Os melhores discos de 2011 segundo Márcio Grings, coordenador de programação da rádio Itapema



Falem o que quiserem das listas. Eu sempre gostei delas. Essa dos melhores de 2011 partiu de uma provocação por e-mail do amigo Ricardo Seelig, um daqueles brothers on-line “de respeito” que fiz nos últimos anos.


O exercício de pensar sobre o “the best” deste ano também me fez concluir que, musicalmente, em minha opinião, não tivemos um grande ano musical. Entretanto, tem alguns lançamentos bacanas que sacudiram as caixas de som lá de casa.


Lembrando aos amigos que não me conhecem, as referências desse blogueiro aqui passam pelo rock do final dos anos 60, início da década de 70, e também pelo blues.


Tom Waits - Bad As Me

Nosso herói é conhecido por seus estranhos métodos de trabalho. Tom Waits confessou que compõe alguns dos seus temas a partir de gritos solitários vociferados no seu automóvel. Waits também disse ao jornal austríaco Die Presse que conduz o seu carro por aí e grava num pequeno gravador. “Como tenho família, o único lugar tranquilo é o carro. Ou então vou para o estúdio, entro em transe e descarrego a letra de uma forma mágica. Um pouco como um vendedor de bíblias bêbado”.


Antes mesmo de ser lançado, Bad As Me, novo álbum de Tom Waits, já ganhou status de um dos melhores CDs do ano. O trabalho tem menos crueza do que de costume, e os arranjos estão muito caprichados. Isso não significa que encontraremos um disco rebuscado de arranjos e repleto de “piripaques” tecnológicos, bem pelo contrário. O lance ainda soa beat, direto e minimalista.


Entre os convidados, o bluesman branquelo Charlie Musselwhite toca gaita em cinco faixas e Flea (do Red Hot Chili Peppers) toca baixo em "Hell Broke Luce". O destaque principal fica por conta do pirata Keith Richards, que manda ver na guitarra e canta em "The Last Leaf" e "Satisfied". Falando em satisfação, esta última canção é um blues raivoso e hipnótico, carregado pelo riff de Keith. Até dá os ares de “Satisfaction”, dos Stones, ainda mais quando o ouvimos cantar: “I said I will have satisfaction”. 


Etta James – The Dreamer


Aparentemente, a carreira musical de Etta James termina com The Dreamer. A cantora anunciou faz alguns meses que este seria seu álbum de despedida, um grito de adeus antes da aposentadoria. Etta, 73 anos, um dos últimos nomes ainda na ativa da velha escola do blues e soul (e jazz), passou por maus bocados em 2011. Esteve hospitalizada durante alguns meses passando por um tratamento contra a leucemia. Ela também sofre de Alzheimer desde 2009. Entretanto, as intempéries da vida não a impediram de gravar um novo trabalho, que mostra Etta cantando muito. Era uma espécie de dívida com ela mesma, tipo "antes de entrar pra reserva, preciso mostrar ao mundo que ainda posso gravar um bom álbum". E ela conseguiu.


No repertório, canções de Ray Charles, Bobby Bland, Johnny “Guitar” Watson, Otis Redding e Little Milton - ou seja, garantia do melhor rhythm & blues do pedaço, certas vezes com um temperinho rock and roll. Entre as surpresas, lá está uma releitura "boogie" avassaladora de “Welcome to the Jungle”, do Guns N' Roses. Dê uma canção meia boca pra velha Etta e ela transforma o número num blues arrasa quarteirão.


"Me dá meu gorro!". Um disco de tirar o chapéu. 


Gustavo Telles & Os Escolhidos – Do Seu Amor, Primeiro é Você que Precisa

 O disco saiu no finalzinho do ano passado, porém tomo a liberdade de incluí-lo na lista de 2011. Gustavo Telles, baterista da banda instrumental gaúcha Pata de Elefante, soltou a voz e reuniu amigos para gravar um disco de canções de amor. Além de compositor de todas as canções, ele toca violão de 12 cordas em “Tell Me Why” (única faixa no idioma mater do rock) e assume todos os vocais.


E digo mais: se você gosta de álbuns como Music From Big Pink do The Band, No Reason to Cry de Eric Clapton e Nashville Skyline de Bob Dylan, este CD vai lhe deixar mais do que satisfeito. As referências ao Band são as mais explícitas, a começar pelo clima de camaradagem nas fotos da contracapa e encarte, possivelmente inspiradas nas imagens estampadas nos dois primeiros álbuns do extinto grupo canadense com base nos EUA. Não vejo nenhum problema, pelo contrário. Além disso, o mais importante, canções como “Posso Me Perder” são descaradamente embebidas no clima country blues da banda de Robbie Robertson, Rick Danko, Levon Helm, Garth Hudson e Richard Manuel. Rock do bom no idioma de Camões.


Gary Clark Jr – The Bright Lights EP


Gary Clark Jr é considerado uma das novas promessas do blues norte-americano. Em outubro de 2011, esse texano de 27 anos abriu três dos quatro shows de Eric Clapton no Brasil (São Paulo e Rio). Gary ganhou o apelido peso-pesado de “Salvador do Blues”, e além do tradicional gênero do Mississipi, reza seu vernáculo também na cartilha da música negra, mais precisamente na soul music chamuscada com doses roqueiras.


O músico vem gerando comparações e co-relações a nomes com um de seus conterrâneos mais ilustres – o guitarrista Stevie Ray Vaughan, morto num desastre aéreo em 1990. Clark foi um dos destaques do festival Crossroads Guitar, em 2010, onde se apresentou ao lado de BB King , Eric Clapton, Buddy Guy e Steve Winwood, e participou do filme Honeydripper - Do Blues ao Rock, que conta a origem do blues e do rock nos Estados Unidos.


Quanto ao som do homem, se você gosta de blues do bom, basta um único som do EP The Bright Lights para convencê-lo da qualidade do cara. Dê volume no seu som e ouça a faixa-título. A casa vai tremer e Gary vai ganhar o respeito do ouvinte.


Fleet Floxes – Helplessness Blues


Helplessness Blues é o segundo CD dessa banda de Seattle liderada pelo guitarrista e cantor Robin Pecknold. As influências do Fleet Floxes passam por Bob Dylan, Neil Young e Beach Boys. Tá ruim de referência, né? A faixa-título dá uma boa pista daquilo que você encontra com essas novas raposas do folk, gospel e country rock.


Confesso que esse é um daqueles trabalhos que me causam sentimentos dúbios quando o ouço. Consigo ficar arrebatado por canções como “Montezuma” e “Bedoim Dress”, no entanto, a jogada retrô acentuada proposta pelo grupo de vez em quando aporrinha o saco, já que as melodias oferecem poucas variações melódicas. Soa repetitivo. O trabalho parece que foi gravado no final dos anos 60, com dose dupla de tempero folk barroco e rock clássico. Em suma: um disco perfeito para bichos-grilo (como eu) que ainda não se conformaram com o fim dos anos 60. Como diria Walt Whitman: “Contradigo-me? Pois bem, contradigo-me. Sou amplo, contenho multidões”. Com todos os seus defeitos (e qualidades, é óbvio!), o destaco como uma das pérolas do ano.


Desconfie daquilo que lhe causa uma estranheza inicial, afinal, não é todo dia que podemos conferir novas bandas de rock que se arriscam em revisitar os anos 60 sem cair no óbvio. E o Fleet Floxes tem café no bule e muita lenha pra queimar. Já estou no compasso de espera para o próximo disco, pois acredito que eles estejam bem perto de acertar o alvo em cheio. Que venha um novo CD dos Floxes em 2012.


Josh T. Pearson - Last of the Country Gentlemen


Josh T. Pearson chamou inicialmente a atenção como líder do grupo Lift to Experience, banda americana que gravou apenas um disco – o elogiado The Texas-Jerusalem Crossroads (2001). Após o final das atividades de sua banda (ou bando), ele lançou seu primeiro trabalho solo de estúdio, Last of the Country Gentlemen. Digo “primeiro trabalho solo de estúdio” porque o barbudo havia lançado o álbum ao vivo To Hull and Back (2006), espécie de preâmbulo desse cantor/compositor como um homem só na música (anti) pop.


Não se engane com a palavra country no título do álbum - o som poeirento e repleto de espaços em branco de Josh T. Pearson não tem nada a ver com o country convencional. A ironia é desvendada quando sacamos o cruzamento de riffs de violão no clima do som do início dos anos 90, com nuanças do rock de Seattle, somadas a um tipo de folk cinzento com letras deprês. Sendo mais específico – na minha visão, uma mistura de Nick Drake com Mark Lanegan, utilizando um código genético ainda mais peculiar. Tipo: música perfeita para os garçons recolherem os copos num fim de noite qualquer em algum boteco de nossas vidas.


Forte como uma dose de Jim Bean. 


Charles Bradley – No Time for Dreaming


No Time for Dreaming é um excepcional álbum de soul music para apaixonados pela old school do gênero. A sonoridade do CD é totalmente vinculada à era de ouro da música negra, e temos a impressão de que se trata de um álbum esquecido nos porões do tempo. Olhando a estampa do coroa, dá pra dizer que Charles Bradley parece uma mistura de Tony Tornado com James Brown.


Apesar de estar estreando em disco, esse soul man de 63 anos é o que podemos chamar de veterano iniciante. Da capa com visual retrô a aquilo que ouvimos vazar das caixas de som, No Time for Dreaming é um disco de soul incrível. Além das canções, rolam algumas vinhetas ou temas instrumentais pela banda que o acompanha, a Menahan Street Band, uma rapaziada danada de boa que faz interlúdios espertos e dá refresco e beleza ao contexto do trabalho.


Só preciso de dois sons pra convencer o leitor/ouvinte do requinte da obra: tasque no player “The World (Is Going Up in Flames)” ou “Heartaches and Pain”, última faixa, e você saberá do que estou falando.


Que Charles Bradley não pare por aí.


Gregg Allman – Low Country Blues 


O vocalista, tecladista e compositor norte-americano Gregg Allman (64), líder do The Allman Brothers Band, é o homem de frente do grupo há mais de 40 anos. Entretanto, Gregg sempre teve incursões individuais. Low Country Blues conta com a produção de T-Bone Burnett, e tem entre os convidados destaque para Dr. John, mestre da conjunção blues, jazz, zydeco e boogie, que assumiu os pianos do álbum. Greg mandou ver no violão e no órgão Hammond B-3, uma das marcas registradas do som do Allman Brothers. Já a banda base do disco é formada por um músico de apoio do grupo de Eric Clapton - Doyle Bramhall II (guitarra) - e pela dupla Dennis Crouch (baixo) e Jay Bellerose (bateria), mesma dobradinha do premiadíssimo Raising Sand (2007), gravado por Robert Plant ao lado da cantora country Alison Krauss.


Low Country Blues é uma espécie de recomeço para o irmão do falecido e cultuado guitarrista Duane Allman, já que Gregg sofreu uma delicada cirurgia de transplante de fígado em junho de 2010, resultado de anos e anos de excessos e décadas de vício em heroína. Minhas preferidas: “Floating Bridge”, uma releitura de Skip James, “Got Devil My Woman”, e duas de Muddy Waters – “Rolling Stone” e “I Can’t Be Satisfied”.


Wanda Jackson – The Party Ain’t Over


Como é bacana ver um veterano usando toda a experiência a seu favor. Envelhecer com a dignidade dos músicos de jazz, eis o sonho de muitos artistas. Vovó Wanda Jackson (74 aninhos) lançou esse ano The Party Ain’t Over, uma deliciosa colcha de retalhos que costura antigos e novos números de rockabilly e rock and roll, com produção devotada de Jack White. 


O álbum foi capturado no estúdio privado do músico, em Nashville, Tenessee. Para essa empreitada, Jack arebanhou alguns compadres (tem gente das bandas My Morning Jacket, Raconteurs e Dead Weather) e, como produtor esperto que é, ao ouvirmos atentamente as canções entendemos perfeitamente o significado do título do disco – já que com a pequena ajuda de Jack, a festa realmente parece estar longe do fim para a cantora americana.


A alegria contagiante de Wanda Jackson e os seus é um manifesto de vitalidade, como também aponta concisamente para um futuro com cara de passado. Minhas preferidas: "Shakin’ All Over" e a versão da 'véia' pra “Thunder on the Mountain” de Bob Dylan.


North Mississippi Allstars – Keys to the Kingdom


O North Mississippi Allstars é uma das melhores bandas de blues rock dos EUA surgidas nos últimos dez ou quinze anos. O som do trio mergulha fundo na pentatônica música negra de raiz: soul, country e gospel, isso sem esquecer de chumbar o produto final com doses venenosas de rock setentão. 


Em Keys of the Kingdom muitas vezes esse peso foi deixado de lado, surgindo canções mais afinadas com o mítico som do sul dos Estados Unidos. Há colaborações de respeito, como a veterana cantora Mavis Staples (“The Meeting”) e de Ry Cooder (“Ain't No Grave”). Ainda temos o bluesman Alvin Youngblood Heart e o tecladista Spooner Oldhan, escolado colaborador da soul e country music.


Minhas preferidas: “Jellyroll All Rollin’ Heaven” e “Hear the Hills”. Entre as canções revisitadas, destaque para “Stuck Inside a Memphis Blues Again” (Bob Dylan) e “This a Way” (Woody Guthrie).

Comentários

  1. Enfim "Bad as me" do Tom Waits entrou em uma lista...esse disco é fantastico do começo ao fim!!!!!

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  2. Na música todo ano é bom... é só saber procurar...mas concordo que existem anos especiais.. no mais excelente lista, ainda mais pela linha seguida pelo autor

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  3. Sensacional! Também achei o novo do Tom Waits um dos melhores do ano, fácil. Ao lado da lista do Bento, essa é a minha favorita. Também curti muito os textos, e discos que não ouvi, como o da Josh T. Pearson, devem ser ótimos.

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  4. Legal estas listas, a seguir eu vou publicar uma lista minha c/ comentários (se tiver espaço), essa vai ser a lista do Agito

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  5. # Anthrax - Worship Music, o melhor disco da carreira deles, todas faixas são perfeitas.
    # Machine Head - Unto Locust, não tem como ficar fora de uma lista de melhores de 2011, melodias, peso, passagens acústicas nesse disco tem tudo que um fã de rock ou heavy quer ouvir, perfeito é a palavra pra defini-lo.
    # Foo Fighters - Wasting Light, nunca cheguei a curtir um disco do Foo Fighters inteiro, mas este aqui me pegou de jeito, basta ouvir Arlandria e Miss Misery p/ saberem do que eu estou falando.
    # Motorhead - The World is Yours, Simplesmente Lemmy & Cia detonando da melhor maneira, então ñ têm como este ñ entrar na lista.
    # Poisonblack - Drive, É o Ville de volta a velha forma forma c/ um pouco de modernidade, The Dead End Stream q música linda.
    Continua...

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  6. # Graveyard - Hisingen Blues, eu estava triste pq o Cathedral acabou, mas o Graveyard veio p/ acalmar um pouco esta tristeza e ocupar o lugar do Cathedral q era mina banda Stoner favorita.
    # Shadowside - Inner Monster Out, Que disco viciante, Destaque p/ a faixa titulo e Wherever Our Fortune e Gag Order.
    # Iced Earth - Dystopia, Sou fã de Heavy Metal então ñ tam como um disco destes ñ entrar na minha lista.
    # Amon Amarth - Surtur Rising, Tudo q um fã de Heavy e Death aprecia, peso rifferama, ouçam Slaves Of Fear, e se alguém disser que ñ gostou do riff é pq está mentindo, rs.
    # Almah - Motion, Que o Sr Falaschi é um manézão e fala mta merda tds nós sabemos. Agora q este Motion é legal p/ caramba mta gente ñ sabe, Trae of Trait, Zombie Dictator e Living And Drifiting são demais, vale a pena ouvir.
    ...................................
    Essa é minha lista por curtir mais um som heavy os meus favoritos em sua maioria são discos do estilo, e só uma coisa ainda ñ ouvi o The Hunter do Mastodon, portanto ñ tem como dizer se gostei ou ñ, caso alguém diga q ele deveria estar na lista no lugar de algum outro.

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