Por
Ricardo Seelig
Jesse,
como surgiu a ideia de produzir um documentário sobre a vida de
Jason Becker?
Há
dez anos que eu queria fazer um filme sobre Jason. Sua
história pessoal não é apenas fascinante e, é claro, inspiradora,
mas todas as pessoas envolvidas com ele são seres humanos extraordinários.
Eu sempre senti que a vida de Jason merecia ser conhecida por um
número muito maior de pessoas, e espero que esse filme ajude nesse
objetivo.
Devido
ao estado atual de Jason, que vive uma vida praticamente vegetativa,
como foi o processo de produção do filme?
A
vida de Jason não é exatamente vegetativa. Esse é um equívoco
normal com as pessoas com ELA – esclerosa lateral amiotrófica.
Sim, Jason não pode se mover e parece estar em um estado vegetativo,
mas a sua mente trabalha a pleno vapor, com 100% da sua capacidade.
Isto é que faz da ELA uma doença tão devastadora. Ele tem muitas
coisas acontecendo musicalmente dentro de sua cabeça, mas não é
capaz de espressar-se tão rapidamente quanto a maioria das pessoas.
Jason tem uma das mentes mais ativas que eu já conheci. Ele é
incrivelmente claro e muito observador. Nada escapa de Jason, ele
está por dentro de tudo. Trabalhar com ele foi muito divertido, e
não foi muito diferente de trabalhar com as outras pessoas que
participaram do filme.
A
única dificuldade maior é que é muito difícil para Jason sair de
casa, e por essa razão não há muitas cenas externas com ele, com
exceção dos vídeos gravados nos anos 80. Na maioria dos outros
documentários sobre estrelas do rock ainda vivas você normalmente
as vê andando por aí, realizando as tarefas do dia a dia, viajando
pelo mundo, realizando shows. Tivemos que pensar em maneiras de
manter o filme sempre interessante, o que foi um desafio.
Qual
o grau de participação dos pais e da família de Jason Becker na produção
do filme?
A
família de Jason, especialmente sua mãe Pat e seu pai Gary, foram
extremamente prestativos desde o início e estão muito envolvidos
com o filme. Eu moro em Londres, então preciso de alguém perto
de Jason para realizar um monte de tarefas que envolvem a produção
de um documentário como esse. A mãe de Jason fez um monte dessas
coisas, como a coleta de fotos, imagens e documentos. Ela é,
basicamente, meu braço direito na Bay Area de San Francisco, onde
Jason reside. E o pai de Jason forneceu um monte de trabalhos
artísticos e narrações para o filme. Ele é um cara incrível. Eu
não poderia imaginar pessoas melhores para trabalhar do que eles.
Você já era um fã do trabalho de Jason, ou se interessou pela sua história só depois que soube da sua doença?
A
primeira vez que eu ouvi falar sobre Jason Becker foi através do meu
professor de guitarra, quando eu tinha uns 15 anos. Eu praticamente
deixei Perpetual Burn (álbum lançado por Jason em 1988) no
'repeat' durante meses e pensei (ainda penso isso) que era o melhor
álbum de guitarra que eu já tinha escutado. Então, quando ouvi
mais sobre a história de Jason e a sua doença fiquei muito
interessado em aprender mais sobre ele e comecei a comprar tudo o que
ele havia produzido, de Perspective (1996) aos discos do Cacophony.
Você
teve que conviver bastante com Jason para o filme? Qual o seu estado
atual? Como funciona a comunicação com ele?
Eu
não convivi muito com Jason. Nós ficamos em San Francisco por cerca
de um mês durante as filmagens, além de duas viagens durante a
pré-produção. Passamos quase todos esses dias na sua casa
trabalhando. Seus pais colocaram a casa abaixo muitas vezes para que
pudéssemos gravar, e foram muito agradáveis. Eles estavam sempre
servindo comidas e bebidas para a gente.
Jason
e eu nos comunicamos agora principalmente por e-mail. Ele está
online quase todos os dias respondendo os e-mails dos fãs e
resolvendo assuntos sobre a sua carreira. Ele tem esse sistema onde
há duas telas de computador, uma para o datilógrafo e outra para
ele, para que possa ler todas as cartas e ditar as respostas.
Imagino
que o processo de edição deve ter sido bem emocionante e doloroso.
Fale-nos sobre isso.
Sim.
Ainda estamos editando, na verdade. É um processo longo e doloroso,
pois é onde o filme surge realmente. O mais difícil é tentar
contar a história de alguém em menos de duas horas. Esse é um
desafio enorme, já que temos mais de 150 horas de cenas! Também é
difícil agradar a todos, pois cada pessoa tem uma visão diferente
de como o filme deve ser. A nossa ideia não é produzir um filme
apenas para os fãs de Jason, mas sim ser capaz de chegar a um número
enorme de pessoas que se identificam com a história humana que
existe por trás dele. Quanto mais pessoas ouvirem sobre Jason e
descobrirem a sua música, melhor. Passar duas horas analisando o
modo como ele usava a palheta ou o processo de produção de
Perpetual Burn seria apenas alienar os telespectadores e não prestar
nenhum favor a Jason e sua família.
Eles
deram acesso a tudo. O tio de Jason, Ron, tirou um monte de fotos e
gravou vários vídeos durante toda a vida de Jason, bem como algumas
imagens em Super 8 quando ele ainda era um bebê. Eles desenterraram
vídeos e fotos antigos que não viam há anos. Nós digitalizamos
tudo, e muito desse material estará no filme. Há também vários vídeos
que queremos usar mas que talvez não consigamos colocar no filme,
pois são de propriedade de empresas jornalísticas que, muitas
vezes, querem uma grana alta para liberar apenas 30 segundos de
cenas. Mas estamos tentanto resolver isso, e espero ser possível incluir esse material no filme.
Que
músicos você entrevistou para o documentário?
Nós
não queríamos entrevistar um zilhão de músicos. O objetivo era
fazer um filme mais pessoal, então conversamos apenas com os músicos
que são próximos de Jason e que trabalharam com ele no passado.
Dessa forma, estão no documentário Michael Lee Firkins, Joe
Satriani, Steve Vai, Richie Kotzen e o grande amigo de Jason, Dave
Lopez, da banda Flipsyde. Para mostrar a influência de Jason nos
guitarristas atuais entrevistamos também Herman Li, do Dragonforce,
que cita Jason como sua principal influência e inspiração. Também
falamos com Jamie Humphries, que está atualmente em turnê com o
Queen. Havia planos de entrevistar Jeff Loomis, Chris Broderick e
Kiko Loureiro, mas não conseguimos coordenar os horários
disponíveis com os compromissos profissionais desses músicos.
Quando
será o lançamento do documentário? O filme tem previsão de exibição no
Brasil? Há planos de lançar um DVD?
Esperamos
ter o filme pronto até o final de 2011 e apresentá-lo nos festvais
de cinema na primavera (outono aqui no Hemisfério Sul) de 2012. Dependendo de como for a recepção no circuito de festivais, o DVD
será lançado logo após esse período. Nós vamos apresentar o filme
para festivais brasileiros, então espero que você e seus leitores
tenham a chance de assisti-lo em tela grande. No entanto, nós só
iremos lançar o filme quando ele estiver 100% finalizado, e estamos
trabalhando para concluí-lo até o final deste ano.
Depois de produzir, conviver e conhecer a fundo a história de Jason Becker, a sua opinião sobre ele mudou em que aspectos?
Eu
sempre vi Jason Becker como uma figura mítica por causa do seu
enorme talento, a história e a mitologia que o cerca. Quando eu o
conheci pessoalmente fiquei sem palavras, e foi um momento muito
importante na minha vida ficar cara a cara com ele. E agora, depois
de conhecê-lo, percebo que Jason é um cara engraçado e com quem você
pode se comunicar como com qualquer outro pessoa. Ele é realmente
uma figura e um cara muito atencioso que adora ter pessoas ao seu
redor, sair por aí e tocar a sua música. Minha admiração por ele
também mudou, e hoje eu o admiro muito mais do que antes.
Que
impacto produzir um filme como esse teve em sua vida?
Fazer
esse filme foi uma das experiências mais desafiadoras e
gratificantes da minha vida. Conheci muita gente boa que espero
continuar amigo para sempre. Trabalhar com Jason foi um sonho
transformado em realidade para mim. Eu espero que esse documentário tenha um
grande impacto não tanto sobre a minha vida, mas sim em relação à
vida de Jason. É isso que eu realmente desejo.
Site oficial: www.jasonbeckermovie.com
Site oficial: www.jasonbeckermovie.com
Eu não estava sabendo desse filme. Lendo essa entrevista, fiquei com uma vontade tremenda de asssitir.
ResponderExcluirMas parece que o Marty Friedman não vai participar, né? Pena, pois acho que ele seria um bom acréscimo.
Enfim, que venha o quanto antes.
Excelente entrevista, Ricardo. Estou ainda mais ansioso para ver o documentário. Valeu!
ResponderExcluirparabéns pela entrevista, Ricardo.
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