Review de show: Violator e Ressonância Mórfica (Diablo Pub, Goiânia, 05/10/2013)

Em uma época pautada pelo apogeu da oferta de festivais gigantescos, shows grandiosos e constantes turnês internacionais, muitas vezes de bandas decadentes mas que ainda se abastecem em nichos específicos e têm no Brasil uma recepção que parece interminável, é comum se esquecer da espontaneidade, da importância e, principalmente, do quão bacana pode ser aquele rolê menor, subterrâneo, sem pompa e praticamente caseiro.

Desse universo elencado no início, muito pouco ou quase nada chega a Goiânia. Só que, mesmo assim, muita gente tende a fechar os olhos para a satisfação que um acanhado show pode dar. De três, uma. Ou porque alimentam o sonho de que Goiânia está/possa entrar nesse circuito maior. Ou porque vão buscar fora, em outras cidades, esse anseio. Ou porque se satisfazem em eventos com DJs e bandas cover. No entanto, felizmente ainda há a resistência.


Justamente na contramão dessa ideia, Violator e Ressonância Mórfica mostraram de forma contundente no último sábado - 5 de outubro - que precisa-se de muito pouco para proporcionar uma noite legal para banda e público. Um espaço razoável, um som ok, preços decentes, performance visceral e clima de amizade são mais do que suficientes para tanto. Foi isso que quem foi à Diablo Pub encontrou e pôde se esbaldar.

Quem tocou primeiro foi o Ressonância Mórfica. Comandada pelos manauaras Marcos Campos e Luiz Souza, a banda foi formada em 1997 mas está radicada em Goiânia desde 2000. Atualmente, conta também com Hemar Messiah (Spiritual Carnage) no baixo e Weyner Henrique na bateria, além de seguir na correria para concluir um novo álbum, sucessor de Agregados Onímodos Malditos (2005).

Já com bastante gente no local, o Ressonância destilou com maestria seu death/grind calcado nos pilares do gênero, ou seja, nomes como Napalm Death, Terrorizer e Nasum. Tudo com direito a um timbre death sueco na guitarra de Luiz e letras em português na temática lírica exótica. No palco, mesclaram faixas do disco de estreia, do EP Morficaos (2009) e do próximo trabalho, ainda a ser lançado, mas com clara prioridade para as mais novas.


No decorrer da apresentação, destaque para "Mosaico da Extinção", "Cunnilingus" e, sobretudo, "Banzeiro Nocivo", que tem tudo para se tornar um hino do metal goiano, assim como "Plutocracia" já o é. Por falar nela, mais uma vez ficou guardada para encerrar o show ao lado de MNP e o fez com excelência. Geralmente, cabe ao público cantar "Plutocracia", tamanha identificação com a música. Dessa vez, contudo, Marcos Campos acertou em não "dividir" o vocal com os presentes, o que resultou em uma versão fiel e matadora, muito semelhante ao registro contido em Agregados Onímodos Malditos. Ainda houve tempo também para o cover de "March of the S.O.D/Sargent D", do Stormtroopers of Death, vulgo S.O.D., com Bacural (Ímpeto) no vocal e em um final de show apoteótico. Melhor ainda saber que as imagens foram colhidas para um possível futuro DVD. 



Na sequência, veio o Violator, de Brasília, que dispensa maiores apresentações e que em julho lançou o excelente Scenarios of Brutality (confira a resenha do disco). Comemorando onze anos de banda, Pedro Poney (vocal/baixo), Pedro Capaça (guitarra), Márcio Cambito (guitarra) e David Araya (bateria) praticamente varreram a Diablo Pub com um thrash metal cada vez mais afiado. Velocidade e intensidade absurdas e levadas às últimas consequências.

Desde o início com a instrumental "Ordered to Thrash", para aquecer, seguida por "Atomic Nightmare", passando por "Brainwash Possession", "Deadly Sadistic Experiments", "Thrash Maniacs", "Futurephobia" e chegando nas novas "Echoes of Silence" e "Endless Tyrannies", o que se vê/ouve é a hecatombe em forma de música, moshes e um circle pit animal.


"Addicted to Mosh", pouco tocada anteriormente, quando do lançamento de Chemical Assault (2006), foi incluída recentemente no set list e se mostra ainda mais interessante ao vivo. Baita acerto. "Destined to Die", por sua vez, segue incólume como o ápice do show, com as palhetas mais insanas e uma levada de bateria fenomenal. No universo de bandas brasileiras, pouquíssimas chegam perto da violência e agressividade demonstradas pelo Violator no palco. Krisiun, Ratos de Porão, Facada e Apokalyptic Raids são algumas delas.


Saldo mais do que positivo para um evento que simbolizou como deve ser um show sem firulas e calcado no DIY. E que, acima de tudo, repito, concretizou quão divertido podem ser os pequenos instantes vividos no subterrâneo da música. Assim como, semanas atrás, também havia sido a passagem do Rattus (FIN) por Goiânia. Nada de leis de incentivo, editais, patrocínio estatal ou verba pública. Só amizade, rock veloz e alegria. 



Setlists

Ressonância
: "Mapinguari", "Satélite Escafandrado", "Dergo Death Grind", "Mosaico da Extinção", "Cunnilingus", "Banzeiro Nocivo", "Unchalenged Hate" (cover Napalm Death), "Praga Umbrática", "Teratistmo", "Plutocratica", "MNP" e "March of the S.O.D/Sargent D" (cover S.O.D)


Violator
: "Ordered to Thrash", "Atomic Nightmare", "Brainwash Possession", "Deadly Sadistic Experiments", "Echoes of Silence", "Endless Tyrannies", "Futurephobia", "Destined to Die", "Addicted to Mosh" e "Thrash Maniacs"




Texto, fotos e vídeos por Guilherme Gonçalves

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