Ghost: crítica de Infestissumam (2013)

O heavy metal sempre foi teatral. Causa mais impacto uma melodia tétrica, um arranjo sombrio, do que uma sonoridade extremamente agressiva e violenta. Essa lição foi ensinada lá na gênese do gênero, quando o Black Sabbath lançou o seu primeiro disco na sexta-feira, 13 de fevereiro de 1970. No entanto, apesar de óbvio, este ensinamento foi se perdendo com o tempo. Com guitarras cada vez mais pesadas, vocais cada vez mais guturais (e muitas vezes inaudíveis) e andamentos que beiram a velocidade da luz, o metal aproxima-se, muitas vezes, a uma caricatura de si mesmo.

Esse olhar para o passado, essa retomada a algo óbvio e sempre eficaz, talvez seja o grande mérito da banda sueca Ghost - agora Ghost B.C., devido a problemas sobre o nome no mercado norte-americano. O disco de estreia do grupo, Opus Eponymous, lançado no final de 2010, chamou a atenção por apresentar um sopro de renovação na música pesada ao, por mais contraditório que isso possa parecer em um primeiro momento, buscar nas raízes do estilo a sua inspiração. E o resultado foi além do esperado, com os mascarados liderados pelo vocalista Papa Emeritus sendo aclamados pela crítica, pelos fãs e pelos próprios artistas, com ícones como James Hetfield e Phil Anselmo desfilando com camisetas da banda e dando declarações exaltando a sua música.

O fato é que o Ghost B.C. é um fenômeno como há tempos não se via no heavy metal. O grupo está a beira do estrelato, a um passo de se tornar gigante, um fenômeno com imenso potencial para se tornar um ícone pop, com a sua imagem sendo estampada em milhares de produtos, de camisetas a capas para celulares (Gene Simmons que se cuide!).

Porém, independentemente disso, o que vem em primeiro lugar é a música, e ela segue sendo única. Infestissumam, que em latim significa “hostil”, é o segundo álbum da banda e foi produzido por Nick Raskulinecz (Foo Fighters, Rush, Stone Sour, Trivium). Além disso, marca a estreia do grupo pela Loma Vista, braço da Universal, que pagou US$ 750 mil pelo passe da banda. Mais sombrio e teatral que Opus Eponymous, Infestissumam traz o Ghost B.C. explorando uma gama maior de influências e encontrando a sua personalidade.

Em primeiro lugar, é preciso fugir das definições simplistas que permeiam o sexteto. Não há nada de Mercyful Fate aqui, por exemplo, assim como não havia no disco de estreia - a não ser que você considere que o grupo tem influência dos dinamarqueses pelo simples fato de o timbre de voz de Papa Emeritus ser agudo como o de King Diamond. Uma das bases da música do Ghotst B.C., como ficou claro em Opus Eponymous, é o Blue Öyster Cult, e em Infestissumam essa característica permanece, porém adornada com outros elementos muito bem encaixados, que vão do psicodelismo ao hard rock, passando pelo AOR e até mesmo pelo pop.

Em relação à estreia, o aspecto melódico foi explorado com mais profundidade, expandindo a característica teatral das composições. E o contraste entre melodias agradáveis e letras repletas de menções ao satanismo continua sendo o toque de mestre, com a banda construindo embalagens atraentes para um discurso repugnante para a maioria.

Outro ponto que merece destaque é a amplitude de influências que estão presentes em Infestissumam. Um certo tempero glam pode ser sentido em “Jigolo Har Megiddo”, enquanto em “Idolatrine” a sonoridade se aproxima do AOR, tornando a letra declamada ainda mais eficaz.

Três canções formam a espinha dorsal de Infestissumam e se destacam das demais. A impressionante “Ghuleh / Zombie Queen” é a prova definitiva do imenso talento dos mascarados, indo de uma balada atmosférica para um andamento que remete à surf music, tudo embalado por coros muito bem construídos. Ela soa como se o Goldfrapp encontrasse o Cramps - e acredite, o resultado é espetacular.

Na sequência, “Year Zero” inscreve-se fácil entre as melhores músicas já gravadas pelo grupo, iniciando com um coro macabro que transporta o ouvinte para algum ritual perdido no tempo. Com um arranjo inteligente e andamento moderado, tem batidas que nos levam à disco music e um teclado muito bem tocado. E, por último, “Monstrance Clock”, faixa que encerra o disco de maneira magnífica com uma narrativa dramática e um coro antológico.

No meio do caminho, surpresas como a valsa “Secular Haze” e “Body and Blood”, que soa como um cântico milenar retrabalhado para o nosso tempo.

Fascinante e às vezes estranho, Infestissumam mostra o Ghost B.C. como uma clara visão do que quer produzir, tanto musical quanto artisticamente. A banda apurou a sua identidade, que já era única, e a tornou ainda mais singular.

Um casamento profano entre o heavy metal, o pop e o hard rock, Infestissumam prova que o Ghost B.C. está longe de ser obra do acaso.

Um dos discos do ano!

Nota 9
 


Faixas
1 Infestissumam
2 Per Aspera Ad Inferi
3 Secular Haze
4 Jogolo Har Megiddo
5 Ghuleh / Zombie Queen
6 Year Zero
7 Body and Blood
8 Idolatrine
9 Depth of Satan’s Eyes
10 Monstrance Clock

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Estou indo pra terceira audição. "Ghuleh / Zombie Queen" é realmente fantástica.

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  2. No "Opus", consegui gostar de 4 ou 5 músicas, soava bem interessante e uma boa tentativa de "reciclagem" de elementos já existentes.

    Nesse novo, não teve jeito, com muito boa vontade aprovei 3 musicas, entre elas "Secular Haze"

    Gosto é gosto, esse é o belo da vida, e não vejo mais nada de atrativo no som deles com esse novo album. E prevejo muitos "endeusando" esse album futuramente, com unhas e dentes, como um "classico" atual.

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  3. Belo texto.

    Mas, cara, dizer que a banda não sofreu influências do Mercyful Fate - não apenas nos vocais, como nas composições e na imagem a ser vendida - não dá, né.

    Abração!

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  4. Gostei muito do primeiro disco e pelo o que escutei vou gostar deste também.

    Mas primeiro quero escutar com um som de qualidade, somente assim para ouvir as nuances que este disco deve ter. É disco para escutar e não somente ouvir, que é o que acontece muito hoje em dia.

    E outra, realmente, acho que o pessoal que fica batendo nesta tecla do Mercyful Fate é surdo, só pode ser.

    Ou gosta de implicar com a banda, já que a banda cresceu e pode "ameaçar" sua banda preferida. Tem coisas que só no HM mesmo...

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  5. gostei de metade do primeiro cd,esse segundo curti menos ainda

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  6. Diego Camargo -

    Nem sou surdo e nem o Mercyful Fate é uma de minhas bandas favoritas. Muito pelo contrário, até a considero bastante superestimada.

    E sofrer influência de algo não significa "copiar" esse algo. Todo mundo do meio artístico deve algo a alguém, todos sofrem influências - o que não significa que cada um não desenvolverá a sua carga artística a partir de sua particular ótica. Ou seja, o fato de o Ghost ter se influenciado também pelo Mercyful Fate não significa que a banda sueca a copiou; influenciar-se é uma coisa, copiar é outra.

    Isso você capta na imagem a ser vendida, nas composições ocultas, nos vocais. Mas é claro que a coisa não para por aí; temos também o Blu Oyster Cult, Alice Cooper, Kiss etc. O Ghost foi criado por um punhado de inspirações, e negar a participação do MF aí é, de duas, uma: forçação de barra; falta de sensibilidade artística.

    Abração!

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  7. Candidato a figurar entre os 10 mais do ano, com certeza.

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  8. O Disco é absolutamente maluco na construção das músicas. Temática pesadissima (apesar de caricata) se misturando com um monte texturas...algumas bem pop mesmo... Ficou bem bacana por conta disso.
    Achei bem melhor que o primeiro disco
    Não vejo tanta influência de MErcifull Fate no som (no visual sim). A Influência de Blue Oyster Cult é bem latente e isto é ótimo pois espero que esta banda estoure mesmo e traga justiça para o BOC como banda importante que é.

    Abraços
    Fábio

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  9. Já tem gente dizendo que não gostou? Acho que vale a pena ouvir mais vezes. Nas primeiras audições do disco anterior, eu não gostei. Achei bem sem graça. Mas fui ouvindo e gostando cada vez mais.

    Esse segundo já consigo achar interessante, mas ainda preciso ouvi-lo mais vezes para dizer de qual dos dois eu gosto mais.

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  10. Ótima resenha. O disco é fantástico, e muito melhor do que o primeiro, que já era muito bom. Também não vejo grande semelhança com o Mercyful Fate, até porque este é bem mais técnico.
    Uma coisa muito bacana nessa nova leva de bandas de metal é a liberdade criativa. Pop, progressivo, hard rock, punk, tudo isso podemos encontrar em bandas como Torche, Baroness, Ghost e outras de que não lembro agora. E acaba soando muito bem.

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  11. Também achei que tem muito mais força que o primeiro. Uma música de abertura arrebatadora. Algumas faixas mais complexas e um hino que é Year Zero.

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  12. Até que enfim achei alguém com a opinião parecida! Valeu Muro das Lamentações... Achei que iria ficar sozinho no mundo quanto à critica a essa banda meia boca...Album fraco e bem pior que o primeiro, mas é apenas gosto.. Mas Pela mor, dizer que não sofreu influências do Mercyful é demais (essa sim, bandaça!)...

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  13. Talvez seja necessário ouvir mais algumas vezes (tendo em vista que a maioria das bandas que gosto, não apreciei realmente até ter ouvido pelo menos uma meia dúzia de vezes)... Mas admito que por todo o sucesso, comentários, etc, esperava mais.

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  14. EU curto o Ghost BC, é uma boa banda, tem talento e boas idéias, mas não vejo tal genialidade. Faz um som bem caracteristico, e realmente as influências de Mercyful Fate são latentes, assim como as de Blue Oyster Cult....

    No mais uma boa banda, que vale conferir! Geniais? Talvez, mas não acho que seja para tanto...

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    1. Cara, pf n fale Ghost B.C , o nome da banda é ghost b.c forão os americanos q colocaram no nome. Tem muitas entrevistas q o papa emeritus fala q o nome dele é Ghost

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  15. A intro mais bacana que já ouvi.
    E a faixa final, como o Ricardo escreveu, encerra o disco de maneira magnífica. Vai ser lindo ouvir a galera mandando esse coro satânico no RIR! HAHAHA!
    Apenas duas faixas ainda não me conquistaram totalmente, mas, de qualquer maneira, o debut foi batido.
    Esses caras ainda vão colocar a "palavra de Satan" na casa de muita gente "normal", algo inimaginável.

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  16. Olá pessoal,

    Discordo da opinião da maioria de vocês em relação a esta banda. Não acho "genial" e nem tão original assim. E discordo também do argumento de que o disco se torna melhor ou vamos "digerindo" aos poucos após ouvirmos várias vezes. Albums "fuderengos" como o Stone Sour House of Gold & Bones Part 1 ou Slash Apocalyptic Love, só para citar dois exemplos, não necessitam de várias audições! =] Fisgam de imediato!

    Mas respeito a opinião de vocês e acho que esta banda tem um "quê" de Mercyful Fate... Mas sem as incríveis guitarras de Andy LaRocque!!! =]
    Abraço a todos.

    OBS: Ricardo, seu blog é excelente! Acompanho e gosto muito. Só não entendi porque não ter postado nenhuma nota sobre a morte de Ravi Shankar. Músico muito influente nos Beatles e, consequentemente, na música pop.

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  17. Consertando para evitar B.O.:

    Andy LaRocque fazia parte da banda king Diamond e não do Mercyful Fate. Nesta última, gosto muito da dupla de guitarristas Hank Shermann e Michael Denner responsáveis por riffs e timbres incríveis.


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  18. Olha, em tempos de Death, Black, Thrash e outras "barulheiras", é um grande prazer ouvir uma banda nova de metal preocupada com melodias, resgatando sonoridades e com uma gama tão variada de estilos e influências.

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  19. Respeito a quem gosta, mas tento... tento e não consigo gostar disso.

    O único pensamento que tenho é que o Ghost (e talvez a Hellion) tenham um jabá bem forte aqui na Collectors, na época dos grandes elogios ao Wilco e ao The Black Keys até concordo pois são bandas de indiscutível qualidade. O Ghost B. C. nem sei que tipo de som é! só sei que não gosto. Year Zero sucks!

    Concordo em gênero, número e grau com o @Dirty Harry.

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  20. Jabá? O fato de eu elogiar uma banda que você não gosta se resume a isso então?

    E não fale besteira. O Infestissumam não será lançado pela Hellion no Brasil, já que a banda agora é da Universal.

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  21. ...Palmas para o edps...também não consigo entender tanta idolatria à essa banda, mas tb respeito a opinião alheia....

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  22. virei fã da banda, apesar de estar vendo um trabalho muito forte de marketing em cima da banda pra ver se vinga.
    gostei dos dois discos, mas nesse achei um trabalho muito pobre foi na bateria, quase sempre caindo no mesmo ritmo de batida, muita preguiça desse baterista. disco tem otimas musicas e outras que soam parecidas graças à levada pobre do batera.

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  23. Também acho que a musica do Ghost, apesar de muito interessante em vários momentos, está longe de ser genial.
    Genial eu considero o aspecto visual deles, que realmente causa impacto! Talvez isso ajude a influenciar a crescente idolatria que se forma em torno da banda.
    O Ghost como produto é algo muito interessante mesmo. Mas musicalmente, em minha opinião, fica bem longe de uma banda como o Mercyful Fate, por exemplo!

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  24. Achei o disco fraco. Vamos ver até onde o frenesi pelo revival do som vai durar.

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  25. Achei o disco fraco. A banda é mais fruto do visual do que propriamente da música. Tem seu valor, mas não é essa Coca-Cola toda. Vamos ver até quando o revival irá durar.

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  26. Olha, sinceramente eu esperava uma resenha com menos cara de "texto de fã", justamente por pecar em algumas coisas.
    Primeiro, este disco, assim como o anterior, não traz absolutamente NADA de genial e sim uma sequência de fórmulas prontas e um marketing ferrenho. O primeiro disco tem até mesmo riffs copiados de outras músicas. Mas o que tenho a dizer tem muito a ver com este disco em questão.
    Sim, ele é bom. Até consegui ver nele uma coisa muito interessante: ele é bem mais ousado em termos de composição, tem até alguns flertes com o psicodélico (coisa que escapou à resenha também). Mas está presa demais nas referências. Ghost ainda é uma banda que você nota algo que lembra banda x ou y e todo mundo que a ouve fala quase sempre a mesma coisa. Este disco, inclusive, me deixou bastante feliz por lembrar menos o Merciful Fate e se focar mesmo nos anos 70.
    E vale a nota. É uma banda super estimada, com um disco superestimado, que vai vender horrores fazendo a mesma coisa que a Lady Gaga faz: reciclando os mesmos clichês de sempre.

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  27. Acho engraçado o Ghost ser acusado pejorativamente de derivativo. Favor citar bandas recentes que não são. Mas quero 100% de originalidade, já que isso agora virou tão necessário. Falam tanto de genialidade. Gostaria de ver quais bandas recentes julgam ser geniais.

    O mérito do Ghost é o som que estão fazendo atualmente. Alguma outra banda, hoje, faz um som parecido? Alguma outra teve a sacada de fazer música com letras satânicas, som de hard rock, psicodélico, surf music, etc, tudo misturado?

    Eu acho legal. Todas as bandas recentes que geraram comentários ultimamente eu dediquei um tempo em ouvir, conhecer, avaliar, etc. A única que ainda escuto é o Ghost.

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  28. Não entendo qual o problema de Ghost soar como outras bandas.
    Se ela soa com algo que você gosta (no meu caso o 1º álbum do Ghost algumas passagens lembraram muito o Mercyful fate) ótimo, puta ponto positivo pra banda. Adoro Mercyful Fate. Logicamente não estou falando de cópia e "mais do mesmo", mas sim de influência combinada com originalidade. No caso do Ghost são várias influências de estilos diferentes.

    Galera fica procurando chifre em cabeça de cavalo para desmerecer uma ótima banda devido a gosto pessoal. Daqui a pouco vem nego com matéria citando as "cópias" que o Ghost fez de outras bandas, igual um maluco fez com o Led Zeppelin.

    Não acho a banda genial, mas das mais recentes que tenho escutado acho muito boa e fiquei muito feliz quando anunciaram os caras junto com Slayer e Maiden. Estarei lá para conferir.

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  29. sinceramente não entendo o que vem o Mercyful Fate no Ghost . adoro a banda , mas a muito sou fã do Mercyful e não tem nada da banda no Ghost . as guitarras ferozes de Denner e Hank e os agudos ensurdecedores do King não se encaixam aqui e nas letras PQP né antes do Sabbath vir com o terror a banda coven já tinha álbuns e álbuns declamando amor a satan. vc só ve o que que enxerga . falando do álbum ta muito loko curti bastante sem duvida um dos melhores do ano.

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  30. Os dois álbuns lançados são ótimos,com um som inovador e belas melodias. Só as letras q são um pouco pesadas, mas de resto eles têm tudo para ficarem mais famosos.

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  31. Ghost é uma ótima bnada, adoro ouvi-la.... não há palavras para descrever as músicas, gosto de todos os dois albuns até então, espero que o 3 sejá ótimo como o ghost é ^^

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