Burn In Hell - Night #1: Test e Ressonância Mórfica (Martim Cererê, Goiânia, 29/11/2013)

Há anos consolidado como principal local para shows underground em Goiânia, o Martim Cererê ficou quase 20 meses interditado para reforma. Reinaugurado na reta final de outubro, foi só na última sexta-feira, 29 de novembro, que o espaço voltou a receber um festival de metal. Coube ao Burn In Hell, organizado pelo selo/produtora A Construtora, de Fabrício Nobre, dissidente da Monstro Discos, reintroduzir o gênero ao centro cultural, fundado em 1988.

Para tanto, o festival apostou no Test (SP), que, apesar do pouco tempo de estrada, já figura entre os principais expoentes do grindcore nacional e é uma das bandas mais ativas/engajadas do subterrâneo paulista. Completaram o cast o Uganga (MG), além de três nomes locais: Ressonância Mórfica, Gomorrah in Blood e Aurora Rules.

Só que quem conhece pelo menos por alto a cena metal goiana sabia desde o início que tinha tudo para ser um fiasco. E, na verdade, realmente quase foi. Quem compareceu ao Martim Cererê viu o local praticamente deserto. A chuva que caiu na cidade desde o fim da tarde atrapalhou um pouco, mas não foi preponderante para o baixíssimo número de pagantes. Muito menos o valor do ingresso - R$ 15 -, absolutamente plausível. O fato é que o evento não tinha em si tanto apelo e poderia tranquilamente ter sido realizado em uma casa menor, que o comportaria de forma mais aconchegante e com mais calor. Além disso, havia um abismo entre as bandas. Tanto no que se refere aos estilos, quanto ao nível de cada apresentação.

Pluralidade de gêneros é algo bacana e até natural em festivais. Desde que haja qualidade. Aurora Rules e Gomorrah In Blood são sofríveis. A primeira só não é pior do que show cover. A segunda se diz thrash metal, mas passa longe e apenas replica o que de pior o Pantera fez. Pouco conhecido em Goiânia, o Uganga passou batido. Nem parece que a banda tem 20 anos. Até porque a melhor coisa que Manu 'Joker' fez continua sendo ter estado no Sarcófago na época do Rotting (1989). Teve gente que nem entrou no teatro Yguá nos três primeiros shows.


O que salvou a noite foram Ressonância Mórfica e Test. O som, como de praxe em shows no Martim, esteve bom durante todo o festival, e os manauaras, radicados em Goiânia desde 2000, souberam tirar proveito disso muito bem. Guitarra no timbre certo, baixo e bateria marcantes e vocal totalmente audível fizeram da apresentação algo contundente.

Se em algum momento a resposta do público foi fria, não foi por culpa da banda, que começou inovando em seu setlist e tocou a intro de Under The Sun, presente no melhor disco do Black Sabbath: Vol. 4 (1972). Depois, desfilou uma mescla de músicas do álbum Agregados Onímodos Malditos (2005) com outras que estarão no próximo trabalho, em processo de gravação. Destaque para "Mosaico da Extinção", "Banzeiro Nocivo" e o cover de "Unchallenged Hate", do Napalm Death. Antes do fim, claro, "Plutocracia" se fez presente quebrando o protocolo e com o palco tomado pelos que subiram para cantar tal hino com a banda no que foi o ápice do show.

O Test deu sequência ao caos, sendo que, ao vivo, o duo João Kombi (guitarra/vocal) e Thiago Barata (bateria) se transforma em um exército (otomano) de dois homens. Apesar da sinfonia macabra que brota do amplificador, é impossível não voltar olhos e ouvidos exclusivamente para o kit do artrópode que o massacra sem dó em um turbilhão de blast beats na velocidade da luz, viradas insanas e muita precisão. Barata não é humano. Não pode ser.


Foi a segunda passagem do Test por Goiânia em 2013. Em março, a dupla já havia abalado a estrutura da Hocus Pocus. Agora, o fizeram com o Martim Cererê e quase o interditaram para nova reforma. Brincadeiras à parte, é interessante ver os caras em um local fechado. Apesar de perder um pouco do charme em relação aos shows que fazem em ruas/calçadas plugando tudo em uma kombi, a apresentação ganha em qualidade sonora - o vídeo abaixo é meramente ilustrativo e não reflete em nada quão intenso e cristalino esteve o som.

Quando o pirulito do pedal pisoteado por Barata se chocou com a castigada pele do bumbo pela última vez, o Burn In Hell estava acabado. Um festival que tropeçou no começo, mas que se ajeitou no fim e foi salvo pelos dois ótimos shows que o encerraram. Normal por ser a primeira edição? Não. Mas que venham as próximas, sobretudo com um cast mais regular.


Setlist

Ressonância Mórfica: intro "Under the Sun (Sabbath)", "Satélite Escafandrado", "Dergo Death Grind", "Mosaico da Extinção", "Cunnilingus", "Cacofagia", "Banzeiro Nocivo", "Unchallenged Hate (Napalm), "O Amor", "Teratismo", "Praga Umbrática", "Plutocracia" e "MNP"

Test: riffs e blast beats

Texto, fotos e vídeos por Guilherme Gonçalves

Comentários

  1. Só pra constar, já vi um entrevista do Barata, e ele mesmo disse não usar e não saber usar o dito pedal duplo, sim, tudo que ele faz é com pedal simples.

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  2. Test é aula de fazer muito com pouco. essas bandas novas goianas são fazer pouco com muito. heheheh.

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  3. Pois é, Unknown!

    Ele também acabou de me dar esse toque pelo Facebook. Tudo com pedal simples. Poxa, mais animal ainda!

    Já corrigi!

    Valeu!

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