Kamelot: crítica de Silverthorn (2012)

Silverthorn, décimo álbum da banda norte-americana Kamelot, marca um novo começo para o quinteto liderado pelo guitarrista Thomas Youngblood. A razão todo mundo já sabe: após 13 anos no grupo, período em que foi um dos principais responsáveis por elevar o Kamelot ao posto de uma das bandas mais interessantes do heavy metal, o vocalista Roy Khan deixou o grupo em 21 de abril de 2011. Para o seu lugar veio o praticamente desconhecido Tommy Karevik.

Produzido pela dupla Sascha Paeth e Miro, que trabalha com a banda desde 1999, e com diversas participações especiais - sendo as principais as das vocalistas Elize Ryd (Amaranthe), Alissa White-Gluz (The Agonist) e Amanda Somerville -, Silverthorn é um álbum conceitual que conta a história de uma jovem que morre nos braços de seus dois irmãos gêmeos, levando para o túmulo um grande segredo. As canções são dramáticas e cinematográficas, características que marcaram a passagem de Roy pelo grupo e seguem presentes. As melodias continuam fortes, bem construídas e grudentas, enquanto as letras falam sobre dor, desespero, culpa e a busca pela verdade, culminando, no final, com a revelação do significado real do misterioso “silverthorn” mencionado no título.

O disco se destaca, logo de cara, por dois motivos. O primeiro é a grande semelhança entre o timbre de voz de Karevik e Khan, o que torna a transição entre os dois vocalistas tranquila e sem maiores traumas. Tommy tem uma voz suave e perfeitamente afinada, que agrada de imediato. E o segundo é uma considerável diminuição nos elementos góticos presentes nos últimos trabalhos, com a banda retomando o caminho mais power metal de discos como Epica (2003) e The Black Halo (2005).

O bom gosto sempre presente nos álbuns do grupo também não foi deixado de lado. Há um bom senso e um equilíbrio muito bem-vindo em todas as faixas, sem elementos desnecessários. A maneira particular do Kamelot fazer heavy metal, com canções repletas de bridges e grandes melodias, soa renovada em Silverthorn, emergindo de forma viva depois de ter ficado um pouco de lado nos últimos trabalhos com Khan, principalmente Poetry for the Poisoned (2010).

Já disse inúmeras vezes que, na minha opinião, o Kamelot conseguiu construir uma das sonoridades mais interessantes do metal contemporâneo, criando um som único e bastante singular, sem paralelo entre os seus iguais. No entanto, nos últimos anos a banda estava se soterrando no lado mais sombrio de sua música, inserindo cada vez mais elementos góticos em seu som. Em Silverthorn o grupo foi no caminho contrário, fazendo a melodia emergir com força, deixando de lado os aspectos soturnos. O resultado disso é um disco bastante interessante, que mostra que o Kamelot ainda tem um longo caminho a trilhar.



O teclado de Oliver Palotai divide espaço praticamente de igual para igual com a guitarra de Youngblood, enquanto a cozinha formada por Sean Tibbetts (baixo) e Casey Grillo (bateria) segue como uma das mais criativas do heavy metal, principalmente Grillo, pródigo em criar batidas e andamentos incomuns e passagens supreendentes.

Tommy Karevik, ainda que não seja um cantor acima da média como o excepcional Roy Khan, tem uma performance convincente em Silverthorn. Como já dito, o fato de o seu timbre ser bastante similar ao do antigo vocalista torna tudo mais natural, fazendo a assimilação do novo integrante ser tranquila. As linhas vocais seguem a escola que Roy implementou durante a sua passagem pelo Kamelot, ainda que, em alguns momentos, soem dependentes demais do estilo de Khan. A sensação é de que a banda foi extremamente conservadora na escolha de Karevik, preferindo seguir um caminho já aprovado pelos fãs do que possíveis - e às vezes - arriscadas inovações. Em um primeiro momento funciona, como acontece aqui, mas é natural que, com mais tempo de banda, Karevik queira adicionar as suas próprias ideias no som do Kamelot, distanciando-se do caminho indicado com maestria pelo antigo vocalista.

Destaque para “Sacrimony (Angel of Afterlife)” - apesar da grande semelhança com “Center of the Universe”, uma das músicas mais conhecidas do grupo -, “Veritas”, a faixa-título e a longa “Prodigal Son”, com quase nove minutos de pura classe.

De uma maneira geral, Silverthorn é um bom disco. Está longe de ser o melhor da carreira do Kamelot - esse posto permanece com o fenomenal The Black Halo -, mas mostra que é possível seguir em frente mesmo sem a presença de um músico com a personalidade tão marcante quanto a de Roy Khan.

Aguardemos os próximos capítulos.

Nota: 8

Faixas:
Manus Dei
Sacrimony (Angel of Afterlife)
Ashes to Ashes
Torn
Song for Jolee
Veritas
My Confession
Silverthorn
Falling Like the Fahrenheit
Solitaire
Prodigal Son
Continuum

Comentários

  1. Não conhecia a banda, baixei o disco e gostei. Som bacana o dos caras. Vou atrás do disco que você citou como sendo o melhor deles.

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  2. Sou fã demais do Tommy, conheci a sua banda, Seventh Wonder através do algoritimo do Spotify, e fiquei surpreso em ver que ele era o atual vocalista do Kamelot.. acho um cantor incrível, e concordo que ele foi meio que levado a "imitar" o estilo do Roy Khan. Mesmo assim um grande album.

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