Andre Matos: crítica de The Turn of the Lights (2012)

Uma das figuras mais importantes do cenário metálico brasileiro está de volta com disco novo. Andre Matos (ex-Viper, Angra, Shaman e mais um punhado de projetos paralelos), acaba de lançar seu mais novo álbum solo.

Andre dificilmente fica um ano sem lançar material, é um dos compositores mais prolíficos da cena heavy brasileira. Porém, com um volume tão grande de criações, às vezes fica difícil manter o nível. É exatamente isso que acontece no mais recente álbum de Matos. É inegável que Andre ajudou, e muito, a consolidar no Brasil um estilo de heavy metal chamado de “metal melódico” (power metal e speed metal também serve). Andre Matos iniciou com o Viper, lá nos anos 80, depois esteve à frente do Angra no período áureo de sua carreira e culminando no Shaman, que também gozou de bastante prestígio com o lançamento dos seus dois primeiros álbuns.

Currículo não falta. O que falta - digo, o que sobra - é uma imensa repetição de tudo isso que André já apresentou. O grande problema do disco é que ele parece um imenso déjà vu. Posso ter me enganado desde o início, mas tinha esperança, mesmo que pouca, de que podia engolir o que tinha pensado (se é que isso seja possível) sobre o disco. Talvez encontrar um Andre Matos que ainda se importasse em conquistar um espaço nesse cenário tão vasto que é o heavy metal, e para isso ainda teria que surpreender seu público e não apenas compor e lançar discos no piloto automático.

Desde a primeira música, a regular “Liberty”, já dá para ter uma noção do que vem pela frente. Piora na segunda, “Course of Life”, que tem um início totalmente plagiado de “Evil Warning”, um clássico do Angra. Depois desse começo morno, Andre continua pelo mesmo caminho, ora evocando os clichês do gênero de composição que domina, ora se valendo de ideias totalmente requentadas, todas já usadas ao decorrer de sua carreira, nas suas antigas bandas. “On Your Own”, por exemplo, é um caso desses, de descarado auto-plágio, onde tudo é feito para lembrar o Angra da fase Holy Land. Mas o problema não é propriamente copiar a si mesmo, mas copiar-se de forma tão burocrática quanto Andre fez. Poderia citar várias outras passagens do disco onde se percebe a necessidade de não romper em nada com o som que o consagrou. Aí me pergunto: porque motivos é tão difícil romper, ou transgredir, um sub-gênero musical que já morreu há um bom tempo? Nem um pingo de ousadia. Apenas várias fórmulas comprovadamente eficazes, modificadas, mas para chegar ao mesmo resultado há 15 ou 20 anos.

Nenhuma música do disco, no entanto, pode ser taxativamente chamada de ruim. “Unrepleaceble” é uma boa composição, uma das poucas que respiram um ar menos viciado. “Stop” é outra boa, repito: boa, com uma levada mais swingada e sem aquele bumbo duplo pentelho. Mesmo essas duas e mais a balada “Gaza”, que também tem seus bons momentos por ser uma composição cheia de dinâmicas, não garantem ao trabalho nenhuma grande faixa. Os lampejos de maior inspiração de agora não valem o que de mais mediano Andre já fez no passado.

Não quis saber como tem sido a recepção da crítica e dos fãs a esse disco. Diria, sem medo de errar, que todos sentem que é mais do mesmo. Infelizmente, creio que posso estar errado, pois vai ter muita gente que dirá o contrário do que disse, e parecerá bom: “André continua em plena forma, compondo como sempre, ainda com sua magnífica voz. Comprovando que o metal melódico ainda está muito vivo e que, mesmo depois de mais maduro (velho), continua com seu espírito metaleiro firme e forte. Nota 9”.

Não, o correto é uma nota 3,5 mesmo.

(por Angelo Borba da Silva)

Comentários

  1. Se é para requentar de novo a mesma marmita, por quê não a do Virgo?

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  2. Ainda fico triste ao ver o Andre ser enquadrado no campo do "metal melódico"... uma classificação com uma defasagem de uns 15 anos ou mais.

    Se o autor da resenha já começa dizendo que o Andre é um compositor prolífico, é justamente por sua criatividade e capacidade de renovação. Após Holy Land, Fireworks, Ritual, Reason, Virgo, Mentalize... discos tão únicos e tão diferentes entre si, concordo que era de se esperar um novo passo na carreira...

    Mas a resenha é correta quanto ao novo disco. Parece mera continuação do "Mentalize", e ainda assim menos progressivo e ousado que o (ótimo) trabalho anterior.

    Isso não é próprio do Andre. A nota foi muito baixa, excesso de rigor. Mas o fato é que de um cara dinãmico como ele só se pode esperar nota 10... e esse disco realmente NÃO merece nada tão alto (tb nada tão baixo).

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  3. As pessoas que criticam nesse blog tem algum conhecimento musical e alguma imparcialidade? Foi uma das críticas mais risíveis e errôneas que vi até hoje. Mais do mesmo, auto-plágio 'num CD que pra mim é o mais diferenciado de sua carreira, entre arranjos e efeitos que vou me abster de discutir? Acho que pra quem anda 'trabalhando' como críticos, os que fizeram essa resenha têm vertido muito de sua opinião pessoal e subjetividade! Claro que não vão postar isso, não lhes é interessante!

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  4. Discordo da Resenha, pois desde o inicio o cd que o Andre quis fazer foi com influencias de suas antigas musicas e não um cd inovador. Essa resenha é um pouco equivocada, pois nas outras renhas todas eram 9 ou 10. Na minha opinião o autor da resenha deve gostar do Edu ou do Symbols!

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  5. Jonathan, eu não ouvi o disco e provavelmente nem irei ouvir, mas confio na opinião do Angelo. Agora, sério, o seu melhor argumento é que, por não ter gostado do disco, o autor é fã do Falaschi e do Symbols? Sério? Você consegue fazer melhor, vamos lá...

    E ao outro rapaz, sim, temos conhecimento musical, imparcialidade e, acima de tudo, opinião própria e coragem e personalidade para dizermos exatamente o que pensamos, e não para sermos uma maria-vai-com-as-outras. E, desde que você não ofenda ninguém e argumente, seus comentários sempre serão postados aqui.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. (Ops, cliquei no botão de excluir comentário ao invés de atualizar a página. rs)

    Seelig, acho que você deveria escutar o álbum também. Não custa nada, 55 minutinhos só! rs

    Talvez você perceba que muito do que o Angelo escreveu é equivocado.

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  8. Ricardo, não escutei o disco ainda, mas pretendo escutar, pois gosto de muitas coisas do André e outras nem tanto.

    Mas se eu não escutar, nunca vou saber se gosto ou não.

    Fiquei desanimado ao ler que você não pretende escutar o disco. Isso me parece (mas é só uma impressão minha) que vai contra os princípios do blog que é manter a mente aberta para todo o tipo de música e artista.

    Por favor, reconsidere e, se possível, escreva ao menos uma linha sobre o que achou.

    Abraço!

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  9. "Jonathan, eu não ouvi o disco e provavelmente nem irei ouvir, mas confio na opinião do Angelo."

    E isso por acaso é ser imparcial e ter opinião própria, Ricardo ? vc viajou bonito agora. Confiar na opinião do cara sem nem mesmo ouvir o disco(e ainda dizer que provavelmente não vai ouvir). Faz isso não, ai vc se queima.


    For isso, tb não gostei novo album do Andre e concordo com a nota 3,5, mas não pq o album é ruim, mas pq considero um album ruim do nível do Andre Matos. No contexto geral, eu daria um 6.0

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  10. Fica tranquilo, queridão. Atendendo a pedidos, escrevi um review também para o disco: http://collectorsroom.blogspot.com.br/2012/11/andre-matos-critica-de-turn-of-lights_8.html

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  11. Discordo da crítica, a sonoridade do André evoluiu monstruosamente de Viper pra Angra, de Angra pra Shaaman foi mais contida porém mudou bastante também e acho q ele vem trazendo nesse seu material atual uma diferença significativa em relação ao seu passadol nas outras bandas. Concordo que a cara do The turn of the lights tá igual ao mentalize mas é uma nova fase do André. Mais maduro eu diria.

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