berra do que qualquer outra coisa.

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  3. HAHAHHAAHAHA

    sei lá de que droga...só sei que ele detonou o braço de tanto injetar.... uma pena mesmo... Oque podia ser perfeito ficou apenas muito bom

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  4. Sim, o braço dele paralisou e não mexia mais. Na minha opinião, a melhor performance da carreira do Bolin está no álbum 'Spectrum', do Billy Cobham. Já ouviu?

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  5. Conheço sim... mas preciso ouvir este album com mais atenção... o Bolin era demais.... adoro os efeitos que ele põe na guitarra... gosto muito do trabalho dele no James Gang.... junto com o Kossof e o Hendrix...formam a minha santissima trindade de guitarristas que se foram cedo demais... imagine oque estes caras iam aprontar se não tivessem se autodestruido....

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  6. ... turbinado por cocaína, braço duro por pico de heroína...a rapaziada pegava pesado não só no som, né!!!! Será que esse material sai nacional como a versão deluxe do ‘Come Taste the Band,’?

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