Nashville Pussy e Hellbenders (Diablo Pub, Goiânia, 22/11/2013)


Quando o Led Zeppelin lançou The Song Remains the Same, em 1976, o filme chegou ao Brasil com o nome traduzido para Rock é Rock Mesmo. Já no início dos anos 80, foi a vez do AC/DC soltar Let There Be Rock, que saiu nos cinemas brasileiros sob a alcunha de Deixa o Rock Rolar. Os títulos em português, principalmente o do Led, são assombrosos, mas voltaram à cabeça na última sexta-feira por um motivo bacana: se por um lado soam um tanto quanto deslocados para as duas películas, por outro encaixariam de forma exata na função de descrever um show do Nashville Pussy.

O quarteto americano, natural da cidade de Atlanta, na Geórgia, está longe de ser uma unanimidade. Liderada pelo exótico casal Blaine Cartwright (vocal/guitarra) e Ruyter Suys (guitarra), a banda conta com álbuns e músicas bem legais, mas que, na soma geral, não constituem uma discografia exatamente brilhante. Só que é justamente aí que entra a força do grupo, já que, em cima do palco, cara a cara com a galera, o mesmo faz a diferença com uma apresentação bastante intensa. Quem esteve na Diablo Pub, na véspera do fim de semana, pôde comprovar.

Antes dos americanos, porém, coube ao Hellbenders fazer as honras da casa. Formada por volta de 2007, a banda goiana acaba de colocar na praça seu primeiro álbum completo: Brand New Fear. Geralmente classificado como stoner, o som dos caras, na verdade, pouco tem a ver com a origem desse gênero. Ou pelo menos com sua concepção inicial, já que vai muito mais na linha de grupos que o adotaram e o popularizaram depois, a partir dos anos 90, como Kyuss e até mesmo Queens of the Stone Age. A apresentação dos garotos alterna bons e maus momentos, sendo melhor quando aposta em músicas mais rápidas e que vão direto ao ponto.


Após breve intervalo, era hora do Nashville Pussy assumir as rédeas com um show quente e avassalador. A síntese do rock'n'roll simples e despretensioso, como tem que ser. Para tanto, nada melhor do que começar com o hino "Keep on Fuckin". Escolha mais do que ideal para a abertura. Depois, a banda passeia por 17 músicas que ilustram bem a trajetória de 17 anos na estrada e os seis álbuns de estúdio já gravados. Ao que tudo indica, o sétimo deve sair em 2014. Destaque para "High As Hell", "Wrong Side of a Gun", "She's Got The Drugs", "I'm so High", "Snake Eyes" - mais Motörhead, impossível - e "Go Motherfucker Go", que sela o show com chave de ouro.

Além de Blaine e Ruyter, completam o line-up Jeremy Thompson (bateria), já há bastante tempo no grupo, e Bonnie Buitrago (baixo), que entrou recentemente. Entre uma fala e outra, com direito a sotaque sulista inconfundível, Blaine entorna uma garrafa de Jack Daniel's. A qual divide, claro, com sua 'musa' e esposa, postada no canto esquerdo do palco e com os dedos afiados na guitarra. Ruyter Suys não passa nem perto de ser um rostinho bonito. Por outro lado, rouba a cena em diversos momentos. Seus riffs e solos são muito bons, com destaque para as palhetadas certeiras.


Musicalmente, não há muito como fugir. O som do Nashville Pussy é AC/DC puro. No entanto, tocado por uma formação metade masculina, metade feminina, o que tende a aumentar o apelo sexual da coisa. As letras, naturalmente, seguem essa lógica e exploram o assunto com afinco. Já o vocal de Blaine Cartwright, por mais que também carregue inúmeros aspectos da banda dos irmãos Young, consegue agregar uma outra influência flagrante: Alice Cooper. Muito por conta de seu timbre de voz, bastante semelhante aos primórdios da Tia Alice nos anos 70.

Se nos discos às vezes falta uma certa unidade e o Nashville Pussy acaba soando até um pouco derivativo, ao vivo a coisa muda completamente de figura. A sequência de boas canções gera uma apresentação cativante e que coloca no palco uma mistura bacana de rock'n'roll, hard rock e cowpunk, já que a banda mescla fortes traços da sonoridade southern rock com a urgência punk na atitude e postura. Um deleite pra quem gosta de música sem firulas.

A primeira vez do Nashville Pussy em Goiânia havia sido em 2007. Que não demore mais tanto tempo para esses caipiras voltarem. Afinal, Rock é Rock Mesmo. Então, Deixa o Rock Rolar.


Setlist

Nashville Pussy:  "Keep on Fuckin", "High As Hell", "Strutting Cock", "Wrong Side of a Gun", "Rub it to Death", "She's Got the Drugs", "I'm So High", "Everybody's Fault But Mine", "Gonna Hitchhike Down to Cincinnati and Kick the Shit Outta Your Drunk Daddy", "Up The Dosage", "Go to Hell", "Milk Cow Blues", "Snake Eyes", "I'm The Man", "Why Why Why", "Go Motherfucker Go" e "You're Goin' Down"

Por Guilherme Gonçalves
Fotos: Vitor Santana

Comentários

  1. Bicho, eles tocaram em Londrina no dia 21 e eu estava no show. Realmente é inexplicável o que a banda faz ao vivo. Realmente é rock!!! Não tem outro termo. Rock puro, cru, sujo, mau e bebum como tem que ser...

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  2. Nuuuussssss , eu não ouvia falar disso tinha bem uns 8 ou 10 anos.

    Me lembra as bagaceiras do The Cramps

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