Crítica do livro Makeup to Breakup: Minha Vida Dentro e Fora do Kiss, de Peter Criss

Peter Criss deve ser uma pessoa desagradável. Chego a essa conclusão sem conhecer o baterista original do Kiss pessoalmente, mas a leitura de sua autobiografia, Makeup to Breakup - Minha Vida Dentro e Fora do Kiss, leva a esse raciocínio. Lançado em outubro de 2012 nos Estados Unidos e esse ano no Brasil - em uma edição caprichada da Editora Lafonte - o livro traz revelações da carreira do músico e dos bastidores da banda formada por ele, Gene Simmons, Paul Stanley e Ace Frehley.

O problema da obra é que ela entrega um texto repleto de fofocas, revelações “bombásticas” e coisas do tipo, parecendo ter sido escrita por um Nelson Rubens da vida. Dono de um ego gigantesco, Criss narra a sua trajetória até o topo do mundo com o Kiss, a descida ao inferno quando praticamente quebrou financeiramente, e o retorno à estabilidade financeira com a reunião da formação original da banda.

Há uma raiva e um ressentimento gigantescos nas páginas de Makeup to Breakup. Os alvos principais são Gene Simmons e Paul Stanley, acusados por Peter de tê-lo sacaneado desde a origem do Kiss. O primeiro é classificado como um dissimulado cujo único interesse é o dinheiro, enquanto o segundo tem a sua sexualidade questionada a todo momento. Sobra até para Ace Frehley, parceiro de Criss em bebedeiras e no consumo de drogas, mas que se torna desafeto depois do baterista descobrir o que se passava nos bastidores.

Peter Criss foi um músico importante para o Kiss. Sua bateria primal casou perfeitamente com o rock básico executado pelo grupo. Além disso, sua voz rouca colocou canções como “Hard Luck Woman” em um outro patamar. E, é claro, Criss é o autor de um dos maiores sucessos da banda, a balada “Beth”. No entanto, o vício sem limites em drogas durante a década de 1970 levou o músico a tomar uma série de decisões erradas, decisões essas que Peter não assume a responsabilidade, jogando a decadência e o caos financeiro em que a sua vida se tornou durante os anos 1980 e 1990 nas costas de Gene e Paul, e não nele próprio. O fato de a cocaína ter se tornado a sua principal fonte de alimentação durante anos - a partir de um certo momento, todas as páginas do livro citam a droga -, foi decisiva para o rumo descendente de sua vida.

Peter Criss tenta vender a imagem de vítima em Makeup to Breakup, mas não convence. Tudo bem, todos sabemos que Paul Stanley e, principalmente, Gene Simmons, não são os maiores santos do mundo, mas soa patético um senhor com quase 70 anos de idade nas costas se mostrar tão fraco emocionalmente quanto Criss se revela no livro. Não assumindo seus erros, contando histórias escabrosas como se fossem conquistas, humilhando pessoas pelo caminho e se vangloriando disso e, no final, dedicando um capítulo inteiro para falar da sua crença em Deus (que, a julgar pelo que o próprio músico conta na obra, se aplica apenas ao plano espiritual e passa longe de suas ações cotidianas), Peter Criss acabou entregando um livro apenas curioso, que chama mais a atenção pelas intrigas e brigas que revela do que qualquer outra coisa. Além disso, há de se ter cuidado ao tomar como verdade tudo o que está escrito nas 384 páginas de Makeup to Breakup, já que não há como provar nada e tudo aqui mostra apenas um lado da história.

Vou seguir tendo Peter Criss como um baterista vigoroso, quase primal, e provavelmente o meu vocalista preferido entre todos os integrantes que já passaram pelo Kiss. Prefiro deixar o lado manipulador, dissimulado, ressentido e vingativo mostrado em Makeup to Breakup de lado.

Em relação ao livro, vale a leitura, mas provavelmente vocês se decepcionarão como eu ao descobrir um cidadão, uma figura humana, que passa muito longe da figura do Catman que enfeitiçou e conquistou o mundo.

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Quero ler esta biografia.

    Também senti um certo ressentimento na biografia do Steven Tyler pelo próprio, justamente porque ela foi escrita durante as brigas com o Perry, antes do último disco.

    Minha biografia preferida é, e pelo jeito sempre será, a do Clapton. Honesta, o cara se abre para o mundo, mas com o atestado de um cara que passou por cima de tudo. É legal atestar que o cara está além do mundo rocker, que tem uma vida pessoal rica além da vida na estrada. Outro que me passou isso foi o Lars Ulrich, é até difícil para os fãs de heavy metal aceitarem que o cara aprecia tantas coisas diferentes daquele mundinho fechado da música.

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  2. Eu não me interesso pelo KISS a ponto de ler uma biografia de qualquer membro que seja, mas tive interesse em ler a resenha e achei muito bem feita.

    Acho que nenhuma outra banda tem um ego maior que o KISS, is caras sem acham a última coca-cola no deserto mesmo pqp, mas nem vou falar mais nada, pq se não os fãs do KISS (que são mais chatos que os membros da banda) vão lotar meu email de spam kkkkkkk

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  3. já li essa biografia , e realmente o ''catman'' tá disparando pra todos os lados , só que claro , gene e o paul (e empresarios) ajudaram um pouco , realmente como fala a resenha , estes 2 não são santos . claro q o peter não soube se manter no topo , e o kiss que é uma banda que cresci escutando desde criança funciona mais como uma empresa do que banda , desde o destroyer é assim .

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  4. Bom, eu li a biografia do Iommi em 4 dias se não me engano, essa do Peter Criss tá foda de ler, não engrena a leitura devido a muitos fatos citados na resenha.

    Quem curte e conhece KISS sabe que essa é só a versão, e justificativa, dele para os fatos.

    Mas irei continuar a leitura.

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