MTV Brasil: e pra onde vamos agora?

A esta altura do campeonato, acredito que você já esteja mais do que a par das notícias sobre o fim da MTV como a conhecemos: dando continuidade aos boatos que percorrem os bastidores da emissora musical há alguns meses (anos, até), a sempre alerta colunista da Folha de S.Paulo, Keila Jimenez, foi quem deu a letra. A MTV Brasil deixará de ser um canal aberto (UHF) para ser um canal pago, relançado pela programadora Viacom (a mesma da Nickelodeon e da VH1), dona da marca. A jornalista afirmou ainda que estariam “adiantadas as conversas da Viacom com produtoras independentes, artistas, indústria fonográfica e operadoras de TV paga para o lançamento de uma nova MTV Brasil já no segundo semestre” e que teria “programação voltada para música e produções nacionais”. Nos últimos dias, o que não faltaram foram programas sendo cancelados e foi um tal de VJ pra lá e pra cá nas redes sociais se despedindo e relembrando seus melhores momentos naquela telinha.

Mas o que não faltaram também, é claro, foram manifestações exaltadas, também nos Twitters e Facebooks da vida, agradecendo a Deus por este destino, dizendo “já foi tarde” e atribuindo toda uma série de adjetivos pouco elogiosos para a dita cuja, culpando-a por ajudar a disseminar todas estas grandes “porcarias” que se ouvem nas rádios hoje em dia.

Ok, ok. Sem exageros. Guardem as suas tochas e foices, tentem se dissociar do espírito das manifestações de rua por um instante e vamos tentar fazer uma análise um pouco menos passional.

Muito tem se falado a respeito da perceptível mudança editorial da MTV nos últimos anos, que teria se tornado um canal com pouca ênfase justamente no “M” de seu nome, relativo à “música”. Concordo. Mas isso porque estamos comparando justamente com os primórdios daquela MTV de outrora, com a qual os trintões cresceram. Permitam-me, no entanto, deixar o saudosismo aqui de lado só um instante e levantar uma importante questão: desde o surgimento do canal, originalmente nas terras do Tio Sam, os senhores e senhoras se lembram claramente que a MTV nunca foi apenas um canal de música, correto? Apesar do M no nome, a MTV sempre foi uma marca forte em programas de comportamento e humor, posicionando-se como especialista em conteúdo para o público jovem.

Estão me acompanhando?


A MTV brasileira pode não ter acertado em todas as apostas que fez nos últimos anos – aliás, sejamos francos, é muito fácil apontar e dizer onde diabos eles erraram. Mas, sendo justo, também é facílimo apontar onde eles acertaram, no fim das contas. Porque, se estamos falando de uma emissora disposta a falar com o público jovem, estamos falando também de uma emissora disposta a se reinventar de tempos em tempos. Porque o público envelhece e a próxima geração de jovens está se tornando cada vez mais diferente das anteriores – e o tempo de mudança de uma para a outra está se tornando cada vez mais rápido. Com o crescimento do consumo de música pela internet (seja via download ou mesmo no caso do recente fenômeno dos sites de streaming) e a força de plataformas de vídeo como o YouTube, passou a ser absolutamente desnecessário esperar para ver os últimos lançamentos em forma de videoclipe na telinha da TV. Os novos hábitos de consumo de música foram tornando isso absolutamente obsoleto. Era de se esperar que a Emetevê (Caetano-style) passasse a soprar mais fôlego, portanto, em outras paisagens.

Veio o clássico Piores Clipes do Mundo, uma forma escrachada de falar de música sem necessariamente tocar música, dando espaço para que nomes como Marcos Mion deslanchassem suas carreiras (agradeçam vocês por isso, ou não) e trazendo um sujeito como o Supla de volta do ostracismo oitentista. Vieram os caras do Hermes & Renato, verdadeiros pioneiros na arte do humor-tosqueira e sem os quais, sejamos honestos, boa parte destes novos mestres do atual humor online nem encontrariam espaço para colocar as manguinhas de fora – e incluo sim nesta lista a rapaziada do Porta dos Fundos, por que não? Veio o Rock Gol e seu jeito descontraído de tratar um assunto até então espinhoso e demasiado sério, que era o futebol. Os gracejos globais de Tiago Leifert, Tadeu Schmidt e Alex Escobar devem muito à mesa redonda de Paulo Bonfá e Marco Bianchi.


Vieram os programas participativos, interativos, usando e abusando primeiro do crescimento dos celulares e depois das redes sociais. E vieram as apostas na força de astros e estrelas surgidos justamente na web, conforme podem atestar a musa MariMoon. E, obviamente, veio a recente geração de humoristas, saídos do stand up, dando um ar mais fresco e politicamente incorreto à arte de fazer rir, revelando para a grande massa da TV aberta nomes como Marcelo Adnet, Dani Calabresa, Tatá Werneck, Paulinho Serra, os Barbixas, abrindo caminho para que toda uma nova geração de “engraçadalhos” mostrassem a cara – afinal, também existe vida (e público) para piadas um pouco menos Zorra Total e A Praça é Nossa. E sem fazer qualquer julgamento de valor, vejam (e leiam) bem!

Coisa, meus caros, que não é privilégio da MTV brasileira. A MTV dos EUA também se reformulou muito nos últimos anos. Ou vocês se esqueceram do investimento no lançamento de produtos como Punk’d ou mesmo do Jackass, além de toda uma safra de reality shows comportamentais e pequenas séries teens, todos muito mais importantes do que simplesmente exibir videoclipes?

Ah, sim, tem a questão das tais “porcarias musicais”. Sinto se vou ofender algumas suscetibilidades, mas larguem mão de frescura e pensem: em termos musicais, a MTV sempre foi um reflexo de sua própria audiência. É o mesmo pensamento das rádios pop. Ali vai tocar o que o público quer que toque. Foi-se o tempo em que a MTV era responsável pela gênese de astros e estrelas pop. Hoje eles surgem no Instagram, no MySpace, no Facebook. Se você é uma exceção e gostaria de ver rock, blues, jazz na telinha da MTV, acho melhor se conformar e entender que existem, atualmente, dezenas, centenas, milhares de fontes para você se informar, conhecer as novidades, resgatar as velharias. Se você não precisa mais da MTV, inferno, por que raios vais ficar perdendo tempo criticando a MTV por não tocar o tipo de canção que você mais gosta?

A MTV não foi perfeita. Em alguns momentos, desejou MUITO a desejar. Mas soube ousar e, com criatividade, tentar se tornar uma nova MTV para cada nova geração.

Em um ambiente com um pouco menos de pressão por audiência como é a TV por assinatura, a MTV tem tudo para exercitar ainda mais este DNA de ousadia, agora com mais liberdade de criação – e olha que, na TV aberta, a liberdade dos caras já não era pouca. Mas vejam o que canais como o GNT e o Multishow estão fazendo, respectivamente com criação de conteúdo nacional de comportamento e humor, além das séries originais de ficção. Material de altíssima qualidade. Logo, justifica-se quando digo que o futuro é promissor. Mesmo para que eles possam falar sobre música com foco em nichos bastante específicos. Estou torcendo para poder comentar com bastante entusiasmo a respeito do assunto nos próximos meses.



Por Thiago Cardim
Texto publicado originalmente no Judão

Comentários

  1. Concordo com tudo o que você escreveu
    Parabéns.Ótimo texto.

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  2. Não sei como consegui ler esse texto até o final, de tão paga pau da atual MTV.

    Cara, os programas de humor da MTV são bacanas sim, o problema aconteceu quando privilegiaram os mesmos junto a outros programas bizarros, desde moda até de namoro.

    A única coisa que preciso concordar com o texto é o fato da MTV não ter mais necessidade de focar em videoclipes atuais, sendo que podemos encontrá-los facilmente no Youtube. Mas custava fazer programas como o That Metal Show, de auditório, mas com qualquer tipo estilo musical?

    Enfim, MTV Br não faz falta. Espero que com a reformulação advinda da devolução à Viacom, as coisas melhorem um pouco.

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  3. Tanto faz...Pra mim, sempre será uma merda alienadora. Depois que inventaram o Youtube não tenho o mínimo interesse em qualquer canal de música. Gosto do That Metal Show da VH1, e só. E viva ao Youtube.

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  4. Interessante o texto, embora a defesa exageradamente apaixonada da MTV estrague um pouco.

    Creio que não há como discordar sobre os videoclipes. De fato, morreram na TV mesmo. Não faz mais sentido. Porém, a música precisa ser praticamente banida do canal devido a isso? Bastava criatividade.

    E se o texto está correto,e eu acho que em boa parte de fato está, a pergunta que eu faço é: pq devemos lamentar o fim (ou ida para TV fechada) da MTV? O texto conclui que fica complicado focar na música; diz que, dentre da possível fatia musical, só há espaço as "porcarias"; dos programas existentes, praticamente nada se salva. Que falta faz?

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  5. Igual ao BLOOD, o YouTube é meu canal de música permanente. Adeus, MTV, já vai tarde

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  6. Com o Youtube fica difícil mesmo competir...
    Só ontem trechos de shows matadores do Heaven and Hell, Judas Priest, Amon Amarth e Fleetwood Mac ...

    Qdo vou ver isso em qualquer TV de música ? Nem no ótimo BIS

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  7. tirando o Fleetwood Mac ja vi Heaven and Hell, Judas Priest e Amon Amarth no canal bis sim..

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  8. Eu também !!!! (incluindo o Fleetwood) Mas não em sequência e na hora que quero....
    Não dá pra competir com o Youtube mesmo... se souber usar é uma ferramenta fantástica pra música...que substitui quase que totalmente os canais de música (no formato que eles tem hj na TV) ... incluindo o ótimo BIS
    Abraços

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  9. Concordo com o texto, já tenho mais de trinta, e assisti muita MTV na minha adolescência,era uma referência, o foco era o "M", pois a internet era inexistente e a programação era boa, mas devemos concordar que a programação dos últimos tempos deixava a desejar mesmo, e necessário se faz uma reinvenção do canal, para quem sabe se firmar novamente, os tempos são outros, veremos.....

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  10. O problema da MTV nunca foi os programas de humor, que por sinal eram ótimos, mais sim só focar no pop. se pelo menos eles fossem ecleticos, mais não, só tocam pop...

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  11. 1) Conteúdo

    O que fez a MTV foi também o Jornalismo musical na TV (entrevistas, documentários, coberturas), programas focados em estilos, inovação em linguagem o que gerou vários produtos (Garoto Enxaqueca, Vaca Láctica, South Park, Beavis and Butthead), sem falar na linguagem das vinhetas, a questão dos eventos das premiações e a personalização do apresentador nessa identidade de VJ, alguns VJ's que realmente entendiam de música, além dos próprios músicos (exemplo: Rita Lee como VJ).

    Tudo bem a questão da tecnologia balançar a rentabilidade da indústria fonográfica (diretamente) e a emissora e mercado de clipes (indiretamente), mas NADA justifica o conteúdo. São responsáveis, sim, por abandonarem o Jornalismo Musical em favor de um entretenimento bocó no nível desses genéricos tipo Luciano Huck e gincanas de TV. Porra, tu liga no canal e os caras passam brincadeiras tipo as da Xuxa, Passa ou Repassa da Angélica e Gugu. Totalmente, tosco! Sério, não tem esquiva da emissora quanto ao conteúdo. Faltou inteligência e pasteurizaram a programação como apenas teen.

    Aqueles programas hiperclichês de namorado tipo o Radical Chic (da Maria Paula, 1992-1993), eram toscos: Beija Sapo, Luv, Fica Comigo, A Fila Anda e Sem Vergonha. E os de sexo com minas falando sobre transas tb era muito ruim ... melhor ver os peitinhos do Multishow, né?

    Aliás, o Mochilão MTV já era tb algo bem clichê de viagens Multishow tb. Não é à toa que 50% dos ex-MTV iam pro Multishow ou genéricos.

    2) Fim da reserva de mercado do Olimpo dos DJ's

    Tem aquela música antiga "Video killed the radio stars" que é bem verdade, além do versinho do Direstraits "I want my MTV" que eu entendo como o olimpo dos artistas da rádio sendo destruído pelo olimpo dos artistas da TV. Uma mídia não mata a outra. Mas as celebridades ... eu acho que tem um pouco disso. Tanto que na net nós falamos em webstars .. e até a MTV criou uma categoria no VMB pra webstar do ano.

    O VJ era a personificação do canal como sendo jovem não-genérico. A postura audiovisual era tão diferente que influenciou a TV toda (não só no Brasil).

    O que a MTV perdeu tb foi o rol de VJ's e articuladores da música que só existia nas revistas impressas, nas rádios e na TV. Com os milhares de blogs hoje, a coisa ficou difícil pra eles. E essa lógica é tão real que as últimas gerações de VJ's vinham de blogs. Mas de entretenimento: fofoquinhas de viado Contigo! (Didi Ferreira) e miguxices emo mangá (Marimoon). Sem falar naquelas gêmeas gostosinhas: Kenia e Keila. Enfim, o fim do olimpo dos VJ's se desgastou.

    Tudo passa e tem coisas que são de gerações também, de era tecnológica e o escambau. Tô falando aqui dum assunto monstro só o que eu acho. Nunca vamos resolver esse assunto. Mas vamos conversando ..... pois bem, eram tantos os talentos que quase todos já tem quase 20 anos de carreira sólida em outras emissoras, a julgar por Zeca Camargo, Astrid, dentre outros. A última geração boa foi a da Didi Wagner, Minhon, Léo Madeira e um branquelo lá que curtia NIN, em 2001.

    A coisa é tão doida que nem os colunistas de impresso Bizz e Showbizz aguentaram depois com a coisa da net... lembra o Pedro Só na Usina do Som? E o Zeca Camargo que também teve uma história boa na Showbizz, mas depois ficou só em entretenimento e a música um pouco de lado na TV (ou residual). Isso aí não é nem coisa de competência ou não, mas de tecnologia mesmo. Esses são só alguns nomes dentre outros que perderam espaço pra blogs e vlogs .. carai-a-4.

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  12. 3) O termos "music" foi até tirado na evolução da logomarca

    Olha que interessante na evolução da logo deles, os caras tirando o "music" na última logo e deixando o M de merda:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Mtv_Brasil#Marketing_e_marca

    4) Legado: Acústico MTV

    O texto tem hora que é legal por procurar sair da lógica "o cliente tem sempre a razão" e "o telespectador é o ditador do controle remoto e sempre tem a razão" enunciando só as críticas dos telespectadores e não só os problemas pelos gestores do canal ou até a crise dos profissionais e mercados de Jornalismo, Audiovisual, TV, anúncios e Comunicação em geral, o que não é apenas um problemas pós-mp3 ou pós-youtube ... mas pós-internet também. Falar da MTV não é falar só de música, por mais que o "M" obrigue.

    Porra, como legado tem muito assunto pra outros textos até!

    Primeiro, não dá pra falar em anos 90 nos gringos ou brazucas sem falar no formato Unplugged MTV. Isso é algo surreal que é da TV e afetou a música como um todo, desde 1983 com Michael Jackson com Thriller nos clipes e com Madonna no primeiro VMA. O valor do videoclipe também pode ser discutido nessa nova aplicação que a Lady Gaga deu recentemente com a lógica de curta-metragem e hype não com premier apenas, mas com acessos. Lembro que uma lógica de criar polêmica e audiência pros clipes era o status de "tal vídeo foi banido da MTV de tal país". Essas estratégias são boas de serem discutidas, pois hoje com a net isso tá meio que superado. É outra lógica: vc não compra o VHS pra ver o proibido, mas corre pro clipe e loga como maior de 18 anos pra checar a polêmica.

    E também falar o quanto a música não salvou carreiras já desgastadas, até pelo o formato MTV Unplugged, que virou uma espécie de repaginação e ressurreição das bandas.

    O que dizer do próprio Nirvana (pós-In Utero que não foi bem aceito na época)?

    O Eric Clapton (que só tinha moral como dinossauro, mas tb tava em crise)?

    O Alice in Chains (que eu acho o melhor acústico de todos, mas tb vinha do FIASCO que foi o disco de 1995, sem falar que os EP's eram bons e eles usaram o acústico pra fazer circular essas músicas do "SAP" e do "Jar of Flies", pois nos anos 90 era extremamente foda comprar singles ou EP's, no Brasil. No exterior, nem tanto. Mas eles sempre souberam da resistência de vendas desses dois formatos em países mais pobres)? E não deixava de ser uma grana a mais.

    O que dizer de um Titãs e Capital Inicial que ressuscitaram depois dos acústicos?

    Ou de uma Cássia Eller que expandiu o seu público e se consagrou foi com o seu disco neste formato?

    A música e o rock dos anos 90 está estreitamente ligado a uma lógica do formato MTV Unplugged.
    Isso é um grande legado da emissora.

    Sugestão: um texto sobre o legado da MTV então nos eventos (VMA, VMB) e nos formatos (MTV Unplugged, Lual, Ao vivo). Também vale um texto sobre acústicos nunca lançados, mas gravados, que hoje vemos pela net: Hole, REM, Cranberries, Stone Temple Pilots, Soul Asylum, Oasis. Renova o assunto da MTV em outros termos. Tô vendo que o texto é de outro blog, né?

    Olha que interessante esses dados:

    http://en.wikipedia.org/wiki/MTV_Unplugged

    http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_artists_featured_on_MTV_Unplugged

    http://pt.wikipedia.org/wiki/MTV_Unplugged (Acústico no Brasil)


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  13. 5) Legado: premiações como VMA e VMB

    Bem, falado isso do MTV Unplugged, eu acho que os VMA e VMB sempre foram eventos que pontuavam até, historicamente, o que acontecia na época. Você pega um wikipedia da vida, hoje, e tem tudo lá registrado do Grammy em quase 60 anos de premiações. Essa fórmula foi imitada no VMA e no VMB e foi muito boa. Mas as próprias gravadoras começaram a comprar o espaço num sentido de evitar que os concorrentes pegassem outras apresentações. Isso estragou um pouco o evento e fez dele mais uma disputa de plataforma promocional do que um ranking dos melhores em arte ou vendas.

    Tipo: digamos que a Interscope quisesse o show número 1 da noite e ainda comprar mais 2 shows menores também pro casting dela. Daí, começava a briga com a Capitol, Parlophone, Virgin, Geffen, Roadrunner e outras. O evento, tanto no exterior, como no Brasil, sempre capitalizou muito. Mas, depois, virou pastiche pq virou apenas uma plataforma de lançamento dos singles e não da consagração dos artistas.

    No começo, eram os melhores que iam lá, seja da arte ou de mercado (bem Grammy Awards). Depois, degringolou pra plataforma promocional de lançamento: "dia X no evento VMA fulano de tal vai tocar seu single pela primeira vez". Sendo que a lógica antiga era: "dia X no evento VMA a música que dominou o ano de 1991 vai ser tocada na entrega dos melhores do ano". Saíram dos eventos de resultados (melhores do ano) pra eventos promocionais de lançamentos (debut, premiê do single novo).

    Os prêmios registraram a música em cada época, assim como os charts vem fazendo.
    Mas nem os eventos de premiação da Billboard foram tão poderosos quanto os da MTV, que chegaram ao nível do Grammy, em prestígio pra alguns públicos (os mais jovens, lógico!).

    6) Apego do público ao formato

    Fora que tinha uma lógica não só de música (como o grammy), mas de audiovisual (videoclipe).
    Nos anos 90, a gente sentia muito que as bandas tinham fans que eram de ouvido e outros que eram de imagem.
    Tinha nego que só escutava banda com clipe caro .. outros com clipes rodados ... outros só clipes baixa produção garagem ... e por aí vai. Lembram?

    O apego não era só à discografia, mas também à videografia, o que dava muito status a bandas.
    E sem falar no tanto de single que era um lixo e só vendia por causa do clipe, né?
    Quem aqui não comprou um cd por causa de clipe e depois ouvia o single e pensava: "nossa, mas essa música é fraquinha demais!". O clipe era meio que o energético da música, trazendo uma vibe a mais da coisa.

    Se vinhamos de uma cultura sonora e depois audiovisual, penso que a net seja informacional.
    O apego está na geração de dados, no favoritar, inscrever-se no canal, opção de legendas,

    A capa do disco da M.I.A. totalmente poluído de barra de execução do youtube é uma crítica a isso.
    Depois, olha a capa do cd: M.I.A - /\/\ /\ Y /\ (2010)

    http://www.naive.fr/img/front/pho/works/1200x1200/004959.jpg

    Uma coisa legal na net é que a promoção agora é muito voltada pra teasers (e até guerra de teasers entre artistas concorrentes). Os lyric videos, prévias, making off, entrevistas (como o Daft Punk fez pra divulgar agora) tão sendo muito usados. Legal perceber isso na promoção ... um pouco diferente de "clipe X foi banido no reino unido ... agora, só comprando o VHS pra ver"
    Mas a classificação maior de 18 anos ou impróprio pra tal faixa etária continua em alta.
    Uma outra estratégia é lançar o clipe e vem fulando falando que vai processar por plágio.
    Daí, começa toda a discussão do que parece ou não e o burburinho e audiência são formados.

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  14. 7) Vevo killed the MTV stars

    Uma coisa que discordo de "youtube matando TV" é pelo fato de que: ninguém assiste um clipe 2 vezes na net. Só fan. E olhe lá. Mas vc AINDA HOJE assiste clipes de artistas que vc nem gosta na TV, pq tá lá passado e tal: no bar, no restaurante, quando sua irmã liga a TV da cozinha ou da sala perto de tu. Todo mundo aqui já viu alguma coisa de Pop à revelia (pq tava passando na TV) ou por comodidade ("ah, tava lá no canal passando enquanto eu tava fazendo tal coisa"). Nesse sentido, eu penso igual ao David Geffen sobre a questão da repetição, que a net JAMAIS vai roubar da TV e da rádio.

    "Eu me mataria se tivesse que enfrentar as oportunidades e os desafios de começar na indústria da música hoje. Hoje em dia é bem mais difícil para os artistas atuais alcançarem o sucesso, com o desaparecimento dos canais de música na televisão e rádios. Você precisa de repetição. Isso é um elemento crucial de como descobrir música nova. Você precisa ser capaz de ouvir algo muitas vezes". David Geffen

    Isso aí é o dono da Geffen Records, que foi das maiores nos anos 90 com os cabeça do Grunge, Alternativo e Hard Rock. Patrão de gente como: Bob Dylan, Nirvana, Guns and Roses, Hole, Sonic Youth, Stone Roses, Blink 182 e Neil Young.

    Eu até concordo com o que o pessoal falou acima do youtube ter mais dados e ser mais cômodo que a MTV nas antigas e tal. Também penso assim, mas é importante lembrar que as pessoas não passam mais 4h na frente da TV, mas as TV's não estão mais só nas salas e nos quartos das casas. Estão nos ônibus, consultórios, restaurantes e todo tipo de lugar. Esse contato não programado é importante ainda no consumo. E é ele que dá o lance da repetição como o David Geffen fala. Porra, o cara é empresário da música. Sabe o que diz.

    E nós, hoje, não somos quem dá dinheiro pra programação solta e jabá. Pq isso sempre será espaço dos adolescentes. Como disseram acima, nós ficamos mais envolvidos com a coisa dos programas segmentados e tudo mais. Mas lógico, a MTV ou outras TV's musicais jamais vão te oferecer a quantidade de coisas que o youtube oferece. Só que tem um detalhe: youtube e net é um ambiente ativo, o cara tem que ir atrás pela informação. A TV e o rádio são um espaço passivo, pras pessoas não tão pesquisadoras de música. Isso conta muito também. Não é pq tem mp3, net e youtube que as pessoas passivas deixaram de existir. E mais: de CONSUMIR.

    8) Falta de inteligência + Má vontade

    Então, acho que há, sim, uma extrema má vontade com programas específicos de rock, de pop, de eletrônica e do que for. A programação solta sempre tem que ser a da repetição e jabá, assim como na rádio e até no youtube (com o link da Nick Minaj piscando atrás do seu vídeo do Matanza ou Lamb of God). Pq isso? Jabá. Tem que capitalizar. Tem que frisar isso pq tem uma galera anti-sistema e acha que dá pra ter uma empresa dessas sem ter que pagar empregados, impostos e coisas tais. Nisso, o cara do texto foi muito feliz, mas não deu nome aos bois.

    A MTV sempre capitalizou no público teen. Sempre foi Michael Jackson, Madonna, boy bands e coisas chiclete de um hit só. Apenas a programação da noite e da manhã era mais lado B passando coisas pouco manjadas (quase quiném o Multishow que depois da 0h vira outro canal, né? Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk).

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  15. 9) Pouca grana pra clipes

    Se formos dar uma olhada hoje, os clipes são MUITO mais baratos do que antigamente. Você tem bandas que fizeram história com videoclipes, como Smashing Pumpkins e Garbage, que atualmente não tem nem 10% daquela grana pros vídeos (fora que os que ficaram independentes ainda tem que pagar o Vevo e o Youtube para aparecer nas buscas). O NIN tentou ser independente, mas percebeu que os cd's dele não chegariam às prateleiras das lojas, na venda à varejo. Por isso, depois das polêmicas em ser ou não de uma major, assinaram contrato de novo com uma grande gravadora. Independente tu tem liberdade criativa, mas nenhuma prateleira vai ter o seu cd. Na major, o diretor artístico te monitora e o diretor executivo te controla no orçamento do disco. Era essa lógica que o Trent Reznor falava.

    O Smashing Pumpkins foi dos que mais teve um rol impecável de clipes e hoje lança disco sem fazer 1 único vídeo. Tu vê: uma banda com legado de discografia e videografia poderosas ser reduzida a 0% de vídeos na promoção do último disco. Quem diria, hein?

    Olha que interessante essa lista de orçamento de custo dos clipes antigos:

    Lista dos videoclipes mais caros
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_dos_videoclipes_mais_caros

    List of most expensive music videos
    http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_most_expensive_music_videos

    Lembro da polêmica dos custos de produção e distribuição (jabázão) do "November Rain" do Guns'nRoses..... quanta grana num foi torrada. Sem falar em passar o clipe em outros canais a não ser a MTV (como pagar pra exibi-lo pela primeira vez no Fantástico, lembram das estreias assim?). Isso tudo é caríssimo. Os clipes do Michael Jackson a gente nem cita ... pq eram orçamentos quase que de cinema e não de videoclipes mesmo.

    A cultura do videoclipe perdeu o poder de produção (indiretamente) pq a grana que vinha pra fazer isso era das gravadoras arrecadando nas vendagens de cd's (varejo: fonte de todo o mercado). O videoclipe não morreu só porque as pessoas assistem menos TV, mas porque os clipes com aquele nível de investimento JAMAIS existirão novamente. Tem essa questão também, que não é tecnológica, mas de ordem estética. Lembra aquela galera que era fan só por causa dos clipes no top10 Disk MTV ou que ganhava prêmios no VMA? Então ....

    Hoje, não tem mais tanto aquela coisa do fan captado pela videografia. É mais pela rede de informação na qual ele tá inserido e teve contato com a banda. Tanto que as bandas preferem pagar o Vevo pra serem achados nas buscas ou aparecer no resultado do google do que produzir um clipe necessariamente caro, mesma lógica da prateleira do Trent Reznor no NIN: de que adianta ser independente se ninguém consegue achar e nem comprar meus produtos?

    Sobre o clipe evento, tipo quando a gente via no Fantático estreando .... acho que só a Lady Gaga conseguiu fazer esse clima de curiosidade e ansiedade com um lançamento. Os do Michael Jackson eram quase o evento o dia no Fantástico, antigamente, ou em tal horário do dia x na MTV. Passavam a semana falando nisso.

    10) Crise nas telecomunicações e no audiovisual

    A crise na TV tá brava. A Rede TV no vermelho ameaçando falir, a Record cortando custos, a Band arrendando pra horário religioso há anos (um provisório que virou permanente), dentre outros. O VH1 é bom, mas eu acho meio sem identidade. Acho que a MTV Brasil deve receber uns incentivo$ aí de gravadoras nacionais, mas quais são as gravadoras no Brasil que vão além da Som Livre e da Sony? E o departamento que dá lucro delas hoje é só o Gospel e Sertanejo.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:Gravadoras_do_Brasil

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  16. 11) Abordagem única

    O texto falando do Rock Gol e o atual Globo Esporte foi realmente ótimo. Parabéns!
    É aquilo que vc percebe, tenta articular, mas não consegue.
    O autor verbalizou MUITO bem isso.

    12) A música continua na TV

    A música continua na TV, mas voltou pro padrão antigo de show de calouros, coisa que a MTV sempre foi contra, até porque ela era plataforma do que as gravadoras apostavam e não uma competição pra alguém depois ir para uma gravadora. São partes diferentes do processo.

    A lógica do X Factor, American Idol, American's got a Talent, The Voice e séries musicais como Glee e High School Music só mostram que a música infantilizada se deslocou da MTV e foi pra esses programas. A MTV ficou só com as gincanas mesmo e o humor, desse universo teen. Isso mostra que até mesmo os adolescentes não estão satisfeitos com o padrão MTV do final dos anos 2000 pra cá. Isso é muito grave!

    E esses programas agora são todos de desconhecidos, diferente de programas na aberta que imitavam a plataforma promocional da MTV, lançando quem já era de gravadora, como o Globo de Ouro, Milkshake, dentre outros.

    O clipe do Nirvana, In Bloom, critica exatamente esses programas de auditório com calouros nos anos 50.
    O Weezer com Buddy Holly também tira um sarro desse universo, que está sendo reeditado hoje nos reality shows e show de calouros.
    Depois, dê uma olhada.

    Nirvana - In Bloom
    http://www.youtube.com/watch?v=PbgKEjNBHqM

    Weezer - Buddy Holly
    http://www.youtube.com/watch?v=kemivUKb4f4


    O que fica pra mim é que as pessoas ainda assistem MUITO tv ainda e querem música na TV, se não os calouros não davam grana. A questão dos clipes eu acho que passa um pouco por aí, pq, a rigor, vc pode ver esses programas de calouros na net também.

    13) E agora, josé?

    Bem, sabemos que a marca MTV vai pra TV a cabo.
    Mas e os sinais dela em todo o país?
    A Abril vai vender pra igrejas?

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_emissoras_da_MTV_Brasil

    Porra, é sinal UHF.

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  17. Olha a diferença pra amanhã, dia do rock, da programação da Bis e da MTV:

    http://redutodorock.com.br/redutodorock/site/2013/07/07/canal-bis-tera-programacao-especial-no-dia-mundial-do-rock-veja-outros-eventos/

    http://rollingstone.uol.com.br/noticia/mtv-promove-sepultamento-do-rock-no-dia-mundial-do-genero/

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