Graveyard: review do álbum 'Hisingen Blues' (2011)!



Por Ricardo Seelig


Nota: 9,5


O Graveyard surgiu em 2006 na Suécia. Formado por Joakim Nilsson (vocal e guitarra), Jonatan Ramm (guitarra), Rikard Edlund (baixo) e Axel Sjöberg (bateria), o grupo lançou em 25 de março o seu segundo álbum, o espetacular Hisingen Blues (infelizmente não há previsão de uma versão nacional para o trabalho). A qualidade apresentada pelo Graveyard em Hisingen Blues leva o ouvinte às alturas, em uma viagem sonora não menos que incrível.


O que sai das caixas de som é um hard rock com pitadas de blues que parece ter sido gravado por alguma banda obscura no início da década de 70 e permanecido inédito até agora. Há influências de nomes como November e Groundhogs na sonoridade do Graveyard, mas os caras vão muito além. Ao dar o play, o clima retrô invade o ambiente de tal maneira que é impossível não se sentir em 1971, com os cabelos caindo pelos ombros, calças boca de sino e tudo mais. Os timbres, a produção, o clima, as composições, tudo remete à estética setentista, mas sem soar como uma mera cópia. A identidade da banda é essa, como se fossem músicos deslocados no tempo – ou, em outro ponto de vista, caras com a missão de fazer o rock soar como ele deve soar, e não com toda a maquiagem e falsa atitude dos tempos atuais.


A principal diferença entre o Graveyard e outros nomes que exploram essa estética anos 70 está no fato de que, ao contrário de nomes como Wolfmother, por exemplo, onde essa característica é apenas mais um elemento na identidade da banda, no caso do Graveyard a sonoridade setentista é a alma, a essência, o núcleo através do qual tudo se desenvolve.




As faixas se alternam entre momentos mais acelerados e outros mais viajantes. No primeiro caso, destaque para a ótima faixa-título, com ecos de Led Zeppelin e guitarras envenenadas. Mas é nas canções mais lentas que todo o poderio do Graveyard vêm à tona. A capacidade da banda em criar atmosferas esfumaçadas e climáticas é atordoante, inserindo pequenas pitadas de psicodelia ao seu hard rock com uma precisão cirúrgica. O resultado são composições brilhantes, que fazem o ouvinte partir sem rumo por dimensões desconhecidas ao encontro de todas as suas vidas passadas. “No Good, Mr Holden”, a transcedental “Uncomfortably Numb”, a instrumental “Longing” e “The Siren” nasceram para serem tocadas pela agulha virgem de um toca-discos, para despertar em cada adolescente a paixão pelo rock, para reunir os amigos ao redor do aparelho de som em uma comunhão coletiva, para colocar ambientes em câmera lenta, para fazer filhos mostrarem com orgulho uma banda do seu tempo que soa como seus pais sempre quiseram, e para pais se unirem aos seus filhos não apenas pela herança biológica, mas também por uma aliança tão forte quanto: a afinidade musical.


Com certeza absoluta e sem medo de errar, Hisingen Blues será presença certa não só na minha lista de melhores álbuns de 2011, mas também na de muita gente por aí. Dê um presente a si mesmo e ouça um dos melhores álbuns gravados nos últimos anos!




Faixas:
1 Ain’t Fit to Live Here 3:06
2 No Good, Mr Holden 4:47
3 Hisingen Blues 4:13
4 Uncomfortably Numb 6:11
5 Buying Truth (Tack & Förlåt) 3:27
6 Longing 4:49
7 Ungrateful Are the Dead 3:10
8 RSS 3:49
9 The Siren 6:01

Comentários

  1. Por isso que falo, é um dos melhores site...toda vez que leio uma resenha fico com vontade de comprar o álbum sem mesmo ter escutado !!

    Esse disco tem nacional ??

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  2. Não Jaisson, infelizmente não tem edição nacional, e acho que não irá sair por aqui.

    Obrigado pelo elogio!

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  3. Discaço! A que eu mais gostei foi Unconfortably Numb.

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  4. Monstruoso mesmo o album.

    Descobri a uns meses atrás e tratei de ir atrás dele no eBay. Comprei por um bom preço essa versão do post, vinil branco e azul, linda, o encarte é impresso num papel mais grosso e meio amarronzado, dando uma cara de antigo.

    Dá pra sentir todo o carinho que a banda teve pelo album, até nos menores detalhes.

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  5. Essa versão em vinil deve ser de babar mesmo, Felipe.

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  6. Excelente review, Ricardo.
    Sou fã do Graveyard de 2008, quando comprei o primeiro álbum - também uma verdadeira Obra-Prima. Na verdade não consigo escolher qual dos dois é o melhor. Excepcional Qualidade eles sempre tiveram. O grande salto para a banda foi ter assinado com a Nuclear Blast. Eles conseguiram estrutura e visibilidade como nunca antes. Tenho tudo da banda em CD e em vinil e o meu 'Hisingen Blues' em LP é na cor verde - a edição postada no review é lindíssima também. O digipak tem um bonus track: 'Cooking Brew'.
    Grande banda e mais um post fantástico.

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  7. Aproveito para deixar aqui alguns vídeos sensacionais:

    http://www.tv4play.se/nyheter_och_debatt/nyhetsmorgon?title=graveyard_-_aint_fit_to_live_here&videoid=1534464

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    http://www.tv4play.se/nyheter_och_debatt/nyhetsmorgon?title=graveyard_-_hisingen_blues&videoid=1534846

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    http://klubbland.se/2011/04/22/31-graveyard/

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  8. Cadão, assim vc me mata de curiosidade!! ehehehe... cara, além de eu já ter achado a banda formidável só por ter aparecido no Mixtape, agora com mais esse texto, minha nossa...fiquei instigadíssimo!
    mas pra mim anda uma dificuldade tremenda pra conseguir esses lançamentos que não tem versão nacional...não tenho cartão de crédito pra fazer essas compras via amazon, ebay, etc...mas eu chego lá sim!
    Agora, bicho, aproveito a ocasião pra elogiar sua escrita de modo geral, cada vez mais agradável, rica, elucidativa e equilibrada, seus textos andam fantásticos! Lendo ele e relendo algumas coisas ontem me bateu uma tremenda vontade de voltar a escrever! pretendo me organizar melhor para até o final do ano voltar a exercer isso!
    Valeu, abração!
    Ronaldo

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  9. Destacando um ponto que vc citou:
    "em outro ponto de vista, caras com a missão de fazer o rock soar como ele deve soar, e não com toda a maquiagem e falsa atitude dos tempos atuais."
    Pois é cara, é bem por aí que eu penso. Acaba sendo uma armadilha mental essa coisa de tachar como retrô. O rock da década de 70 (mais propriamente do começo dos anos 70) já se consolidou com uma estética e linguagem própria que eu acho que já transcendeu a questão do tempo. Assim como o blues. Vide o blues elétrico, ou o chicago blues como alguns chamam. Quem se propõe a tocar esse estilo, acaba, querendo ou não, seguindo os mesmos passos que foram dados por quem estabeleceu essa linguagem - Muddy Waters, BB King, Howlin' Wolf, T-Bone Walker, etc...E o interessante é que o blues não tem essa amarração com o tempo como o rock tem, até porque sua evolução e as derivações que teve não foram tão intensas e rápidas como as do rock. Blues é blues, seja o do Joe Bonamassa ou o do Buddy Guy. O rock, eu imagino, que siga também por esse caminho. São tantas bandas atuais que se baseiam naquela sintonia do rock do começo dos anos 70 que daqui pra frente, imagino que essa coisa da taxação retrô acabando caindo em desuso. E convenhamos (sem demérito de nenhuma outra vertente), fazer e escutar rock naqueles moldes é o maior barato, não é mesmo?
    Abraço!
    Ronaldo

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  10. Ricardo e Ronaldo, obrigado pelos elogios. Em tempos de internet, você pode ouvir o som das banda fazendo o download do disco enquanto não tem o álbum oficial, não tem erro.

    E obrigado Ronaldo pelos elogios ao texto, fico orgulhoso.

    Abraço.

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