Coldplay: crítica do álbum 'Mylo Xyloto' (2011)


Nota: 8,5

O Coldplay soa renovado em Mylo Xyloto. Quinto álbum do quarteto, o disco traz uma banda menos messiânica e com uma saudável dose de alegria e otimismo. O desejo de ser o novo U2 ou uma versão mais pop do Radiohead parece ter ficado para trás. O resultado é um álbum que, ainda que guarde ligações com o passado, aponta para um futuro surpreendente.

Provavelmente, a principal razão para essa mudança esteja na participação maior dos demais músicos – Jon Buckland (guitarra), Guy Berryman (baixo) e o subestimado Will Champion (bateria) – no processo de composição. Essa descentralização faz com que as principais características de Chris Martin – as melodias grandiosas, os arranjos pomposos – estejam mais contidos, equilibrados por um bem-vindo tempero pop. A banda não conseguiu retornar à sonoridade dos dois primeiros álbuns – Parachutes (2000) e o soberbo A Rush of Blood to the Head (2002) -, mas isso, pensando bem, nem seria necessário. Ao invés dessa escolha, o grupo soube equilibrar as principais qualidades desses dois discos – as melodias inspiradas adornadas pela instrumentação básica, às vezes quase minimalista – com o que de melhor havia em seus trabalhos mais recentes – X&Y (2005) e Viva la Vida or Death and All His Friends (2008).

Dessa maneira, ao mesmo tempo em que somos brindados com pequenas jóias pop como “Hurts Like Heaven” - com um agradável tempero oitentista – e “Every Teardrop is Waterfall”, há um clima que traz de volta o que o Coldplay fez de melhor em sua carreira em faixas como “Major Minus” e “Charlie Brown”, onde instrumentos acústicos constróem a base sobre a qual arranjos cirúrgicos de desenvolvem sem exageros.

No meio disso tudo, a banda entrega, como sempre, composições que tem como elemento principal a melodia, essa característica tão em falta no pop atual. E é por essa razão que o Coldplay cativa tanto. Em um mundo onde as batidas do rap são onipresentes e o ritmo puro e simples é o desejo de todos, o Coldplay investe em algo “fora de moda”: a construção de harmonias e belas melodias. Um exemplo disso é a bonita “Paradise”, uma faixa que, apesar de soar um tanto exagerada em alguns momentos – principalmente no “ôôô” do refrão -, emociona.

Há grandes momentos em Mylo Xyloto. “Us Against the World” remete a A Rush of Blood to the Head. “Up with the Birds”, colaboração da banda com Leonard Cohen, fecha o disco com destaque. As já citadas “Hurts Like Heaven”, “Every Teardrop is Waterfall”, “Major Minus”, “Charlie Brown” e “Paradise” são garantia de satisfação.

A única coisa que soa deslocada em Mylo Xyloto é a participação de Rihanna em “Princess of China”. A composição, apenas mediana, sobreviveria bem sem a cantora, e a impressão que se tem é que a sua inclusão é muito mais uma tentativa de promover o álbum do que uma escolha artística.

Mylo Xyloto é um CD muito bom. Nele, o Coldplay encontrou um equilíbrio entre a sonoridade mais básica de seus dois primeiros álbuns e a grandiosidade pretensiosa de seus mais recentes discos. Dessa mistura saiu um trabalho muito interessante, que mostra que o grupo ainda tem muitas cartas na manga.

Vale - e muito - o play!


Faixas:
  1. Mylo Xyloto
  2. Hurts Like Heaven
  3. Paradise
  4. Charlie Brown
  5. Us Against the World
  6. M.M.I.X.
  7. Every Teardrop is a Waterfall
  8. Major Minus
  9. U.F.O.
  10. Princess of China
  11. Up in Flames
  12. A Hopeful Transmission
  13. Don't Let It Break Your Heart
  14. Up with the Birds


Comentários

  1. Eu acabei de ouvir, antes de ler a crítica e só discordo realmente em relação a música com a Rihanna. Embora ela não seja lá a melhor do álbum, traz um pouco dessa moda de misturar artistas para criar algo que geralmente é desastroso, mas que nesse caso veio muito bem vindo por conta do próprio instrumental da música que eu achei demais.

    Um grande album da banda sem dúvida, só espero que não seja o último como Chris Martin anda falando por aí.

    Excelente review cara, grande abraço.

    ResponderExcluir
  2. Sinto muito, mas tenho esses caras como uma das bandas mais chatas e sem-graça do universo. Já tentei ouvir várias vezes, mas não desce. Vejo como um U2 piorado. Mas, da mesma forma que Bono, Edge, Clayton & Mullen conseguiram surpreender – positivamente falando – em alguns pontos de sua carreira(vide Achtung Baby e Zooropa), esse Coldplay pode também surpreender um dia.

    ResponderExcluir
  3. Não precisa pedir desculpas, Alexandre. Aqui a convivência é tranquila.

    Aos dois, obrigado pelos comentários.

    ResponderExcluir
  4. As pessoas as vezes torcem o nariz pro Coldplay pelo fato do Chris Martin ser um mala comparável apenas ao Billy Corgan do Smashing Pumpkins. Mas a música, no geral, é boa!

    ResponderExcluir
  5. Gosto da banda...
    melodias bonitas.... algumas vezes exageram... mas ninguém é perfeito...
    Boa banda na minha opinião !
    Mandam bem ao vivo também...

    Acho que a crítica brasileira tem má vontade com eles por lembrarem um pouco o u2 atual tanto no som como na atitude... não vejo tanto problema nisso

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.