Iron Maiden: leia o review de 'The Final Frontier' publicado na Classic Rock Magazine de agosto de 2010!



Por Dom Lawson
Tradução de Ricardo Seelig


Nota: 9


Se alguma vez houve um anúncio afirmando o poder da música pesada, o Iron Maiden estava nele. É claro que muitas bandas em um posição similar, com trinta anos de álbuns e turnês nas costas e avistando a aposentadoria no horizonte, teriam há muito tempo abandonado qualquer pretensão de que o processo criativo continuaria sendo a sua principal força motivadora, mas, de alguma forma, o Maiden, apesar de toda a nostalgia que cercou a Somewhere Back in Time Tour, manteve o controle de suas faculdades artísticas e de sua fortíssima credibilidade.


Desde 2000, quando o recém reformulado line-up “clássico” lançou Brave New World e deu início a uma escalada constante de volta ao todo da montanha do metal, o Iron Maiden tem mostrado características que bandas com esse tempo de estrada raramente são capazes de alcançar. Através do variado - porém fascinante - Dance of Death (2003) e do sombrio - mas progressivo - A Matter of Life and Death (2206), Steve Harris e seus colegas conseguiram reinventar o seu som característico. Mas, até mesmo dentro dos altos padrões estabelecidos pelo Maiden, The Final Frontier é um salto ousado e surpreendente para o desconhecido.


Tudo começa com “Satellite 15”, um turbilhão, uma tempestade meio industrial com riffs e sons destinados a confundir tudo na cabeça dos fãs. A introdução sombria, estranha e maliciosamente confusa é astutamente compensada pela pancada da faixa-título, que entra em ação abruptamente após alguns minutos caóticos. Como sempre, graças em parte à produção vibrante de Kevin Shirley, o Iron Maiden soa fantástico: uma grande banda revelando sua própria linguagem bombástica e colocando-a para fora de seu corpo.


Mas como este álbum de 76 minutos move-se para frente, é óbvio que ele não soa como de costume. Na verdade, como A Matter of Life and Death e mais ainda, The Final Frontier leva a banda para tantos novos caminhos musicais e bombardeia o ouvinte com tantas características peculiares que nos sentimos no início de um novo capítulo e não na mera continuação de uma saga em curso.


Até mesmo o single do disco, “El Dorado”, que foi recentemente disponibilizado para download gratuito e estreou na turnê americana que antecedeu o lançamento do trabalho, desvia-se acentuadamente da fórmula de composição habitual do Iron Maiden, oferecendo frescor a uma sonoridade que admiravelmente tem resistido a três décadas de modismos. Há outras canções que também misturam o familiar com o inesperado. “Mother of Mercy” entra em erupção como a angústia de um vulcão, com sua avalanche de riffs sendo contida pelos ótimos vocais de Bruce Dickinson, enquanto “The Alchemist” se encaixaria perfeitamente em Fear of the Dark (1992). Da mesma forma, a balada “Coming Home”, com um coro crescente, certamente irá reduzir homens adultos a destroços choramingantes quando for tocada ao vivo.


Mas é nos grandes épicos que The Final Frontier realmente ilumina o fogo ardente no coração do núcleo criativo da banda. Com o guitarrista Adrian Smith tendo um papel de destaque como compositor no Iron Maiden atual, a banda voltou a explorar texturas que foram deixadas de lado durante a sua ausência do grupo nos anos 90. Como resultado, canções como “Isle of Avalon” e “Starblind” trazem cores variadas e profundidade para o álbum. Enquanto isso, as mudanças de ritmo selvagens e as harmonias articuladas de “The Man Who Would Be King” e “The Talisman” oferecem um equilíbrio sublime entre a coragem de seguir novos caminhos e os riffs pesados que os desbravam.


O melhor de tudo, porém, é o encerramento com “When the Wild Wind Blows”, um épico de 11 minutos escrito por Steve Harris que brilhantemente evoca o horror mundano do conto de Raymond Briggs, celebrando o apocalipse com uma série de reviravoltas, delicadas melodias e mudanças de atmosferas suficientes para atordoar um dos amados Boeings de Bruce Dickinson.


Extremamente denso e rico em camadas sonoras, The Final Frontier não é um álbum para ser digerido em uma única audição e testa a vontade do ouvinte casual – mas o Iron Maiden nunca precisou do apoio dessas pessoas. Os fiéis, aos milhões, vão adorar até o último segundo.

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