Black Drawing Chalks: crítica de No Dust Stuck On You (2012)


Quem ouviu o Black Drawing Chalks em meados de 2009, com o então recém lançado Life is a Big Holiday for Us, certamente não imaginou que se tratava de uma banda brasileira, pois as guitarras distorcidas, as melodias arrastadas e as letras em inglês sugeriam uma nova banda do Oregon ou da Califórnia.

Não era. Por mais surreal que possa parecer, eles vem de Goiânia, capital do estado de Goiás, conhecido nacionalmente por revelar diversas duplas sertanejas como Leandro e Leonardo e Zezé di Camargo e Luciano. Ao contrário dos seus conterrâneos, o Black Drawing Chalks faz um som pesado que foi rapidamente rotulado como stoner rock, gênero popularizado no final dos anos 1990 pelo Queens of the Stone Age, mas que já vinha reverberando desde o começo da década com o Kyuss e o Helmet, por exemplo.

Pra quem não sabe, o stoner rock (rock chapado, em tradução livre), possui como principais características os riffs de guitarra pesados e arrastados, distorção, variação entre melodias rápidas e mais vagarosas, sempre com uma boa pitada de psicodelia. As raízes do estilo vêm principalmente dos anos 70, de bandas como Black Sabbath, Blue Cheer, Mountain e Grand Funk Railroad.

O Black Drawing Chalks foi formado em 2005 e os integrantes atuais são Victor Rocha (guitarra e vocal), Edimar Filho (guitarra), Denis de Castro (baixo) e Douglas de Castro (bateria). A banda possui três álbuns lançados, todos pela Monstro Discos: o debut Big Deal (2007), seguido do badalado Life is a Big Holiday for Us (2009) e o mais recente e seu melhor trabalho até aqui, No Dust Stuck On You, com quinze porradas na orelha, passando por grunge, stoner, pós-grunge, resvalando no pop e quem sabe até no punk, mas sempre com canções de muita qualidade.

Guitarras rápidas e os pratos da bateria fazem a introdução de “Famous”, que abre o disco anunciando o que está por vir. Victor entra cantando com seu timbre entre o rasgado e o agudo, bem característico. Letra e música são uma viagem quase lisérgica, e por ter uma melodia rápida a canção remete a vídeos de skate e esportes de ação. Cheira à adrenalina.

Em seguida vem o primeiro single, “Cut Myself in 2”, com a melodia arrastada, totalmente diferente da canção anterior. Possui uma pegada grunge (outra forte influência da banda) e remete ao Soundgarden e algumas canções do Alice in Chains. “Street Rider” é suingada e com a melodia mais pop, um dos destaques do álbum.

“Walking By” começa com uma linha de baixo e uma melodia mais soturna, lembra um pouco o new metal de Korn ou Deftones. A letra, como a maioria da banda, são devaneios, ora sacanas, ora chapados, sempre com aquela dose excelente de psicodelia. Já “No Anchor” é uma canção da década de 70 gravada em 2012, com a distorção alucinante da guitarra. “Disco Ghost” já tem a pegada mais stoner, com a melodia cheirando a asfalto na auto estrada, com muita cerveja e substâncias ilícitas. Possui um bom solo de guitarra.

O Queens of the Stone Age assinaria facilmente “I’ve Got Your Flavor”, pois a canção possui uma melodia muito rápida e voz abafada, lembrando muito algumas gravações da banda de Josh Homme, principalmente pelo timbre das guitarras. Outro destaque do disco.

“Simmer Down” é outra porrada com um breve e ótimo solo e guitarras afiadas, enquanto “Swallow” inicia com um berro e o andamento da guitarra marca quase um heavy metal, porém a música balança entre o peso e a cadência, garantido pela coesão apresentada pela banda. “Immature Toy” segue a mesma linha, mas com mais distorção e um solo psicodélico. Na letra um garoto jovem fala de uma desilusão amorosa e se define como um brinquedo imaturo.

“Black Lines (I’ll Find a Way)” inicia com uma levada na bateria de Douglas que remete quase a um hardcore, depois cadencia, encorpa e é uma das melhores do disco. Essa lembra mais alguma banda de rock alternativo dos anos 90. “Little Crazy” é um encontro do grunge com a psicodelia, com um riff marcante, boa linha de baixo se alternando no destaque da canção, com a bateria marcando tudo e o vocal potente.

“The Stalker”, “Denis’s Dream” e “Cheat, Love and Lies” fecham o disco. A primeira mantém a pegada pesada, enquanto a segunda se desenvolve como uma marchinha e tem uma letra pequena que fala sobre vingança. A última faixa, novamente rápida e voraz, queima o pneu e encerra com o ótimo verso: “... tell me baby that I got a dream to survive”.

O Black Drawing Chalks juntou todas suas influências e fez, além de seu disco mais pesado, seu melhor álbum até aqui. Vemos uma banda executando músicas enxutas, sem firulas, com técnica e precisão. Um grupo em ascensão, esbanjando talento, provando que a cena brasileira ainda possui sim bandas de qualidade e com propostas honestas.

Esse é um dos melhores discos lançados no Brasil até aqui esse ano, senão o melhor, produzido por uma banda que não deixa nada a desejar pra gringo nenhum. 


Nota 7 

(por David Oaski)

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