Glenn Hughes: crítica de 'Live in Wolverhampton' (2011)


Nota: 9

Algumas coisas não têm como dar errado. Passear na beira do mar, com o vento batendo no rosto. Reunir velhos amigos para colocar o papo em dia. Fazer um show em seu país, revisitando músicas de todas as épocas de sua carreira. É justamente isso que Glenn Hughes fez em Live in Wolverhampton, novo álbum ao vivo que é um dos melhores trabalhos de sua longa história.

Para quem não conhece a história de Hughes, o baixista e vocalista nasceu em Cannock, cidade próxima a Wolverhampton. Foi nessa segunda que Glenn conheceu Mel Galley e Dave Holland e formou o Trapeze, o ótimo trio que o lançou para a fama no início dos anos 70 e foi o seu passaporte para o Deep Purple, onde tocou durante 1974 e 1976. Glenn Hughes tem uma grande ligação com Wolverhampton, e é inclusive torcedor do time de futebol da cidade, o Wolverhampton Wanderes, que disputa a Premier League, o campeonato inglês de futebol.

O CD duplo, também disponível em DVD, é um presente para quem curte a carreira de Hughes. O tracklist traz sons do Trapeze, do Deep Purple e dos discos solo de Glenn, em uma retrospectiva que mostra que, apesar dos altos e baixos normais para quem está na estrada há 40 anos, o saldo final é pra lá de positivo.

Merece menção especial a ótima banda que acompanha Hughes em Live in Wolverhampton. Jeff Kollman é um estupendo guitarrista e comprova isso tocando de maneira inspirada, sem querer emular as gravações originais. Ele respeita o que caras como Galley e Ritchie Blackmore fizeram, mas coloca o seu toque especial, que é repleto de bom gosto. O restante do grupo – Anders Olinder no teclado e Steve Stevens na bateria – segue no mesmo caminho.


Mas o ponto chave de tudo, como não poderia deixar de ser, é o próprio Glenn Hughes. E aqui cabe um grande elogio ao lendário músico. Nos últimos anos, tanto em trabalhos de estúdio quanto ao vivo, Hughes desenvolveu a irritante mania de, ao invés de cantar, gritar constante e desnecessariamente, ofuscando a beleza de sua voz. Em Live in Wolverhampton, ao invés de seguir este caminho - uma queixa recorrente de diversos de seus fãs, diga-se de passagem -, Glenn vai ao outro extremo, cantando de maneira quase divina e mostrando o porque de ser considerado, por muitos, como “a voz do rock”. Usando a experiência a seu favor, Hughes carrega as faixas de emoção nos momentos certos, utilizando todas as possibilidades de sua voz privilegiada para transmitir as mais diversas sensações. O resultado é uma aula prática de técnica vocal, uma performance absurda que está entre os pontos mais altos de sua carreira.

Há alguns destaques imediatos em Live in Wolverhampton. “What's Going on Here”, do clássico Burn, ganhou uma interpretação primorosa, com Anders Olinder honrando Jon Lord nos teclados. “Mistreated” foi relida por Hughes com precisão, e nela os holofotes apontam para a guitarra de Kollman. Mas é quando revisita o catálogo do Trapeze que Hughes faz este duplo ao vivo valer muito a pena. As interpretações para clássicos como “Jury”, “Coast to Coast”, “Seafull”, “Your Love is Alright”, “Medusa”, “You Are the Music” e “Black Cloud” são de arrepiar, com Glenn e banda tocando de maneira iluminada, resgatando canções que estão entre os momentos mais brilhantes da história do hard rock.

Live in Wolverhampton é um excelente álbum ao vivo que não apenas faz uma retrospectiva da carreira de Glenn Hughes, mas também mostra que grandes canções não envelhecem, conservando intacta a sua capacidade de tocar a alma de rockers das mais variadas gerações.


Faixas:

CD 1 – Glenn's & Purple Classics:
  1. Muscle and Blood
  2. You Got Soul
  3. Love Communion
  4. Don't Let Me Bleed
  5. What's Going on Here
  6. Mistreated
  7. Crave
  8. Hold Out Your Life

CD 2 – A Night with Trapeze:
  1. Way Back to the Bone
  2. Touch My Life
  3. Jury
  4. Coast to Coast
  5. Seafull
  6. Good Love
  7. Your Love is Alright
  8. Mesusa
  9. You Are the Music
  10. Black Cloud

Comentários

  1. Putz...finalmente ele não está berrando em momentos inoportunos !
    Por Favor... saia em edição nacional... é só isso que eu quero !

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