Psychotic Eyes: crítica de ‘I Only Smile Behind the Mask’ (2011)



Nota: 7,5

Para apoiar uma cena, você não deve apenas elogiá-la. No caso da música, e do heavy metal de maneira mais específica, onde dezenas de bandas surgem todos os dias, é preciso identificar quem está fazendo um som diferenciado e que merece destaque. Infelizmente, no entanto, o que eu tenho percebido é que, com a desculpa de apoiar as bandas nacionais, um grande número de redatores, mesmo que de maneira inconsciente, adotou como padrão dar notas altas para qualquer disco lançado por uma banda brasileira, como se a localização geográfica dos grupos significasse, de maneira instantânea, a qualidade inequívoca de seus trabalhos.

Eu já penso de forma diferente. A melhor maneira de apoiar uma cena é analisá-la com isenção e distanciamento, sem confundir a proximidade que alguns tem com certos grupos como um passaporte para o elogio gratuito. Acredito que a maneira correta de avaliar um trabalho é identificando os seus pontos fortes e fracos, e dizer sem medo e sem meias palavras quais são eles.

O novo trabalho dos paulistas do Psychotic Eyes se enquadra no quadro descrito acima. I Only Smile Behind the Mask é, sem dúvida, um bom disco, mas está longe de ser a obra-prima pintada por grande parte da crítica (deses)especializada de nosso país. Produzido por J-F Dagenais, guitarrista do Kataklysm, o segundo álbum da banda traz um death metal composto por longas composições que alternam momentos mais agressivos com outros em que a melancolia dá as cartas. Flertando abertamente com outros estilos - algumas passagens soam bem thrash, enquanto outras trazem uma inequívoca influência do metal mais tradicional -, o grupo liderado pelo vocalista e guitarrista Dimitri Brandi gravou um disco bastante técnico. Essa característica foi levada ao extremo em algumas faixas, que poderiam ser mais curtas e diretas em certos momentos. 

O trabalho de composição é bom, mas, talvez pelo foco excessivo nos arranjos mais elaborados e na técnica, as faixas acabam não descendo de imediato, exigindo do ouvinte uma audição mais atenta e contínua do disco para compreendê-lo em sua totalidade. Em relação à produção, seria interessante se Dagenais tivesse investido um pouco mais em timbres mais graves e pesados, o que agregaria bastante ao resultado final. 

Bons músicos, o trio - completam a banda o baixista Douglas Gatuso e o baterista Alexandre Tamarossi - mostra ousadia na releitura - na verdade, a palavra melhor seria “desconstrução”- de “Geni e o Zepelim”, originalmente composta por Chico Buarque, aqui transformada em “The Girl”, uma tour de force com mais de 8 minutos que fecha o play.

I Only Smile Behind the Mask é um bom disco, que mostra uma banda de inegável talento. Porém, com um pouco mais de foco e polindo alguns exageros apresentados - como a longa duração das faixas e alguns trechos instrumentais desnecessárias -, o Psychotic Eyes poderia tornar a sua música mais efetiva e poderosa, com resultados ainda mais interessantes.




Faixas:
  1. Throwing Into Chaos
  2. Welcome Fatality
  3. Dying Grief
  4. Life
  5. I Only Smile Behind the Mask
  6. The Humachine
  7. The Girl

Comentários

  1. rs outro texto que eu deveria aplaudir de pé, mas aí lembro que o site tem aquela faceta "bipolar", como em posts do tipo:

    http://www.collectorsroom.blogspot.com.br/2012/03/as-novas-caras-do-metal-parte-9-o-heavy.html

    ironicamente, ali fui "reprovado" nos comentários JUSTAMENTE por defender que música não tem nacionalidade, e, pior, por defender o "som mais diferenciado", citado nesta resenha - e nunca defendi outra coisa!

    O estilo precisa disso: NÃO de quem faz o MESMO, ainda que com competência, ou técnica, ou garra, etc... mas de quem se DIFERENCIA nesse mar (nacional ou não) de mesmice!

    abços!

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  2. Saudações Seelig!
    Muito obrigado pela resenha, fico extremamente honrado de ver o trabalho do Psychotic Eyes avaliado no seu blog, do qual sou leitor compulsivo.
    Vou reproduzir aqui o que te disse por email.
    Sua resenha é honesta e em vários momentos destaca pontos positivos do nosso trabalho. Esse trecho, por exemplo, reflete exatamente o que penso sobre nossa música, então é de se considerar um grande elogio:
    "O trabalho de composição é bom, mas, talvez pelo foco excessivo nos arranjos mais elaborados e na técnica, as faixas acabam não descendo de imediato, exigindo do ouvinte uma audição mais atenta e contínua do disco para compreendê-lo em sua totalidade."
    Obrigado pela opinião sobre o "excesso de técnica". É algo que já ouvi de outras pessoas e gosto de levar em consideração.
    E dizer que o álbum não é uma "obra prima" também é positivo, pois esse tipo de exaltação faz muito bem pro ego, mas é algo que realmente não me afeta. Obra prima para mim são poucas, aquela que o artista faz uma vez e depois não se repete. Por isso, não quero que "I Only Smile Behind the Mask" seja a obra prima do Psychotic Eyes, prefiro pensar que ela ainda está por vir, que ainda temos que evoluir.
    Um grande abraço
    Dimitri Brandi
    PSYCHOTIC EYES

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