Grand Magus: crítica de Triumph and Power (2014)


Oficialmente formado em 1999, o Grand Magus pode não ser um evento isolado entre as gerações das bandas suecas, mas é de fato um dos raros nomes do heavy/doom que conseguiram manter-se na ativa entre a época da ascensão do Candlemass e do Count Raven, e o recente ressurgimento e popularização do stoner nos últimos anos. Interessante notar, também, que o trio liderado por JB Christoffersson e Fox Skinner nunca permaneceu estático em sua sonoridade, sempre se preocupando em aplicar mudanças, por mais sutis que fossem (vide o contraste entre o autointitulado debut, de 2001, e o mais recente, The Hunt, de 2012).


Dando seqüência a proposta iniciada desde o final da década passada, e agora contando com o baterista Ludwig Witt (do Spiritual Beggars), o grupo traz novamente uma remodelação de sua proposta com Triumph and Power, o sétimo trabalho de estúdio e o segundo pela Nuclear Blast, redescobrindo alguns elementos de seus primórdios e reinterpretando aquilo que gerou certas controvérsias nas últimas tentativas.


O tom épico é lentamente introduzido como uma espada triunfante na jugular de seus inimigos com galopes, trovões e coros nos primeiros segundos de “On Hooves of Gold” e a sua sucessão de guitarras cavalares, que mostram como um disco pode ser bem sucedido ao iniciar-se de forma cadenciada e honrando as fortes melodias que acompanham as letras forjadas entre o martelo e a bigorna do mais pobre ferreiro do reino. Por falar em forjar, “Steel Versus Steel” parece vinda diretamente dos territórios germânicos em suas personificações menos velozes e combinadas ao hard rock, enquanto “Fight” é uma declaração de batalha contra o falso, aonde as ordens de luta são proclamadas incessantemente em seus quatro minutos.


O poder de fogo no melhor estilo europeu retorna em ritmo de marcha em direção ao amanhecer de glórias com “Triumph and Power” e seu sentimento de esperança inerente às passagens carregadas pelas linhas de baixo e versos reverenciando os irmãos caídos, aonde a versatilidade do vocalista JB Christoffersson se mostra ainda mais evidente. Em “Dominator”, porém, saem as espadas e os cavalos e entram as jaquetas de couro pretas e motocicletas, como uma viagem no tempo para a Inglaterra da década de oitenta (ou talvez os efeitos da excessiva ingestão de hidromel).


Afinal de contas, logo em seguida a transitória “Arv” introduz “Holmgang”, com o resgate (ainda que passageiro) das raízes ligadas ao stoner dos suecos, em meio às marcantes guitarras que insistem com sucesso em permanecerem simples. O mesmo pode ser dito de “The Naked and the Dead”, com o Grand Magus mostrando de uma vez por todas as suas influências não apenas do Iron Maiden, mas também das inúmeras bandas que de alguma forma ajudaram a donzela a construir a sua própria sonoridade.


Com elementos folk e baterias de guerra em “Ymer”, “The Hammer Will Bite” inicia-se como uma tensa power-ballad, como o lamento de um homem que perdeu tudo e prepara-se para buscar vingança. Carregada de mudanças atmosféricas e momentos que beiram o mais épico doom metal, por mais que se difira consideravelmente do restante das faixas do álbum, encerra-o mantendo o mesmo sentimento e completamente coerente como um todo.


E este sentimento de louvor ao true heavy metal, de temas que ficam no limiar entre o cômico e o vergonhoso, de ser exageradamente épico e imaginar-se um guerreiro besuntado em óleo corporal e tangas de texugo em uma cruzada pelo triunfo da honra, simplesmente se torna (mais) ridículo ao ser acompanhado de uma música de qualidade duvidosa. O que felizmente não é o caso do Grand Magus e Triumph and Power.


Claro, as letras ligeiramente rasas e repetitivas estão ali (como sempre estiveram, aliás - basta uma leitura rápida nos títulos das faixas dos álbuns anteriores para conferir), mas ao investir pesado em uma sonoridade ainda mais simples, catalisada pela crueza na produção básica e com cuidado redobrado na composição das melodias, o trio sueco não apenas consegue equilibrar a identidade que vem sendo trabalhada desde o espetacular Iron Will (de 2008), com o mesmo furor de sua fase inicial, na época em que ainda era parte do catálogo da Rise Above Records, como entregam uma obra grandiosa e acessível (algo que The Hunt falhou, em certos aspectos).


Um disco original? De forma alguma. Mas quem disse que esta é a intenção deles? Triumph and Power é um tributo sincero que o Grand Magus presta às suas influências tradicionais, resultando neste que provavelmente será o álbum mais heavy metal que você ouvirá em 2014. Com as espadas em punho, montado em seu cavalo, trajando uma jaqueta de couro por cima da armadura banhada com o sangue dos adversários e companheiros que tombaram na batalha, pelo aço e pela vitória.


Hail the Magus!


Nota 8,5


Faixas:
1 On Hooves of Gold
2 Steel Versus Steel
3 Fight
4 Triumph and Power
5 Dominator
6 Arv
7 Holmgang
8 The Naked and the Dead
9 Ymer
10 The Hammer Will Bite


Por Rodrigo Carvalho

Comentários

  1. "...imaginar-se um guerreiro besuntado em óleo corporal e tangas de texugo..." Eu ri muito aqui,mas é isso aí,um som sem maiores pretensões,e muito legal. Ouvi esse disco ontem,e procurei imediatamente uma crítica aqui para saber o que vocês tinham achado,e não encontrei... Ao abrir o site agora,dou de cara com ela! Isso sim é eficiência!

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  2. Muito bacana o disco, o meu favorito do ano ao lado do The Satanist, do Behemoth. A música que dá nome ao álbum é fantástica. Heavy Metal à moda antiga de excelente qualidade e bom gosto. Nota 10!

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