As Velhas Caras do Hard - Parte 2

Dando sequência à sessão As Velhas Caras do Hard, mergulhei em meus arquivos e listei mais 10 bandas vindas direto dos anos 1970 e que merecem uma conferida. Nomes desconhecidos, mas com sons muito interessantes e que irão fazer a sua cabeça.

Aumenta!


Armaggedon

Este grupo alemão Armaggedon foi formado em janeiro de 1970 e encerrou suas atividades em dezembro do mesmo ano. Nesse curtíssimo período gravou seu único disco, uma mescla entre o peso do hard e a inovação do krautrock. Com apenas seis músicas, sendo que duas são covers ("Rice Pudding", do Jeff Beck Group, e "Better By You, Better Than Me", do Spooky Tooth), o álbum dá uma pequena amostra do que o Armaggedon poderia ser e representar não só para o rock alemão, mas para a cena pesada dos anos 1970.

Os solos constantes e criativos de Frank Diez são a marca registrada do grupo. O guitarrista não para um minuto sequer, alçando vôo a cada acorde. Influenciadíssimo por Jimi Hendrix, mostra uma ótima técnica e um grande senso de melodia, acrescentando um considerável diferencial às composições da banda. O outro destaque é o vocalista Peter Seeger, dono de um timbre chapado e muito característico que, em um primeiro momento, chega a incomodar um pouco, mas que se torna indispensável depois que você se habitua ao som dos caras.

Entre as faixas, as minhas preferidas são a abertura com "Round", "Oh Man", "People Talking" e a já citada "Better By You, Better Than Me".

Um ótimo disco de uma banda que infelizmente durou muito pouco tempo e tinha potencial para ser muito maior do que foi.

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Hard Meat

O Hard Meat é um grupo britânico natural de Birmingham que lançou apenas dois discos em sua breve carreira, o auto-intitulado debut em 1969 e Through a Window, em 1970. Formado por Mike Dolan (vocal, violão, guitarra e harmônica), Steve Dolan (baixo, violão e guitarra), Mick Carless (bateria e percussão), Pete Westbrook (flauta) e Phil Jump (teclados), a banda faz um rock psicodélico que flerta com o gard e cujo ponto de partida são os violões dos irmãos Dolan.

Assim, há um fascinante ar agreste e interiorano nas faixas de Through a Window, algo como se um artista folk tivesse sido levado em uma viagem cujo combustível é um poderoso ácido lisérgico. As composições são grudentas e viciantes, fazendo você abrir um sorriso de satisfação durante a audição do disco e gerando uma insaciável vontade de ouvi-lo novamente, de novo e mais uma vez.

"On the Road" abre o play com muito groove e passagens instrumentais perfeitas para cair na estrada. "New Day" é uma linda balada com excepcionais trechos acústicos, e um belo e intrincado solo de violões em seu miolo."Free Wheel" é uma faixa instrumental que parece saída de uma jam ao redor de uma fogueira, enquanto "Smile As You Go" é uma baladaça tipicamente setentista, com um ótimo acento folk.

A melhor faixa de Through a Window é "I Want You", um rock manhoso e sensual com muito balanço e ótimos solos de guitarra. O disco ainda tem bons momentos em "A Song of Summer" e na doce "The Ballad of Marmalade Emma and Teddy Grim", que fecha o álbum.

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Bloodrock

Formado na cidade texana de Fort Worth em 1969, o Bloodrock é um dos grupos mais cultuados do hard setentista. Descobertos pelo produtor Terry Knight (Grand Funk Railroad), o conjunto tinha como maiores características o grande groove de suas composições, ótimos solos de guitarra e um trabalho de Hammond cativante. Os três primeiros discos (Bloodrock de 1969, Bloodrock 2 de 1970 e Bloodrock 3 de 1971), todos produzidos por Knight, são excelentes e obrigatórios em qualquer coleção que se preze.

A música destes alucinados cowboys pode ser definida como um meio termo entre o hard rock e o então nascente heavy metal, com influências de nomes como Black Sabbath, Deep Purple e Grand Funk. Além disso, um dos grandes diferenciais do Bloodrock eram as letras, extremamente cínicas, críticas, ácidas e irônicas, chocando uma geração recém saída da ressaca pós-Woodstock.

O debut do grupo é um prazer sem fim para quem gosta do chamado hardão setentista. Com grandes riffs, passagens instrumentais interessantes e intervenções chapantes do Hammond de Stevie Hill, é um dos melhores trabalhos do então nascente heavy rock. Destaque para "Gotta Find A Way", "Castle of Thoughs", a sexy "Fatback", "Timepiece", "Wicked Truth" e "Melvin Laid an Egg".

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Jody Grind

Formado em Londres em 1968, o Jody Grind é a banda de Tim Hinkley (Graham Bell, Boxer, Dr Feelgood, Humble Pie, Alexis Korner, e muitos outros artistas), grande músico britânico, reconhecidíssimo entre seus pares e pesquisadores da música, mas que nunca alcançou destaque com o grande o público, o que acabou lhe conferindo um ar cult.

Contando em sua formação com Bernie Holland (Hummingbird, Humblebums) e Pete Gavin (Al Stewart, Long John Baldry e Albert Lee), o Jody Grind lançou em 1970 o seu segundo disco, Far Canal, sucessor da estreia On Step On, de 1969. O som pode ser definido com uma mistura de hard, blues e progressivo, tudo amarrado pelo teclado de Hinkley, que dá as diretrizes para os outros instrumentos. A guitarra de Bernie Holland, com ótimos e cativantes riffs, e a cozinha do próprio Hinkley e Gavin, dona de um groove hipnótico, elevam o som do Jody Grind a um patamar elevado, fazendo de Far Canal uma jóia desconhecida dos anos 1970. Como curiosidade, vale citar a excepcional versão para “Paint It Black” dos Stones, pintada com tons ainda mais psicodélicos que a original, além de um arranjo que une hard rock e big bands (!!!).

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Patto
Uma das bandas mais originais e incríveis que já tive o prazer de conhecer, o Patto foi formado em 1970 na capital inglesa, durou apenas quatro anos e deixou três discos na bagagem (a estreia de 1970, Hold Your Fire de 1971 e Roll ´Em Smoke ´Em Put Another Line Out de 1972).

O som pode ser definido com uma união personalíssima de elementos do hard, do blues e do jazz, que juntos formavam uma sonoridade única, totalmente livre e cativante. Os destaques principais são a voz rouca do líder Mike Patto, um dos melhores intérpretes do rock setentista, e a guitarra ímpar de Ollie Halsall, mais um músico talentosíssimo que perdeu a batalha para o vício devastador em heroína.

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Excalibur

Natural da cidade de Monchengladbach, o grupo alemão Excalibur foi descoberto pelo baterista Dicky Tarrach (The Rattles, Propeller, Wonderland e Brave New World) e lançou apenas um disco em sua carreira, The First Album, em 1971.

Produzido por Tarrach e gravado no Windrose Dumont Time Studio em Hamburgo, o álbum pode ser classificado como uma mistura de Birth Control com o boogie de grupos americanos do início dos anos 1970, como Ten Years After e Grand Funk Railroad. O principal destaque é o teclado de Hartmut Scholgens, que cria passagens e melodias típicas daqueles primeiros tempos do hard rock. Entre as faixas, destaque para "Get Me, If You Want", para a elaborada instrumental "Zamuno" (que irá fazer a alegria dos fãs do Birth Control), "Sure You Win", "Hollywood Dreams" e "Feelin´s".

Obscuro e desconhecido, o Excalibur reserva bons momentos para quem curte um hard com muita tecladeira, perfeito para pegar uma estrada e sair sem destino.

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Fraction

Natural de Los Angeles, o Fraction é responsável por um dos melhores registros obscuros do hard setentista. No verão de 1970, o quinteto formado pelo vocalista Jim Beach, pelos guitarristas Don Swanson e Robert Meinel, pelo baixista Victor Hemme e pelo baterista Curt Swanson entrou em estúdio e gravou o seu único disco.

Apenas 200 cópias de Moon Blood foram prensadas, fato que, aliado à grande qualidade das composições, transformou o disco em uma mega raridade ao longo dos anos, com uma cópia do vinil original lançado pelo selo Angelus valendo uma montanha de dólares.

Em 1999 a Rockaway relançou a bolacha em CD, disponibilizando o disco em formato digital pela primeira vez, e incluindo de lambuja três bônus tracks - "Prisms", "Dawning Light" e "Intercessor's Blues".

Musicalmente, os vocais de Jim Beach lembram o timbre de Jim Morrison, enquanto a parte instrumental une peso e psicodelia.

Se você curte a sonoridade do período, certamente irá gostar do Fraction!

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Fuzzy Duck

Eu gosto muito desse disco, desde a primeira vez que o ouvi. O som do Fuzzy Duck é um hard nitidamente orientado para o órgão Hammond. Lançado em 1971, em uma era, digamos, pré-Deep Purple, esse primeiro e único trabalho dos caras, batizado simplesmente como "Fuzzy Duck", traz grandes melodias e composições cativantes.

A capa, hilária e antológica, mostra o simpática pato que acabou se tornando o símbolo da banda. Entre as faixas, destaques para "Time Will Be Your Doctor", "More Than I Am", "Country Boy", "A Word From Big D" (com nosso amigo hippie duck fazendo uma participação especial nos vocais) e, principalmente, "Just Look Around You", uma pedrada que une em uma mesma canção guitarras gêmeas ao estilo Thin Lizzy com uma tecladeira infernal digna dos melhores momentos de Jon Lord e Ken Hensley.

Pra mim, um verdadeira pérola escondida!

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Salem Mass

Esse disco tem uma história interessante. Primeiro e único registro do grupo norte-americano Salem Mass, Witch Burning foi gravado dentro do bar favorito dos músicos, chamado The Red Bam, convertido em estúdio para a tarefa. Além disso, o órgão Moog com que o trabalho foi gravado tinha o número de série 023, ou seja, foi um dos primeiros a serem fabricados!

O som é um hard típico do início dos anos setenta, com grande influência da sonoridade psicodélica do final da década de sessenta, um gênero definido como heavy psych por alguns críticos. Os riffs de Mike Snead têm a mesma importância que as notas do teclado de Jim Klahr, dando um delicioso tempero vintage à música do Salem Mass.

Entre as faixas, destaque óbvio para a tour de force "Witch Burning", que batiza o álbum e tem mais de dez minutos de viagens instrumentais hipnotizantes. O típico som do Moog introduz a densa "My Sweet Jane", melancólica ao extremo, e que apresenta uma certa influência de Velvet Underground (não só no título, mas também na música).

"You Can´t Run My Life" tem um groove cadenciado perfeito para pegar a estrada, enquanto "You´re Just A Dream" é bem chiclete e poderia, sem medo, ter sido lançada como single, já que suas características tinham tudo para agradar, por exemplo, os órfãos fãs do Doors.

O disco fecha com "Bare Tree" e a quase pop "The Drifter", outra que apresenta um latente potencial comercial não explorado.

Enfim, Witch Burning é um álbum interessante, que proporciona uma audição agradável, principalmente para os fãs de Moog (que irão se deliciar com os solos de Klahr) e da estética sonora da virada dos anos 60 para os 70.

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Ferris

Esse grupo finlandês lançou apenas um disco, auto-intitulado, em maio de 1971, e pouco depois se dissolveu. O som é muito legal, uma mistura de hard orientado para o órgão, com algumas pitadas de progressivo e pop.

A figura central é o vocalista e tecladista Heikki Hiekkala. Na parte vocal, seu timbre é bem agradável e suas linhas vocais são quase faladas, o que agrega um diferencial ao som do Ferris. Em relação ao órgão, Hiekkala transforma o instrumento no principal elemento do grupo, com solos que nos fazem voltar ao tempo das batas e calças boca-de-sino.

O disco ganhou uma versão em CD em 1997, lançada pela mesma gravadora que havia colocado o vinil original no mercado, a finlandesa Love.

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Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Gostei muito das duas listas!! Adoro garimpar essas pérolas escondidas, e as listas ajudaram-me a conhecer algumas bandas que ignorava, como o Flower Travelling Band.
    Teremos outras listas? Acho que Steamhammer, Warhorse, Buffalo e Clear Blue Sky são boas escolhas.

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  2. Esse post foi ultra-violento, se é que me entende. Uma porrada auditiva após outra! Estou achando demais. Mais uma vez ótimo trabalho e obrigado por facilitar os caminhos pra pessoas que assim como eu não conhecem muito(nada seria melhor rs) do hard setentista.

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