Lançado em 14 de maio de 1969, Everybody Knows This is Nowhere é um dos grandes trabalhos gravados por Neil Young no decorrer de sua carreira. Ele marca também o início da colaboração do cantor com o Crazy Horse, a banda mais emblemática a lhe acompanhar desde sempre.
Um coletivo de músicos casca grossa de Los Angeles, o grupo injetou uma dose generosa de peso às composições de Young e levou o seu som a limites extremos, carregando na distorção e na microfonia. A banda era formada pelo guitarrista Danny Whitten (substituído por Frank Sampedro após sucumbir a uma overdose de heroína em 1972 e inspiração de Young para “The Needle and the Damage Done”, canção presente em Harvest, de 1972, e que é um manifesto a respeito dos malefícios da droga), pelo baixista Billy Talbot e pelo baterista Ralph Molina.
A química entre Neil e o Crazy Horse, instantânea e sobrenatural, foi capturada em sua plenitude em Everybody Knows This is Nowhere. Registrado em apenas duas semanas e mantendo a espontaneidade através de um processo de gravação quase totalmente ao vivo no estúdio, o álbum segue um caminho até certo ponto lógico na então trajetória de Young.
O canadense, natural de Toronto, surgiu no cenário musical mostrando um interesse grande pela música tradicional do interior dos Estados Unidos, incluindo características de gêneros como o country e o folk em suas composições desde os tempos do Buffalo Springfield. Em Everybody Knows This is Nowhere essa união entre o rock e, principalmente, o country, atinge um de seus pontos mais altos. A crueza do country, com sua aspereza habitual, ficou ainda mais evidente com as interpretações da Crazy Horse. Com timbres cortantes e nem um pouco polidos, Talbot, Molina e Whitten transbordam sentimentos em uma performance absolutamente impecável. Não há no disco um alto grau de refinamento técnico, e ele nem caberia aqui. Muito da força do LP está justamente no despojamento que marca a relação entre os músicos, fazendo com que suas canções transmitam honestidade e credibilidade, dois aspectos não tão em voga hoje em dia.
Já Neil Young mostrou logo de cara que havia chegado para ficar e escrever seu nome a ferro e fogo no Olimpo da música. Compositor de talento ímpar, letrista com o raro poder de transmitir seus sentimentos com tal clareza que passamos a acreditar que eles são praticamente os mesmos que os nossos, o trovador canadense mostra em Everybody Knows This is Nowhere o porque de ser considerado um dos pilares do rock norte-americano.
Desde a abertura com os riffs pesados de “Cinnamon Girl” até os solos estendidos e cheios de emoção de “Cowgirl in the Sand”, o que se ouve é de uma qualidade sublime. Com um repertório muito consistente, onde destacam-se canções como a sentimental faixa título, “Round and About (It Won´t Be Long)”, “The Losing End (When You´re On)” e “Running Dry (Requiem for the Rockets)”, o disco está sustentado em duas composições espetaculares, que mais parecem jams entre os músicos. “Down by the River” tem um andamento arrastado e preguiçoso, com as guitarras de Young e Whitten se completando em acordes complementares, uma preenchendo os espaços deixados pela outra, alcançando um resultado que deveria ser mostrado para toda e qualquer pessoa que está dando os seus primeiros passos no rock. Já “Cowgirl in the Sand” derrama acordes agressivos e solos desesperados, em uma avalanche sonora que encerra o álbum sem deixar pedra sobre pedra.
Everybody Knows This is Nowhere é um dos melhores discos lançados por Neil Young em toda a sua carreira, mas não só isso. Suas canções são um documento permanente da genialidade de um músico sem igual que, passados mais quarenta anos de seu lançamento original, ainda mantém-se inquieto e contestador, fazendo o que acha correto sem nunca se submeter as regras que tentam lhe impôr. Uma atitude que rendeu algumas dores de cabeça, mas conferiu a Neil uma qualidade que pouquíssimos artistas, em todas as áreas, podem se gabar de possuir: credibilidade.
Se você ainda não tem, ou nunca ouviu Everybody Knows This is Nowhere, faça um favor a si mesmo e vá imediatamente atrás deste disco. Não há como se arrepender.
Faixas:
A1. Cinnamon Girl
A2. Everybody Knows This is Nowhere
A3. Round & Round (It Won't Be Long)
A4. Down by the River
B1. The Losing End (When You're On)
B2. Running Dry (Requiem for the Rockets)
B3. Cowgirl in the Sand
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