Metal Open Air: um festival deste porte merecia uma música tema à altura



Quando foi anunciado, o Metal Open Air causou dois tipos de reações conflitantes nos fãs brasileiros de heavy metal. Primeiro, a alegria pelo país ter, novamente, um festival dedicado totalmente à música pesada. E, em segundo lugar, a desconfiança natural sobre a realização do mesmo, já que, nos últimos anos, o que não faltaram foram promessas de eventos grandiosos que atiçaram a expectativa dos headbangers mas, infelizmente, não saíram do papel.

Entretanto, aos poucos o Metal Open Air se revelou um evento sério e, mais importanto do que tudo, concreto. As bandas foram sendo anunciadas aos poucos, a escalação foi sendo fechada. E, para encerrar com chave de ouro, em uma tacada de mestre a organização do evento anunciou que o ator Charlie Sheen, famoso em todo o mundo pela séria Two and a Half Men, seria o mestre de cerimônias do show do Rock and Roll All Stars, projeto que reúne músicos de algumas das mais famosas bandas da história do hard e do metal como Gene Simmons, Glenn Hughes e Sebastian Bach. Isso fez com que o nome do festival extrapolasse os limites da mídia especializada em heavy metal, sendo destaque em grandes portais, revistas, jornais e programas de televisão de todo o país.

Ou seja, está tudo pronto para termos um evento histórico nos dias 20, 21 e 22 de abril em São Luís (MA). E mais: ao que tudo indica, o Metal Open Air será realizado anualmente, entrando no calendário de shows e na agenda dos metalheads brasileiros e, por extensão, de toda a América do Sul.




Então, ontem, dia 06/03, dando sequência a estratégia de divulgação do MOA, a organização do festival divulgou o hino do festival. A música, gravada pelo Shaman, dividiu opiniões. De uma maneira geral, a grande maioria detestou o que ouviu. Produzida e com letra escrita pelo vocalista Thiago Bianchi, “At MOA”, o título do hino do Metal Open Air, merece alguns comentários.

Pra começo de conversa, é estranho que o seu autor, que há algum tempo posou de paladino e defensor do metal nacional através de um manifesto divulgado aos quatro ventos, tenha escrito a letra para esse hino em inglês. Ok, a maioria das bandas brasileiras de metal, e as mais conhecidas lá fora, cantam na língua inglesa, eu sei disso. E, pessoalmente, acho que não existe língua melhor tanto para o rock quanto para o metal. Porém, para um evento que busca ser o maior festival de heavy metal do país, reunindo headbangers de todos os cantos do Brasil, não seria melhor ter escrito algo na língua que esse público fala?

Outro ponto: pode-se discutir a necessidade de um hino ou não para o MOA, mas a ideia de criar uma música que identifique o festival é extremamente válida. Isso faz com que as pessoas se sintam ainda mais unidas em torno do evento. Porém, uma música com esse perfil e objetivo deve ter, usando uma linguagem puramente publicitária, um grande apelo junto ao público, cativando-o de imediato. Ele teria que ser uma espécie de jingle, que gruda na cabeça já na primeira audição. Não é hora de experimentar algo novo, muito pelo contrário: essa é a hora de entregar exatamente aquilo que o público quer ouvir. Por mais que algumas pessoas não tenham curtido, era hora de algo na linha da música tema do documentário “Brasil Heavy Metal”. É brega, mas funciona.




Além disso, não sei quanto a vocês, mas o heavy metal para mim é algo muito maior que apenas um estilo musical. Ele faz parte da minha, e evoluiu comigo. À medida que eu cresci e fiquei mais velho – faço 40 anos em 2012 -, naturalmente passei a descobrir e exigir mais das bandas que curto, deixando para trás coisas que eu gostava quando era adolescente e passando a curtir sons que antes eu não entendia. Enfim, o processo natural pelo qual todo o ouvinte de música passa. Por isso, achei a letra de “At MOA” de uma simplicidade e ingenuidade, para não usar outras palavras, dignas de vergonha alheia. “Phone in one hand to call my friends, ticket at the other, 'cos I'm no fool, ready to go, time to move”? Quem escreveu isso? Uma criança de 5 anos de idade?

É louvável quando uma banda resolve experimentar algo novo. Sempre defendi isso, e continuarei com essa opinião. Mas, na hora de compor um hino para um festival de heavy metal, cujo público não é muito aberto a novidades, tentar um novo caminho é desnecessário. Na minha opinião, o hino do Metal Open Air é uma música fraca, com introdução chupada de “As I Am”, do Dream Theater. A letra é risível e não agrega os fãs. O refrão não cativa, não emociona, não causa identificação. E a performance do Shaman é apenas burocrática.

Os fãs de Thiago Bianchi e sua turma vão responder que, se eu não gostei, deveria escrever uma música então. Mas não, eu não vou escrever nenhuma música. O meu papel não é esse. O meu papel é pensar, analisar, divulgar e contar a história do estilo que faz parte da minha vida. Elogio quando acho necessário, e critico quando acho pertinente. Aliás, esse é não somente o meu papel, mas o seu, e o de todo o fã de música, também.

Com “At MOA”, a organização do festival perdeu a chance de dar outra bola dentro como fez ao anunciar Charlie Sheen. Se tivesse acertado a mão, todos estariam elogiando a música hoje. Mas o que se vê é exatamente o contrário: uma avalanche de comentários negativos.

O Metal Open Air fará história e ficará marcado nas vidas dos headbanger de toda uma geração. Isso é fato. Mas o seu hino, infelizmente, será esquecido, pois não tem força e nem capacidade de cativar ninguém, o que é uma pena. 

Comentários

  1. O negócio é adotar o música do Brasil heavy Metal como hino. Essa música realmente não chama atenção de ninguem, é apenas uma música e não um hino, falta aquele refrão impactante e pegajoso, fora que tinha que ser em portugues para passar o espírito do festival e todos cantarem junto.

    Concordo em genero, numero e grau com o texo.

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  2. Não me importo da música ser em Inglês. Se o festival tem a pretensão de ser um grande evento internacional e não apenas ao público brasileiro, tem que ser em inglês mesmo. O problema foi como disseram, a música tem de ter um quê de jingle, com um refrão rápido e curto, grudento, e que ela não tenha aí mais de 1 minuto de duração. Um publicitário que goste de rock (devem ter vários por aí) poderia ter composto. Ou deveriam ter dado esse toque ao Thiago para isso.

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  3. Porra, sem contar com um erro primário de inglês logo no primeiro verso...So I’ve waked up then it’s there (PQP!!!!! I've waked!!!)

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  4. Foi o que disse ontem após escutar a música, pela 1ª impressão não tem nada de HINO nela, muitos criticaram falaram que é legal e tao, a música não é toda ruim tem partes legais, mais como eu disse ontem, não é algo que cativante não empolga nem no volume mais alto, não tem refrão grudento, infelizmente pecaram muito nessa escolha deveria ter colocado mais opções para escolha não somente chamar uma banda e fazer, ou então chamasse um compositor nato, e colocava várias participações de artistas q vão participar do evento, mais não fizeram dessa maneira, além de ficar segurando a música por muito tempo.

    Realmente essa música do Doc. BRASIL HEAVY METAL é show isso ae é um HINO, realmente viciante no volume baixo já se nota o brilho, no volume alto é para qualquer fã de ROCK/METAL cantar em uníssono.

    Parabéns ae Ricardo pela crítica

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  5. Alguém sabe qual é o hino do Wacken Open Air?!?!

    Existe um????

    Tô me lixando para hino! Quero festival de ótima qualidade e acho que estamos no caminho.

    Encontro vocês lá!

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  6. Concordo sobre a questionável necessidade de haver um HINO. mas, em havendo, que fosse algo mais de impacto e empolgante! Nem se fosse um treco batido do estilo Manowar, parecia mais cabível... ou mandava logo um clássico do Sepultura ou Angra antigos, os dois maiores representantes de nossa música, e que sempre trouxeram uma raiz nos ritmos brasileiros (na época, feito com originalidade e sem forçar, cada um da sua maneira).

    Agora, cantar em PORTUGUÊS é uma ideia pra lá de TACANHA! Ia me soar forçado pra caramba!!! Sei que muita gente defende isso... mas o festival, que deveria trazer grandes nomes, já está INFESTADO de nomes nacionais (em sua grande parte) efêmeros e bem mais ou menos (para mim, INFELIZMENTE! Mas não sei se tem Lei que obriga a ter uma cota nacional mesmo, e aí não há muita saída).

    Agora, o objetivo não precisa ser exaltar o Brasil. Se for, que fosse por seus grandes nomes clássicos, que nem estão lá - apenas representandos pelo Andre Matos!

    Gostei da MÚSICA, mas nem tinha visto a LETRA. Nesse ponto, também concordo com a crítica feita. Nada contra o Thiago Bianchi, quem respeito como vocalista e mente criativa artisticamente, embora pareça estar perdendo essa característica (espero que não! queria ouvir o projeto dele, "Arena", que espero que remeta aos tempos de KARMA!).

    Por fim, o Metal Open Air trazia poucas surpresas... Orphaned Land me pareceu a banda mais empolgante de todo o cast e tal... mas esse RNR All Stars e Charlie Sheen vieram trazer o festival a um novo nível, ainda maior. Eu, que já fui crítico, tendo agora a aplaudir de fato o festival.

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  7. brasileiro e mesmo engracado...cansei de ouvir criticas sobre bandas covers neste blog e agora, no maior festival metal realizado no brasil em todos os tempos, o artista principal e uma banda...cover! esse rnr all stars nao passa de um grupelho cover com pedrigree e ver esta festa toda que os bangers estao fazendo por eles fecharem o metal open air e triste. sei que a producao nao tem bala na agulha, mas um grupo como o van halen seria perfeito nesta posicao. aplaudir banda cover gringa de luxo, nao!!!!!!!!!!!!!!

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  8. Cleibsom, seja justo! Uma coisa é criticar a falta de originalidade da cena, em especial das bandas nacionais, seja porque têm uma sonoridade tacanha, seja pq se dedicam real e exclusivamente ao 'cover', literalmente (este último, acho válido apenas em certas circunstâncias).

    OUTRA, bem diferente, é astros absolutos do estilo se reunirem para tocar clássicos desse mesmo estilo, estilo que ajudaram a criar/construir, e com canções que eles mesmos, em sua grande parte, criaram ou participaram em seus auges.

    Se quiser criticar a falta de originalidade na cena eu apóio. Criticar bandas covers nacionais, tb apóio. Criticar bandas covers internacionais (exemplo recentes, as tais "The iIon Maidens!"), tb apóio! Mas esse RNR All Stars é uma baita pedida, e não é justo estender tal crítica a eles.

    Se cabia um Van Halen, sempre cabe ué, uma coisa não elimina a outra. E ainda lembro do Dio Disciples, que traz nomes de PESO também, e se encaixa na categoria tributo, o que TAMBÉM é coisa bem diferente!

    abço

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  9. Eu acho as 2 musicas ruins, mas é MEU gosto pessoal. Quanto ao festival, tacada de mestre fazer fora do sudeste, onde TUDO é mais caro e as pessoas tem que escolher o show pra ir devido a farra da carteirinha, pista vip e outras atrocidades. O pessoal de fora do eixo sul e sudeste é muito carente e merece essa oportunidade. Tenho certeza de que irá lotar.

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  10. scobar, nesse grupo cover ai os unicos que estao acima do bem e do mal e sao de fato importantes na historia do rock sao o gene simmons e o glenn hughes, o resto sao musicos de 2º escalao. para mim uma banda cover e uma banda cover, independente de quem esteja tocando.

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  11. Ok, questão de opinião. Mas assim você rebaixa nomes como The Cult, Skid Row, Alice In Chains...

    veja bem, são bandas estabelecidas na cena, com membros cantando e tocando músicas essenciais de suas (ex ou atuais) bandas, ou canções conexas à cena que ajudaram a formar, qualquer que seja essa cena ou ramificação do rock/metal. É outra coisa!

    Não sei como aceitar uma infinidade de bandecas nacionais (que, via de regra, enchem seus sets poucos inspirados de covers tb, sendo que as próprias composições já bebem da mesma e pouco inspirada fonte)... e, ao mesmo tempo, criticar uma constelação com um set matador.

    Eu vou com prazer ver um show do Blaze Bayley, que tem ótimo material solo, mas mescla com autoridade covers do Iron. Nenhum outro poderia fazê-lo, mas ele pode! Paul Di'Anno, mesma coisa. Sebastian Bach, com ótimos álbuns solo, tb! Zak Stevens está vindo, posso ouvir clássicos do Savatage com sua voz original. Não é Jon Oliva, não é o Savatage, mas tb NÃO é mero cover! E por aí vai...

    continuo achando situações bastante diversas. Aliás, é como um grande artista lança um 'Tributo' ou álbum de covers também. Caça-níquel ou não, há quem pode fazer, há quem se precipita em fazê-lo. Quando o Dream Theater faz homenagem a seus mestres e toca um álbum na íntegra em seus shows, é o DREAM THEATER oras bolas, há quem possa... e até deva, pela curiosidade! É isso.

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  12. cara, por que o dream theater pode tocar o the number of the beast na integra e o capital inicial, por exemplo, nao? sinceramente, nao faco a minima ideia...alice in chains, skid row e savatage sao boas bandas e apenas isso, caso elas nao existissem nada no genero metal seria diferente...nao faco questao de ouvir pseudo astros gringos a beira da aposentadoria tocando "classicos" de suas bandas antigas. pelo que voce expressa parece que as bandas nacionais nao deveriam estar no festival! cara, o publico do norte e nordeste e o que mais apoia o metal brasileiro e como o festival sera fora dos grandes centros, gracas a deus ou ao diabo, este publico praticamente exigiu as bandas brasileiras no cast, gostemos ou nao, nos que achamos que representamos o brasil inteiro!!!!!

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  13. olha, seria desconexo, mas o Capital Inicial poderia sim fazer isso ("poder" todos "podem", eu discuto legitimidade), é uma banda estabelecida nacionalmente, fez parte de um importante movimento do rock nacional.

    cara, repito que é tudo questão de opinião, mas sua ideia de bandas "essenciais" do estilo é preocupante. Se só as bandas mais seminais é que importam, e ainda assim são uns "velhos à beira da aposentadoria", você então matou o estilo inteiro: seja quem o criou, seja quem o construiu ou contribuiu para sua evolução em 80 e 90. Acabou tudo! rs Discordo frontalmente, mas blz.

    por fim, "nós que achamos que representamos o Brasil inteiro" é relativo. Sei que nem no Sudeste concordam com minha opinião sobre a mesmice nacional (embora ache que SE e NE concordam que RNR All Stars é uma grande pedida). Mas também não torne o M:O:A uma evento "nordestino"... o Brasil todo estará ali. Inclusive nós (digo, nós daqui do SE, eu não!).

    abço

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