Lenny Kravitz: resenha do álbum 'Black and White America' (2011)




Por Ricardo Seelig

Nota: 8,5

Lenny Kravitz deve ter parado para pensar sobre como andava a sua carreira antes de gravar seu novo disco. Ao invés dos experimentalismos eletrônicos presentes aos montes em seus álbuns mais recentes, o que temos em Black and White America é um saudável retorno à sonoridade dos seus primeiros trabalhos, Let Love Rule (1989) e Mama Said (1991). Ou seja, um pop requintado banhado em generosas doses de soul.

Produzido, como sempre, pelo próprio Lenny, Black and White America é uma deliciosa viagem aos anos setenta, cujo ingrediente principal é o groove, o embalo, o balanço. Orgânico como há tempos um disco do cantor e guitarrista não soava, o nono álbum de Kravitz inicialmente iria se chamar Negrophilia, atestando o retorno às raízes black music de seu som.

Estreia do cantor pela Roadrunner Records, Black and White America pode ser encarado como uma espécie de trabalho conceitual, com suas dezesseis faixas levando o ouvinte por uma agradável jornada pela rica história da música negra norte-americana. Há aqui elementos do já citado soul, além de funk, rhythm and blues e o sempre bem-vindo clima Motown.

O início com a autobiográfica faixa-título e seus bem encaixados metais sacanas já deixa o ouvinte com uma ótima impressão, que apenas vai se solidificando no decorrer da audição. Fazia muito tempo que Lenny Kravitz não surgia tão interessante quanto aqui. “Liquid Jesus” e seu clima 'chill out' remetem a Marvin Gaye. “Rock Star City Life” irá agradar quem curte a faceta mais rocker de Kravitz, enquanto “Stand” é um pop perfeito para começar o dia.

Há momentos muito cativantes em Black and White America. Um dos principais é “Superlove”, uma composição que navega naquela linha tênue entre o soul e o funk e conforta o ouvinte com sua atmosfera acolhedora. “I Can't Be Without You” é outra que se destaca, baixando as luzes do ambiente com uma sexualidade tangível.

Apenas duas faixas lembram os trabalhos recentes de Lenny. A parceria com Jay-Z e DJ Military em “Boongie Drop” é apenas mediana, enquanto “Sunflower”, com a participação de Drake, tem uma batida nascida em uma roda de samba e é até passável.

Black and White America é um disco muito bom, com uma sonoridade orgânica, viva, pulsante, que não tem nada a ver com o que Lenny Kravitz estava fazendo em seus últimos álbuns. Se você curtiu os primeiros discos desse norte-americano mas perdeu o interesse pelo seu trabalho devido ao direcionanento exageradamente pop que ele seguiu, Black and White America é o disco que vai trazer você de volta.


Faixas:
  1. Black and White America
  2. Come On Get It
  3. In the Black
  4. Liquid Jesus
  5. Rock Star City Life
  6. Boongie Drop
  7. Stand
  8. Superlove
  9. Everything
  10. I Can't Be Without You
  11. Looking Back On Love
  12. Life Ain't Ever Been Better Than It is Now
  13. Tha Faith of a Child
  14. Sunflower
  15. Dream
  16. Push

Comentários

  1. Estava atrás da primeira critica em português deste disco de Lenny Kravitz e me esbarrei nas exatas visões que tive deste novo trabalho.
    Claro que são visões claras a qualquer ouvinte, mas que dão esperanças a quem queria realmente ouvir um Kravitz soando como seus primeiros trabalhos retrô, mais soul, mais funk.

    Por outro lado, eu até não acho que ele se distanciou tanto disso, apenas se repetiu na tendência rocker (que ainda vemos em faixas como "Rock Star City Life", da qual gosto, apenas acho uma formula demasiadamente repetida por ele).

    Durante a gravação e mixagem do disco Lenny Kravitz ja havia soltado pequenos videos que mostravam este caminho mais negro de volta a sua música. A audição total do disco foi apenas uma comprovação disso. Aqui, nem suas baladas antes mais enjoadas, soaram chatas, pelo contrario foram grandes destaques deste trabalho, que pra mim é o melhor do cara desde Mama Said.

    Mas discordo de ti que nos demais discos ele esta mais experimental e eletrônico, não acho que ele foi em algum momento eletrônico de fato. Deste disco, basta ouvir pra perceber a forte presença também dos sintetizadores e bateria eletrônica dos anos 80, mesclados ao som setentista. Esta formula ele ja havia usado no disco 5, e acho sempre bem vinda pra dar uma 'desviada da rota' e fazer o disco não cansar. Por tanto não tenho queixar da canção com Jay-Z por exemplo, acho que mistura eh bem do Lenny Kravitz. E tb não me surpreenderia se ainda ouvisse ela em rádio para conquistar ouvintes pops.

    Minha favorita está sendo "Locking Back On Love", me lembra muito Mama Said.

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  2. Estava atrás da primeira critica em português deste disco de Lenny Kravitz e me esbarrei nas exatas visões que tive deste novo trabalho.
    Claro que são visões claras a qualquer ouvinte, mas que dão esperanças a quem queria realmente ouvir um Kravitz soando como seus primeiros trabalhos retrô, mais soul, mais funk.

    Por outro lado, eu até não acho que ele se distanciou tanto disso, apenas se repetiu na tendência rocker (que ainda vemos em faixas como "Rock Star City Life", da qual gosto, apenas acho uma formula demasiadamente repetida por ele).

    Durante a gravação e mixagem do disco Lenny Kravitz ja havia soltado pequenos videos que mostravam este caminho mais negro de volta a sua música. A audição total do disco foi apenas uma comprovação disso. Aqui, nem suas baladas antes mais enjoadas, soaram chatas, pelo contrario foram grandes destaques deste trabalho, que pra mim é o melhor do cara desde Mama Said.

    Mas discordo de ti que nos demais discos ele esta mais experimental e eletrônico, não acho que ele foi em algum momento eletrônico de fato. Deste disco, basta ouvir pra perceber a forte presença também dos sintetizadores e bateria eletrônica dos anos 80, mesclados ao som setentista. Esta formula ele ja havia usado no disco 5, e acho sempre bem vinda pra dar uma 'desviada da rota' e fazer o disco não cansar. Por tanto não tenho queixar da canção com Jay-Z por exemplo, acho que mistura eh bem do Lenny Kravitz. E tb não me surpreenderia se ainda ouvisse ela em rádio para conquistar ouvintes pops.

    Minha favorita está sendo "Locking Back On Love", me lembra muito Mama Said.

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  3. Obrigado pelo comentário, N@ando. Estamos de acordo em grande parte das nossas opiniões então.

    Abraço, e seja bem-vindo à Collector´s, aqui sempre tem coisa boa rolando.

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  4. Ricardo , o que dizer de um disco que todo o instrumental praticamente e tocado pelo dono e com maestria e virtuose das boas ? O rock anda uma bosta a decadas.....as musicas nao são mais musicas , e nos deparamos com um petardo desses : guitarras rasgando no wah wah , um baixão animal , bateria afiasissima , teclados , backing vocals maravilhosos , metais e a guitarra afinadissima de Craig ross , o bixo grilo cabeludo que toca muuuuuuuito mais que muito guitarrista de Heavy metal por ai...


    Lenny Kravitz é um dos unicos musicos da atualidade que faz musica de verdade !!! Parabens Lenny seu disco é 10 !!! ou melhor 11...


    Eu tenho a versão com 4 bonus de estudio e 2 acusticos

    E como se o Curtis Mayfield se associasse ao Jimi Hendrix e o james brown fizesse parte da banda....e o John Bonham na bateria....

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