A volta do festival Monsters of Rock

Corre pelas “mídia especializada” do heavy metal nacional a notícia do site do Meio e Mensagem sobre a empresa de entretenimento XYZ Live ter adquirido os direitos do nome Monsters of Rock e organizar uma nova edição em outubro de 2013. Como não poderia deixar de ser, a cena metálica brasileira recebeu com festa a novidade. Apesar de shows não faltarem por esses lados, o público está carente de festivais especializados no estilo e sempre reclama de não ser atendida plenamente nos eventos de grande porte que rolam no país.

O último festival de grande porte de heavy metal em São Paulo foi o finado Live’n'Louder, de 2006. Depois de uma edição razoavelmente bem sucedida com Scorpions e Nightwish no Canindé um ano antes, a aposta em David Lee Roth como headliner, acompanhado por bandas do porte de Stratovarius, Nevermore, Doro e After Forever, foi um fracasso retumbante de público no Anhembi. Quem lá esteve se lembra dos inúmeros problemas de atrasos e do cancelamento do Saxon às vésperas alegando descumprimento contratual.


Desde então, eventos como o Rock in Rio e o SWU até trazem atrações pesadas, chegando a dedicar dias específicos para bandas do estilo. Não há dúvidas sobre existir um público que consome o heavy metal no Brasil e está faminto por uma festival “só seu”. O problema é o perfil dessa galera, pouco afeita a se misturar com pessoas de gostos diferentes, exigindo um tratamento exclusivo e “diferenciado”.


Essa imensa saudade do Monsters of Rock dos anos 90 não denota apenas a carência, mas também indica como a mentalidade do público parece estar parada naquela mesma década. Não serei eu quem vai dizer que os festivais não foram bons – apresentações históricas estão guardadas com carinho nessa mente. Mas, ao olhar os casts em retrospecto, qual banda se apresentou no festival e decolou depois? Por melhores que fossem, as atrações, via de regra, eram exilados de um estilo decadente em grandes mercados se segurando à popularidade onde ainda havia fãs sedentos.


Não podemos nos esquecer, no entanto, de ser aquela uma época diferente da economia do Brasil, ainda longe de ser uma rota estável de bandas, carente de atrações de alto e pequeno porte. O Monsters of Rock teve um papel essencial de consolidar o potencial desse fã como consumidor e tornar o mercado atrativo para que grupos de tamanhos diversos viessem para cá de forma menos errática.


Em 2012, o cenário é bem diferente. Hoje, há competição ferrenha de shows no país. Como no fim de semana de feriado prolongado da Independência, quatro eventos de bandas de metal ocorreram num mesmo sábado em São Paulo. Há boatos de que Kiss toque no mesmo dia de Slayer, Mastodon e Cavalera Conspiracy. Em suma, não há essa carência por aqui. Assim, um festival nos moldes do finado Monsters of Rock noventista é ultrapassado e inútil.


Via de regra, para garantir a presença de um grande público, um promotor seria obrigado a apostar pelo menos em uma atração de grande porte. A questão é: se ele apenas rechear o pacote do dia com outras bandas, pouco mais gente viria em relação à quantidade de presentes se este medalhão viesse sozinho. Logo, para que aumentar os custos sem ter um retorno condizente?


Hoje qualquer festival, não apenas shows de bandas na sequência, tornou-se uma marca em si próprio, e estar ligado a esse nome é mais atraente ao patrocinador do que se exibir para milhares de pessoas num estádio. Assim, para agregar valor, o evento precisa oferecer algo além de músicos num palco e público assistindo. Como mostram o SWU, o Lollapalooza e o Rock in Rio, os empresários brasileiros já sabem disso; a XYZ Live também, aposto.


Ao meu ver, um festival especializado em música pesada, no Brasil, deveria ser, antes de tudo, uma celebração da diversificação dessa cultura, não apenas heavy metal. Criar passatempos, workshops, palestras, área de diversão, tudo ligado a estilos musicais que transbordem agressividade, mas mostrem essa sua faceta acolhedora e comunitária, de ser avesso a modismos e preconceitos raciais (apesar de algumas exceções desagradáveis), de extrema fidelidade – até a um festival falecido! -, mas capaz de se reciclar e se renovar fora dos holofotes. Por tudo isso, nunca desaparece.


Interessante seria fazer esse novo Monsters of Rock nos moldes do Lollapalooza. Dois ou três grandes nomes inquestionáveis para garantir público, e várias bandas ascendentes ainda aqui desconhecidas (graças à inoperância da mídia especializada, “fanzines de papel nobre”), ou nomes cultuados de expressão menor com pequena ou nenhuma chance de aparecer por esses lados em outra situação, dos mais variados sub-estilos, como hard e classic rock, prog, death, doom, black, punk, hardcore, metalcore, deathcore, post-hardcore e o que mais inventarem. É dar a chance de o público poder ver algo desconhecido e se surpreender.


Infelizmente, o público de metal brasileiro precisa ser educado. Estamos parados há anos e anos, num círculo vicioso entre fãs cabeça-fechada, mídia quase amadora e empresários conservadores. Isso se reflete numa oferta pouco variada de shows e na mínima relevância dos grupos nacionais, sem tanto espaço para se desenvolverem graças a bares recheados de bandas covers. Se essa mentalidade controlar o Monsters of Rock, ele estará fadado ao fracasso.


Se, por outro lado, o Monsters of Rock nadar contra essa maré, terá tudo para, como nos anos 90, significar o início de uma nova era na cena tão defasada da música pesada brasileira. E será muito bem recebido.


(texto escrito por Thiago Martins e publicado no blog Metal Sujo)

Comentários

  1. Coincidência ou não.. A XYZ Live fechou contrato com o SPFC para administrar a arena multiuso de 25 mil lugares do Morumbi. Se eu não me engano é a mesma empresa promoveu Madonna e a volta do Kiss.

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  2. Sei que a cena metálica nacional têm diversos defeitos, mas há um pessoal que só critica. Este festival, caso seja verdade, foi anunciado ontem, não sabemos do cast e nem quem o promoverá, talvez ele seja completamente diferente dos anteriores e mesmo assim as pessoas falam que tudo será inútil apenas baseadas em boatos. O pior é que este tipo de pessoa acha que só elas tem a solução para sairmos da miséria. E depois os arrogantes são os outros! Essa é uma das maiores desgraças da internet, de repente surgiram "especialistas" de todos os cantos...

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  3. Uma nota totalmente preconceituosa e desinformada... o "Monsters Of Rock" permitiu várias bandas diferentes e desconhecidas em suas edições. Há a necessidade de medalhões? Sim... claro! Mas sempre haverá espaço para bandas novas e para os talentos que surgem e ganham espaço. Esses novos críticos fazem suas opiniões as novas verdades.

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  4. Cleibsom, bom dia.

    Não tem nada a ver com supostos "especialistas". Porém, aqui na Collectors, sempre defendemos uma visão mais aberta e atual das coisas, e ela também se aplica à possível volta do Monsters.

    Essa é a nossa opinião sobre o assunto.

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  5. Me desculpa Seelig... mas soa preconceituoso e exagerado. Esperem sair o suposto "cast".

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  6. Vamos aguarda as próximas noticias do evento, espero ver bandas novas, uma mescla do passado com o presente,para solidificar o nosso estagnado metal nacional.

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  7. Oi Rafael. Não entendi qual ponto é preconceituoso, mas respeito a sua opinião.

    Como não há ainda nenhuma confirmação e está tudo somente no campo das ideias, este texto mostra a maneira como enxergamos as edições passadas e como gostaríamos que fossem as futuras.

    Obrigado pelo comentário.

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  8. Mas não há como você ou eu termos uma opinião sobre esta volta do Monsters porque até o momento só existem boatos, Ricardo. Esse tal de Thiago Martins se mostrou um completo arrogante e preconceituoso, duas características que não são dignas de um ser humano inteligente. Como uma pessoa séria fundamenta sua opinião em boatos?

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  9. Srs

    Crítica um evento depois que deu tudo errado ou falar bem depois que deu tudo certo é muito fácil, mas ter uma opinião coerente com a realidade antes de tudo acontecer não é para qualquer um.
    Vejo que o Thiago não crítica termos um novo Monster no Brasil, e sim mostra sua visão (ao meu ver acertada) de como as coisas deve acontecer para que o festival tenha sucesso.

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  10. Eu já vejo exatamente pelo lado oposto. Embora não se tenha confirmação de nada ainda, tenho a impressão que o Monsters vai justamente atender a demanda mais conservadora do estilo, enquanto o Rock In Rio, SWU e os outros são mais abertos a novidades. Creio que o Monsters seguirá a mesma linha das edições anteriores e do Live N Louder. É um modo de atender uma demanda da ala mais radical.

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  11. O Monsters of Rock foi o melhor festival dos anos 90, pois não se misturava com bandas de outros gêneros como o Hollywood Rock, também da mesma época.Era algo exclusivo, tanto que lotou em suas 4 edições.
    Fui nas três primeiras e na época nunca imaginaria ver Slayer, Black Sabbath e Kiss no mesmo dia ou ver Motorhead e Iron Maiden...
    Sem contar que conheci bandas fantásticas como Therapy? e Paradise Lost.
    Sobre os grandes shows em São Paulo nos anos 90 que aconteceram antes do Monsters of Rock, só tinha visto o Metallica em 93, que teve repercussão de festival, tanto que, teve um segundo show no dia seguinte.Fenômeno! o Metallica tocava até em rádios que não tocava rock.
    Teve também o Iron Maiden em 92 que tocou no Palestra Italia, por isso, sou à favor da volta do Monsters exatamente como foi nos anos 90, com bandas clássicas, pois ainda o público de metal no Brasil é carente desse tipo de evento.

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  12. Não entendo pq a galera do metal reivindica o Monsters BR pra si. A meu ver tratava-se de um festival de rock pesado. Tanto que bandas como Raimundos, Suicidal Tendencies, Virna Lisi e Faith No More tocaram e nem são puramente metal, apesar de terem influências. Teve muito hard rock tb, Alice Cooper, Kiss, Skid Row. Pô é tudo rock.

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