The Wallflowers: crítica de Glad All Over (2012)

Este ano de 2012 mostrou-se bastante prolífero para os Dylan. Primeiro, Bob, o membro mais conhecido da família, lançou o seu 35º álbum de estúdio, Tempest, depois de uma espera de três anos por parte dos fãs do velho trovador. Agora é a vez de Jakob, seu filho mais famoso e o único que seguiu os passos do pai, apresentar ao mundo a nova empreitada de sua banda, o Wallflowers.

Para quem não lembra, o Wallflowers fez um bom sucesso durante o final dos anos 90 e começo dos 2000, principalmente em seu país natal, os EUA. Bringing Down the Horses, álbum multiplatinado lançado em 1996, foi o grande responsável por mostrar ao mundo que Jakob Dylan não merecia atenção apenas por ser o filho do velho Bob.

Assim como o pai, Jakob mostrou um grande talento como compositor, entregando belas canções como "6th Avenue Heartache", "The Difference" e o maior sucesso do grupo até hoje, "One Headlight". Além disso, a sequência de bons lançamentos e o cover de "Heroes", composta e imortalizada por David Bowie, mantiveram o nome dos Wallflowers em evidência por um bom tempo.

Mas, nem tudo são flores (sacaram o trocadilho?) na vida, e a banda deu uma pausa por tempo indeterminado em meados de 2006, época em que seu contrato com a antiga gravadora, a Interscope, havia terminado e as duas partes não mostraram interesse em renová-lo. Após Jakob lançar dois discos solo (Seeing Things em 2008 e Woman + Country em 2010) e Rami Jaffee (tecladista e único membro original, ao lado de Dylan) ter saído em turnê como músico de apoio dos Foo Fighters, o grupo resolveu voltar reformulado com o ótimo Glad All Over, lançado em outubro desse ano pela Columbia Records.

 

A banda toda mostra-se extremamente competente e entrosada nesse trabalho. Greg Richling forma a cozinha com Jack Irons, conhecido baterista que já tocou com nomes como Pearl Jam, Red Hot Chilli Peppers e Joe Strummer. A dupla faz um ótimo trabalho, com linhas de baixo eficientes e criativas encaixando-se harmoniosamente aos arranjos diretos e certeiros de Jack (sua marca registrada em todos os trabalhos em que participou). Além disso, o guitarrista Stuart Mathis soube dosar bem sua técnica ao feeling (que predomina no álbum) com grande personalidade e bom gosto para timbres e efeitos.

O som do Wallflowers sempre teve bastante espaço para as teclas, e Rami Jaffee aproveite-se bem dessa característica, sendo, mais uma vez, um dos destaques, com seus arranjos sempre trabalhando em prol da música, sem utilizar sua técnica de maneira equivocada. Seja no piano ("Love is a Country" é o melhor exemplo), órgão (os arranjos de "Reboot the Mission" são sensacionais!) ou em timbragens mais simples e discretas de teclado (como em "Misfits and Lovers" e "Have Mercy on Him Now"), Rame mostra que sua falta seria bastante sentida caso não houvesse voltado ao grupo (fato que quase ocorreu, pois o tecladista havia anunciado sua saída em 2007).

Outro fator que contribui para o alto nível do trabalho é a participação mais do que especial do grande Mick Jones, guitarrista e vocalista de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos e influência assumida de Jakob Dylan, o The Clash. Mick toca guitarra em "Misfits and Lovers" e na já citada "Reboot the Mission" (sendo que ele também empresta seus dotes vocais nessa última). Jakob canta na letra dessa mesma canção: "Welcome Jack, the new drummer / He jammed with the mighty Joe Strummer / I see Rami, Greg and Stewart / I've to say, Jay, we've had it coming!".

Não por acaso, o disco traz uma bem vinda adição de elementos mais grooveados e até mesmo dançantes, algo como o que o próprio Clash fazia no começo dos anos 80, na fase pós London Calling, mas com toques mais atuais. Nada que descaracterize o estilo do Wallflowers, apenas veio para agregar mais elementos ao resultado final.

A produção é muito eficaz no que se propõem. Nenhum instrumento se sobressai em relação a outro, todos têm seu espaço. É fato, porém,  que todas as canções trabalham para Jakob, mas não de forma forçada. Sua interpretação cheia de sentimento e profundidade e sua voz rouca conseguem, de maneira natural, chamar todas as atenções para si. Além disso, sua grande habilidade para criar belas letras (como as de "Love is a Country" e "Constellation Blues") mais uma vez torna-se a cereja do bolo. Igualzinho ao que acontece com o Dylan pai.

Depois de ouvir Glad All Over o fã do Wallflowers com certeza ficará satisfeito com a volta do grupo. A adição de sangue e pique novo na banda trouxe elementos que podem contribuir para o grupo chamar atenção daqueles que não ligavam muito para sua música. E a qualidade inegável do trabalho pode ser usada como mais um argumento para aqueles que acreditam que talento vem de berço.

Nota 7
 

Faixas:
1. Hospital for Sinners    
2. Misfits and Lovers     
3. First One in the Car
4. Reboot the Mission     
5. It's a Dream 
6. Love is a Country
7. Have Mercy on Him Now
8. The Devil's Waltz
9. It Won't Be Long (Till We're Not Wrong Anymore) 
10. Constellation Blues
11. One Set of Wings 


(por Sergio Fernandes)

Comentários

  1. Seeling,
    só tu mesmo pra ter peito pra fazer uma resenha tão fora DE PAUTA assim da NME, Mojo, Rolling Stone, Pitchfork e afins.

    Vc é um cara realmente especial e venho ao seu blog mais do que os outros que tu indicou (tipo o Lucio Ribeiro e o TMDDQA, dos quais eu sigo já há muito tempo).

    Depois dá uma olhada no novo do Deftones. A banda está numa fase muito boa e pouco reconhecida pela mídia especializada, que prefere gastar tempo falando de Foster the People, Fun, Vaccines, Grizzly Bear.

    O disco deles de 2010 foi aclamado pela Kerrang como nº1 do rock, naquele ano. Até assustei .. mas merecido, com a Melissa auf der Maur bem na cola (em 8º lugar), outra que passa batido pelos metaleiros em geral e é uma super musicista ex-Hole e ex-Smashing Pumpkins que grava discos com participações de Danzig, James Iha (Smashing Pumpkins), Eric Erlandson (Hole), Josh Homme (Queens of the Stone Age), gente do Helmet, Nine in Nails e Marilyn Manson.

    O 1º disco dela é só de covers do Black Sabbath: http://eddygrungy.blogspot.com.br/2001/01/melissa-auf-der-maur.html
    Se tu gosta de Rush e progressivo, vai curtir ela.

    O Deftones também fez um disco de covers que vale à pena dar uma olhada pela ousadia. Tem cover de Cocteau Twins, Cars, Cardigans, Duran Duran e Sade .... Parecendo o Metallica que já se rendeu a um cover do Garbage.

    Metallica acoustic "I'm Only Happy When It Rains" (Garbage Cover)
    http://www.youtube.com/watch?v=3-zCkErRZSg

    Deftones – Covers (2011)
    Deftones – B-Sides & Rarities (2005)

    01. Drive (The Cars)
    02. Caress (Drive Like Jehu)
    03. Please Please Please Let Me Get What I Want (The Smiths)
    04. No Ordinary Love (Sade)
    05. Savory (Jawbox)
    06. Do You Believe (The Cardigans)
    07. Simple Man (Lynyrd Skynyrd)
    08. Ghosts (Japan)
    09. The Chauffer (Duran Duran)
    10. If Only Tonight We Could Sleep (The Cure)
    11. Sleep Walk (Santo & Johnny)

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  2. Obrigado pelo elogio, mas esse texto não é meu, mas sim do Sergio Fernandes, um dos novos colaboradores do blog.

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  3. Entendo.
    Mas dá na mesma porque tu, como editor, deixa esse material circular aqui. É um filtro muuuuuuuuito diferente do Whiplash por exemplo. Hehe

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  4. Sim, tem o trabalho do editor por trás, e que não é pequeno.

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