Led Zeppelin: crítica do livro Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra, de Mick Wall


Tudo que cerca o Led Zeppelin, mesmo passados mais de 30 anos do encerramento das atividades da banda com o falecimento do baterista John Henry Bonham em 25 de setembro de 1980, continua sendo superlativo. Basta relembrar da comoção que foi o show realizado na O2 Arena em dezembro de 2007 e os impressionantes números de venda que Celebration Day, o registro dessa apresentação, ao redor do planeta quando do seu lançamento, em 19 de novembro do ano passado.

Pois bem. Uma história tão grandiosa e repleta de lendas e mistérios como a vivida por Jimmy Page, Robert Plant, John Paul Jones, John Bonham, o manager Peter Grant, seu assistente e leão de chácara Richard Cole e todos que cruzaram o caminho do Led Zeppelin em seus pouco mais de dez anos de vida merecia um registro à altura. Ele existe, e se chama Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra, biografia escrita pelo jornalista inglês Mick Wall lançada originalmente na Europa e nos Estados Unidos em 2008 e um ano depois aqui no Brasil.

Mick Wall é um dos jornalistas de rock mais conhecidos e respeitados do Reino Unido. Iniciou a sua carreira na extinta revista Sounds em 1977. Passou pela Virgin Records, fez parte da equipe que criou a Kerrang!, foi editor da Classic Rock e é presença frequente em diversos documentários e programas sobre música. Além disso, iniciou em 1986 uma bem sucedida carreira como escritor, retratanto nas páginas de seus livros as histórias de ídolos como Ozzy Osbourne, Guns N’ Roses, Status Quo, Bono e diversos outros. São de Wall os dois principais livros publicados até hoje sobre o Metallica (Enter Night - Metallica: The Biography, lançado em 2012 no Brasil com o título de Metallica: A Biografia) e Iron Maiden (Run to the Hills: The Authorised Biography, obra inexplicavelmente ainda inédita em nosso país, conhecido em todo o planeta por ser o lar de uma das maiores e mais apaixonadas legiões de fãs do Maiden - alô editoras, abram o olho!).

Quando os Gigantes Caminham Sobre a Terra saiu por aqui em uma belíssima edição publicada pela Larousse. Com capa dura - diferente da original -, papel diferenciado e impressão primorosa de suas 520 páginas, é um deleite para qualquer fã de rock. Mick Wall conta a história sempre partindo de flashbacks montados a partir de sua imensa pesquisa, entrevistas e depoimentos. A prosa de Wall, escritor de mão cheia e que sabe como prender o ouvinte, faz a já fantástica trajetória do Led Zeppelin ficar ainda mais mítica.

Partindo do início do grupo, do exato momento em que Jimmy Page se viu sozinho nos Yardbirds e saiu em busca dos músicos para montar a banda dos sonhos que tinha formatado em sua mente, Wall conta, com grande riqueza de detalhes, tudo o que envolveu o Led Zeppelin em sua pouco mais de uma década de vida. Estão no livro os triunfos, os sucessos, e também o lado negro do quarteto, seja nas depravadas e antológicas experiências com groupies, no consumo industrial de bebidas e drogas, na violência e truculência com que Peter Grant e Richard Cole tratavam qualquer pessoa que cruzasse seus caminhos.

 

Um dos maiores méritos do livro de Wall é mergulhar, de maneira inédita, no interesse de Jimmy Page pela obra de Aleister Crowley e o ocultismo, tão comentado mas pouquíssimo documentado. O livro dedica um longo capítulo, com mais de 50 páginas, para esmiuçar a fundo o envolvimento de Page com Crowley e a magia, e em como a paixão do guitarrista pelo assunto influenciou a carreira da banda. Esse capítulo é exemplar, lançando luz sobre um aspecto da vida de Page sempre cercado por sombras.

O retrato do grupo no auge, hipnotizando plateias em turnês gigantescas pelos Estados Unidos durante a primeira metade da década de 1970 também demonstra a razão que faz do Led Zeppelin uma banda gigantesca e profundamente influente na cultura norte-americana até hoje. Apesar de ingleses, sobre a orientação do astuto e competente Grant o grupo focou todas as suas forças no início da carreira no mercado americano, e essa decisão se mostrou acertada, com os discos do Led batendo recordes e estabelecendo novos padrões de vendas, e também de público, não só nos Estados Unidos, mas em todo o planeta.

Mick Wall não esteve preso a nenhuma limitação ao fazer a sua pesquisa para escrever Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra. Isso faz com que o livro não se furte de documentar o quão profundos foram os problemas de toda a banda, e também de Peter Grant e Richard Cole, com as drogas. Page e Bonham sempre foram os mais descontrolados, vivendo a persona de rock stars ao extremo, enquanto Plant e, principalmente, John Paul Jones, eram mais controlados - pero no mucho. O vício de Jimmy Page em álcool, cocaína e heroína o levou ao fundo do poço durante a década de 1980, a forma que o músico encontrou para superar a morte do parceiro de banda e de vida, Bonzo.

A vida pós-Led dos músicos também merece muita atenção de Wall. Esmiuçando a carreira solo de Robert Plant, mostrando o trabalho de produtor e arranjador de John Paul e relatando a busca por um novo caminho de Page, o livro demonstra como, apesar de separados, os três músicos sempre tiveram os seus destinos cruzados ao longo dos anos. É possível perceber, ao chegar ao fim da leitura, as razões que fazem com que Plant não queira retomar o seu posto e reativar a banda ao lado de Page, e, ao entender os motivos do vocalista, é impossível não simpatizar com o seu lado.

Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra é a melhor biografia sobre uma banda de rock já publicada, superando até mesmo The Beatles, o gigantesco tratado escrito por Bob Spitz e que conta com quase 1.000 páginas.

Se você gosta de música, de rock, de literatura, ou simplesmente de uma jornada épica e que beira o inacreditável, irá se deliciar com Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra.

Recomendadíssimo!

Comentários

  1. Excelente livro, conta com muitos detalhes a história da maior banda da história.Pena que Jimmy não tenha gostado muito do resultado final e a biografia acabou não sendo autorizada, mas isso não retira de modo algum os méritos da obra.

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  2. Concordo plenamente. É disparada 'a melhor biografia sobre uma banda de rock já publicada'.

    Livro completamente fascinante. Demorei quase um ano para ler, pois sempre voltava e relia os capítulos para tentar absorver o máximo possível, além de ir pesquisando as inúmeras referências que nos vão sendo apresentadas ao longo da obra.

    Também achei excelente o capítulo dedicado ao interesse de Page por Aleister Crowley e sua obra. O curioso é que já li inúmeros críticos torcendo o nariz para essa parte... Lamentável.

    Ansioso para ler logo a do Metallica...

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  3. Não sei bem porquê, mas não tinha muito interesse em ler esse livro. Essa resenha me fez mudar de opinião!
    Abs,
    Ronaldo

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  4. Excelente livro! E quem o leu sabe muito bem porque o Page não gostou...Nele é desvendado todo o processo de criação da banda, não muito diferente do de uma boyband criada em laboratório, nada foi por acaso e Page e Grant planejaram tudo nos mínimos detalhes, desde a admissão dos integrantes quanto ao visual, sem falar da perda de controle de alguns membros do staff da banda com o sucesso, dos famosos plágios que são revelados um a um, da truculência da caravana Zeppelin, dos exageros, da afetação, etc, etc...Nesta época a banda lembrava aquela mulher lindíssima que gosta de esfregar sua beleza na cara das pessoas e por isso despertava, e ainda desperta, muita antipatia! Um livro com este conteúdo só pode ser publicado como "Biografia Não-Autorizada"...Existe alguém que gosta de se ver retratado como mesquinho e caculista como o Page é descrito nesse livro?

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  5. Eu comprei o livro e não gostei por causa de falarem muito em ocultismo, muito nomes de artistas que nunca ouvi falar, etc. Dá prá ver que o autor não gostava de Jones e queria falar mal do Page, além de reverenciar o Plant e do bonzo, só falar das brigas e drogas. Livro truncado, difícil, enfim mostrando que o Led copiou muita coisa...

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