Edguy: resenha do álbum 'Age of the Joker' (2011)



Por Ricardo Seelig


Nota: 8,5

A transformação do Edguy é uma das mais interessantes da história recente do heavy metal. De prodígios do power metal em álbuns como Theater of Salvation (1999) e Mandrake (2001), gradativamente a banda liderada pelo carismático vocalista Tobias Sammet foi mudando o seu som com a adição crescente de características do hard rock e do metal mais tradicional, transformação essa que dividiu os fãs. Toda essa história fica clara fazendo um exercício simples: ouça qualquer um dos primeiros discos do grupo e compare com Age of the Joker, seu novo álbum. É difícil acreditar que estamos falando da mesma banda.

Age of the Joker não é o álbum que os fãs estavam esperando, o que é uma boa notícia. Se fosse assim teríamos mais um disco de metal melódico, o que Age of the Joker está longe de ser. Pode-se classificar o som atual do Edguy como uma alquimia entre o hard rock e o metal, com forte presença de elementos do rock de arena dos anos oitenta e algumas pitadas de progressivo aqui e ali. Para efeitos de comparação, e apenas para isso, uma boa referência para entender o Edguy atual é o Kansas.

Produzido por Sascha Paeth, Age of the Joker é um disco bastante variado, com faixas um tanto quanto longas e que trazem um Edguy mais maduro. O alto astral da banda continua presente, mas agora divide espaço com faixas mais “sérias”, digamos assim, como a ótima “Pandora's Box”, repleta de mudanças de clima e passagens que ousam aproximar o country e o blues do heavy metal.

Quem curte o Edguy dos primeiros anos encontrará conforto nas ótimas “Breathe” e “The Arcane Guild” - esta última com direito até a um teclado Hammond e ótimos solos -, onde o quinteto demonstra na prática que ainda sabe fazer power metal empolgante. Contrastando com “Breathe”, “Two Out of Seven” talvez seja a canção mais hard do disco, com um refrão feito sob medida para ser cantado a plenos pulmões por estádios lotados.

O andamento mais cadenciado e as boas guitarras pesadas se destacam em “Face in the Darkness”. Já em “Fire on the Downline” o ponto forte é o clima épico que remete ao primeiro e excelente trabalho do Avantasia, o já clássico The Metal Opera, de 2001.

Um aspecto que deve ser mencionado em Age of the Joker são os arranjos vocais. Eles tornam um dos pontos fortes do Edguy, os refrões, ainda mais marcantes. Além disso, coros estão presentes durante todo o álbum, o que faz com que as canções ganhem em dramaticidade. A voz de Tobias, com aquele timbre agudo meio rouco de sempre, nunca soou tão forte, evidenciando a maturidade alcançado pelo vocalista. Basta ouvir “Behind the Gates to Midnight World”, a faixa mais progressiva do trabalho, para perceber isso.

No geral um disco muito bom, Age of the Joker mostra que o Edguy tem personalidade de sobra para seguir o caminho que bem entende, totalmente livre do que os fãs esperam que o grupo faça. Conte nos dedos quantas bandas, principalmente dentro do heavy metal, tem coragem de fazer isso, e você perceberá o tamanho da conquista que Tobias Sammet e suas parceiros alcançaram. Que esse espírito se mantenha, e que ele siga acompanhado de boa música como acontece aqui.


Faixas:
  1. Robin Hood
  2. Nobody's Hero
  3. Rock of Cashel
  4. Pandora's Box
  5. Breathe
  6. Two Out of Seven
  7. Faces in the Darkness
  8. The Arcane Guild
  9. Fire on teh Downline
  10. Behind the Gates to Midnight World
  11. Every Night Without You

Comentários

  1. Parabéns por sua resenha Cadão! Não apenas pelo fato de ter elogiado o cd, mas sim por ter conseguido fazer uma resenha sem nenhum tipo de julgamento pré concebido, como alguns críticos costumam fazer. Você escreveu a resenha de uma maneira diferenciada, onde dá pra perceber que você fez uma resenha isenta, analisando se o grupo é bom naquilo que se propõe a fazer. Foi a primeira resenha do novo álbum do Edguy que vi, até agora, e acho difícil que alguém consiga fazer uma melhor, que consiga falar com tanta propriedade sobre o novo disco, mesmo não sendo exatamente um fã da banda. Parabéns por sua isenção! Que sirva de exemplo para outros críticos, que costumam analisar as coisas olhando apenas pro seu próprio umbigo!

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  2. Obrigado pelo elogio, Aldo. E você, já ouviu o disco? O que achou?

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  3. Por incrível que pareça ainda não ouvi! Só descobri que tinha vazado agora há pouco. Espero que eu goste do álbum tanto quanto você gostou, pois mesmo sendo fã reconheço que os dois últimos trabalhos ficaram abaixo do esperando, embora possuam relativa qualidade. Vou ouví-lo daqui a pouco e depois te digo o que achei. Um abraço e mais uma vez parabéns pela resenha!

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  4. É bem por aí mesmo. O autor da crítica foi bem feliz ao ressaltar alguns aspectos do novo álbum. Ele é mais maduro que os antecessores e demonstra que o Edguy caminha a passos largos para se tornar um dos gigantes do metal contemporâneo. Podem crer que isso não é nenhum exagero. Potencial não falta pra banda de Tobias Sammet.

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  5. Há tempos que eu digo que o Cadão é o melhor crítico da atualidade.
    Seu estilo é bem diferente daqueles críticos altaneiros que odeiam metal melódico.

    Excelente resenha onde você aponta os novos caminhos que o Edguy trilhou no seu som, e destacou também as importantes linhas vocais do Sammet.

    Ricardo o que você achou da Robin Hood, senti a falta de um comentário seu sobre essa música.

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  6. Rubens, acabei não comentando a "Robin Hood", como você falou, mas gostei muito principalmente do refrão. E ela tem uma passagem mais calma no meio que é puro Iron Maiden, né não?

    Obrigado pelos elogios.

    Abraço.

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  7. Na verdade tem uma hora em que ela me lembra um pouco "The Ripper" do Judas Priest.

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  8. Parabéns pela resenha e posso dizer que concordo plenamente com o que você escreveu. Tudo bem que sou suspeita, amo o Edguy, mas é fato a forma como você descreveu o progresso da banda, ousada e corajosa. Já escutei o cd, estou escutando ainda, mas a cada vez que ouço, encontro algo diferente em que prestar atenção. Ponto alto do cd, creio que seja a Pandora's box, muito boa mesmo!

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