Entrevista exclusiva: Stian Fossum, guitarrista do Devil

Em meio a vários bons lançamentos neste início de 2013, a próxima semana reserva algo especial para os amantes de doom metal: para além de novidades do Black Sabbath em estúdio, trará consigo o aguardado Gather the Sinners, segundo álbum do Devil.

O novo trabalho dos noruegueses, que já haviam se destacado com o debut Time to Repent (2011), sairá no dia 22 de março. Para saber mais sobre o disco, as influências da banda e o atual cenário musical do país que é berço do black metal, entrevistamos o guitarrista Stian Fossum.

Discípulo de Tony Iommi e responsável por alguns dos melhores riffs dos últimos anos, Stian desgrudou um pouco de sua (linda) Gibson SG preta e não economizou palavras para responder e explicar, via e-mail, tudo o que queríamos saber. Confira!



Qual a expectativa em relação à recepção do novo álbum? Como vocês o comparam com Time to Repent?

Acho que a recepção será basicamente a mesma do primeiro álbum: algumas pessoas irão gostar, outras não. Por várias razões, nunca seremos os favoritos em termos de crítica, mas esperamos angariar novos e fiéis seguidores. O intuito foi fazer um som puramente rock 'n' roll e, apesar de resenhas positivas serem algo legal, para nós é mais importante que o público goste.

Como o Devil cria as músicas? Há um típico processo de composição?

Geralmente, alguém aparece com um riff para uma música nova e tentamos desenvolvê-lo até termos uma boa estrutura. Em seguida, tentamos compor boas linhas vocais e escrever letras que se encaixem na melodia e em características particulares dessa canção. Às vezes, as músicas já vêm completas e, se forem boas o bastante, as usamos como estão.

Há também aquelas que surgem em alguma jam durante os ensaios. Esse é o jeito mais bacana, já que todos ficam envolvidos no processo. Um exemplo desse modelo é "Southern Sun" (que você pode ouvir aqui), feita em um único ensaio e baseada no riff que Kai (Wanderås, guitarra) e Thomas (Ljosåk, baixo) começaram a tocar. Anteriormente, já havíamos dito que queríamos ser mais produtivos trabalhando em conjunto e acho que, de certa forma, conseguimos isso na composição de Gather the Sinners.

Por falar em "Southern Sun", ela tem um refrão bem marcante. Por isso foi escolhida como primeiro single? Quão importante é a melodia na sonoridade do Devil?

A razão para escolhermos "Southern Sun" como primeiro single/teaser do álbum foi o fato de acharmos que ela representa tanto o lado mais doom como também o lado mais classic rock do Devil. Consideramos que é uma canção muito boa e quisemos verificar a reação dos fãs.

A melodia é MUITO (sic) importante para nós. Apesar de termos canções mais estáticas, como "I Made a Pact...", da demo, e "Mother Shipton Pt. II", do novo disco, que quebram um pouco disso, adoramos quando encontramos uma boa melodia, como vocês irão notar quando ouvirem o álbum por completo.

A música "Legacy" e o refrão de "Coffin Regatta" são, talvez, os melhores exemplos de como podemos extrair bastante de uma canção apenas adicionando uma boa melodia.

A arte da nova capa ficou excelente. Mas, afinal, quem são os "sinners" (pecadores) a que se referem? Há algum conceito específico por trás do título?

Os "pecadores" são aqueles que não se arrependeram após ouvirem nosso primeiro álbum, Time to Repent ("Hora de se Arrepender", em tradução livre). Haha! Na realidade, não há nenhum significado mais profundo em relação ao título, senão o fato de gostarmos de usar frases que soam meio sacras.

Quanto à capa, também ficamos muito satisfeitos. Foi desenvolvida pelo Adrian, da Coven Illustracion, que fez um ótimo trabalho.



Como está a cena norueguesa para o metal atualmente?

A cena metal na Noruega parece conter um fluxo infinito de ótimas bandas se levarmos em consideração o quanto nosso país é pequeno em termos de população. Sempre há novos grupos surgindo em todos os gêneros do metal.

Fico contente de o black metal não ser mais o único estilo com boas bandas por aqui e também por elas estarem conseguindo reconhecimento lá fora. Como exemplos, cito High Priest of Saturn, Nekromantheon, Tombstones e One Tail, One Head.

Mas, talvez, o público na Noruega se interesse mais por nomes já consagrados. Machine Head, Amon Amarth, W.A.S.P. e Nightwish são típicos exemplos que conseguem atrair uma multidão por aqui. Além, claro, daqueles grupos realmente grandes.

De qualquer forma, continuamos levando algumas pessoas aos shows menores, do underground. Para uma banda com o Devil, fora de Oslo, 50 pessoas já é um sucesso. Porém, não está fazendo ninguém ficar rico. Haha!

O que você acha dessa leva de bandas tocando occult rock atualmente? Ghost, The Devils' Blood, Blood Ceremony, Jess and The Ancient Ones, Kadavar, Year of the Goat e tantas outras... Como o Devil se insere nesse contexto?

Esse novo foco no doom, o qual se deve, em partes, pelo fato de grandes bandas terem acenado para os primórdios do hard rock, como fez o Wolfmother, tendo obtido bastante sucesso alguns anos atrás, e também pelo ressurgimento de velhos heróis como Pentagram, Black Sabbath e Saint Vitus, é, claro, visto com bons olhos por mim.

É um olhar que se concentra nos anos 70 e sempre volta de tempos em tempos. Adoro inúmeras bandas desse estilo, mas vejo o Devil um pouco à margem, já que não nos aprofundamos tanto na parte "oculta" do movimento. Somos apenas velhos cachaceiros fãs de metal e gostamos de tocar um hard rock sujo.

Se tivesse que apontar minhas favoritas dessa cena, seriam In Solitude e Year of the Goat, especialmente os últimos álbuns das duas. Mas quando você as escuta e compara com o Devil, não há absolutamente nada em comum. Haha! Então, realmente não sei como podemos fazer parte de um mesmo movimento, apesar de ficar lisonjeado, já que são bandas incríveis.

Gosta de Black Sabbath? O que espera desse retorno? O que Tony Iommi e Ozzy podem fazer juntos novamente?

Bom, já ouvi falar a respeito deles. Haha! Sou um grande fã de Black Sabbath, especialmente dos seis primeiros álbuns, assim como dos discos Heaven and Hell (1980), Mob Rules (1981) e Born Again (1983). Também adoro alguns dos primeiros trabalhos do Ozzy em carreira solo.

Infelizmente, não tenho grandes esperanças em relação a esse retorno, embora fosse matador poder vê-los ao vivo novamente.



Duas opções, uma resposta:

Ozzy ou Dio?


Ozzy. Cantou nos melhores discos do Sabbath e prefiro a carreira solo dele em comparação à do Dio. Mais alma, mais blues, etc. Dio era melhor em bandas, como Sabbath e Rainbow. Nunca fui um grande fã de seus discos solos.

Venom ou Bathory?

Bathory. Adoraria ser old school o bastante para responder Venom, mas Bathory teve um impacto quase divino sobre mim e me influencia há 25 anos ou mais. Nada se compara ao Bathory.

Black Metal (1981) ou Welcome to Hell (1982)?

Bastante apertado, mas tenho que responder Welcome to Hell por causa de "Witching Hour".

Hellhammer ou Celtic Frost?

Celtic Frost. Morbid Tales (1984) é a perfeição nesse gênero. Gênero que consiste apenas nessas duas bandas. Haha!

Pentagram ou Saint Vitus?

Pentagram. Também amo Saint Vitus, mas o Pentagram possui uma característica meio vulgar que é imbatível até hoje. Se você acha que as bandas glam ou sleaze têm um apelo sexual mórbido e perturbador, precisa ver o Pentagram ao vivo.

Darkthrone ou Mayhem?

Darkthrone. São amigos pessoais e uma das minhas bandas favoritas durante vários anos. Apesar de o Mayhem ter feito o clássico De Mysteriis Dom Sathanas (1994) e o totalmente cru Deathcrush (1987), os quais gosto bastante, há algo muito mais foda e assustador em Transylvania Hunger (1994) e A Blaze in the Northern Sky (1992), do Darkthrone.

Quais os cinco melhores álbuns de todos os tempos?

Odeio essa pergunta. Me faz querer ir pra casa e dar um abraço em cada um dos grandes álbuns que não mencionei. Mas aqui vai um top 5, não necessariamente na ordem.

Candlemass - Nightfall (1987)
Bathory - Under the Sign of the Black Mark (1987)
Metallica - Ride the Lightning (1984)
Black Sabbath - Vol 4 (1972)
Kiss - Music From the Elder (1981)

Quais os próximos passos do Devil? Uma visita à América do Sul, talvez?

Adoraríamos viajar para a América do Sul, especialmente Argentina e Brasil. Ouvimos coisas boas sobre as pessoas e a comida. Talvez até assistíssemos a uma partida de futebol. Mas, que me lembre agora, temos apenas dois shows agendados: no Inferno Festival e no Beyond the Gates Festival, ambos na Noruega.

Por Guilherme Gonçalves

Comentários

  1. Acho que nem o fã mais doente do Kiss citaria o Music from the Elder em um TOP 5 hahaha

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  2. "Infelizmente, não tenho grandes esperanças em relação a esse retorno, embora fosse matador poder vê-los ao vivo novamente."

    Exatamente como penso, mas, nunca se sabe, os velhotes sempre podem surpreender.

    E Noruega é um cenário riquissimo para o gênero, caminhando paralelamente à Suécia, por exemplo. Basta dizer que Lonely Kamel é de la(falando dessa nova safra)

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