Crítica de Neil Young: A Autobiografia

O ponto de partida para Neil Young: A Autobiografia, lançado no Brasil pela Globo Livros, foi a decisão do lendário músico canadense em parar de fumar maconha. Sem inspiração para gravar um disco, resolveu seguir os passos do pai, que era escritor e jornalista, e começou a escrever as suas memórias. O resultado é um livro nada convencional, um tanto errático e confuso.

Neil conta a história da sua vida sem seguir uma ordem cronológica. Isso torna a narrativa extremamente fragmentada e nebulosa em diversos momentos. Cada capítulo - e no total são incríveis 68! - é como uma peça de um quebra-cabeça, mostrando os vários lados da personalidade inquieta de Young. Em uma página estamos na infância do músico. Na outra, pulamos trinta anos no tempo e estamos lendo sobre a sua parceria com a banda Crazy Horse, para, em seguida, voltarmos para a San Francisco do final da década de 1960 e suas experiências psicodélicas. Além disso, Young cita dezenas de nomes de músicos e amigos próximos nas páginas, mas não se preocupa em apresentar ou falar um pouco sobre essas pessoas para o leitor. Dessa maneira, é preciso um conhecimento muito grande de cultura geral para dar conta do que Neil está falando, e muitas vezes isso é virtualmente impossível.

Mesmo com todos esses percalços, a autobiografia de Neil Young é um livro interessante porque apresenta um texto extremamente sincero e transparente. O compositor não se furta de falar sobre qualquer tema, não foge do assunto em nenhum momento. Deixa claro as suas paixões, que beiram a obsessão, por ferro-modelismo, carros antigos e fidelidade sonora (diversas páginas do livro são dedicadas ao Pure Tone, novo projeto em que Neil está envolvido e que promete arquivos digitais sem perda na qualidade do som). Conta como é criar dois filhos com problemas de saúde, seu amor profundo pela esposa Pegi e o seu modo peculiar de enxergar o mundo.

Quem estiver esperando a história de sua vida ficará decepcionado. Neil Young: A Autobiografia mais parece um grande diário pessoal disponibilizado ao público do que qualquer outra coisa. Não há uma análise profunda sobre a carreira musical de Neil Young e nem nada nessa linha, e isso pode ser um balde de água fria para muita gente.

Apesar de escrito pelo próprio e todo o texto ser em primeira pessoa, Neil Young: A Autobiografia está longe de ser o livro definitivo sobre o lendário guitarrista e compositor canadense. A leitura proporciona momentos interessantes, porém deixa uma sensação de que poderia render muito mais se a obra tivesse uma estrutura mais organizada e, quem sabe, se Neil recebesse a ajuda de um escritor mais experiente para colocar as suas memórias no papel.

Comentários

  1. Este livro é maravilhoso. Nós percebemos sobre o Neil nesta obra, acredito, exatamente o que ele desejou, que é, além de um artista genial, tão humano com suas manias e paixões quanto qualquer um de nós. Me senti muito mais próxima e identificada a ele como fã, justamente pela simplicidade da escrita e até da certa "desorganização" das lembranças. Não havia como esperar "mais", já é por si só incrível imaginar Neil Young sentando em sua escrivaninha no Havaí dedicando horas de sua vida para contar intimidades a seus fãs (em meio a seus inúmeros compromissos, empreendimentos e cuidados com seu filho Ben Young) e, conhecendo o Neil, tenho certeza que não foi por dinheiro. É um livro concebido com muito amor, assim como sua música. O coração do Neil está ali, as coisas quais ele acredita estão ali. Só consigo ser grata ao Neil por este presente.

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  2. interessante, perdi a vontade ler o livro depois da crítica.

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  3. Eu devo começar a leitura na semana que vem, mas já achei atraente pela crítica.

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