Rival Sons: crítica de Head Down (2012)

Pode parecer fácil construir uma sonoridade calcada no rock clássico. Basta pegar algumas características “emprestadas” de alguns dos maiores e mais emblemáticos nomes da história do gênero, misturar tudo e pronto: eis uma banda. Porém, na prática, as coisas não são bem assim. Existem diversos grupos que, embalados pela cada vez maior onda de classic rock, apostam todas as suas fichas em um som que, em sua grande maioria, se limita e emular os grandes nomes do passado, evidentemente sem o brilhantismo de quem os inspira.

Esse não é o caso do quarteto californiano Rival Sons, e a prova cabal disso é o novo disco do grupo, Head Down. Se no anterior, Pressure & Time (2011), a onipresente sombra do Led Zeppelin apagava um pouco o brilho das ótimas músicas, aqui esse problema foi resolvido. Eles continuam sendo influenciados pela banda de Jimmy Page, mas essa característica está bem menos evidente. Há elementos de Doors, Stones, Bad Company, Free, The Who e até Lynyrd Skynyrd na jogada, mas todos eles são apenas degraus que levam a um novo mundo - e não o novo mundo em si. E é justamente esse fator que faz toda a diferença.

Gravado em Nashville, produzido por Dave Cobb e mixado por Vance Powell (White Stripes, Kings of Leon), Head Down é um disco variado e maduro. Há o hard rock que chamou a atenção para a banda, mas há também espaço para aventuras por terrenos até então desconhecidos, como o groove contagiante de “Wild Animal”. O Rival Sons foi corajoso ao explorar outras sonoridades, indo muito além do peso cru e direto de seus dois primeiros discos.

As duas figuras principais do Rival Sons são o vocalista Jay Buchanan e o guitarrista Scott Holiday - completam o grupo o baixista Robin Everhart e o baterista Michael Miley. Jay não se limita ao vocal agudo e gritado calcado em  Robert Plant que sempre demonstrou, levando a sua voz por caminhos surpreendentes, seja cantando de forma limpa e contida em “Wild Animal” e “Until the Sun Comes” ou abrindo o seu coração e puxando da alma a performance entregue em “You Want To”. Já Holiday investe em riffs sempre criativos e em rascantes licks e solos pra lá de inspirados, conduzindo o som do Rival Sons como um experiente capitão mar adentro.

Em seu novo disco, o Rival Sons mostra que é preciso fazer muito mais do que apenas colocar a sua música em uma oca embalagem vintage. A banda investiu pesado na composição, gravando composições excelentes repletas de ganchos, refrões e momentos iluminados. E isso faz uma grande diferença em uma época cada vez mais pasteurizada, fútil e vazia, onde a cara e o visual de um produto tem muito mais valor do que o seu conteúdo. O Rival Sons é uma banda que transborda conteúdo, conta e embala histórias com as suas canções. Uma banda à moda antiga, onde o vocalista não tem medo de desnudar seus sentimentos, o guitarrista voa alto com o seu instrumento, o baixista tem um feeling gigante e o baterista senta a mão sem dó, sem o mínimo de sutileza. 


É essa ausência de limites que torna Head Down um trabalho muito acima da média. Você não sabe o que vai ouvir. Uma música toca e mostra o caminho, mas a que vem a seguir traz uma nova surpresa, e assim por diante. A abertura com o primeiro single, “Keep On Swinging”, já deixa o queixo arrastando no chão. “Jordan” é uma máquina tempo sonora travestida de balada acústica, e que faz o tempo andar de trás pra frente. As luzes se apagam e piscam loucamente com o balanço desenfreado de “At the War”, enquanto “The Heist” e “Until the Sun Comes” tem riffs que parecem nascidos de um cruzamente entre Jimmy Page e Keith Richards.

O ponto mais alto de Head Down é a incrível sequência formada por “Nava” e pelas duas partes de “Manifest Destiny”. A primeira é uma instrumental acústica que nos leva de volta a Bron-Yr-Aur, retiro de Page e Plant no País de Gales, e prepara o caminho para a espetacular “Manifest Destiny (Pt. 1)”, uma espécie de “Mr Big”, do Free, e que transborda doses gigantescas de inspiração e inventividade. O que Scott Holiday faz com a sua guitarra aqui é digno de estudo, assim como o desempenho de Jay Buchanan. Provavelmente a melhor música da carreira do Rival Sons, “Manifest Destiny (Pt. 1)” coloca na mesa em seus mais de oito minutos vários dos elementos que fazem a banda ser tão elogiada mundo afora: uma guitarra iluminadíssima, que varia entre bases pesadas e solos siderais, enquanto o vocalista balança a sua cabeleira e gira o seu microfone infinitamente abrindo vórtices dimensionais, tudo isso amparada por uma cozinha sólida e pesadíssima. 

Head Down é um disco incrível, que demonstra um amadurecimento gigantesco do Rival Sons. Sai a banda que soava demasiadamente similar ao Led Zeppelin e em seu lugar surge um monstro sonoro que caminha a passos largos rumo ao topo do hard rock. Se continuar trabalhando nesse nível, em pouco tempo não haverá ninguém capaz de superar os caras.

Nota: 9,5


Faixas:
  1. Keep On Swinging
  2. Wild Animal
  3. You Want To
  4. Until the Sun Comes
  5. Run From Revelation
  6. Jordan
  7. All the War
  8. The Heist
  9. Three Fingers
  10. Nava
  11. Manifest Destiny (Pt. 1)
  12. Manifest Destiny (Pt. 2)
  13. True

Comentários

  1. Taí um disco legal pra caralho, e que eu nem tava esperando muito. Uma das grandes surpresas do ano.

    ResponderExcluir
  2. realmente muito bom o álbum... ainda existe esperança no rock do século 21

    ResponderExcluir
  3. Acabei de ouvir esse álbum, pela primeira impressão não achei legal, ficou muito experimental e faltou um pouco de peso. Um álbum meio sem emoção. Mais Rival Sons é foda mesmo assim. Abraçoss

    ResponderExcluir
  4. Agora Sim !!!!
    Tomaram cara e forma ... sem renegar as influências ...

    A última música...True ... é linda de chorar

    ResponderExcluir
  5. A sequência com as 4 músicas finais foi o que melhor se criou esse ano, na minha opinião. E que ano ótimo. Grandes discos.

    ResponderExcluir
  6. A banda foi ousada. Fez um disco completamente diferente do Pressure and Time, soa como se fosse um Led Zeppelin 3 dos caras. Ouvi uma vez, e não consegui formar uma opinião, mas sair do lugar comum é sempre uma atituda digna de louvores.

    ResponderExcluir
  7. Òtimo disco, o melhor lançado este ano, que eu tive a oportunidade de ouvir! Nos dois primeiros discos eu achava o som da banda cadenciado demais, sentia falta de músicas mais aceleradas, e a voz de Jay Buchanan muito semelhante a voz do Ian Astbury (The Cult) me incomodavam um pouco. Neste novo trabalho o som da banda ficou bem mais eclético e os vocais de Jay Buchanan se tornaram o ponto alto de Head Down. Bela evolução, espero que não pare por aqui.

    ResponderExcluir
  8. O nome da faixa 7 é All the Way, não All The War(esse erro aparece no download via torrent do disco).

    ResponderExcluir
  9. Disparado um dos melhores albuns do ano... junto dos Address The Nation (H.E.A.T) HARD ROCK anos 80 pra ninguem colocar defeito com total influência BONJOVIANA!! e o A sinner´s Saint do MILLION DOLLAR RELOAD... TRES discos perfeitos!!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.