Cannibal Corpse: crítica de Torture (2012)

Erra, e feio, quem pensa que há anos o Cannibal Corpse venha tão somente repetindo uma fórmula pré-estabelecida de death metal. Muito pelo contrário. Na contramão de uma tendência pouco variável às bandas do estilo, os canibais americanos de Buffalo, Nova York, são um dos únicos que parecem conseguir se superar a cada novo trabalho. A materialização disso é Torture, melhor álbum da banda desde, pelo menos, The Wretched Spawn (2004). 

Muito diferente - e, inclusive, bem mais difícil - do que constantemente reeditar uma sonoridade é transformá-la em identidade. O que Alex Webster e companhia fazem com extrema eficiência é justamente isso. Não de hoje, mas desde 1988, quando o que atualmente se conhece como death metal ainda adquiria seus primeiros contornos em meio a um emaranhado de nomenclaturas. Tudo bem, Death, Possessed ou Morbid Angel, por exemplo, extrapolaram e foram geniais. A partir do que aprenderam com Venom e Hellhammer/Celtic Frost, criaram o gênero. Porém, coube ao Cannibal Corpse, e a alguns outros nomes, já no início dos 90's, formatar e ditar os rumos que o mesmo tomaria. 

Em Torture, passadas já duas décadas do clássico Tomb of the Mutilated (1992), o que se vê é um Cannibal Corpse firme na luta contra a estagnação. E, na medida do possível, obtendo sucesso nessa empreitada. Lançado no início do ano, em 13 de março, Torture, assim como os dois últimos trabalhos - Evisceration Plague (2009) e Kill (2006) - teve Erik Rutan (Hate Eternal, Ripping Corpse, Morbid Angel) como produtor. Desnecessário tecer maiores comentários a respeito da capacidade desse cidadão em extrair um dos sons mais bacanas em todo o cenário death metal atual. 

O álbum tem início com "Demented Aggression", que no começo tem ares de Slayer, mas logo desemboca em uma levada de bateria na velocidade da luz e afasta um pouco a semelhança. O fato é que a guitarra de Pat O'Brien certamente absorveu muito do que vivenciou nos shows em que esteve ao lado de Kerry King, substituindo o enfermo Jeff Hanneman. O'Brien que, juntamente com Rob Barrett, totalmente readaptado à banda no que já é seu terceiro disco consecutivo após o retorno, tem desempenho primoroso. A dupla acertou a mão e o resultado é um desfile de riffs animalescos concentrados em pouco mais de 40 minutos. Outros destaques imediatos são "Sarcophagic Frenzy", "As Deep As the Knife Will Go", "Caged... Contorted" e "Crucifier Avenged". 

Individualmente, Paul Mazurkiewicz dá uma aula de pedal duplo e investe em um som de bateria muito bem timbrado. Um músico deveras subestimado, eu diria. Já George "Corpsegrinder" Fisher me faz não tirar da cabeça a dúvida: quem é mesmo Chris Barnes? A despeito da importância de Barnes ao Cannibal como membro fundador e à cena em geral, não dá para comparar os dois vocalistas. Corpsegrinder sobra tranquilamente. Aliás, faz-se necessário sublinhar de forma especial uma canção e um integrante: "Scourge of Iron", oriunda da mente doentia do líder e baixista Alex Webster, uma espécie de Steve Harris do death metal. Pilares do disco e da banda, respectivamente. 

A capa, ainda que sem a inspiração de outrora, mais uma vez ficou a cargo de Vince Lock, que desenha para a banda desde os primórdios. As letras, claro, não fogem ao universo gore habitual. Sempre bem pensadas e encaixadas nas linhas de guitarra. 

Ressalte-se ainda que, obviamente, o Cannibal Corpse não propõe se reinventar. No entanto, por mais que em determinado momento algum aspecto de sua música soe como algo outrora já feito, hoje sua execução é amplamente superior. Técnica e conceitualmente. 

Nota 8,5

Faixas: 
1 Demented Aggression 3:14 
2 Sarcophagic Frenzy 3:42 
3 Scourge Of Iron 4:44 
4 Encased In Concrete 3:13 
5 As Deep As The Knife Will Go 3:25 
6 Intestinal Crank 3:54 
7 Followed Home Then Killed 3:36 
8 The Strangulation Chair 4:09 
9 Caged... Contorted 3:53 
10 Crucifier Avenged 3:46 
11 Rabid 3:04 
12 Torn Through 3:11

(por Guilherme Gonçalves)

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