Ari Borger Quartet: crítica de Back to the Blues (2012)

Back to the Blues é o terceiro trabalho do Ari Borger Quartet - ou AB4 -, grupo liderado pelo pianista Ari Borger. Se contarmos Blues da Garantia, de 2001, assinado apenas com o nome do músico, este seria o quarto álbum de Borger. Completam a sua discografia AB4 (2007) e Backyard Jam (2010).

Quem já ouviu algum destes quatro discos sabe que a coisa aqui é séria. Ari Borger é considerado por grande parte da crítica o melhor pianista de blues do Brasil. Ele morou vários anos em New Orleans, onde respirou a música negra norte-americana de perto e aprimorou a sua já invejável técnica com doses cavalares de feeling e swing. Ao seu lado estão atualmente o guitarrista Celso Salim, o baixista Rodrigo Mantovani e o baterista Humberto Zigler. 

Lançado pela ST2, Back to the Blues acaba de chegar às lojas brasileiras. Fazendo uma comparação com os álbuns anteriores, retoma a sonoridade blueseira - como o próprio título sugere - de Blues da Garantia, mas aqui turbinada com grandes doses da elegância e do refinamento demonstrados em AB4 e Backyard Jam, onde Borger conduziu o som de seu quarteto por gêneros como funk, soul, jazz e rhythm and blues.

Gravado ao vivo no estúdio em apenas três dias, o disco é todo instrumental, com exceção da versão de “I’d Rather Go Blind”, um dos maiores standards do blues, imortalizada na voz de Etta James e aqui cantada por Bia Marchese. Há também releituras de “Back at the Chicken Shack” (de Jimmy Smith), “Key to the Highway” (parceria de Big Bill Broonzy e Charles Segar, regravada por um sem número de artistas, incluindo versões seminas de Eric Clapton) e “Funky Miracle”, dos Meters. As outras cinco faixas são composições próprias, porém no mesmo nível das releituras.

Borger possui uma qualidade rara, presente apenas nos grandes instrumentistas. Ele se apodera das composições que regrava com tanta propriedade e personalidade que transforma grandes clássicos do blues com centenas de versões em músicas que parecem nascidas para as suas teclas. O AB4 não faz regravações pura e simplesmente, mas sim reinterpretações de composições presentes há muito tempo no imaginário popular, imprimindo novas cores e nuances à faixas que julgávamos conhecer de traz pra frente.

O absoluto e desconcertante domínio instrumental do quarteto é o responsável por essa soberania sonora. A audição de Back to the Blues proporciona o que a música tem de mais sublime: a harmonia quase sobrenatural entre os instrumentos, capaz de alcançar um resultado final que é muito superior à soma de suas partes. O AB4 é de uma solidez, de uma robustez, impressionantes, proporcionando um ataque harmônico repleto de melodias inspiradas e sentimento raríssimo.

Back to the Blues é o melhor disco lançado por um artista brasileiro em 2012, e, até segunda ordem, a milhas de distância de possíveis concorrentes. Com uma musicalidade imensa e uma qualidade que beira a estratosfera, Ari Borger e seus companheiros brindam os ouvintes com um álbum que namora a perfeição.

Forte candidato a melhor disco do ano!

Nota: 9,5


Faixas:
  1. Boogie Train
  2. Back to the Chicken Shack
  3. Key to the Highway
  4. Coming Home
  5. Funky Miracle
  6. I’d Rather Go Blind
  7. Boogie pro Bê
  8. Funky Jam
  9. Back to the Blues

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