Avatarium: crítica de Avatarium (2013)


O Avatarium inicialmente foi idealizado como um projeto colaborativo entre Leif Edling e Mikael Akerfeldt, como algo para unir as suas influências primordiais. E apesar de o líder do Opeth ter sido forçado a deixar de lado a empreitada por conta da agenda de sua banda principal, o baixista do Candlemass resolveu não abandonar a ideia e convidou Marcus Jidell (ex-Evergrey), Lars Sköld (Tiamat) e Carl Westholm (que também já fez parte do próprio Candlemass) para seguir em frente. 

A entrada da vocalista Jennie-Ann Smith veio apenas um tempo depois, quando Edling percebeu que nenhum outro até então havia se encaixado na sonoridade que eles haviam proposto. E isso criou o grande diferencial da banda, apresentado em seu trabalho de estreia, auto-intitulado e lançado pela Nuclear Blast no último dia 1º de novembro.

A mórbida introdução de “Moonhorse” funciona como uma ponte entre diferentes realidades, até chegar a uma desolada paisagem cinzenta aonde a base acústica serve de pano de fundo para os versos de Jennie-Ann Smith, que com melodias simples, ao mesmo tempo assombrosas e hipnóticas, parecem carregá-lo cada vez mais fundo em meio às alucinações. A alternância entre riffs que prestam tributo ao clássico Sabbath Bloody Sabbath e momentos mais limpos torna a viagem ainda mais abissal, de forma que “Pandora’s Egg” parece estar ainda mais dentro do pandemônio, um heavy metal com sombrias tendências doom, que poderia ter sido descoberto em um porão abandonado desde a década de oitenta.

Em seguida, porém, um tom espacial cria algo único ao ser combinado com o arrastado ritmo de “Avatarium”, em um transe que atinge proporções cósmicas ao longo dos oito minutos do que poderia ser classificado (ainda que superficialmente) como uma espécie de space doom. “Boneflower”, por outro lado, não se resume apenas ao título sensacional, bebendo de forma insaciável na fonte do Coven, referência mais do que inevitável neste trabalho, e mesmo destoando ligeiramente do restante das composições graças à sua esfumaçada aura setentista, atinge resultados mais do que belíssimos.

Por falar em belíssimos, aquela contemplação tipicamente escandinava de “Bird Of Prey” remete aos mais inspirados momentos de tranqüilidade do Opeth, fazendo com que a faixa se revele um tipo de balada dos mais simples em questão de estrutura, mas carregadíssima de sutis e importantíssimos detalhes. O inesperado final de “Bird of Prey” abre a passagem para “Tides of Telepathy”, que não apenas é uma das passagens mais sombrias no álbum, como pode rivalizar facilmente com o mais fantasmagórico do legado do próprio Candlemass, facilmente transportando para o interior de uma embolorada e há muito esquecida catacumba. A imagem se esvai lentamente, com “Lady in the Lamp” elevando ainda mais a sensação hipnótica, aonde a serenidade como é conduzida se assemelha a alguém contando uma velha lenda em uma noite gelada, até o momento em que o sono chega e ela se encerra.

Avatarium não é um mero disco de estreia de um novo projeto de alguns dos mais respeitados músicos do heavy metal sueco. Ele se assemelha a uma coleção de contos, dentro de um mesmo livro – ou talvez dentro de um mesmo universo tomado pelo musgo e pela neblina –, proporcionando uma experiência de imersão que não pode ser definida de outra forma que não fantástica.

Analisando musicalmente, é evidente que as raízes do doom metal de Leif Edling ditam praticamente todas as passagens mais pesadas, como já é feito tradicionalmente no Candlemass. Porém (e vejam bem, isso é o mais importante), há uma série de inserções que vão desde linhas de teclado trabalhando com múltiplos timbres até inesperadas combinações com a expressão mais tradicional do estilo e o psicodélico setentista, sempre caminhando lado a lado com a interpretação de Smith, possivelmente a grande responsável por unir os diversificados elementos que compõe o som do grupo, trazidos pelas diferentes origens de cada músico envolvido no projeto.

O Candlemass vive um período de indefinição, e apesar de um trabalho novo com Mats Levén ser muito bem vindo, a realidade é que não seria de forma alguma pesaroso se o Avatarium passasse a ser prioridade.

Nota 9,5

Faixas:
1 Moonhorse
2 Pandora’s Egg
3 Avatarium
4 Boneflower
5 Bird of Prey
6 Tides of Telepathy
7 Lady in the Lamp

Por Rodrigo Carvalho

Comentários

  1. Que bom que este disco foi resenhado aqui ! Ouvi o mesmo pois havia sido recomendado pelo essencial Heavy Metal About ... é uma ótimo disco !!!! vocais femininos com um andamento doom e stoner ficaram demais

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  2. Eu só posso dizer uma coisa desse disco: FANTÁSTICO.
    Essa "Moonhorse" é das melhores experiências musicais que tive em 2013.

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  3. Não escutei muitos discos lançados no ano passado, mas o debut do Avatarium não poderia deixar de estar entre eles. Tão logo tomei conhecimento do projeto passei a acompanhá-lo até o lançamento do álbum, que não decepcionou. Leif Edling é um dos meus compositores favoritos e leva adiante o legado do Candlemass com muito talento e uma dose não muito grande, mas suficiente de originalidade, diferenciando-se da banda que o fez famoso, mas ainda assim atraindo os mesmos fãs. E concordo: "Moonhorse" também foi uma das melhores experiências musicais que tive em 2013.

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  4. Mas o Mikael Akerfeldt participa da composição do álbum?

    Fiquei em dúvida nesse ponto.

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  5. Acho que o Mikael deve ter apontado uma direção para a banda pelo menos foi que eu achei escutando esse discaço

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