Entrevista com o colecionador Tiago Marion

De onde você é e com o que você trabalha, Tiago?

Olá ! Meu nome é Tiago Marion Camargo, tenho 31 anos e sou formado em Administração de Empresas pela PUC-SP. Já faz quase 10 anos que trabalho como Gerente de Projetos para grandes empresas de Engenharia Elétrica. Sou casado e tenho uma linda filha de 1 ano.

Minha cidade natal é Osasco na Grande São Paulo, mas há alguns anos atrás fiquei cansado da violência de São Paulo e decidi me mudar para o Canadá. Vim para cá em 2010, então faz um pouco mais de 3 anos que eu moro em Oakville, uma cidade ao lado de Toronto (cidade natal do Rush!). Mas sinto bastante saudades do Brasil e dos fãs de hard rock e heavy metal de São Paulo.


Qual é a sua primeira lembrança musical?


Acho que foi através da minha mãe que adora música, e gosta bastante de alguns conjuntos de rock mais comportado dos anos 60 e 70. Lembro da minha mãe em meados dos anos 80 cantando músicas dos Beatles, Creedence, Alice Cooper e também alguns conjuntos de rock nacional.

Meu pai também adora música, mas ele tem um gosto diferente do meu. O repertório dele é totalmente baseado na rádio paulistana Antena 1. Eu tiro o maior sarro dele chamando-o de tiozão por causa disso!

Mas o mais interessante é que meus pais se conheceram no ano de 1980 em um show de uma banda cover dos Beatles, o famoso Comitatus, que existe até hoje. Ou seja, não tinha como eu não gostar de música e ser um Beatlemaníaco.


Lembra quando começou a se interessar pela música e pelos discos?

Sim. Em 1991 minha tia (irmã de minha mãe) se casou com o cara mais legal do mundo, meu tio Mário Sérgio. Esse meu novo tio não apenas colecionava revistas em quadrinhos mas também é um dos maiores roqueiros do Brasil, com uma coleção que atualmente conta com uns 3.000 CDs e por volta de uns 1.000 DVDs. Sem contar os shows que ele assiste desde os anos 70.

Ele começou então a me gravar fitas K7 com músicas do Iron Maiden, Black Sabbath, Van Halen, Ramones, Guns N’ Roses e outras bandas que estavam fazendo sucesso no início dos anos 90. Eu devo ter escutado essas fitas até quase rasgar as mesmas! A partir daí eu só queria saber de rock and roll, principalmente heavy metal e hard rock. E, honestamente, sou assim até hoje.

O fato do meu tio gostar de rock me ajudou MUITO a ir em diversos shows, pois enquanto meus amigos sofriam em pedir permissão aos seus responsáveis para ir aos mesmos, os meus pais nem se preocupavam pois eu estava na compania do meu tio. Foi assim que assisti Robert Plant e Jimmy Page, Deep Purple, Rolling Stones, etc. Eu devo muito a ele.


Qual foi o primeiro disco que você comprou?


Foi o Piece of Mind  do Iron Maiden em 1991, quando tinha 9 anos. Comprei no Carrefour do Shopping Tamboré e na época achei demais pensar em uma banda comendo um cérebro! Esse disco atualmente está autografado por Bruce Dickinson. 

E o último?

Foi o Live at BBC Vol 2 dos Beatles e o Live in Moscow do Uriah Heep, que ainda estava faltando na minha coleção. O dos Beatles eu comprei online no WalMart do Canadá, pois os caras estão dando gratuitamente um promo disc com 5 faixas que no Ebay está custando $50 dólares. Fica a dica para os demais colecionadores!

O último item relacionado à música que comprei depois desses CDs foi o livro Tune In, de Mark Lewisohn. Para quem não sabe, esse é o único historiador profissional dos Beatles no mundo e acabou de lançar a primeira parte de três livros que serão a verdadeira bíblia dos Beatles. A maioria dos comentários nos CDs Anthology lançados nos anos 90 foram escritos por Lewisohn. Isso já comprova que os próprios Beatles confiam nele como historiador.


 
Qual é o tamanho da sua coleção, Tiago?

Tenho 600 CDs, 150 DVDs e diversos livros, tour books, ingressos, palhetas e autógrafos. Se considerarmos CDs duplos como 2 CDs eu tenho por volta de 800. Se eu tivesse grana o suficiente eu já teria na casa dos 2.000, porém tenho que comer e pagar contas (rs).

Agora, um item que eu gosto de colecionar porém não cabe em armário algum são os shows. Eu já fui a 105 shows. Se colocarmos as bandas covers e as noitadas em bares de São Paulo, Londres, Alemanha e Toronto, a lista deve passar dos 300. Se tiver que escolher entre um show e um CD, eu com certeza fico com o show.


Quando você se mudou para Toronto, já possuía uma grande coleção de discos. Como foi a experiência de levar essa grande quantidade de itens para outro país? Algum se perdeu pelo caminho? O que você sentiu nessa história toda?

Confesso que esta foi uma das partes mais complicadas da minha mudança. Enquanto minha mulher pensava em como levaria as dezenas de pares de sapato que tem, eu pensava em como levaria meus CDs evitando danos aos mesmos. No final a solução foi simples. Comprei centenas de saquinhos plásticos especiais para CDs e ali guardei apenas os encartes e os CDs (mídias). Todas as caixinhas de acrílico foram jogadas fora. Ao chegar no Canadá comprei todas as caixinhas novamente, e os CDs estão perfeitos. Nenhum se perdeu e nenhum ficou danificado. Se alguma coisa eu fiz certa na vida foi o modo como eu transportei esses CDs para cá (rs).

De quais bandas você possui mais itens?

Com certeza os Beatles. Eu tenho por volta de  100 CDs, além de diversos DVDs, livros e memorabílias diversas, incluindo cards, fotos e outros itens que podem ser encontrados na loja especializada que fica em Baker Street, Londres. Porém, vergonhosamente assisti ao Paul McCartney ao vivo apenas 4 vezes e nunca vi o Ringo.

Meus amigos brincam dizendo que eu amo os Beatles mas eles devem me odiar, pois foi só eu sair do Brasil para o Paul tocar aí quatro anos seguidos e o Ringo passar por São Paulo duas vezes.


Como você organiza a sua coleção?


Coloco os artistas em ordem alfabética e os CDs em ordem de lançamento. No caso dos bootlegs, esses são colocados após os lançamentos oficiais. Eu mantenho os meus CDs e DVDs em armários próprios para os mesmos. Aqui no Canadá existe uma rede de lojas de móveis chamada Ikea que vende uma estante perfeita para até 600 CDs. Eu mantenho minha coleção ali.


 
 

Você é um grande fã dos Beatles. O que o atraiu na banda e o que ainda o mantém interessado no grupo depois de tantos anos?


Essa pergunta é difícil. Com certeza a musicalidade da banda é o que me atraiu originalmente, mas também o fato dos caras terem desafiado uma sociedade super conservadora tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos e terem sido considerados relativamente "perigosos" para muita gente.

Hoje nós sabemos o quanto as músicas eram inocentes, principalmente nos primeiros anos, porém para a época eles estavam desafiando a sociedade e eu gosto disso. Gosto de gente que pensa fora da caixa e desafia o mundo com algo novo. Acho que é por isso que eu gosto muito também do Black Sabbath e, fora do mundo da música, de pessoas como Walt Disney.
 

Qual é o seu Beatle favorito?


Com certeza Paul e John, porém os outros dois também foram essenciais. É apenas uma questão de gosto pessoal. Eu sempre digo que Ringo é um baterista ótimo. Basta escutar os bootlegs que isso fica comprovado.

Para você, quais são as principais diferenças entre os quatro Beatles? Quais são as principais qualidades e defeitos de cada um?


Vou tentar escrever a respeito de cada um:

John: rebelde que veio de uma família mais rica que os demais, embora longe de serem verdadeiramente ricos. O fato de ter tido uma criação longe da mãe o fez um rebelde e isso atraía a atenção de muita gente, inclusive dos outros três Beatles. Ser amigo de John em 1960 era ser popular. Com certeza sua característica principal era a liderança por carisma. E a propósito, ele era um guitarrista muito bom. Não era rápido, mas era criativo e sabia onde colocar as notas, seja em um solo ou na guitarra base. Um defeito? Era um pouco empolgado demais e acabou cometendo alguns erros no final dos anos 60, principalmente no ramo empresarial.

Paul: com certeza o que mais se preocupava com a opinião das outras pessoas e sempre colocou a família em um patamar altíssimo, pois diferente de John, ele veio de uma família equilibrada. É por isso que ele ficou tantos anos casado com Linda e até hoje se mantém casado. No ramo musical Paul é o melhor de todos, e na minha opinião o melhor baixista da história do rock, além, é claro, de ser um verdadeiro showman. Seu defeito é ser mandão!

George: era o mais espiritual de todos e o mais reservado. Veio de uma família amorosa porém bastante pobre, e tinha noção de onde tinha saído mesmo após toda a fama com os Beatles. George era um guitarrista FANTÁSTICO, mas infelizmente depois do término da banda ele se afastou um pouco do show business. Ele com certeza tinha material para sair em uma turnê quase tão forte quanto Paul ou John, mas optou por viver uma vida quieta no interior da Inglaterra. Seu defeito foi esquecer um pouco o rock a partir de meados dos anos 70.

Ringo: com certeza o mais "boa vizinhança" dos quatro. Por ele, até hoje os Beatles estariam juntos. Durante a infância foi desenganado pelo médicos duas ou três vezes, porém continua firme e forte. Na minha opinião, Ringo criou a batida do hard rock na música "Magical Mystery Tour". Um defeito? Poderia nos anos 70 ter criado um grupo mais de rock e não ter se aventurado como um cantor solo quase pop.

Uma característica comum entre os quatro: humildade e pé no chão.


 
 

Você já viajou diversas vezes não apenas para Liverpool, mas também para Londres e Nova York atrás de itens dos Beatles. Conte-nos como foram essas viagens e do que você estava atrás quando as fez?

Na verdade eu morei em Londres entre 2002 e 2003, e aí eu fui atrás de diversos itens e também conheci lugares que eu tinha estudado a vida toda. Quando eu ficava sem ter nada para fazer nos domingos à tarde eu simplesmente ia para Abbey Road e ficava lá imaginando a rotina dos Beatles nos anos 60. Meu maior souvenir é um pedaço da primeira árvore que aparece no disco Abbey Road, ao lado direito da capa.

Em Liverpool eu conversei com Margareth, uma senhora que mora na casa que Ringo morou no início dos Beatles. Ela deve estar beirando seus 100 anos mas faz questão de receber todos os fãs que batem em sua porta. Ela me contou algumas histórias, como a de um cara do Japão que chorava tanto quando entrou na casa dela que ela deixou que ele levasse como souvenir um portãozinho velho que ela tinha retirado em uma reforma recente e que provavelmente o Ringo havia utilizado diversas vezes.

Quanto à compra de material, Liverpool não me pareceu a melhor cidade, pois ali os preços são caros. Em 2003 eu sempre comprava meus CDs e DVDs em uma travessa da Oxford Street em Londres que tinhas lojinhas maravilhosas e vendedores com histórias muito boas. Também a Denmark tinha uma ótima loja de livros que possuía muita coisa boa.

Em Nova York eu quase pirei, pois eu gosto muito dos anos que o John morou ali. Eu fiquei muito emocionado quando visitei o Dakota (prédio onde John morava com Yoko e seu filho Sean) e a melhor loja de discos que eu já fui na vida ficava próxima ao World Trade Centre, trata-se da J&R. Ali tem TUDO o que se pode imaginar. Fiquei quase louco lá dentro.
 

No hard rock, você tem como banda preferida o Uriah Heep. Conte para os nossos leitores como surgiu essa paixão pelo grupo.

Em abril de 1998 meu tio Mário Sérgio (o mesmo mencionado antes) comprou a edição remasterizada do álbum Demons and Wizards e me deu de presente a edição original, já que ele não precisava de duas cópias. Quando eu escutei a música "The Wizard" pela primeira vez fiquei paralisado, pois aquilo me pareceu PERFEITO! A partir dali passei a acompanhar a banda. Eu gosto muito mais de Uriah Heep do que de Led Zeppelin ou Deep Purple, bandas da mesma época. Ken Hensely na minha opinião é o melhor compositor de todos os tempos após os Beatles. Gosto de todas as fases da banda, incluindo o álbum Conquest, com John Sloman. Também adoro a fase com Bernie Shawn e acho ele tão bom quanto David Byron.

Não acha que o Heep é uma subestimada, tanto pelo público quanto pela crítica?


Com certeza! Não sei exatamente o motivo, mas as pessoas esquecem da importância do Uriah Heep para o rock em geral. Mas isso deixa a banda ainda mais interessante, quase como algo "cult".


 
 
 

O que torna o Black Sabbath não apenas a banda mais importante da história do heavy metal, mas também a sua predileta quanto o assunto é música pesada?

Cara, durante a minha adolescência, a minha banda predileta de metal era o Iron Maiden, mas conforme fui ficando mais velho fui escutando mais e mais Black Sabbath e hoje os considero como minha banda favorita no gênero. Mais uma vez o fato de terem desafiado a sociedade me atraiu muito, além, é claro, da musicalidade de Tony Iommi e Geezer Butler. Não existe um guitarrista mais preciso que Tony Iommi. Este é outro grupo que eu gosto de todas as fases, incluindo os períodos com Tony Martin e Glenn Hughes.

Você já encontrou algum dos seus ídolos pessoalmente? Como foi a sensação?

Foi ótima! Ver Ian Gillan na sua frente é no mínimo MUITO legal. Acho que o mais bacana é ver que o cara realmente existe! (rs)

Com certeza os mais legais foram Mick Box, do Uriah Heep, que veio nos cumprimentar na fila na frente do Sheppards Bush Empire em Londres em 2002, e também Jon Lord, que gentilmente autografou dois itens e rapidamente conversou comigo na frente do Sofitel em São Paulo, em 1999. Outro bacana foi Jimmy Bain, que no meio de um show do Dio no Astoria de Londres, em 2002, atendeu a um pedido meu por uma palheta e foi buscá-la no pedestal do microfone.


Há bastante autógrafos em sua coleção, Tiago. Você os conseguiu todos pessoalmente?

Não. Na verdade, a maioria veio por carta. Eu escrevo para o artista e já mando junto uma etiqueta com o meu endereço para facilitar a vida do cidadão. Alguns responderam rapidamente e outros demoraram muito. Ringo Starr respondeu rapidamente e também Charlie Watts dos Stones. Acho que os bateristas gostam de dar autógrafos! Já Geezer Butler demorou mas assinou as duas fotos que eu enviei com canetas diferentes, para que ficasse mais legal de acordo com as cores de fundo das fotos. Não exista nada que me deixe mais alegre do que abrir a caixa de correio e ver a carta de um dos meus ídolos.

Agora, eu nunca compraria um autógrafo, a não ser que fosse de John Lennon ou George Harrison. Para mim o bacana é saber que corri atrás daquele autógrafo e que de certa forma o meu ídolo sabe que eu existo. Simplesmente comprar um autógrafo é muito fácil.


Qual é a sua técnica para abordar um artista e pedir um autógrafo para ele? Tem algum truque especial para isso?



Cara, eu não sou um bom exemplo, pois geralmente fico com cara de bobo. Quando fui pedir um autógrafo para o Bruce Dickinson eu simplesmente fiquei paralisado e foi ele quem perguntou se eu queria um autógrafo! (rs). Acho que o segredo é ser humilde e perceber se você está sendo inconveniente ou não.

Agora, por carta eu geralmente mando o item a ser autografado e junto mando uma pequena carta dizendo o quanto eu admiro o artista. Alguns respondem, outros não. 



 
 

Você disse que já assistiu a mais de uma centena de shows, incluindo aí apresentações de nomes como Van Halen, The Who, Paul McCartney, Page & Plant, Michael Jackson e dezenas de outros. Qual foi o melhor show que você já viu? E qual foi o pior?

O conceito de melhor show varia de acordo com o que a pessoa espera do artista. Se você espera um guitarrista que toque a 1.000 km por segundo, então um show do Jethro Tull vai ser um lixo. No meu caso eu entendo como melhor show o do artista que eu mais gosto nos álbums de estúdio. Nesse caso, o melhor show da minha vida foi Paul McCartney em Detroit em 2011, pois eu estava com minha esposa e estávamos MUITO próximos do palco. Além disso, foi nessa turnê que ele voltou a tocar “Golden Slumbers/Carry That Weight/ The End”.

Outro ótimo show que eu vi foi o Saxon no Direct TV Music Hall em São Paulo, em 2002. Eu nunca vi tanta energia em um palco! A banda tratou os fãs como chefes e tocaram tudo o que pediram. Um exemplo para as bandas mais novas de como deve se tratar os fãs.

Infelizmente, o pior show foi de um artista nacional, nesse caso o Tribuzy em 2005. O show foi mal ensaiado. Colocar quatro guitarristas tocando "Be Quick or Be Dead" juntos é no mínimo estranho. Além disso, Bruce Dickinson estava lendo a letra da música que gravou com Tribuzy na parte de trás de sua mão. Eu realmente não gostei. Uma pena, pois torço e apoio o metal nacional.

Aliás, apenas uma curiosidade e quem já viu um show fora do Brasil vai concordar comigo. Quando uma banda toca em território nacional, os brasileiros parecem que vão morrer de tanta emoção. É quase como se Deus estivesse no palco. Já na Europa e na América do Norte, a galera curte mas entende que trata-se apenas de uma pessoa normal no palco, que assim como todo mundo usa o banheiro, fica gripado, paga imposto, etc. Para quem quer assistir ao artista com calma, ver um show no Canadá é muito bom, pois você tem seu lugar marcado e ninguém te empurra. Agora se for para curtir com os amigos não existe nada melhor que o público brasileiro.


Qual foi o artista que mais te impressionou ao vivo, que você, enquanto assistia ao show, ficou pensando “putz, que cara foda”?

Como banda foi o Dream Theater em 2005, quando tocaram o álbum Metropolis Part 2. Também o Queensryche me impressionou muito em 2008, embora eu já tivesse os assistido em 1997 com a formação original. Agora, preciso tirar o chapéu para Vinnie Moore tocando com o UFO em 2010 no Carioca Clube. O cara mandou muito bem.


Onde você compra os seus discos?

Eu busco sempre o local mais barato. Não sou fiel a uma loja. As minhas principais lojas são a Amazon dos EUA, Canadá e Inglaterra, eBay, Die Hard em São Paulo, Mercado Livre, e a HMV Mega Store no centro de Toronto.

Qual a principal diferença entre comprar discos aqui no Brasil e aí no Canadá?

Não tem muita diferença. Acho que aqui existe mais variedade e não sofremos com o lance do "importado". Uma grande diferença é o gosto musical. Enquanto os brasileiros adoram as bandas de metal melódico da Europa, esse estilo aqui não tem grande popularidade.



Como os canadenses vêem uma pessoa como você, eu e os leitores da Collectors Room, em sua maioria colecionadores de discos?

Aqui também tem colecionadores e os caras gastam MUITO com memorabília. Quando você vai a um show a fila na barraca de souvenirs é enorme e os caras gastam MESMO! Viva o cartão de crédito!

Eu sou mais controlado e tenho um budget todos os meses para gastar com minha coleção. Se o dinheiro acabou eu espero o próximo mês. Os norte-americanos não são assim, eles compram mesmo!

O que eles mais se surpreendem é saber que um brasileiro como eu pode conhecer tanto de bandas da Inglaterra, Estados Unidos e Canadá e ter tantos discos das mesmas. Acho que eles ainda vêem o Brasil como terra do futebol e das belas praias. Agora também nos vêem com um dos países do petróleo (rs).


O preço dos CDs no Brasil é bastante alto. Isso se repete no Canadá,\ ou o preço aí é mais barato daquele que pagamos em nosso país tropical?

Aqui é mais barato sim, mas não muito. A diferença acho que são as edições especiais. Por exemplo: o álbum 13 do Black Sabbath teve uma edição especial com vinil, CD e DVD. Eu vi esse box no Brasil por R$800, enquanto que aqui você encontrava por $90 dólares (mais ou menos R$ 200). Acho que os únicos que perdem com isso são os lojistas, pois hoje em dia é muito fácil comprar algo pela Amazon ou no Ebay e mandar entregar no Brasil. Os fãs de rock geralmente são bem informados e eu mesmo comprei vários itens dos EUA e Inglaterra quando morava em São Paulo e paguei metade do preço que era anunciado na Galeria do Rock.


Quais são os discos mais raros da sua coleção?

Eu tinha mais discos raros quando colecionava Iron Maiden durante minha adolescência, porém eu vendi os mesmos quando percebi que não precisava de 5 cópias do Killers. Cheguei a ter o box em vinil do Best of the Beast e diversos singles em 7".

Atualmente, acho que o item mais raro é a série Day-by-Day dos Beatles, lançada pelo selo Azir na Rússia com tiragem limitada a apenas 500 cópias. Essa série saiu também pela Yellow Dog Records.

O que eu sempre faço é comprar uma edição mais caprichada caso o disco seja lançado em mais de um formato. Por exemplo, o Black Star Riders (um dos melhores discos de 2013) eu comprei a edição com o DVD. O 13 do Black Sabbath comprei na Best Buy de Buffalo, NY, e minha edição veio com uma música a mais. Ao longo do tempo esses lançamentos vão se tornando raros.

Com certeza os itens que eu considero mais raros na minha coleção são as palhetas que consegui em shows. Tenho palhetas de Paul Stanley, Tony Iommi, Mick Box, John Sykes, e essas foram utilizadas ou pelo menos jogadas pelos artistas. O que pode ser mais raro do que isso? Só o próprio instrumento musical utilizado! Assim como os autógrafos, eu jamais compraria uma palheta no eBay. É muito mais legal lembrar da história de como você conseguiu a mesma.


 

Qual disco você procura há um tempão e ainda não conseguiu encontrar?

Apesar de não ser um grande fã de vinil pela falta de praticidade dos mesmos, sonho em ter o LP Let it Be americano que saiu com um lindo livro em 1970. Eu já vi a venda várias vezes mas sou pão-duro e não tive coragem de gastar 200 dólares no mesmo. Também adoraria ter um autógrafo de Paul McCartney conseguido pessoalmente. Esse sim é o meu VERDADEIRO sonho como colecionador.

No caso dos shows, adoraria ver um do Ritchie Blackmore's Rainbow. Mas isso depende mais do Ritchie do que de mim!


Há um renascimento da cultura das lojas de discos, promovida por iniciativas como o Record Store Day, por exemplo. Você percebe isso nas lojas canadenses, ou é algo que está ocorrendo apenas nos Estados Unidos?

Infelizmente não vejo isso nem no Canadá e nem nos Estados Unidos. Eu acabei de chegar de uma viagem a Miami, procurei diversas lojas por lá e quase não encontrei nenhuma. Existe sim o Record Store Day com lançamentos bacanas, mas isso é um pouco de desespero (na minha opinião) para tentar manter as lojas vivas. As únicas lojas que eu ainda vejo com movimento são as que vendem discos de segunda mão ou as que vendem APENAS vinil. Mas mesmo assim eu acho que uma hora irão acabar e nós, colecionadores, vamos ter nos contentar em comprar pela internet. Me corta o coração dizer isso, mas é o que eu observo.


 

Não tem como conversar com um colecionador e não fazer essa pergunta: quais são os seus dez discos favoritos, Tiago?

Propositalmente não vou citar nada dos Beatles pois todas as posições seriam ocupadas por eles, então vou dar chance a outras bandas.

1) Iron Maiden - The Number of the Beast
2) Black Sabbath - Heaven and Hell
3) Uriah Heep - Demons and wizards
4) Kiss - Kiss
5) Whitesnake - Slide It In
6) Deep Purple - Burn
7) Angra - Angels Cry
8) Jethro Tull - Thick as a Brick
9) Rainbow - Rising
10) Van Halen – Van Halen 




O que a sua coleção diz sobre você?


Minha coleção diz o quanto eu gosto de ROCK e o quanto eu vou além de outras pessoas que dizem que gostam de rock mas escutam apenas o que está tocando no rádio. Apenas um colecionador como os que aparecem aqui na Collectors Room poderia ficar uma semana sem jantar para comprar um box do Iron Maiden ou ainda pedir para a filha de David Coverdale se ela poderia pegar um autógrafo do pai dela para mim. Minha coleção define minha personalidade roqueira. Ponto final (rs).

Como a paixão pela música afeta a sua vida?

Afeta em todos os sentidos. Eu penso simplesmente 24 horas por dia qual será o próximo álbum que vou comprar ou qual show vou assistir. Fico muito feliz que minha esposa entenda isso. Além disso, as minhas amizades giram em torno de música. 90% dos meus amigos gostam de música tanto quanto eu. Até mesmo a decisão de morar em Toronto teve envolvimento musical, pois aqui rolam vários shows.


Qual disco e qual música definem você?

Disco: Whitesnake com Slide it in. É um baita álbum de hard rock e esse, depois dos Beatles, é o meu estilo de música predileto.

Música: “I Am the Walrus”, dos Beatles. Completamente maluca mas muito inteligente (nada modesto) 
.



Pra fechar, qual é o seu objetivo e o seu sonho como colecionador de discos, Tiago?

Cara, meu objetivo é continuar comprando discos e assistindo a mais e mais shows. Um colecionador não tem limites. Acho que isso foi dito simplesmente por todos os que participaram dessa coluna. Meu grande sonho é assistir a uma reunião do Ritchie Blackmore’s Rainbow e também de Ken Hensley com o Uriah Heep. Já no campo de discos, gostaria de chegar perto dos 2.000 CDs, pois aí eu saberia que tenho pelo menos uma boa parte dos álbums que gostaria de ter.

Agradeço muito a Collectors Room pela entrevista e também por ter criado essa coluna de entrevistas com colecionadores. Eu me empolgo demais com as coleções que são apresentadas.

Por fim deixo meu email para contato: tiagomarion@yahoo.com.br

Grande abraço!


Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Dei risada quando li como foi que ele levou os cds pro Canadá. Eu fiz exatamente a mesma coisa com os meus quando vim pra Polonia tb xD

    Bacana essa entrevista!

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  2. Pô cara, acabei de formar em Eng. Elétrica, tem como eu enviar meu currículo p/ vc ? rsss

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    1. Também quero um estágio, estou cursando engenharia elétrica. Mudando de assunto minha colega disse que tem uma palheta autografada por John Lennon.

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  3. Muito Bacana a entrevista, só pulei a parte em que Tiago fala dos rapazes de liverpool.

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