Crítica do filme Somos Tão Jovens (2013)


Somos Tão Jovens, filme de Antônio Carlos da Fontoura (No Meio da Rua, Gatão de Meia Idade, Uma Aventura do Zico) sobre Renato Russo, provavelmente causará reações adversas nos espectadores. Uma parcela, formada por pessoas hoje na faixa dos 30 e 40 anos e que viveram a sua adolescência durante a década de 1980, terão uma enorme empatia com a história devido ao forte apelo emocional, sentimental e nostálgico que ela provoca. Já os mais novos talvez não sintam essa ligação de maneira tão forte, e ela é essencial para que o impacto do filme seja digerido em sua totalidade.

O roteiro se baseia na vida de Renato Russo entre 1975 e 1985, período em que o músico se aprofundou no rock e na literatura, formou o Aborto Elétrico, viveu o seu período de trovador solitário e, por fim, montou a Legião Urbana. Vivido com autenticidade e perfeição por Thiago Mendonça (o Luciano de 2 Filhos de Francisco), o Renato mostrado em Somos Tão Jovens é movido por sonhos e está ainda se descobrindo, tanto no aspecto musical quanto na própria vida. Vale mencionar que todas as músicas apresentadas no filme foram cantadas pelo próprio Mendonça, que fez um trabalho exemplar e possui um timbre bastante semelhante ao de Russo.

Ainda que, de modo geral, Somos Tão Jovens seja feito de inúmeros acertos, alguns pontos negativos chamam a atenção. Marcos Breda está péssimo como o pai do vocalista. Há a clara intenção de romantizar a figura do artista “trágico” e “autodestrutivo”, objetivo esse que às vezes soa forçado e desnecessário. E a interpretação de Edu Moraes como Herbert Viana é forçadíssima e caricata, parecendo mais um personagem de programa humorístico do que uma homenagem. Mas, fora esses pontos, o que temos é um retrato honesto e repleto de autenticidade sobre o músico que, goste-se ou não, foi a principal figura surgida no rock brasileiro da década de 1980.

O início da carreira de Renato Russo e a criação do Aborto Elétrico ao lado de Fê Lemos e André Pretorius - depois substituído por Flávio Lemos - é especialmente educativa e didática ao lançar um olhar histórico sobre uma das formações mais importantes e influentes já surgidas no rock BR, ao lado da Plebe Rude a base sobre a qual toda a cena de Brasília se formou, se sustentou e se alimentou durante décadas - no caso do Capital Inicial, até hoje.

Além de Thiago Mendonça, o outro destaque de Somos Tão Jovens é a atriz Laila Zaid, que vive a personagem Ana Cláudia, amiga e personificação das várias figuras femininas que marcaram a vida do cantor. O simpático Ibsem Perucci compõe um Dinho Ouro Preto pra lá de convincente, enquanto Bruno Torres serve de antagonista a Mendonça com o seu forte Fê Lemos. Uma curiosidade é a participação de Nicolau Villa-Lobos interpretando seu pai, Dado, quando jovem, além de Philippe Seabra, da Plebe, como o prefeito de Patos de Minas, cidade onde a Legião fez o seu primeiro show.

Somos Tão Jovens é um filme divertido, emocionante e correto. No meu caso, serviu para reacender o interesse pela Legião Urbana, banda que não escuto há anos e cujas letras ganharam um sentido totalmente novo agora que estou na vida adulta.

Seja qual for a sua idade, Somos Tão Jovens vale o ingresso e garante uma ótima sessão de cinema.


Nota 7

Por Ricardo Selig

Comentários

  1. Ontem fui assistir. Não dava muita coisa. Não sou fã de Legião, mas o filme me agradou muito. Achei muito bom. Me causou até arrepios em certas partes.

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  2. Cadão, ainda acho que o Legião Urbana é uma banda muito mais punk hoje do que na época da sua formação. Passei pela adolescência nos 80's, curtindo muito metal e punk e sempre achei essas bandas do cenário "Rock Brasil" nada mais do que uma pasteurização do pop com o pós-punk inglês, muito ruins por sinal. É só ver que enquanto em Brasília se brandavam da capital punk nacional, bandas como Detrito Federal, Ratos De Porão, Inocentes, Cólera, Restos De Nada, eram deixadas as margens do movimento. Não perderei tempo assistindo um filme que prevejo ser totalmente "chapa branca" de uma banda que particularmente a mim não fez diferença alguma. Dica de documentário muito bom Searching For The Sugar Man

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  3. Parabéns pelo texto. Fluido, muito bem escrito, com as qualidades de uma opinião séria e leve que é composta por minúcias e observações gerais relevantes, que não entrega partes importantes de um filme pra fazer o leitor compreender plenamente O que, Como e Por que.

    Foi uma ótima volta aos comentários sobre música. Não pare! rs

    Valeu! :-)

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  4. As piores bandas da história: Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii e Capital Inicial !

    Pior de tudo é quando alguém tira um violão e começa a tocar essas merdas num acampamento haha. Aliás, tem coisa pior sim, quando colocam funk altasso no carro.

    Foi mal, sei que o post é sobre o filme e tal, acho até o Renato Russo um cara que merece mais respeito que os demais péssimos músicos da Legião, mas não resisti.

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  5. Eu não conheço a Legião Urbana o suficiente pra dizer que não curto o som deles, porém, também nunca tive e mesmo depois do filme ainda não tenho interesse na banda, mas fui ver o filme acompanhando minha namorada, fã da banda.

    A questão do Herbert Vianna ficou latente, teve gente que riu no cinema quando o personagem apareceu, até ouso dizer que foi amadora a inclusão desse papel/personagem dessa maneira no filme.

    Bom, no âmbito geral, gostei do filme, é bem interessante, pois trata-se de uma biografia artística do Renato Russo, e não pessoal como muitos desavisados achavam.

    O cara foi um ícone da sua época, e era bem melhor (em inúmeras características) do que alguns "pseudo-rebeldes-roqueiros" como o Cazuza.

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  6. Estou muito afim de ver o filme, principalmente depois de um comentário desses... Vi uma peça do renato russo uma vez aqui em Floripa e, mesmo sem ser dos anos 80, tive uma grande empatia com a história, por isso acho que possa sim ser interessante aos mais novos ir ao cinema pra ver...

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  7. Achei o filme chato e certinho demais, destaco como pontos mais fracos: não mostrarem o Renato quase matando os irmãos Lemos quando tocam Fátima; a interpretação do Edu Moraes (Hebert), é no mínimo desrespeitosa; o Thiago Mendonça canta muito mal, logo deviam ter mantido o original ou dublado; cadê o Negrete?

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  8. Achei péssimo o filme! Como fã do Renato Russo me senti mal de assistir a história dele tão superficial e com péssimas interpretações como nesse filme. Não captou nem um pingo da capacidade intelectual e introspectiva que o Renato possuía. Muito ruim. A unica cena boa é a do Renato cantando no final!

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  9. Mariana, interessante você dizer isso, pois durante o filme fiquei contendo uma opinião precipitada e tentando valorizar mais o trabalho construído "com ênfase artística", mas só pude me emocionar de fato com o final do filme, que não iria citar para quem não assistiu ainda, mas você contou rs...
    Acho que por mais que seja uma ênfase artística, arte se constrói com alma e não apenas com os dilemas juvenis que senti ao ver o filme.
    É um pouco similar ao que senti com Faroeste Caboclo, nossas expectativas em torno de Renato e Legião sempre estarão além de qualquer adaptação.

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