Indian: crítica de From All Purity (2014)

Quinto álbum da banda norte-americana Indian, From All Purity foi lançado em 21 de janeiro pela Relapse e sucede Guiltless, de 2011. O quinteto de Chicago executa um sludge/drone lamacento, arrastado e denso, nada amigável para os ouvidos não acostumados com ambos os gêneros.

Com guitarras cheias de peso e pra lá de saturadas, o Indian leva o ouvinte por seis pesadelos sonoros em From All Purity. Todas as músicas são longas e ultrapassam os seis minutos - a exceção é “Clarify”, uma coda repleta de ruídos que fica na faixa dos quatro minutos. A sonoridade é construída pelas guitarras e pelo vocal gutural, que parece executado por uma alma penada vindo direta de um castelo mal assombrado.

A proposta da banda passa longe de criar algo que soa próximo de algo familiar para a grande maioria dos fãs de heavy metal. Não existem refrãos, as guitarras despejam riffs repetitivos que apenas em alguns momentos apresentam variações, amparados por uma cozinha sólida e espessa. Os vocais sobrevoam essa sonoridade intimidadora, despejando versos fantasmagóricos. Para tentar localizar o leitor e apenas tendo isso como parâmetro, pode-se dizer que existe uma certa similaridade com a música do Cult of Luna, ainda que de leve, já que a banda sueca é mais atmosférica.

Apropriadamente, a faixa de abertura tem o sugestivo título de “Rape” e promove literalmente um estupro auditivo em seus quase oito minutos, que soam como a trilha de um desagradável pesadelo. Trata-se de um som que causa estranheza a princípio, mas que, mesmo assim, possui um apelo implícito, atração que talvez encontre explicação no interesse que sentimos por tudo aquilo que exala uma aura sombria e nos leve para o desconhecido. A faixa mais convencional é “Disambiguation”, que encerra o disco com uma espécie de doom sludge, se é que isso existe.

From All Purity é um álbum que mexe profundamente com o ouvinte, e não no sentido de fornecer uma trilha sonora para momentos específicos. O que o disco faz é levar quem se aventura por suas faixas através de uma espécie de realidade paralela que não tem nada a ver com o mundo cada vez mais fantasioso e individualista em que vivemos. Nesse sentido, trata-se de uma peça de arte contestadora e perturbadora, que se destaca sem dificuldades no universo padronizado em que estamos inseridos.

Quantos discos ainda podem receber essa definição atualmente?

Nota 7,5

Faixas:
1 Rape
2 The Impetus Bleeds
3 Directional
4 Rhetoric of No
5 Clarify
6 Disambiguation

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Esse álbum já tinha me conquistado pela capa! A sonoridade lembra um pouco Iskald! Muito boa a resenha descreveu muito bem a sensação que esse disco traz!

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