Muddy Waters e o clássico At Newport 1960


W.C. Handy, Son House, Bessie Smith, Robert Johnson, B.B. King, T-Bone Walker, Little Walker, John Lee Hooker, Elmore James, Willie Dixon, Howlin’ Wolf, Freddie King, Charlie Patton, Leadbelly, Big Bill Broonzy, Skip James, os dois Sonny Boy Williamson, Lightnin’ Hopkins, Albert King, Mississippi John Jurt, Big Mama Thornton, Albert Collins, Buddy Guy, Stevie Ray Vaughan, Pinetop Smith, Hound Dog Taylor, Johnny Winter, Slim Harpo, Etta James, Memphis Slim, John Mayall, Eric Clapton, Koko Taylor, Charles Musselwhite. A lista de grandes nomes do blues é infinita, e um dos maiores, sem dúvida, é Muddy Waters.

McKinley Morganfield nasceu em 4 de abril de 1915 no minúsculo condado de Issaquena, no Delta do Mississippi (para vocês terem uma ideia, em 2010 o local tinha apenas 1.406 habitantes, então imaginem como era no início do século XX) e faleceu em 30 de abril de 1983, aos 68 anos, na cidade de Westmont, no Illinois. Durante a sua vida colocou o blues em um novo patamar, com discos que estão entre os maiores clássicos e os trabalhos mais importantes da história do gênero. 

Considerado o pai do blues de Chicago e do blues elétrico, Muddy Waters mudou-se para a cidade em 1940. Porém, a sua primeira aventura em durou apenas um ano, tempo em que tocou com Silas Green. Muddy retornou em 1943 com o objetivo de se tornar um músico profissional. Nessa época, o lendário Big Bill Broonzy deu uma grande ajuda para Waters, colocando o amigo para abrir os seus shows. A coisa mudou de figura em 1945, quando Muddy ganhou de seu tio Joe Grant um presente que mudaria a sua vida, e também o blues: a sua primeira guitarra elétrica.


Descobrindo as possibilidades do instrumento, fez várias gravações eentre 1946 e 1947, tornando o seu nome conhecido na região. Foi assim que os irmãos Leonard e Phil Chess chegaram até Muddy e o levaram para a Aristocrat Records, onde gravou as faixas “Gypsy Woman” e “Little Anna Mae” acompanhado pelo piano de Sunnyland Smith. 

O sucesso chegou em 1948, quando “I Can’t Be Satisfied” e “I Feel Like Going Home” se transformaram em hits nos clubes de negros da cidade. Na mesma época, a Aristocrat mudou o seu nome para Chess Records, com Muddy Waters sendo um dos principais nomes da gravadora. Para conhecer mais sobre a trajetória de Muddy na Chess, recomendo o filme Cadillac Records, que conta a história da companhia, e o imperdível box The Chess Box, lançado em 1985 com grande parte das gravações que Waters fez para o selo.

Principal inspiração para o surgimento do blues britânico durante a década de 1960, Muddy era idolatrado por nomes como John Mayal, Eric Clapton e os Rolling Stones. E com razão: suas músicas transpiravam sensualidade, eram cruas, na cara, brutas, ríspidas e violentas como o verdadeiro blues deve ser.




Falar da discografia de Muddy Waters é complicado. Como todo artista que produziu naqueles primeiros anos da indústria fonográfica, ele tem diversos registros espalhados em compactos, compilações e participações em discos dos mais variados músicos. Entretanto, alguns álbuns de Muddy Waters são presença obrigatória em qualquer coleção de blues que se preze. Anote aí quais você deve ter: Folk Singer (1964), Down on Stovall’s Plantation (1966), Electric Mud (1968), After the Rain (1969), Fathers and Sons (1969), They Call Me Muddy Waters (1970), Live at Mr. Kelly’s (1971), Hard Again (1977), I’m Ready (1978), Muddy “Mississippi” Waters Live (1979) e King Bee (1981. Além destes, lançados enquanto o músico ainda era vivo, há dezenas de compilações e ao vivos no mercado, retratando toda a sua carreira.

Porém, se eu tivesse que optar por apenas um disco, ele seria o seminal Muddy Waters at Newport 1960 (1960). O álbum contém a lendária apresentação do bluesman no Newport Jazz Festival no dia 3 de julho daquele ano. Ao lado de Muddy estavam o pianista Otis Spann, o guitarrista Pat Hare, a harmônica de James Cotton, o baixista Andrew Stevens e o baterista Francis Clay. O LP tem oito faixas retiradas do show, e chegou às lojas norte-americanas em 15 de novembro de 1960. 

At Newport foi aclamado pela crítica e, surpreendentemente, foi também um grande sucesso de público, tornando-se fundamental para a popularização do blues entre os brancos norte-americanos, país onde a segregação e o preconceito racial foram a ordem do dia até a década de 1970.





Muddy Waters subiu ao palco do festival às cinco da tarde. O bluesman vestia um elegante terno preto, enquanto o restante da banda usava roupas brancas. O sexteto atacou furiosamente seus instrumentos e entregou ao público uma das mais emblemáticas performances da história do blues. Estão no disco versões históricas para clássicos como “(I’m Your) Hoochie Coochie Man”, “Baby, Please Don’t Go”, “I Got My Brand On You” e “Got My Mojo Working”. Se você quer entender o que é o blues, recomendo que ouça At Newport ao menos uma vez na vida. Para os colecionadores, uma dica: em 2001 foi lançada uma versão remasterizada com quatro faixas adicionais gravadas em Chicago em 1960.

A capa de At Newport tem uma curiosidade interessante. Muddy Waters tocou o show acompanhado por sua Fender Telecaster, porém a imagem mostra Muddy com uma guitarra semi-acústica. Quando o fotógrafo Burt Goldblatt foi fotografar Waters, o bluesman optou por pegar emprestada a guitarra semi-acústica de seu amigo John Lee Hooker, imortalizada na capa do LP.

At Newport 1960 é um dos discos mais importantes da história da música e item fundamental em uma boa coleção. O álbum é presença certa em diversas listas de melhores de todos os tempos como 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer, 101 Albums That Changed Popular Music, The 500 Greatest Albums of All Time da Rolling Stone (onde ocupa a posição 348), 100 Essential Albums of the 20th Century e The Rough Guide to Blues.


Se você é um apreciador de blues, certamente já possui At Newport em seu acervo. Se é apenas um simpatizante do estilo, tenho certeza de que já ouviu o disco - isso se não o tiver em sua casa. Mas, se você quer dar os seus primeiros passos no gênero que é um dos pais do rock, recomendo uma audição aguçada de At Newport 1960. Ouvir as faixas do disco o fará entender porque o blues - e, por extensão, o próprio Muddy Waters - são tão importantes não só para a história da música, mas para a nossa própria cultura como um todo.

Muddy Waters faleceu em 1983, porém o seu legado jamais irá morrer.

Comentários

  1. Excelente matéria , muddy waters é realmente sensacional e o filme da cadillac records é bem legal.

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