Onde foram parar os artistas polêmicos da música?

Chamar a atenção do público sobre um lutador de boxe negro preso injustamente, artistas negros lutando contra a segregação racial, discutir a legalização da maconha, misturar música com religião ou política. Todos esses temas geraram muita polêmica no passado, levando a discussão além do terreno musical. Se casos como alguns destes ainda não deixaram de ser tabu, afinal onde foram parar os artistas que tinham o que dizer em suas letras, que tinham atitude para desafiar o status quo?

Recentemente, se você acessasse os sites de notícias, veria o destaque da suposta história de plágio da música mais recente produzida pelo Latino ou a briga pelos direitos autorais de “Ai Se Eu Te Pego”, ou mesmo a Sandy, que criou discussão com a declaração de que era possível ter prazer com sexo anal. Infelizmente, nenhum desses casos tinha tanta importância assim. E se a atenção fosse focada para a música internacional o quadro não seria muito diferente. Britney Spears tem um surto na frente de jornalistas. Rihanna foi espancada pelo namorado, o também cantor Chris Brown. Lady Gaga pediu para largarem do seu pé quanto ao peso, dizendo que Adele é “maior” que ela. 

Polêmica na música virou sinônimo de fofoca, declarações fora de contexto, brigas judiciais, entre tantas coisas mais banais. O artista provocador, controverso dentro e fora dos palcos, perdeu espaço para personagens que fazem de tudo para aparecer sem ao menos ter o que falar. Ironicamente, porque ao longo da história percebe-se que o contestador atrai olhares negativos para sua obra por uns, mas também provoca a curiosidade pelo seu trabalho por outros, deixando sua marca na história musical. A falta da polêmica é sentida por Fabrício Rodrigues. Junto com o também jornalista João Paulo Borges e o publicitário Fernando Pascale, forma um dos pilares do Café com Polêmica, podcast que já ultrapassou 43 mil plays em 24 episódios. “Mais do que polêmica, acho que falta um posicionamento crítico (na música). Aprendi mais sobre História com ‘Nome aos Bois’, dos Titãs, do que em muita aula no colégio. Para ser polêmico tem que ter um pouco de inteligência, de humor, de coragem. Tá faltando um pouco de tudo isso, mas especialmente de humor. Os polêmicos foram parar no rap, no funk carioca, no tecnobrega, na Lady Gaga, em tudo, menos no rock”, analisa Fabrício. 


Antigamente não era assim. O rock, desde sua origem nos anos 1950, foi marcado pela polêmica, considerado pela sociedade (leia-se brancos) música do demônio. Todos que o escutavam eram taxados de rebeldes e transgressores. Nesse início, a polêmica ficou evidente no ritmo em si. A partir desse ponto, a música e a controvérsia começaram a andar cada vez mais juntas. Cantores como Jerry Lee Lewis e Little Richards, com suas atitudes provocadoras, foram dois dos artistas que esquentaram o palco para tudo o que veio depois. Lewis, aliás, fez polêmica fora dos palcos, casando-se com sua prima menor de idade. Ike Turner, o primeiro a gravar uma música de rock and roll, “Rocket 88” (fato polêmico por natureza), ficou mais conhecido como aquele que espancava sua então mulher, Tina Turner, do que o que realmente significou para a música. Elvis Presley com seu violão e seus quadris dançantes deixou praticamente todas as mães da época acordadas rezando por suas filhas adolescentes. 


O folk, na década seguinte, migrou do campo para a área urbana. Se antes era um estilo de música popular encontrado em comunidades afastadas, nos anos 1960 passou por mudanças no conteúdo, transformando-se na trilha sonora da geração beat – que mais tarde originou os hippies. Esse foi o início de toda uma década de protesto, que teve em Bob Dylan seu maior ícone. Inspirado completamente no começo por Hank Williams e Woody Guthrie, logo ele adquiriu voz própria. Ele só precisava de seu violão, às vezes de sua gaita, e toda a sua poesia. Foi quando seus versos “E quantas balas de canhão precisarão voar / Até serem para sempre banidas? / A resposta, meu amigo, está soprando ao vento”, “Pois os tempos estão mudando”, entre tantos outros, conectaram-se instantaneamente com os jovens politizados da época. Os anos 60 foram rebeldes por excelência. Era bacana fazer parte da contracultura. 


Dessa vez a polêmica se deu sobretudo pelo discurso, mas a música, as drogas e a moda tiveram papel definitivo. E se Bob Dylan deu a partida para uma década de protestos, foram os Beatles que deram o pontapé inicial não só da música de como a conhecemos hoje, mas de toda a cultura pop. Quando os Beatles cruzaram com pessoas como Dylan, desta vez com sua guitarra elétrica, seu som mudou radicalmente. Assim como a música. E foi criada toda uma verdadeira mitologia ao redor de seus integrantes. Prova disso são seus depoimentos, como “os Beatles são maiores que Jesus Cristo”, a lenda de que Paul McCartney estava morto, o boato de Yoko Ono seria a causa principal da separação do grupo, além de músicas como “Lucy in the Sky with Diamonds”, com sua suposta reunião em seu título de letras de uma das drogas em maior evidência, o LSD. São tantas “histórias”, mitos ou verdades, que fizeram com que eles se tornassem uma das bandas mais polêmicas de todos os tempos. 

Os Rolling Stones com certeza também fazem parte do topo dessa lista. Todo o carisma sexual de Mick Jagger, a morte do ex-integrante Brian Jones, músicas como “Sympathy for the Devil” contando a história em primeira pessoa do próprio diabo, a tragédia, em 1971, com morte e inúmeros feridos no show dos Festival de Altamont , etc. Uma banda com a quantidade de polêmica comparável à sua quantidade de anos na estrada. Outros artistas não ficaram tão atrás, pois a geração dessa época (diferentemente de hoje em dia) procurava por isso, figuras que diziam o que os jovens queriam dizer, que agiam com a liberdade que eles queriam ter. The Who, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Frank Zappa mostraram que polêmica não se faz apenas com o conteúdo, mas também com atitude. Depois disso, no final da década, vieram David Bowie e (em seguida) toda a androgenia do Glam Rock, Alice Cooper, Iggy Pop, Lou Reed. Era a polêmica máxima da moda, com maquiagem pesada no rosto e roupas extravagantes. 


Com a virada dos ano 60 pros 70 surgiu também o heavy metal do Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin, adicionando mais polêmica à música. E com isso um novo capítulo se inicia. As ramificações desse tipo de som foram ilimitadas, em maior ou menor grau de polêmica, até os dias de hoje. O rock abriu diálogo com temas como a morte, o ocultismo e diversas outras formas de sobrenatural. Se antes a sociedade achava que o rock and roll era coisa do demônio, foi com o heavy metal e toda a sua agressividade que eles se chocaram. 


Anos depois, no final dos anos 70, o punk se destacou com os gritos de rebelião e anarquismo dos Sex Pistols. Musicalmente primitivos, com mensagens pessimistas, debochados, ofensivos ao extremo e despreocupados com a opinião pública, ridicularizaram a Rainha da Inglaterra e todo o modo de viver inglês. 


A partir dessa época, a polêmica começou a aparecer mais forte em outros ritmos além dos subgêneros do rock. Bob Marley, Peter Tosh, Jimmy Cliff (entre tantos outros músicos de reggae) polemizaram com as cores da bandeira da Jamaica a sociedade mundial, levando sua mensagem sobre questões sociais através da música. A divulgação da cultura rastafári por esses artistas trouxe a religião para dentro do ambiente musical, com grande destaque para a maconha como um hábito sagrado. 

Depois de ser criado no final dos anos 60, também na Jamaica, o rap ganhou o mundo levando novamente o discurso para o centro das atenções. Afinal a mensagem seria mais importante que o ritmo. Os principais nomes no assunto são Public Enemy, que protestou até contra Elvis Presley em uma de suas músicas que falam sobre opressão do negro, o controverso Body Count, com seu gangsta rap e toda a violência explícita em suas letras, colocando em foco a força policial de Los Angeles. E com suas disputas de gangues, o rap foi a trilha sonora para duas das mortes mais polêmicas da música, os rappers Tupac Shakur e Notorious B.I.G. 


Nesse meio tempo, antes de chegar aos anos 80, com a maquiagem pesada de vários estilos, quem deixou a música com uma cara mais irônica foram nomes como Elton John e Freddie Mercury. Ambos foram dois grandes ícones que levantaram a bandeira em defesa da homossexualidade, com muito humor. Já na década de 80, Madonna polemizou batendo de frente com a igreja, levantando discussão com temas como o aborto, virgindade, a liberdade de expressão e o feminismo. Cindy Lauper nesse mesmo período também cantou muito sobre o feminismo e sobre masturbação, com uma das suas músicas mais polêmicas, “She Bop”. O Rei do Pop, Michael Jackson, causou comoção com toda a sua história com as exigências por parte de seu pai, e anos mais tarde com seus estranhos hábitos (como o uso público de máscaras) e as acusações de abusos de crianças. Mas no terreno musical abriu espaço para a mistura de ritmos, com a guitarra em “Beat It”, por exemplo. 


A música de protesto voltou com o Rage Against the Machine, nessa década. Dois de seus maiores hits, “Killing in the Name” e “Bulls on Parede” inflamaram o mercado fonográfico abrindo caminho para bandas como Korn, System of a Down e Slipknot. Já a androgenia voltou com Marilyn Manson, um artista único que continua lançando discos, mas foi praticamente banido da mídia pela suposta má influência nos adolescente norte-americanos. E é uma pena que isso aconteça ainda nos dias de hoje. Manson é um artista incompreendido pela grande massa, um artista necessário no mundo do entretenimento, em grande parte pela sua ironia de, por exemplo, tocar no assunto sobre fascismo. O que muitos não entendem é que aquilo esteja ligado a uma sátira, não a uma apologia. 


A “briga” entre bandas voltou à mídia com Oasis e Blur. A competição dos dois grupos ingleses chamou atenção para o Britpop. O Oasis ainda contava com a polêmica de seus dois principais integrantes, os irmãos Liam e Noel Gallagher, se odiarem. Se era autopromoção ou não, nunca se saberá. Mas o fato da banda não existir mais dá alguma pista ao que realmente se passa entre os dois. 


Nesse meio tempo, o rap volta a ser realmente polêmico com Eminem. O rapper branco mais famoso, não tinha autocensura, falava mal de quem quer que fosse diferente dele, incitando a violência e tirando sarro de artistas pop, como Christina Aguilera e Marilyn Manson. Talvez com tanta controvérsia e processos, Eminem deu uma acalmada. 

Já no Brasil, a polêmica começou a acontecer fortemente com os protestos contra a ditadura militar. No intuito de darem a volta na censura foi enorme o uso de metáforas e ironias. Esse é o período mais rico da história da música em termos de ideias e conteúdo. Músicas inteligentes que se transformaram em verdadeiros hinos do país. As edições do Festival da Canção foram o celeiro dos artistas mais polêmicos. Nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Zé Kéti, Geraldo Vandré foram alguns das principais figuras dessa época. As canções “Alegria, Alegria”, “É Proibido Proibir”, “Cálice”, “Caminhando (Pra não dizer que falei das flores)”, entre outras, despertaram na população a sede pelo protesto. Logo veio Ney Matogrosso, um dos poucos brasileiros que fizeram polêmica com o visual. Com sua forte presença de palco, seu figurino, seus trejeitos e sua voz tornou-se um grande showman. Raul Seixas trouxe o bom humor na hora de criticar. Ele soube como poucos usar metáforas em suas letras. Aí vieram Cazuza e Renato Russo com seus discursos afinados com seus públicos, levantando a bandeira por menos moralismo e preconceito. Anos mais tarde, suas mortes prematuras fizeram adormecer o “líder controverso”. 

E com o que se rebelar após o fim da ditadura? A liberdade de expressão foi jogada no colo dos artistas e aparentemente eles não souberam aproveitar direito. As poucas bandas que fizeram algum reboliço foram as originárias de Brasília (Aborto Elétrico, Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial) e de São Paulo (Ratos de Porão, Ira!, Titãs, Ultraje a Rigor, Garotos Podres). O Camisa de Vênus, de Salvador, era dessa turma de protestantes, e tinha em seu repertório músicas como a corajosa “País do Futuro”: “No peito um crachá, na boca um sanduiche misto / Muito pouco aqui no bolso, mas muita fé em Jesus Cristo / Quem sabe ele se zanga, desce lá do Corcovado / Passa o cajado nessa corja, Deus também fica retado”. 


Logo depois que o rap começou no país houve uma distinção entre artistas cariocas e paulistas. Se no Rio de Janeiro essa música assumiu em grande parte a diversão, em SP cantava-se sobre o cotidiano de periferias. Foram os Racionais MCs que chamaram mais atenção discutindo a opressão e a miséria entre uma infinidade de assuntos em suas músicas. Sem ter uma gravadora por trás com grandes estratégias de marketing, venderam o CD de maneira informal, sendo assim, muito difícil de se ter uma ideia da quantidade. Mas fala-se que bateram 1 milhão de cópias. 


Nos anos 90 houve bastante polêmica no mundo musical. Lobão foi um dos personagens principais nesse sentido. Depois de se livrar de processos por conta de droga e um longo período desacreditado, arriscou e ganhou. Enfrentou o mercado fonográfico, assim como os Racionais, vendendo em bancas de jornais um CD com tendências eletrônicas que vinha com uma revista. O que o fez voltar a ser relevante no mercado musical. Com um álbum pronto para lançar, Gabriel, O Pensador foi também um dos artistas solo mais polêmico dessa década. Sem contar as músicas sobre drogas e crítica social, sua música “Tô Feliz Matei o Presidente” fez parte da trilha sonora dos “caras-pintadas” contra o então presidente, Fernando Collor. É de se espantar que ele tenha conseguido lançar uma música com esse título. Será que nos EUA, autointitulado país da liberdade, ele teria o mesmo sucesso? 

Em termos de bandas, o Planet Hemp foi a mais polêmica dos anos 90. Controverso até no nome, pregando a descriminação da maconha, foram acusados de apologia, foram proibidos de tocar em vários lugares, presos, entre tantas outras coisas, numa trajetória tão curta. De lá pra cá o tema adormeceu. Só um lançamento jogou o foco novamente sobre o assunto, o documentário Quebrando o Tabu (2011). 


A última grande real discussão na música veio do outro lado do mundo, com a banda Pussy Riot. Na Rússia, a banda formada por três mulheres desafiou em março deste ano a campanha para presidência de Vladimir Putin. O tema da liberdade de expressão virou assunto principal novamente. Infelizmente, pois a liberdade não pode ser discutida, ela tem que simplesmente existir. O apoio à banda se fez em massa pelas redes sociais e entre cantores de sucesso, como Sting, Peter Gabriel, Red Hot Chili Peppers, entre tantos outros. As integrantes seguem presas, condenadas a 2 anos de prisão. 


Fora isso, convivemos hoje em dia com supostas polêmicas, agora muito mais na música pop e no rap do que em qualquer outro estilo. Um dos poucos roqueiros a incitar o debate de questões importantes além da música é o vocalista do Detonautas, Tico Santa Cruz. Mesmo assim, sua procura por causas nobres parece muitas vezes aleatória, deixando a impressão de que ele seja um “rebelde sem causa”. “O rock perdeu a aura de gênero polêmico e provocador porque isso foi sintoma de uma geração. Depois dessa geração Y, que cresceu a partir da era da internet, Rock não faz mais sentido como contestação. (Para eles) Hoje rock é som de tiozinho, de comercial de carro. Nunca essas bandas ganharam tanto dinheiro com turnê porque a galera que curtia nos 70, 80 e 90 agora é adulta e tem mais condições financeiras. E compra muita coisa – Rock Band, biografias, pôsteres, camisetas, edições deluxe de discos clássicos etc. Ou seja, a rebeldia foi capitulada pela publicidade”, compara Fabrício Rodrigues. Para ele, a polêmica atualmente é de baixo nível. Colocando dois artistas na balança, um do passado e outro atual, Fabrício desabafa, “O fato de a Preta Gil fazer mais sucesso hoje em dia que o Gilberto Gil para mim é bem polêmico”. 

Se pessoas com o corpo tatuado, piercings, homens maquiados (às vezes com vestidos) não chamam tanto a atenção, se os músicos não investem em composições de protesto, como será o perfil desse artista polêmico hoje em dia e no futuro? Existe espaço para as canções de amor, a saudade, a curtição na balada. Mas ainda há muito com que se rebelar. Sempre de forma inteligente, com mensagens relevantes, quanto mais irônico melhor. O grande problema é uma das piores invenções da sociedade recente, o politicamente correto. “Ser polêmico hoje em dia pega mal. O que é uma pena, porque no fundo todo mundo curte uma polêmica. Mas tem tanta patrulha politicamente correta por aí que, se bobear, sujeito te processa. Imagina o Camisa de Vênus lançando hoje “Sílvia” e cantando que ‘todo homem que sabe o que quer / pega o pau pra bater na mulher’? Ia dar guerra civil!”, conclui Fabrício. 

A música precisa de figuras fora do padrão que se destaquem, que sejam um espelho da sociedade, que causem desconforto e autorreflexão, cantando temas propícios ao debate, com conteúdo e talento para abrir portas para os que ainda virão. Só assim a arte avança para o futuro. E o público amadurece. 

(por Bruno Maia)

Comentários

  1. Legal o texto, lembrou de bons e pertinentes exemplos. Mas acho que confundiu demais o "ser polêmico" com o ser politizado, e acabou jogando tudo num saco só.

    Como ele mesmo adianta, ser polêmico o Axl Rose é, o 2Pac era, a Britney Spears pode ser, até o Latino pode. Isso não é importante, e não acho que a música precise de "polêmica". O ser "polêmico" como um fim em si mesmo, acho algo mais prejudicial que outra coisa... embora, vá la, seja uma espécie de "entretenimento" a muitos.

    Passar uma mensagem com sua ARTE, sua crítica, sua postura... inclusive, ser INOVADOR nessa postura... AÍ SIM, o assunto – o estilo, a cena – ficam mais interessantes! Mas discordo de que FALTA isso... pelo CONTRÁRIO, o texto foi bom em mostrar personagens clássicos do passado, mas também DO PRESENTE (anos 80, 90, 00 pra cá), ativos nessa área. Muitos no próprio Rock (embora não exclusivamente, e nem assim deve ser), mostrando o estilo ativo e dinâmico nesse sentido.

    Eu faria OUTRA abordagem. Não só apontaria os novos nomes de valor (digo, aqueles que vão além da polêmica barata, como um fim em si mesmo)... como apontaria a ATUALIDADE dos artistas e canções de protesto DO PASSADO. Foi feito lá atrás, mas o tema é presente! Coisas escritas no contexto da psicodelia hippie, ou da Guerra Fria, da ditadura, etc. seguem assustadoramente atuais... seguimos com tanto ATRASO, mesmo com tantos avanços e mudanças!

    Por fim, o discurso fácil de "culpar" uma possível onda "politicamente correta", na boa, para mim não cola! O "politicamente correto", alvo de chacota, serve às minorias e aos que protestam, jamais para censurá-los. Um artista SABE USAR e contextualizar sua MENSAGEM com mais ou menos sutileza e inteligência, conforme a ocasião pede (por isso admiramos de Clash a Chico Buarque, de Ratos de Porão a Muse ou SOAD, de Racionais a Marilyn Manson).

    Sinto se o Camisa de Venus (pego um show do Marcelo Nova sempre que posso, ser impagável!) não conseguiu se renovar... mas uma coisa nada tem a ver com a outra.

    Ou queremos “polêmica” num nível Dave Mustaine, culpando Obama por atentados, apoiando Romney e prestando um ENORME DESSERVIÇO ao Rock e às letras de protesto que ajudou a construir em outro momento?!

    Você NÃO precisa SER polêmico... você pode PROVOCAR uma polêmica CONSCIENTE, se sabe o que É e o que QUER com sua arte! (Reais) artistas sempre fizeram e sempre saberão fazer isso! Digo, os que valem a pena (e aqui, mais que nunca, não falo de “melhor”ou “pior”, nem divido os estilos e nem falo de gosto pessoal... falo de uma arte com um fim, um objetivo, muito além da polêmica fácil e barata).

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  2. A falta de músicos contestadores é um sintoma da sociedade atual e isso por si já mostra que algo está errado e muito errado. No meio artístico atual nos tempos atuais todo mundo fala bem do trabalho de todo mundo não tem críticas e etc.

    O que acontece é que atualmente - isso na minha visão - não tem mais espaço para um novo gigante, e a mídia absorve tudo e massifica, ou seja, esvazia o real sentido desse ou daquele movimento e a década de 1960 que o diga.

    Os músicos de atitude ainda estão por ai, mas não aparecem na grande mídia que nos os quer lá por motivos óbvios. E o que está na mídia hoje não representa nada, ou seja, não tem relevância, nenhum significado são apenas cópias dos enlatados EUA ou alguém acha que bandas como: Fresco, Nx zero, Restart entre outros representam o que tem de mais baixo na sociedade.

    Os mais jovens ainda gostam de rock, mas não tem identidade com ele, pois hoje as coisas são rápidas, efêmeras e as bandas que foram citadas aqui, eles representaram uma geração que acima de tudo se identificava com os discursos de caras como: Bob Dylan, Legião Urbana, Geraldo Vandré, Led Zeppelin e vários outros.

    Atualmente não rola mais esse magnetismo artista e ouvinte por isso vem a deterioração desses laços que faziam caras como Neil Young e demais supra citadas vender milhões cópias até hoje, se eu não estiver errado.

    Um dado importante na década de 1960, os jovens eram mais intelectualizados porque havia um grau de instrução maior, pois quem estava na rua, nas barricadas eram os universitários e hoje os universitários vão para as faculdades e universidades da vida por causa de festinhas,bares, discutir bbb na sala de aula e isso já diz muito porque o lugar menos frequentado é a biblioteca e o conhecimento para você contestar vem de onde mesmo?

    Essa carência reclamada no texto é fruto de diversas falhas na nossa sociedade que é totalmente aculturada e importa todos os tipo de enlatados do EUA e joga no mercado um genérico estragado, ou seja mal copiado, e um exemplo forte disso vem do governo e dos empresariado nacional que imitam tudo o que vem daquele país e depois estranham porque não dá certo.

    O rap ainda tem voz de protesto porque é o pessoal da periferia falando do dia a dia deles que nunca muda é sempre o mesmo ou pior dependendo do lugar onde o cidadão está vivendo. A classe média já é o contrário,pois como os caras vão ter base para fazer críticas desse tipo de problema se eles vêm das melhores escolas, nunca passaram fome e blá blá e vão falar de uma realidade que eles desconhecem e preferem nem conhecer e muitos tem até ódio de quem está lá embaixo.

    Tem muita coisa para protestar, mas não precisa ser apenas o artista para conduzir as massas.

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  3. (Parte 1)

    Porque a música está chata?
    Tem alguns fatores:

    ► Tecnologia: acelerou o consumo da música e acabou com a estrutura de produção de significados e bandas, apesar de ter popularizado o patrimônio do rock.

    ► Modelo econômico: ... e estamos sem um novo modelo de lançamento, sustento e propagação do rock até então ... nos apoiamos num modelo antigo que está falido e se desintegrando.

    ► Ideologia contemporânea: o politicamente correto tem sido um bloqueio ao rock, pois a arte se apropria da liberdade para criar. Entretanto, a enfase atual é sobre a igualdade. Daí, surge um nome: o politicamente correto, que estraga com tudo. Enquanto antes tudo era free (liberdade). Agora, tudo é regulado (politicamente correto).

    No passado, vivemos um tempo de muita enfase na liberdade 1960-2000.
    No presente, parece que estamos numa era da enfase na igualdade 2000-2012.
    E isso é MUITO chato.

    A liberdade tem a ver com expressão e arte se beneficia disso.
    Mas a igualdade e o politicamente correto só multiplicam o moralismo e a chatice.
    Não é só a música que está chata. As pessoas também estão.
    Entre no Facebook e veja. Só hipocrisia e chatice.

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  4. (Parte 2)

    Acho tb que um grande problema da música e da geração atual é o foco na tecnologia. Não é um foco em idéias, expressão, comportamento e no homem. É um foco nas máquinas e técnica. Vejo um pouco assim também.

    Acho que UM DOS vácuos na geração atual é essa: ao invés de gente-gente .. é gente-máquina ou máquina-gente. O disco do Foo Fighters ano passado, todo analógico, acho que foi uma manifestação dessa percepção. É um disco que visou o trabalho, ensaio e afinamento entre os músicos sem recorrer tanto à tecnologia, produtores, engenheiros de som e masterizadores salvando o som. Tipo um som imperfeito, mas feito de gente pra gente. O rock também tá muito engessado nessa coisa do teste do tubo-de-ensaio. Não se pode errar num mercado tão incerto e competitivo. Todos com medo. Inclusive os que deveriam andar com fitas demo demonstrando que podem estourar.

    O que mata hoje, além da tecnologia, é essa merda de politicamente correto dos direitos humanos, direitos do consumidor, direitos do animais … direitos de tudo quanto há … falamos em “direito”, mas, na verdade, esse nome é a legislação que dá pra algo que é, na verdade, o moralismo de “n” facções sociais.

    O mundo está lotado de MORALISTAS dos direitos humanos.
    Tem como sair algo rebelde e divertido daí? Não.
    Só chatice.

    Não estou dizendo que temos que viver num mundo sem regras e na anarquia. Isso é muito utopia libertária do Marxismo Econômico e anti-materialismo dos anos 1960-1980? Muito bem representado nessa foto aqui: http://s52.radikal.ru/i137/1007/90/cb6c1054cea1.jpg .

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  5. (Parte 3)

    O ser humano precisa de regras e isso é inerente a ele, devido à racionalidade. Se não, não tinha problema de trepar com as cachorras, mães, tias, irmãs ... como diz uma música dos Mamonas Assassinas comparando os humano com os animais irracionais. Isso não vem de uma instituição, mas do próprio indivíduo.

    Lembremos que: a moral vem da FAMÍLIA e da RELIGIÃO. Só que o politicamente correto multiplica isso fazendo vir regras e moralismos torpes do ESTADO, do MERCADO e ainda do 3º SETOR (ONG's, fundações). O que era multiplicado por 2 (família e religião) agora é multiplicado por 5 (estado, mercado, 3º setor). Por isso, o mundo está tão chato.

    Alguém tem que fazer o papel moralizante e de regras na sociedade: família e religião. O Estado deve só coibir os casos mais graves dentro disso e restringir a liberdade dos que passam dos limites (cadeia). Mas o problema é que o estado está restringindo a família, a religião e a liberdade individual de quem está DENTRO dos limites aceitáveis e não FORA. Tanto que, direitos humanos no Brasil só serve pra prender policial e pra soltar bandido. Tô mentindo?

    Penso que, cada um tem a sua função na vida social. E alguns estão indo além do seu quadrado.
    Reclamam que a religião está entrando na política/estado, mas isso também é efeito de um desequilíbrio gerado pelo estado entrar na família/religião.

    É possível ter um equilíbrio nisso: o Martin Luther King era pastor da Ebenezer (religião/família) e era militante dos direitos raciais (politicamente correto/estado). O PT é direitos humanos (politicamente correto/estado), mas só existe porque a Igreja Católica injetou dinheiro, apoio e até deu abrigo pros sindicatos se reunirem dentro das igrejas nos anos 80 (religião/família).

    Enquanto a liberdade solta a arte pra ela ser o que quiser, a igualdade, instrumentalizada no politicamente correto, engessa a arte. E não só a arte, mas as pessoas.

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  6. (Parte 4)

    Quer ver o moralismo na arte?

    O cúmulo do politicamente correto:

    Born this Way Foundation focará em trolls da internet
    http://www.rdtgaga.com/2012/08/born-this-way-foundation-focara-em.html

    A mulher quer combater os comments mal-educados na net e censurá-los.
    Podia começar educando os monstrinhos dela, né?

    LIl Wayne.fala que não gosta de uma cidade e tem que pedir desculpa por isso.
    http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/musica/2012/08/22/307206-critica-do-rapper-lil-wayne-a-nova-york-causa-mal-estar-entre-politicos

    Lady Gaga manda recado para celebridades que usam o Twitter para cometer bullying
    http://www.vagalume.com.br/news/2012/08/24/lady-gaga-manda-recado-para-celebridades-que-usam-o-twitter-para-cometer-bullying.html

    Não estou dizendo que é errado lutar contra o bullying e ser a favor de minorias. Mas estou dizendo que existem, sim, utopias igualitárias hoje em dia. E o politicamente correto é uma delas. Ninguém é tão correto assim. E ninguém quer o moralismo multiplicado por 5: família (1), religião (2), estado (3), mercado (4) e 3º setor (5). No caso, é até pior pior pq ele tá sendo multiplicado por 6: tb pela arte. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Essa utopia é inerente ao iluminismo: por um mundo onde sejamos totalmente livres (liberdade), socialmente iguais (igualdade) e humanamente diferentes (fraternidade).

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  7. Apesar de eu discordar de alguns pontos, o comentário do "yo" foi mais interessante que o texto. O texto misturou alhos com bugalhos e não respondeu solidamente uma pergunta básica antes de começar a discorrer os argumentos? pq a música precisa de polêmica? precisa mesmo? música por si não basta? esse papo de rock-atitude a grande maioria das vezes foi algo montado, forçado, assim como os exemplos que ele deu entre presente-passado, que pra mim são praticamente iguais. É tudo por causa da indústria, que precisa de assunto pra continuar expondo seus produtos. Quando a polêmica é causada por alguma letra que toca em assunto delicado (e quando isso é feito de forma genuína, e não unicamente pra chamar atenção), tudo bem, posso até concordar que ela tenha sua importância. Mas causar polêmica por hábitos estranhos ou contestadores dentro e fora do palco, o que isso agrega? isso gera mesmo reflexão? fosse assim, tantas coisas já teriam se resolvido no nosso mundo. O Marylin Manson...cara, pra mim não existe nada mais falso do que aquilo.

    "No meio artístico atual nos tempos atuais todo mundo fala bem do trabalho de todo mundo não tem críticas e etc."

    Discordo plenamente. Estava assistindo o festival de Monterey 67 em DVD e vc vê como é impressionante como os músicos prestigiavam uns aos outros, estando na platéia, aplaudindo, anunciando a banda que ia entrar. Essa cooperação e admiração mútua era muito maior antigamente.

    Abraço,
    Ronaldo

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  8. Kkkkkkkkkkkkkkkkkk, olha o cúmulo do moralismo politicamente correto. Moralismo de direitos humanos é foda, né?

    Lady Gaga forma equipe para aconselhar fãs antes de show da turnê "Born This Way"

    http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/musica/2012/12/29/316351-lady-gaga-forma-equipe-para-aconselhar-fas-antes-de-show-da-turne-born-this-way

    Pra mim que isso era serviço da ciência (saúde mental e psico), do estado (idem) e da religião (idem + relacionamentos). Tá vendo como multiplica o doutrinamento e o moralismo?

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  9. Pra finalizar a discussão e saber porque o politicamente correto, marxismo cultural, multiculturalismo e QUALQUER ideologia de igualdade e equidade são nocivas à arte (liberdade, expressão, ser diferente)

    Achei essas aspas hoje.
    Abraços

    “A liberdade é o direito a ser diferente; e a igualdade é a proibição de o ser.” — Nicolás Gómez Dávila
    “A liberdade é o direito a ser diferente; e a igualdade é a proibição de o ser.” — Nicolás Gómez Dávila
    “A liberdade é o direito a ser diferente; e a igualdade é a proibição de o ser.” — Nicolás Gómez Dávila
    “A liberdade é o direito a ser diferente; e a igualdade é a proibição de o ser.” — Nicolás Gómez Dávila
    “A liberdade é o direito a ser diferente; e a igualdade é a proibição de o ser.” — Nicolás Gómez Dávila
    “A liberdade é o direito a ser diferente; e a igualdade é a proibição de o ser.” — Nicolás Gómez Dávila
    “A liberdade é o direito a ser diferente; e a igualdade é a proibição de o ser.” — Nicolás Gómez Dávila
    “A liberdade é o direito a ser diferente; e a igualdade é a proibição de o ser.” — Nicolás Gómez Dávila
    “A liberdade é o direito a ser diferente; e a igualdade é a proibição de o ser.” — Nicolás Gómez Dávila

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  10. Meus parabéns ao autor pelo sagaz olhar crítico sobre o tema e pelo notável conhecimento da história da música!

    Congratulações especiais também por ser o único brasileiro que li tratando o trabalho feito pelo Marilyn Manson de forma meritória. Manson é um artista camaleônico repudiado pelos que têm a mente obtusa demais para entender sua mensagem e idolatrado pelos poucos que conhecem a riqueza e profundidade de sua arte. Seus álbuns e suas apresentações evocam Nietzsche, Charles Baudelaire, Júlio Cesar, Alejandro Jodorowski, Salvador Dalí, Crowley, John Kennedy, Jesus Cristo, Marlene Dietrich, Lewis Carroll, Edgar Allan Poe, Luis Buñuel, Vladimir Nabokov, Huxley, David Bowie entre outros.
    Manson buscou influencias na bíblia, no satanismo, na pintura, no tarô, na numerologia, na Alemanha nazista, na Paris do século XIX , no burlesco e no Vaudeville , na franco-maçonaria, no cinema, na alquimia, na cabala e na mitologia de diversas culturas. Manson é um artista questionador. Conforme o autor bem explanou, Manson é um “artista necessário no mundo do entretenimento”. O problema é que em um mundo cada vez mais alienado e preocupado com reality shows e fofocas, artistas desse tipo acabam perdendo espaço.

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