Entrevista com o colecionador Anderson Carrion

Anderson, em primeiro lugar apresente-se aos nossos leitores: quem você é e o que você faz?

Meu nome é Anderson Carrion, tenho 39 anos e sou paranaense de Londrina. Profissionalmente atuo com gestão comercial para empresas do ramo de confecções.

Qual foi o seu primeiro disco? Como você o conseguiu, e que idade você tinha? Você ainda tem esse álbum na sua coleção? Você lembra o que sentiu ao adquirir o seu primeiro LP?

Vou responder esta duas perguntas juntas. Em minha casa havia apenas rádio durante a infância. Na adolescência ouvia discos na casa de amigos e costumava fazer seleção musical com estes discos nas festinhas de sábado à noite, basicamente rock nacional dos anos 80.

Um destes amigos, em 1987, me propôs trocar todos os LPs que ele já tinha enjoado da sua coleção (16 discos) por algo que eu tinha e que nem me lembro o que era. Fiz o melhor da minha vida até aquele momento! Neste lote tinha Ultraje a Rigor, Titãs, Ira!, RPM, Barão Vermelho, Legião Urbana, U2, enfim discos que tocavam em rádios e nas festas entre 1985 e 1986. Eu ainda tenho estes álbuns em minha coleção.


Porque você começou a colecionar discos, e com que idade você iniciou a sua coleção? Teve algum momento, algum fato na sua vida, que marcou essa mudança de ouvinte normal de música para um colecionador?


No início fui adquirindo LPs para saciar minha sede musical, e arrumando casas de amigos para ouvir os mesmos (só comprei minha primeira vitrolinha usada com 17 anos). Descobri os sebos em Londrina e as bancas de promoções, e fui pesquisando e descobrindo coisas maravilhosas que não tocavam em rádio. Com o tempo já tinha uma “coleção” razoável. A mudança acredito que veio quando comprei um disco mais caro que tive que juntar dinheiro uns 3 meses para adquirir. Era um álbum que tinha ouvido somente uma vez aos 13 ou 14 anos e que tinha chapado minha cabeça e não parecia com nada que tinha ouvido até então, Fresh Fruit for Rotting Vegetables, do Dead Kennedys.

Alguém da sua família, ou um amigo, o influenciou para que você se transformasse em um colecionador?

Minha primeira influência com música foi com minha mãe, que ouvia rádio AM o dia inteiro em casa. Até hoje sei cantar as letras do Paulo Sérgio, Barros de Alencar, Nilton Cesar, Fernando Mendes...(risos). E depois fui trocando experiência com amigos e irmãos mais velhos dos amigos.

Inicialmente, qual era o seu interesse pela música? De que gêneros você curtia? O que o atraía na música?

No início a sabatina era rock nacional entre 13 e 16 anos, aí entra em nossas vidas o rock clássico das décadas de 60 e 70, Led, Beatles, Rolling Stones e muito punk rock. Basicamente rock de todas as décadas e esferas. Nessa época inclusive promovi várias festas temáticas com rock dos anos 50, que atraíam muita gente.

Quantos discos você tem?

Aproximadamente uns 4.000 LPs e compactos + uns 1.500 CDs e DVDs, e também livros sobre o tema.





Qual gênero musical domina a sua coleção? E, atualmente, que estilo é o seu preferido? Essa preferência variou ao longo dos anos, ou sempre permaneceu a mesma?

Minha coleção não tem predominância de gênero Tenho em torno de 40% da coleção de música brasileira e 60% dividido entre artistas internacionais, com rock de todas as décadas, pop, jazz, blues.

Minha preferência musical é variada e atualmente estou me dedicando a ouvir LPs recém adquiridos, na maioria relançamentos do início da década de 70 com muito hard rock e psicodelia, folk, e também relançamentos da Polysom - fazia um tempo que não ouvia com tanta atenção os LPs do Tom Zé, que ficam melhor a cada audição).

Vinil ou CD? Quais os pontos fortes de cada formato, para você?

CD é ótimo para guardar e prático pra ouvir, gosto muito. Pra colecionar o LP é imbatível. Aprendi a ouvir música através desta mídia e a arte gráfica não tem comparação. E mais: tem o lado A e o lado B (risos).

Existe algum instrumento musical específico que o atrai quando você ouve música?

Atualmente estou ouvindo novamente tudo que tem piano Rodhes, Hammond, guitarra fuzz, melotron. Está me agradando muito. Violino e flauta sempre me chamam atenção quando inseridos no rock. Enfim, instrumentos que agregam no arranjo. Mas o trio guitarra, baixo, bateria é insuperável.






Qual foi o lugar mais estranho onde você comprou discos?

 
Já comprei discos em feiras livres, em uma mecânica de motos, em bar, lojas de móveis usados (nesta loja achei um do Leonard Cohen que o dono falou que estava com defeito – “muito lento”) (risos).

Qual foi a melhor loja de discos que você já conheceu?

É difícil apontar uma, todas tem particularidades. Fui algumas vezes na Nuvem 9 e ficava maluco naquela loja. A Baratos e Afins é um ícone em lojas de discos e precisa ser citada. Atualmente, quando vou a São Paulo, gosto de comprar na Disco 7 da Galeria Nova Barão, e em Curitiba gosto da Vinyl Clube. E os lendários sebos Jardim Elétrico e Footloose (sebos de Londrina que já fecharam muito tempo).

Conte-me uma história triste na sua vida de colecionador.

Deixar a janela aberta, ir trabalhar e voltar e ver alguns LPs que estavam perto da janela com as capas destruídas. Fiquei com uns 20 LPs sem capas, isso faz mais de 20 anos, mas nunca mais deixei discos próximos à janela - mas quanto a fechar a janela antes de sair ...

Como você organiza a sua coleção? Dê uma dica útil de como guardar a coleção para os nossos leitores.

O básico, em pé, ordem alfabética, artistas nacionais separados de artistas internacionais.

Além da música, que outros fatores o atraem em um disco?

Tudo, dos chiados às capas.





Quais são os itens mais raros da sua coleção?

Tem alguns itens raros para mim, pelas histórias que carregam em cada sulco, e tem alguns procurados, como o Paebiru, Tim Maia Racional, Marconi Notaro, Novos Baianos – Ferro na Boneca, Di Mello, alguns internacionais também.

Você tem ciúmes da sua coleção?

Um pouco, mas não tanto como a maioria dos colecionadores.

Quando você está em uma loja procurando discos, você tem algum método específico de pesquisa, alguma mania, na hora de comprar novos itens para a sua coleção?

Meu método é olhar tudo.

O que significa ser um colecionador de discos?

Hoje em dia, as pessoas te olham um pouco como insano (e comentam: "tem tudo na internet!"). Um pouco egoísta, pois fica tudo restrito na sua prateleira, somente a sua disposição. Sua esposa acha uma gastança absurda e o espaço físico fica comprometido. Mas todos colecionadores sabem da satisfação inexplixável que é ter sua coleção.

A sua coleção é focada em LPs e você não possui praticamente nenhum CD. Alguma coisa contra o formato (rs)? Porque dessa escolha?

Nada contra, aliás muito a favor. CDs são ótimos, ocupam menos espaço ... enfim. Mas o foco são LPs, mas sempre que acho algo que tem somente em CD eu compro, mas a proporção na coleção são 4 LPs para 1 CD.

Outro ponto que se destaca em sua coleção é a grande quantidade de boxes. Quantos você tem? E o que o atrai nos boxes?

Boxes são minha paixão nos últimos anos. O que mais me atrai nos boxes é a funcionalidade de ter todos ou os principais álbuns de um artista agrupados em uma caixa, além que se estiverem com boa disposição exercem a função de decoração no ambiente de coleção.

Temos algo em comum, Anderson, que é o fato de nós dois também colecionarmos livros sobre música. Conta pra gente um pouco sobre essas obras que você tem em seu acervo.

Quando tomo conhecimento e gosta da obra de um artista e de uma geração, eu procuro saber mais sobre aquele artista ou daquela geração ou movimento, conhecer peculiaridades, datas, influências, processo de composição e criação. Portanto, as biografas de artistas e livros musicais em geral, revistas do gênero, são pra mim de suma importância para entender e conhecer mais sobre este hobby que toma um espaço em nossas vidas. E livros também são colecionáveis (risos).

Vale a pena citar também que o primeiro livro que comprei foi o ABZ do Rock Brasileiro, do Marcelo Dolabella - lembrando que nos anos 80 livro sobre rock era quase impossível de achar no Brasil.

Qual é o melhor disco de 2012 até o momento?

Ouvi poucos lançamentos no ano de 2012 mas posso citar um nacional: Tropicália Lixo Lógico, do Tom Zé, é um álbum interessante. Internacional citaria o Blunderbuss do Jack White, que é legal mas não supera nenhum do White Stripes.

Muito obrigado pelo papo. Pra fechar, o que você está ouvindo e recomenda aos nossos leitores?

Os últimos LPs que tirei da prateleira para ouvir e estão sobre a minha mesa:

Grandalf – Grandalf
Josefus – Josefus
Tangerine – The Peeling of Tangerine
T2 – It’ll All Work Out in Boomland
Master’s Apprentices – A Toast to Panama Red
Mike Bloomfield, Al Kppper, Steve Stills – Super Session
Morgen – Morgen
Groundhogs – Thank Christ for the Bomb

E os últimos CDs que estão no escritório:

Jimi Hendrix – Blues
Eddy Star – Sweet Edy
Nirvana – Live at Reading
Céu – Caravana Serei Bloom
Pati Smith- Outside Society
Big Star - #1Record
Tomada – O Inevitável
Van Morrison – Astral Weeks Live at Hollywood bowl
Bob Dylan – The Witmark Demos 1962-1964
Ira! – Invisivel DJ (esse não sai do CD player)

Comentários

  1. Parabéns pela entrevista e pela coleção, coleciona o que em sua opinião é música boa, independente do estilo, além disso coleciona Livros de música, o que acho muito legal, pois ter informações do que esta ouvindo faz parte da vida de um Colecionador. Valeu!!
    Abraço

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  2. Muito legais essas duas últimas entrevistas com colecionadores... acho mais importante e interessante isso: investir em variedade mais do que na mera "raridade" dos itens, ou no foco numa banda só.

    Claro que respeito qualquer tipo de coleção, e há raridades que dão água na boca, mas invejo muito mais uma coleção que seja completa e, ainda assim, demonstre diversidade, de artistas, de estilos, etc. Isso já pode torná-la bastante "rara" ela mesma.

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  3. Muito boa entrevista,bela coleção,parabéns.

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  4. muito bom adorei todos os comentarios destes colecionadores, tambem sou um colecionador dos bons sons, como diria Fabio Massari,um colecionador que me inspira muito, enfim um abraço a todos é continuem suas coleções.

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