Review de show: Richie Kotzen - Aldeia Bar, Jundiaí (SP), 06/06/2012



Por Fabiano Negri


Na noite fria do último dia 6 de junho fui até Jundiaí para acompanhar o show de Richie Kotzen num apertado, porém simpático, Aldeia Bar. Acho incrível que apesar de ter uma extensa e ótima discografia, Richie ainda seja lembrado como ex-guitarrista do Poison e do Mr Big, com quem, sejamos francos, fez discos no máximo medianos. A verdade é que o guitarrista e cantor – isso no palco, pois em seus discos, na maioria das vezes, ele grava todos os instrumentos de forma convincente – é um músico de talento muito acima da média e não desfruta do reconhecimento que merece.


Com todos os ingressos vendidos, o público se espremia em frente ao baixíssimo palco quando o trio - que além de Richie é formado pelos excelentes Dylan Wilson no baixo e Mike Bennet na bateria - adentrou o recinto e começou uma apresentação com o swing em alta na empolgante “Bad Situation”, de seu ótimo último CD, 24 Hours (2011). Apesar do sistema de PA simples da casa o som estava bastante agradável, com destaque para os belos timbres de baixo e guitarrra.


A galera mostrou toda sua empolgação na versão de Richie para “Shine”, música do Mr Big. O que se viu a seguir foi um festival de boas canções e um entrosamento absurdo entre o trio. Como vocalista, Richie tem um timbre similar ao de Chris Cornell, porém menos rock e mais soul. Mesmo com o recente problema que teve nas pregas vocais sua performance foi muito boa, como pude comprovar principalmente nas baladas “High”, “My Angel” e na sensacional “Doin' What the Devil Says to Do. 


Só para ver o cara cantar já valeria o preço do ingresso, mas estamos falando de, sem dúvida, um dos melhores guitarristas do mundo. Sua técnica é simplesmente absurda. Navega com clara fluência entre os mais diversos estilos, com altas doses de virtuosismo, combinadas sempre com um fraseado rico e de extremo bom gosto. Ao mesmo tempo em que ele pode soar como um Jimi Hendrix moderno na matadora “Peace Sign”, também explode as seis cordas com uma esbugalhação na velocidade da luz na impossível “24 Hours”. 


O mais impressionante de tudo é que de uns tempos pra cá ele resolveu abandonar a palheta, reproduzindo todos os seus truques com os dedos e conseguindo abrir um novo leque de possibilidades e timbres. Toda sua classe foi desfilada em “Fooled Again” e “Paying Dues”, músicas que deram abertura para a banda improvisar durante alguns minutos, mas nada desses improvisos chatos que determinam a hora de ir ao banheiro. O que se viu foi uma sonzeira em que a música se sobrepõe ao ego.


Apesar de curto - o show durou cerca de 1 hora  e 30 minutos -,o set satisfez a todos os presentes, e mesmo com sua saída abrupta do palco encurtando a versão de “Go Faster” - não me perguntem o que aconteceu, alguma coisa saiu do controle e ele simplesmente encerrou a música e deixou o palco -, ninguém foi capaz de fazer nenhum tipo de reclamação. A apresentação foi realmente impecável.




Após o show, Richie e seus companheiros de banda ainda tiveram tempo de atender alguns fãs autografando itens e tirando fotos. Ao contrário do que dizem algumas pessoas, ele foi gentil e paciente com todos que aguardaram pela sua presença.


Se você é daqueles que ainda acha que o Richie Kotzen é um cara que fez parte de algumas bandas posers por aí, faça um favor para seu ouvido: corra atrás da discografia do cara! Você vai encontrar uma deliciosa mistura de rock, blues, soul, funk, pop e hard rock, feita por um dos músicos mais talentosos e subestimados de que se tem notícia.

Comentários

  1. Fabiano, concordo que seja bobagem lembrar de Richie Kotzen mais por seus trabalhos com o Poison e o Mr. Big do que por seus álbuns lançados como artista solo. Só de lançamentos normais de estúdio são 18, sem falar em especiais e discos lançados junto a outros artistas. Em quase 25 anos, são fases extremamente diferentes, refletindo a versatilidade do artista tanto na guitarra quanto, muitas vezes, em outros instrumentos, sem falar em sua ótima voz. O que Richie fez na década passada foi absurdo, uma sequência invejável de álbuns ótimos, iniciada em "Slow" e, para mim, atingindo seu ápice em "Change". Porém, relegar aos discos lançados com Poison e Mr. Big o rótulo de "no máximo medianos" e as bandas como "posers" soa como má vontade. Até a entrada de Richie, o Poison merecia sim esse tipo de pecha, mas "Native Tongue" é uma ótima obra, marcada por uma mudança de direcionamento que fez muito bem ao grupo, inclusive fazendo com que os outros músicos crescessem como instrumentistas e até o limitado Bret Michaels apresentasse uma performance mais satisfatória. "Stand" e "Until You Suffer Some (Fire and Ice)" são excelentes. Mesmo o Mr. Big, que sempre foi um grupo bem superior ao Poison em qualquer aspecto, ganhou contornos diferentes com a entrada de Kotzen. Ao menos para mim, "Actual Size" é tão bom quanto "Lean Into It", mais focado nas composições e menos nos malabarismos instrumentais tão habituais no Mr. Big dos primeiros discos.

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  2. Olá Diogo,
    Na verdade quando eu falei posers, me referi aquelas pessoas que não querem saber do cara por preconceito contra as bandas que ele tocou.
    O Native Tongue é sem dúvida o trabalho mais inspirado do Poison.
    Quando eu digo mediano, não quero dizer que seja ruim. A verdade é que seus trabalhos solo são muito superiores ao que ele fez com essas bandas. Pelo menos pra mim.
    Grato pelo comentário.
    Um abraço,
    Fabiano.

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