Discos Fundamentais: Deep Purple - Come Taste the Band (1975)

Quando bandas estão se desfazendo é muito comum que isso tenha efeito na música. Os impasses e os desconfortos transparecem e afetam a qualidade do produto final, mas como podemos perceber em Come Taste the Band, isso não é uma regra. 

Com o Deep Purple sofrendo mais influências de soul e funk desde a entrada de Glenn Hughes e David Coverdale, o guitarrista Ritchie Blackmore havia deixado o grupo, formando o Rainbow por conta do descontentamento com os novos rumos musicais. Assim como fizeram quando da saída de Ian Gillan e Roger Glover, a de Blackmore fez com que os críticos dissessem que a banda acabaria, e dessa vez não estavam tão enganados assim. David Coverdale teria feito um apelo a Jon Lord pedindo pra que o tecladista mantivesse o grupo unido, e assim contrataram o guitarrista Tommy Bolin (James Gang, Zephyr) e formaram a quarta e breve formação do Deep Purple. 

Tal como nos dois discos anteriores, Come Taste the Band inicia de forma matadora: "Comin’ Home" mostra que, mesmo com as novas experimentações, o Purple não deixara o hard rock de lado. O álbum segue com mais groove com a melodiosa "Lady Luck", que poderia figurar no tracklist de Stormbringer facilmente. 

Já "Gettin’ Tighter" é puro funk, com Tommy Bolin mostrando que a banda naquele momento pedia um guitarrista com mais groove, e que por isso haviam feito a escolha certa. O que também não impediu o guitarrista de incluir ótimos riffs e solos. Ademais, como a própria trajetória de Bolin já evidenciava, Glenn Hughes finalmente encontrara um guitarrista que combinava com o seu estilo. O então novo integrante se mostrou igualmente produtivo no processo criativo, visto que de nove faixas no disco ele é co-autor de sete. 

"Love Child" traz o melhor riff de Come Taste the Band, mostrando que ainda que o novo guitarrista tenha acentuado as características da nova abordagem da banda, ele também pôde lidar com aspectos há muito tempo consolidados dentro da sonoridade do Deep Purple. É seguida da belíssima "This Time Around", composta em parceria com o tecladista Jon Lord, uma das músicas mais bonitas de toda a longa carreira de Glenn Hughes. O disco fecha com a envolvente e suave "You Keep On Moving" esbanjando a influência de soul. 

Num panorama geral, Come Taste the Band traz uma banda com mais liberdade criativa, livre das - mesmo que limitadas - amarras dos dois álbuns anteriores. Oferece um baixista com maior presença; um vocalista que traz, se não a melhor em absoluto, algumas das melhores performances em seu tempo na banda; um guitarrista que se coloca como uma substituição, no mínimo, adequada. E completando o line-up, dois membros originais que foram capazes de manter a essência do grupo com suas atuações impecáveis. Come Taste the Band é certamente um disco muito subestimado. 

Mas com todas as liberdades, com todo o entrosamento, o Deep Purple ainda estava entrando em colapso. A banda teria uma fraca turnê de divulgação do álbum e sérios problemas com drogas que acarretariam na morte de Tommy Bolin em dezembro de 1976. Com o fim da turnê em março de 1976, a banda encararia um hiato de 8 anos. Nesse período, Jon Lord e Ian Paice se juntaram a David Coverdale no Whitesnake e Glenn Hughes lançou seu primeiro álbum solo, mas esses são assuntos para um outro dia.

Faixas:

A1
1. Comin' Home
2. Lady Luck
3. Gettin' Tighter
4. Dealer
5. I Need Love

A2
1. Drifter
2. Love Child
3. This Time Around
4. You Keep On Moving  

(por Igor Luis Seemann)

Comentários

  1. O trabalho do Bolin no purple foi excelente, mas se não fossem o abuso de drogas, e se ele tivesse na forma em que estava no James Gang, Come Taste The Band seria melhor ainda e indiscutivelmente o melhor disco fora da mk2. A guitarra dele me agrada mais que a do Blackmore.

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