Nazareth: review do álbum 'Big Dogz' (2011)



Por Ricardo Seelig

Nota: 8,5

O Nazareth nunca foi uma banda do primeiro time do hard rock. Pra ser sincero, nem do segundo. A banda liderada pelo vocalista Dan McCafferty, há mais de quarenta anos na estrada, faz parte daquele tipo de artista que vence pela insistência. Desde que o mundo é mundo eles estão ali, perto de você, gravando discos e lançando músicas que, mesmo não tendo um impacto muito grande em sua vida, fazem barulho suficiente para você saber que ambos existem.

Analisando em perspectiva e mesmo correndo o provável risco de os fãs do grupo me amaldiçoarem, o fato é que esses escoceses lançaram apenas dois álbuns verdadeiramente relevantes em toda a sua carreira – Razamanaz (1973) e Hair of the Dog (1975) -, e desde então apresentam somente lampejos momentâneos de criatividade. Isso é facilmente percebido através da pluralidade de estilos explorada em seus discos. Do hard ao heavy metal, passando pelo pop e até por um equivocado flerte com a sonoridade mais eletrônica durante a década de oitenta, o Nazareth atirou para todos os lados em sua longa história, e, o que é pior, acertando em pouquíssimos alvos.

Por tudo isso, fui ouvir Big Dogz, vigésimo-segundo álbum do quarteto, com um pé atrás. Bem, na verdade com os dois pés atrás. Não tinha expectativa alguma em relação ao disco. Não esperava absolutamente nada. Para ser bem sincero com vocês, ele estava enquadrado naquele nicho de materiais de divulgação recebidos de gravadoras e que eu não tenho a mínima vontade de escrever a respeito.

Então, como estava dizendo, coloquei o álbum na vitrola e fui ouvir o disco. E é aí que a porca torce o rabo. O início da faixa de abertura, “Big Dog's Gonna Howl”, prendeu a minha atenção, e a surpresa só foi acabar ao final da audição. Com uma pegada totalmente influenciada pelo Free, “Big Dog's Gonna Howl” é um excelente cartão de visitas para um trabalho muito bom. Com um tracklist forte, Big Dogz traz o Nazareth executando um competente e sólido blues rock, onde o peso é um dos elementos principais. O áspero timbre da guitarra de Jimmy Murrison é um prazer inesperado e, ao lado do vocal de McCafferty, embebido em generosas doses de whisky e na linha do seu conterrâneo Bon Scott, é o principal destaque do disco.

Algumas músicas merecem comentários à parte. “When Jesus Comes to Save the World Again” é uma composição densa que lembra novamente o Free, mas dessa vez em seus momentos mais melancólicos. “Claimed” é hard puro, uma viagem direto aos anos setenta. “Radio” é ótima balada sem o excesso de açúcar habitual das músicas do grupo. A excelente “No Mean Monster” é um rock com um groove maroto, daquelas faixas feitas sob medida para pegar a estrada sem destino.

Com uma consistência e uma solidez que impressionam, Big Dogz é um grande álbum de rock puro e simples temperado por generosas doses de blues. Seguramente o melhor disco do Nazareth desde meados dos anos 70, com tudo para agradar não apenas os fãs, mas principalmente pessoas como eu, que nunca deram muito bola para o grupo.

Duvida? Então ouça!


Faixas:
  1. Big Dog's Gonna Howl
  2. Claimed
  3. When Jesus Comes to Save the World Again
  4. Radio
  5. No Mean Monster
  6. Time and Tide
  7. Lifeboat
  8. The Toast
  9. Watch Your Back
  10. Butterfly
  11. Sleeptalker

Comentários

  1. Faço de suas palavras "quase" as minhas ... esse disco é uma verdadeira voadora nas costas de quem não esperava mais nada do grupo .... para mim esta quase no mesmo nível dos dois citados ... que são realmente matadores .... realmente a banda em sua longa carreira não consegui manter a consistência alcançada no Hair of the Dog e no Razamanaz ... não acho que eles pertençam a um escalão tão baixo assim... acho que são sim do segundo escalão mesmo porque são bem conhecidos no meio rocker ... alguns bons discos deles são o Load and Proud, o No Mean City e o Expect no Mercy (este menos) .... em boa parte dos 80 realmente meteram o pé na jaca.... e em parte fizeram por merecer a desconfiança que despertam .... mas o disco Big Dogz é realmente ótimo ... mostra que se a banda tivesse focado nesta sonoridade poderia ter sido mais consistente....mas o se não existe...

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  2. Gostei da honestidade na avaliação de Ricardo Seelig.
    Sou muito fã da banda e chego a viajar de moto para o sul do país para assistí-los, saindo de São Paulo, quando eles vem tocar no Paraná ou Santa Catarina.
    Sou da mesma opinião do Fábio de que a banda está no segundo escalão, indo para o primeiro.
    O álbum é espetacular, principalmente pelas muito bem compostas Big Dogz, Radio e The Toast.
    No último show que fui em Campo Largo/PR, escutei ao vivo Radio e foi uma das maiores experiências vividas ao ouvir uma obra ao vivo.
    Vida longa ao Nazareth.

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  3. Ricardo, tem certeza que você ouviu discos como Close Enough to rock and roll, Rampant, e Loud And Proud? Sei não...

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