Ozzy Osbourne: review das edições especiais de 30 anos dos álbuns 'Blizzard of Ozz' e 'Diary of a Madman'!



Por Fabiano Negri


Nota: 10


O final dos anos 70 não foi nada bom para Ozzy Osbourne. Após meia década de grande sucesso, o Black Sabbath entrou em claro declínio, tanto comercial quanto artístico. Os álbuns não estavam vendendo bem e todos na banda estavam em péssima forma física e mental. O pior deles era Ozzy. Vítima de seus vícios, o Madman havia se tornado um estorvo para seus companheiros. O chefão Tony Iommi ficou de saco cheio e, em 27 de abril de 1979, decidiu fazer – o que naquele momento – era o melhor para banda. O “laranja” Bill Ward foi incumbido de dar a notícia para Ozzy – ele estava fora do Black Sabbath!


Desanimado com a vida e ciente de que tudo havia acabado – Ozzy tem uma terrível baixa estima –, o vocalista se trancafiou num lugar chamado Le Parc Hotel em West Hollywood para viver seus últimos dias bebendo, cheirando cocaína e comendo pizza. Tudo mudou quando o baterista Mark Nauseef deixou com Ozzy um envelope com 500 dólares para que ele entregasse para a filha de Don Arden, Sharon. O dinheiro entrou pelo nariz de Ozzy, mas mesmo puta com o ocorrido, Sharon disse que ela e seu pai ainda estavam interessados em trabalhar o vegetal – carinhoso “apelido” que Don deu para Ozzy.




Nosso herói sacudiu a poeira – literalmente – e inclusive já tinha até um nome para seu projeto desde 1977: Blizzard of Ozz. A busca pela banda foi complicada. Além de não encontrar pessoas que se adaptassem ao som que Ozzy queria fazer, a maioria dos bons músicos não queria entrar num grupo com um cara que seria problema na certa. O primeiro a encarar o desafio foi o baixista e letrista (ex-Rainbow) Bob Daisley. Agora a busca era por um guitarrista. No staff de Ozzy todos gostariam que a banda contasse só com músicos ingleses, mas o vocalista havia feito um teste com um jovem americano que não saía de sua cabeça. Randy Rhoads, desconhecido guitarrista da até então desconhecida banda Quiet Riot, havia aceitado fazer o teste por intermédio do baixista Dana Strum e tinha tudo o que Ozzy queria: era muito habilidoso e não gostava de Black Sabbath – o que fazia com que seu som não parecesse em nada com o de Tony Iommi. Depois de algumas negociações, todos perceberam que Randy era a escolha certa. O baterista Lee Kerslake foi o último a se juntar à trupe, depois que todo o primeiro álbum
já havia sido composto. A banda se isolou no Ridge Farm Studio com o engenheiro de som Max Norman e saiu dali com uma obra atemporal.




Essa introdução serve para os não iniciados entenderem em que condições foi produzido o petardo Blizzard of Ozz. Ozzy era um desacreditado, ninguém na indústria o levava a sério e, para completar, sua ex-banda estava ressurgindo com um vocalista espetacular – ele mesmo, Ronnie James Dio. Pois é, trinta anos depois e 10 milhões de cópias vendidas no mundo só de Blizzard of Ozz -, a história teve um final bem diferente do que todos imaginavam. E é por isso que os clássicos dessa era estão sendo relançados, remasterizados e com muitos bônus para deleite dos fãs. Esses relançamentos servem também para corrigir um erro histórico cometido em 2002, quando os mesmos álbuns foram editados com a bateria e o baixo regravados. Por mais problemas que o clã dos Osbournes tenha tido com Bob Daisley e Lee Kerslake, uma obra não pode ser deturpada como foi. Isso manchou muito a imagem de Ozzy na época, e foi uma atitude muito mal pensada por parte da dona Sharon.


Blizzard of Ozz e Diary of a Madman são trabalhos seminais para quem quer entender a mudança do som pesado entre as décadas de 1970 e 1980. E o grande responsável por esse “novo som” foi Randy Rhoads. Claro que temos as melodias sempre inspiradas do mestre Ozzy, as boas letras de Bob e seu ótimo entrosamento com Lee Kerslake, mas a guitarra de Rhoads foi o catalizador para a sensação de frescor nas composições. Vindo de uma família de músicos, Randy sempre foi um estudante muito devotado e dominava seu instrumento como poucos. No Quiet Riot ele era obrigado a seguir uma fórmula para encontrar o sucesso, mas na banda de Ozzy ele teve todo o apoio para fazer o que realmente queria. Randy trouxe uma mudança radical quanto à estrutura de composição e um fraseado abrangente, misturando diversas escalas, licks e padrões até então inéditos no rock. Ele foi um dos únicos a misturar virtuosismo e melodia na medida certa. Seus solos eram pequenas composições dentro da música. Sua dedicação o colocou – em apenas dois trabalhos – como referência para gerações de guitarristas que vieram depois, e continua sendo até hoje.




Os álbuns soam divinamente bem. A remasterização ocorreu na medida certa, dando um pouco mais de brilho na região média e com pouca compressão, o que deixa o som mais natural, com todas as dinâmicas preservadas, bem próximo do som do vinil inglês. Quanto às músicas, não há muito o que falar. Todas são pérolas do hard / heavy e definiram o que viria a ser a carreira de Ozzy.


Estamos bem servidos com relação aos bônus. No Blizzard temos “You Looking at Me, Looking at You” - excelente faixa com uma brilhante melodia de Ozzy e um solo perfeito de Randy –, uma versão só com guitarra e voz para “Goodbye to Romance” – que não acrescenta muito, mas é legal para ouvirmos com mais precisão a magia dos arranjos de Randy – e um pequeno solo extraído das sessões do álbum, mais precisamente do final do take de “Revelation (Mother Earth)”.




O filé mesmo está no disco bônus de Diary of a Madman. Trata-se de uma apresentação colhida na segunda parte da tour de Blizzard of Ozz – e que conta com duas músicas do Diary, que ainda não havia sido lançado – com os tracks básicos captados na apresentação de Montreal em 1981 e alguns overdubs de outras apresentações, como alguns trechos da voz do Ozzy e o solo de Randy que, se não me falhe a memória, é da apresentação de Cleveland do mesmo ano. A banda formada por Ozzy, Randy, Rudy Sarzo e Tommy Aldridge está no auge e nos brinda com uma porrada sonora superior à registrada no álbum Tribute (1987). O mais interessante é que esse é o primeiro álbum realmente ao vivo de Ozzy em sua carreira solo. O que se ouve é a voz sem overdubs em estúdio – coisa corriqueira devido às zoadas apresentações do Madman –, e o resultado é fantástico! Acredito que agora temos as versões definitivas para esses clássicos.


Se você é fã de boa música não deixe de apreciar esses trabalhos, agora com som digno, performances originais e novo material gráfico. O único porém é que apesar de Bob e Lee estarem de volta às gravações, eles são completamente ignorados nas fotos e no documentário Thirty Years After the Blizzard, DVD que vem junto com o box importado e que ganhará um review em separado. Entendo que existam problemas legais, mas os caras são parte da história e devem ser lembrados. Talvez se Bob não quisesse tanto confete – tudo bem ele contribuiu com as letras e participou do processo de composição, mas querer dizer que ele foi tão importante quanto Randy Rhoads, que criou os riffs e os solos antológicos, ou até mesmo Ozzy, responsável pelas melodias extremamente fortes e palatáveis – as coisas já teriam se ajeitado. A banda era de Ozzy, ele – Sharon - contratou os músicos e na hora que a coisa decolou ele quis mudar as condições? Poderia ter sido diferente.


O que realmente importa é a música e essa está intacta. De acordo com a Sony, teremos versões nacionais dos relançamentos ainda esse mês.


Compre!!!

Comentários

  1. Não vejo a hora de ouvir isso!
    Meu box já está a caminho!!!!

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  2. É coisa fina! Vc vai se surpreender com a qualidade da remasterização!

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  3. Realmente, esses remasters ficaram demais!

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  4. Meu box acabou de chegar!!!
    Nem abri, mas já estou me coçando, só a noite...
    Aguentar um dia de trabalho com isso perto vai ser foda!

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