Delain: crítica de We Are the Others (2012)

É interessante como o boom de bandas com vocais femininos no metal, que alcançou o seu auge na primeira metade da década de 2000 através de nomes como o Nightwish, influenciou toda uma cena que veio depois. Mas ao contrário destes grupos “pioneiros” (entre aspas mesmo, porque desde a década de 1970, com Runaways e Girlschool, as mulheres sempre marcaram presença no som pesado), que tinham uma onipresente característica gótica (além do já citado Nightwish, podemos relembrar Theatre of Tragedy, Lacuna Coil, After Forever e Tristania, só para ficar em alguns), os expoentes atuais do estilo não escondem um flerte aberto com a música pop.

Este é o caso dos holandeses do Delain, cujo terceiro disco, We Are the Others, está sendo lançado no Brasil pela Hellion Records. Capitaneado pelo tecladista Martijn Westerholt e tendo a bela Charlotte Wessels à frente, o grupo soa muito à vontade em seu novo álbum. Transitando com absoluta naturalidade entre o metal e o pop, o Delain mostra em We Are the Others que é possível unir os dois estilos em uma música que não tem nada de descartável, muito pelo contrário.

O bom gosto é um dos principais destaques do trabalho. Tudo é muito bem feito, com elementos que entram na medida certa. Há pequenos flertes com o eletrônico, assim como o peso das guitarras toma à frente em alguns momentos. Mas são a voz e a interpretação de Charlotte, casadas com as melodias e orquestrações criadas por Westerholt, que fazem We Are the Others ser o disco mais completo da carreira do Delain.

A faixa de abertura, “Mother Machine”, surpreende pela agressividade. As composições tem uma grande qualidade, que é a ausência das características pomposas e grandiosas tão comuns ao Nightwish e ao Epica, por exemplo. É tudo mais refrescante, gerando mais espaço para os instrumentos aparecerem. É o clássico “menos é mais” aplicado à música. Refrãos marcantes são uma constante, e o melhor exemplo disso é a bela faixa-título. No outro extremo, quando tenta ser mais agressivo do que o seu DNA permite, o Delain erra a mão, como fica claro em “Where is the Blood”, com a participação de Burton C. Bell, do Fear Factory.

O grande mérito de We Are the Others é ser um álbum de metal sinfônico forte e atual, sem os exageros tão comuns ao gênero. A sonoridade do disco merece destaque, com uma produção exemplar feita por Jacob Hellner (Rammstein), Fredrik Thomander e Anders Wikström (Scorpions).

Com uma sonoridade agradável e um tracklist bastante sólido, We Are the Others é, provavelmente, o melhor disco do Delain, e prova que, quando a equação vem acompanhada de talento, a união entre o pop e o metal pode gerar belos frutos.

Nota 8

Faixas
Mother Machine
Electricity
We Are the Others
Milk and Honey
Hit Me With Your Best Shot
I Want You
Where is the Blood
Generation Me
Babylon
Are You Done With Me
Get the Devil Out of Me
Not Enough

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